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Slobber Knocker #28: Rescaldo do Bound for Glory



Sejam todos bem-vindos a mais um Slobber Knocker, durante este fim-de-semana mais frio que já faz o Outono marcar a sua presença – não se aplica aos meus estimados leitores do Brasil que, no outro hemisfério, devem estar mais quentes. Para esta semana, trago um tema que talvez não seja dos mais entusiasmantes para alguns, mas como já me comprometi a isto, agora prossigo. Aqui ficará a minha análise ao recente Bound for Glory da TNA.....

Outubro é época para o maior PPV daquela que se considera a segunda maior companhia de wrestling. A TNA apresentou-nos um Bound for Glory de qualidade, com um card que já desde a sua construção inicial que me estava a agradar e que seguiu um No Surrender que na minha opinião, foi o melhor PPV da TNA do ano, até então. Passemos agora a uma análise a uma noite que apresentou grandes combates capazes de agradar a todos, imensas mudanças de títulos e algumas decisões de histórias que já pode ter deixado alguns a torcer o nariz. Mas vejamos lá:

Rob Van Dam derrota Zema Ion pelo X Division Championship e ganha o título


A “feud” foi a coisa feita mais encima do joelho para o card e parece expor a equipa criativa da TNA como estando de mãos atadas no que diz respeito à X Division. Tão de repente apareceu RVD e se estabeleceu como candidato ao título que nem deu para sentir o sabor de uma “feud de Bound for Glory” mas as expectativas de engrandecimento ficavam no combate. O combate foi bom mas não parece ter apresentado nada de extraordinário para que fosse tão lembrado ao fim como outros. Foi muito bom de facto, difícil seria fazer o contrário com estes dois, mas ficou a sensação de ter sido atafulhado e limitado ali ao início para aquecer quando tinha potencial para “show stealer”. No entanto foi entusiasmante e já deu uma ideia inicial da qualidade do evento e da electricidade da plateia. Talvez RVD não precisasse propriamente deste título e como veterano talvez devesse estar a pôr jovens talentos promissores over – e muito promissor que é Zema – mas é um nome forte para arrebitar a divisão. Mais estaria para vir.

No futuro: Tolice seria deixar a confrontação entre estes dois por aqui. A rematch é óbvia mas podem trabalhá-la sem que fique apenas mais um rematch. Agora espere-se que com um nome grande como Rob Van Dam a apoderar-se do título da X Division que se trabalhe mais nessa excitante divisão que só parece acordar para o Destination X para ficar adormecida o resto do ano…

Samoa Joe derrota Magnus pelo TV Championship e retém o título


Já se avizinhava que isto acontecesse com a relação entre estes dois a azedar cada vez mais, após um período em que partilharam um reinado como Campeões Tag Team. Magnus evoluiu bastante desde o tipo dos British Invasion que nem te lembravas da última vez que apareceu em TV para um midcarder bastante credível e com qualidade. E Samoa Joe é Samoa Joe, dispensa apresentações. Os dois tiveram boa química como parceiros e boa química como adversários teriam eles que chegasse e assim se deu. Conseguiu superar ainda o encontro anterior, sugerindo que a qualidade do PPV fosse crescente. Após um combate bem trabalhado e bem equilibrado, Samoa Joe retém o título e torna-se o único na noite a entrar com o cinto e a sair com ele. No entanto, este já devia era de andar de volta do título mundial há um tempinho…

No futuro: Como é uma rivalidade mais pessoal e não só um conflito por cinto, talvez prolonguem isto um pouco mais e talvez este não seja o último encontro entre estes dois ex-parceiros. Com Joe a Campeão, é uma excelente oportunidade para explorar os talentos do midcard e colocá-los com um worker impecável que sabe como comandar grandes combates, para dar mais relevância àquele cinto. Robbie E já chega, Joey Ryan até era porreiro mas não sei se já têm planos maiores para ele, Garrett Bischoff e mudo de canal – e sim, eu sei que não vejo isto na televisão, mas mudava de canal na mesma…

James Storm derrota Bobby Roode, numa Street Fight com King Mo como “reforço de oficial”


