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Free Thoughts XXIII - A dor de pensar

Confesso que sou um apreciador fervoroso de Fernando Pessoa. Com a sua vasta obra literária, este conseguiu, a meu ver, de um modo absolutamente formidável, retratar as sociedades contemporâneas e, por conseguinte, os indivíduos que nelas coexistem.

Quem sou eu afinal? Para que local inóspito caminho? Quando chegarei ao meu destino? Qual a minha inglória função neste mundo caótico? Estas são apenas algumas das incessantes dúvidas intrínsecas ao existencialismo humano.

Pessoa caracteriza todo este processo como a malograda "dor de pensar" e interroga-se, por diversas ocasiões, ao longo da sua poesia, simultaneamente, eloquente e melancólica, se não seria preferível levar uma existência mergulhada na mais pura das inconsciências, algo que, pelo menos, teria a atractiva vantagem de não o arrastar para essa temível "dor" inerente a quem pensa e tem noção de si.
Deixando-me de filosofias baratas, que só evidenciam a tremenda dificuldade que tive, durante o decorrer desta semana, para eleger um tema que considerasse digno de análise cuidadosa, observo agora com relativo interesse o horizonte (um tanto ou quanto nublado) da nossa prestigiada WWE.

O que me ressalta imediatamente à vista, são os despedimentos infundados (e não, não me refiro ao tão badalado caso de Mr. Kennedy, que se encontrava sempre lesionado e ainda teve a lata de vir cá para fora gravar vídeos recheados de escárnio que, certamente, lhe comprometeram as boas relações com a empresa do Connecticut)...Umaga era um wrestler que conjugava um porte físico monstruoso, a uma capacidade atlética assinalável. Recentemente, este havia tido carta branca, por parte da WWE, no sentido de proferir em público algo mais do que meia-dúzia de grunhidos imperceptíveis, como tal, tinha esperança de assistir à sua elevação na hierarquia da promotora. Infelizmente, tal situação, por motivos alheios à razão, não se verificou e o Samoano foi despedido.

Mantendo-me pelos recursos humanos da companhia, concluo que cepos incompetentes dos moldes de Great Khali e Ezekiel Jackson continuam, surpreendentemente, a marcar presença na folha de pagamentos da empresa. Muito sinceramente, não consigo descortinar uma explicação coerente para tal facto e, sendo assim, limito-me a deixar a minha nota de descrença relativamente à permanência destes senhores na federação, enquanto que atletas bem mais dotados se vêem vítimas destas súbitas, e nos últimos tempos bastante frequentes, “ordens de despejo”.

Debruçando-me agora sobre a actual programação da WWE, constato, com alguma desilusão, que nada se alterou. Consequentemente, esta mantêm níveis de qualidade que roçam nas indesejáveis barreiras do medíocre.

Donald Trump, talvez para cepticismo geral, tomou (em kayfabe) posse da Monday Night Raw, pelo que vem a palco, através da NWO nacional, no âmbito de fomentar melhores audiências. Pessoalmente, aguardo com algumas reticências desenvolvimentos desta situação e, entretanto, acendo uma velinha à Nossa Senhora, enquanto pronuncio algumas rezas com o objectivo de não ser forçado a acompanhar mais uma incongruente batalha de bilionários, que termine com carecas a pente 0.


Mirando agora o "mid-card" da Raw, fujo rapidamente, pois tenho um certo receio de me deprimir ao me deparar, por exemplo, com atletas como Matt Hardy ou Kofi Kingston, sendo que o primeiro, se encontra numa cof...excelente...cof...forma física e, enquanto personagem heel, obtêm tanto "heat" quando irrompe numa arena, como o Shawn Michaels obtêm de efusivas aclamações de alegria e admiração sempre que actua em solo Canadiano; e tendo em atenção que o segundo nome referido de carisma demonstra muito pouco e que, na verdade, parece ter vivido os seus últimos meses não numa companhia de wrestling, mas sim no festivo ambiente do circo Chen (este termo foi dedicado a ti Wolve).

Alcanço finalmente o "main-event" da promotora, por mais uma ocasião, dou comigo embrenhado em traços de inequivoco brilhantismo, desta feita à conta de Randy Orton, que reclamou novamente para si a tutela do título da WWE, preparando-se agora para mais uma intensa (e diga-se completamente inédita) rivalidade com Triple H, da qual, muito possivelmente, o jovem de Saint Louis sairá descredibilizado e a contemplar, com um olhar de víbora tristonha, o "Narigudo", enquanto esse empunha o seu 14º título mundial e prova, em simultâneo, que um relacionamento com a filha do patrão é do melhor que há para quem ambiciona por glória na vida profissional.

Bom, da maneira que isto anda, lá para os lados de Connecticut, penso que o futuro se avizinha a algo de fabuloso e que, de forma a iluminar ainda mais o corrente panorama, só mesmo a criação de uma storyline, extremamente complexa e bem delineada, na qual Santina Marella tem um relacionamento amoroso com Goldust e que teria, como cereja no topo do bolo, a apresentação do filho do casal, sendo que esse seria o adorável anão Hornswoggle.


E é assim que nos deparamos com o término do texto de hoje, e honestamente penso que deste existe um factor que salta instantaneamente à vista de todos: tendo em conta a falta de consciência, evidenciada pela actual ausência de qualidade que se regista na maioria da programação da WWE (e transpondo para aqui as teorias Pessoanas), se há coisa que, nos dias trausentes, não deve afectar a equipa de booking e a direcção da promotora, isso é, justamente, a tão mencionada nos primórdios da crónica de hoje, "dor de pensar".

Ah! Coitado do nosso sublime poeta Fernando Pessoa! O homem bem que deve de andar às voltas no túmulo, tal o grau da inveja que deve nutrir pela aparente falta de consciência dos sujeitos que comandam os destinos da maior companhia de pro-wrestling do planeta.


P.S: Depois do cão, após de saber que o senhor saber gosta de hamburgers recheados de mostarda, penso que, realmente, não existia nada de mais interessante para se noticiar do que os soberbos dotes de Obama na hábil tarefa de caçar moscas. Se me é permitido, sugiro uma reportagem detalhada, com o propósito de todos nós descobrirmos, com exactidão, quantas vezes por dia o presidente dos EUA utiliza a casa de banho.

Fiquem bem e um bom fim-de-semana para todos;)
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