E primeiro combate da noite estava aqui. Como culminação de uma das feuds do ano. Logo após um combate entre dois ex-parceiros por alguns meses com um reinado, vem o confronto entre dois ex-parceiros numa grande Tag Team, das mais importantes na TNA, os carismáticos Beer Money. Porrada da mais velha, sangue, bumps e emoção. Isto apenas alguns exemplos do que isto teve. Agora não é caso para vir dizer que o combate foi espectacular porque foi sangrento, etc etc, o sangue esteve bem na sua parte de acrescentar intensidade e de contar uma história, mas não foi isso que fez do combate tão bom – e o bladejob do Storm não parece ter corrido totalmente bem. Souberam bem como aproveitar as regras – ou a falta delas – do combate, o ambiente – principalmente aquele palco estranho em relação ao costume – que os rodeava, o “calor” do público e carregaram um dos mais emocionantes, violentos – sem ser brutalidade despropositada – e equilibrados combates – no sentido de não deixar ninguém enterrado. King Mo, o único que eu achava que estava ali a mais, em todo o card, fez muito pouco e ainda bem. E ainda surpreenderam com os bumps ao vermos que aquela ex-Tag Team é feita por gajos bem rijos, havendo direito a pionés sem que houvesse Mick Foley ou Abyss por perto – Roode não parece dos tipos que vá aterrar em pionés, mas lá foi ele “ass first”. Dura tarefa que teriam para superar isto.

No futuro: Esta feud parece ir com força para se tornar daquelas feuds “eternas”. Não que eles agora andem meses a fio a combater, mas esporadicamente ainda se vão encontrar mais e a rivalidade deles nunca chega a acabar, acabando apenas por não ser contínua. Onde quer que isto dê, estão formados e completos dois lutadores que superaram a tarefa de passar de lutador de equipas para lutador singular – já há muito tempo até. E estão aqui duas estrelas de topo, seria uma loucura deixá-los na prateleira ou deixá-los ir embora…

Joey Ryan derrota Al Snow e ganha um contrato “full-time” com a TNA


Estava ansioso por isto e estava a gostar da construção. Joey Ryan é simplesmente brutal e um regresso de Al Snow ao ringue é sempre bem-vindo. Que se lixe lá a ironia de que é um dos que leva “No” no Gut Check que mais atenção e tempo de antena tem – porque os outros nem tiveram sequer. Eu queria ver isto. E vi e estava a gostar. Começa por demonstrar um Al Snow ainda em forma e com os seus talentos técnicos ainda bem no sítio, capaz de arrancar uns cantos de “You still got it!”. Estranho era se ele estivesse em mau estado. Ryan foi vendido ao início como o “rookie em apuros” mas, como ele não é nenhum amador propriamente dito, lá acabou por equilibrar a coisa. Chega a altura de entrar a estrela do encontro. Não, não me refiro ao matulão do fim, é mesmo à mítica cabeça. Depois disso é que vem a surpresa e Matt Morgan ataca Snow, oferecendo a vitória a Ryan. Admito que não estava nada à espera que ele aparecesse e até foi uma surpresa porreira – mesmo tendo em conta que não gosto lá muito, ou nada, do Matt Morgan. Joey Ryan vence assim o seu contrato como todos esperavam e queriam e também já ganhou um guarda-costas pessoal…

No futuro: Agora veremos no que esta dupla dá. É possível que Morgan se mantenha como guarda-costas de Ryan e até o prefiro assim a ser macaco forte a fazer o trabalho sujo de alguém, do que uma estrela de topo no main event. Agora espero que Ryan tenha um bom destaque e um brilhante futuro, porque o gajo é um espectáculo… Agora para onde ele irá? X Division? Título de TV? Main event? Títulos Tag Team com o Matt Morgan? Veremos…

Chavo Guerrero & Hernández derrotam os World Tag Team Champions of the World (Christopher Daniels e Kazarian) e AJ Styles & Kurt Angle pelos World Tag Team Championships e ganham o título


Segundo combate da noite, mas que ainda assim estava à espera de ainda melhor. Sem a dupla Mexicana que venceu os títulos, os outros quatro já deram dois combates candidatos a combates do ano na TNA. Daí que eu tivesse as minhas expectativas a chegar ao céu. Chavo e Hernández não estorvaram, até pelo contrário, tornavam a coisa mais rica, mas contribuíram para que o confronto decorresse de forma muito diferente ao que já tivemos com as outras duas equipas. Mesmo seguindo uma estrutura semelhante, começando mais lentamente com uma luta mais calma pelo tapete até fazer a transição progressiva para um excitante “spotfest”. Com alguma surpresa mas também alguma lógica, é a equipa Mexicana que sai por cima e que arrecada os títulos de equipa para si. A plateia não parecia assim muito contente, talvez porque os outros quatros fossem dos lutadores de topo mais over em toda a companhia – só Styles e Angle têm para dar, vender, arrendar, trespassar, etc. E é no pós-combate que se dá um ponto muito baixo quando Chavo, para acalmar o inesperado heat, explora mais um pouco o nome do lendário falecido Eddie Guerrero para que a plateia cantasse o nome de Eddie, dando a parecer que estava meia do lado dele. Considere-se este o… terceiro melhor combate da noite?

No futuro: Chavo Guerrero já tem finalmente o que fazer na TNA e consigo traz outro que andava lá meio perdido, Hernández. Já não são uma equipa casual que lá anda, já têm os títulos, já têm a obrigação de ter mais tempo de antena. AJ Styles e Kurt Angle já devem partir para competição singular, creio eu e os World Tag Team Champions of the World ainda têm pelo menos mais uma rematch – se não quiserem mais ainda. Como ambos tendiam a ser um pouco desperdiçados quando lutavam em singulares, gostava que ficassem juntos como equipa. Isso para além de que adoro essa dupla e eles são hilariantes. Coisas bem feitas, têm como continuar com todos sem que nenhum tire umas férias forçadas…

Tara derrota Miss Tessmacher pelo Knockouts Championship e ganha o título


Infelizmente, ponto mais fraco de todo o espectáculo. Infelizmente também porque, quem me conhece, sabe que sou grande apoiante da competição feminina e acho-a importante em qualquer companhia de wrestling – eu e o Bruce Prichard íamos dar-nos lindamente… No entanto aqui ficou mais por baixo. Tessmacher tem vindo a melhorar progressivamente, sempre desde que conquistou o título mas ainda não está assim tão madura para protagonizar grandes combates. Tara, a veterana, é das melhores Knockouts que ali estão e das melhores lutadoras femininas dos anos mais recentes. Mas para um grande combate são precisos dois/duas e aqui não houve o suficiente. Mesmo que Tessmacher até tenha bons desempenhos quando acompanhada por uma boa worker, aqui não saiu para muito. Combate OK mas que teve a vencedora que acho que todos preferiam: uma das lutadoras de maior qualidade ali naquele balneário. Estava tudo preparado para se dar o pior momento do PPV, quando Tara apresenta o tal “namorado de Hollywood”. Primeiro, já sabia que ia ser estúpido. Segundo, já sabia que a TNa não tem grande poderio para arranjar celebridades logo ia ser ou alguém pouco conhecido ou alguém “washed up”. Mas não estava à espera… daquilo. Vem o gajo e eu só me lembro de perguntar quem era aquele “douchebag”. E tanta coisa para isto. Tara recompensada com um cinto, castigada com uma parvoíce destas, decidam-se ao menos…

No futuro: Só espero não ver aquele gajo outra vez, mas sei lá. Tara a heel é porreira e até era engraçada com os seus segmentos a falar para o “namorado de Hollywood” – e estragaram a piada toda depois. Tessmacher não se retira já mas Tara tem mais competição pela frente. A Velvet Sky sempre volta? A Mickie James ainda lá anda?...

Aces & Eights derrotam Sting e Bully Ray e ganham “full acess” à Impact Zone e ao programa


Um exemplo de um combate que não teve nada de mais e a surpresa e “momento para ser recordado e repetido no futuro” estava no pós-combate. É que o combate em si até foi relativamente fraco, via-se mesmo que estavam a cumpri-lo com o propósito de chegar à parte que interessava. Bully Ray como face é interessante e entretido. Sting não está com vontade de deixar a idade apoderar-se dele. E adivinhei quando disse que o Luke Gallows era um dos lutadores mascarados. O final era óbvio, se estiveram a contratar pessoal novo para as personagens dos Aces & 8’s, não iam agora mandá-los embora, tinham que andar por aí. E a história certamente que tinha muito mais para contar. E lá ganham os vilões, derrotando Bully Ray no seu próprio jogo, fazendo-o atravessar uma mesa. O grande momento vinha a seguir, Hulk Hogan não podia passar mais um BfG sem ser super-herói outra vez e vem todo lançado salvar toda a gente e atacar o lutador mascarado com uma Big Boot horrenda. A parte importante era depois. Quem estava por trás da máscara? Lindamente sincronizado com a reacção de choque do público – o Hogan é que não melhora os dotes de actor dele nem por nada, nem depois de décadas – o homem é desmascarado e é… Devon. Foi uma surpresa bem feita, sim senhor, estava legitimamente agradado com a imprevisibilidade que reinava ao longo deste evento…

No futuro: Apenas tenho as minhas incertezas quanto à posição de Devon no grupo. Se ele for realmente o líder, não gosto muito. Se ele for um integrante que se juntou a eles posteriormente com a frustração de não ter o seu contrato renovado e ter o seu título retirado, e que haja muito mais para contar nesta história e que ele seja só a primeira paragem, então aí está bem. Com Vince Russo fora do assunto, acho que se pode acreditar que trabalhem esta coisa de grupos e stables como deve ser, sem recorrer a alianças porque sim e mais uma data de confusões que ao fim já nem têm nada a ver com o início, senão ainda temos um “Immortal vs Fortune” Part II e acho que ninguém está com vontade para tal. Isto tem as ferramentas todas para ser uma história brutal que consiga culminar num Aces & 8’s vs Impact Roster num Lethal Lockdown…

Jeff Hardy derrota Austin Aries pelo World Heavyweight Championship e ganha o título


Agora cada um decide entre esta e a Street Fight qual é que foi o combate de noite. Que até era o que se esperava já anteriormente ao show, olhando para o card – um desses dois seria o combate da noite. Mais de 20 minutos que os homens batalharam pelo cobiçado título e foi aqui que a plateia surpreendeu, ficando quase toda do lado de Aries, deixando o heróico Hardy com mais heat que o esperado e intencionado. Hardy soube como lidar com o heat sem se frustrar – à la Orton – e soube como trabalhar os seus que às vezes ainda se ouviam por lá. O combate foi do belo e trabalhado para que não deixasse claro quem ia vencer, no seu decorrer tínhamos a impressão de que qualquer um poderia sair vitorioso e também a de que nenhum dos homens ia deixar deitar-se abaixo tão facilmente. Bem trabalhado também na sua estrutura, administrando bem a parte “spotfest” e a parte mais lenta, sobrepondo a parte psicológica sobre a acção e vice-versa como era mais conveniente no momento. Jeff Hardy já provou que depois do desastre que foi 2011 para ele, já está em excelentes condições e pronto a carregar grandes combates. Austin Aries não precisou de provar que é o Austin Aries, porque já o sabemos. Combate brilhante e ao fim, um vencedor que agrada uns e irrita outros – principalmente aquela plateia que era quase toda Aries. Eu mesmo também preferia Aries e gostava que ele tivesse tido um reinado maior e com mais defesas – visto que ele no último PPV não o defendeu sequer. Mas após reflexão, compreende-se. Isto é uma recompensa para Hardy por se redimir e conseguir pôr-se direito outra vez e também uma manobra para o fazer renovar o contrato, não vá a WWE cheirar-lhe bem outra vez. E também… desde o seu regresso que ele tem sido um “poster boy” para os miúdos, mais tarde ou mais cedo o título cairia nele para liderar “oficialmente” a companhia e a sua programação. Concluo com o que já disse, grande combate.

No futuro: Austin Aries tem a sua rematch mas às tantas ainda é capaz de teimar um pouco mais. Jeff Hardy tem muitos possíveis adversários à sua frente e muitos deles competiram já nesta noite – well, duh? Acredito que o seu reinado entre e ainda se prolongue um pouco mais por 2013 dentro…


Foi um bom PPV e conseguiu elevar-se ao seu habitual estatuto e atingir a grandeza de Bound for Glory. Também pode ser daquelas coisas que depois de ver e de recordar parece que se vai engrandecendo e passado algum tempo sabe-nos ainda melhor do que imediatamente após o evento acabar. A TNA está a ter um bom ano, principalmente nesta segunda metade, e os PPV’s têm sido a principal prova disso. Que continuem assim e que entrem em 2013 em grande…

Para a semana, se não houver nenhum senão, que espero que não haja, cá estarei como sempre, para quem ainda não desgostar de me ler…

Cumprimentos,
Chris JRM

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