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Slobber Knocker #93: "Hijack Raw", superado?


Sejam todos bem-vindos a este Slobber Knocker pós-Carnaval. E se eu fosse um mal disposto recorrente a piadas fáceis dizia agora que o Carnaval na WWE ainda não acabou e já começou há demasiado tempo. Mas eu não sou disso. Mesmo quando estou desagradado, mantenho o meu pacifismo. Mas nem todos são iguais.....

E vou falar acerca disso mesmo. Atravessa-se actualmente uma fase em que o que mais enche arenas pelo pais Norte-Americano fora são fãs desagradados. Continuam a pagar mas, talvez em sua defesa, estejam a pagar para transmitir uma mensagem. De qualquer das formas, cânticos bem sonoros, apupos arrasadores e uma atitude geralmente hostil perante o produto. Porque eles fizeram asneira da grossa, é verdade. Mas... Será que conseguem lidar com essa plateia?

Olhando para este último Raw... Parece que conseguem. É verdade que eles sabiam para onde iam e devem ter-se preparado com as mais fortes armaduras e aqui teve que ser precaução extra. E ainda com esta coisa do “Hijack Raw”, parece que souberam como puxar uns quantos cordões aqui e ali.

E é mesmo disso que vou falar. Vou olhar para vários pontos do “Hijack Raw” e ver como eles foram capazes de os contornar.

CM Punk


Talvez o maior obstáculo. Numa altura em que ainda é remexida a controvérsia da saída de CM Punk, um dos talentos de topo e favoritos... Há ali um show marcado para a sua terra-natal onde ele é recebido como um herói . E se isto já lhes caía encima noutros locais, quanto mais em Chicago, onde têm sempre plateias boas e ruidosas e onde esse mesmo nasceu, foi criado e vive. Até lidaram bem com isso.

Só tinham que romper uma barreira: mencioná-lo. É certo que, tendo em conta que foi Punk quem se ausentou e não a companhia que o despediu, não adianta cantar para o irem buscar se foi ele que quis sair. Mas descontinuá-lo não vai resolver muito. Ou nada. A menção do seu nome já servia para lhes salvar um pouco o couro. E quiseram ir mais longe ainda e fazer um segmento inteiro girar à sua volta. Contornaram bem a situação e puxaram a brasa para a sua sardinha.

Rebentam com a plateia logo ao início ao tocar a música do adorado Superstar. Era verdade! Ele estava de volta! Ou então não, era só Paul Heyman e vinha já manipular a plateia como se fossem marionetas. Primeira superação de plano: enfrentaram a plateia de frente e utilizaram uma jogada de heat intencional em vez de assobiar para o lado e fazer de conta que não ouvem e arrecadar heat genuíno. Mais superações? Ora, Paul Heyman é um homem que sabe bem trabalhar o seu heat. Mas também é um indivíduo extremamente respeitado, principalmente numa plateia como aquela. E a sua associação ao Superstar predilecto podia dar-lhe mais respeito ainda, mesmo que fosse há pouco tempo que andassem às turras. Mata-se tudo duma vez: Paul Heyman é o bode expiatório para a partida pregada ao início e já tem heat; dá uma promo onde culpa os fãs pela saída de Punk e passa-lhes a batata quente, recebendo heat de Heel em troca; faz ponte para Brock Lesnar e promove e constrói o combate na Wrestlemania com Undertaker, para ter algo mais do que “ele tem uma streak, vamos ver se a acabamos e vamos perder na mesma.”

Com isto, o reconhecimento de uma plateia sedenta de CM Punk e a utilização confortável do seu nome, deu-lhes algum controlo da situação. Cantou-se o seu nome noutras situações, mas talvez já estivessem à espera também. Sobreviveram e a plateia soube manter a sua voz. E com tanto uso e atenção dada “àquele que não dizemos o nome”, já abre o apetite para os esperançosos do seu regresso...

Vai um ponto, conseguiram trabalhar mais algum?

Guest star


“Breaking Bad” é uma série bastante popular. E Aaron Paul também é um actor bastante querido pelos fãs, logo não havia qualquer razão para encher o rapaz de heat. Mas tinham que jogar pelo seguro, aquela plateia sabia bem quem queria ver e provavelmente estava a importar-se pouco com gente que vem de fora promover filmes cliché – é referente a um videojogo mas em que é que é realmente diferente de qualquer “Fast & Furious”? - e que não compete dentro daquele ringue.

Mais uma vez, tinham que jogar pelo seguro. Até podem gostar muito dele e da personagem dele, mas será mesmo ele que querem ver? Mesmo que não seja heat, queriam mesmo sujeitar a ter um actor de grande importância e relevância a ser recebido com cantos de “CM Punk”? Não, logo tem que se fazer alguma coisa e uma associação é o passo mais lógico. Bem, a plateia até pode estar fixada num nome, mas ainda gosta bastante doutros. E “We want Ziggler” também era um cântico planeado, não era?

Resolvem-se aqui dois problemas: dão Ziggler ao público e ancoram Aaron Paul como seu apoiante para ser bem recebido. O povo também quer o Ziggler a ganhar, logo dá-se-lhe um adversário que tem pouca importância para o público, que não esteja muito over nem seja daqueles que a plateia mais puxe. Alberto Del Rio está bem queimadinho, faz já um tempo. Tudo na mesma bola: participação de Aaron Paul, a puxar por Ziggler, para ter a certeza que a plateia estava do seu lado, o próprio Ziggler e este mesmo “show off” a vencer um combate, algo que tem vindo a ser menos frequente nestes últimos tempos, infelizmente. Nada que a plateia pudesse fazer contra o convidado, ele trazia um dos que queriam ver com ele e até lhe deu uma entrada porreira.

Não acredito que ele fosse ter heat, creio mais que viesse a ter alguma falta de atenção.O segmento tinha que ser com a Superstar certa e Dolph Ziggler é certíssimo. O público – e eu – até pode querer algo mais do “Show Off” do que o lutador para segmentos, querem vê-lo a fazer coisas importantes. Mas para já, só pediam Ziggler e tiveram Ziggler...

A atenção dada a Batista e à Authority


Algo que constava no plano mas que eu não tinha a total certeza que fossem concretizar: ameaçavam ou prometiam que quando Batista ou Triple H estivessem em ringue, em forma de protesto, a plateia viraria as costas, tirando a atenção dos ditos lutadores que não eram quem os fãs queriam ver. Não por uma razão de desrespeito, mas para transmitir a mensagem de que não eram eles que tinham pago para ver. Confesso que acho difícil que isso se concretizasse, colocar uma plateia inteira de costas voltadas para o ringue. Mas talvez achassem que tivessem que jogar pelo seguro na mesma.

Mesmo que tal não acontecesse, havia a possibilidade de estragarem totalmente um segmento. Batista a combater, desculpem o termo, mas iam cagar-lhe encima e o gajo mal se ia poder mexer que ia ouvir os sinos de Braga. Vimo-lo no Elimination Chamber. E foi contra o Alberto Del Rio que, no caso de falhar a memória, leia-se o que eu disse sobre ele e o quão over ele está no tópico anterior. Não podia combater com qualquer um ou seria um combate que não passaria de uma reles nota de rodapé no programa. O mesmo com algum segmento ou promo com Triple H e Stephanie McMahon. Quem os ia conseguir ouvir? Se calhar nem eles mesmos. E isso também o vimos. Com isso em conta, apenas eles a falar em ringue ia a lado nenhum e a mensagem ia ser transmitida ao Tanas.

O que fazer? Que tal colocá-los em ringue... Sempre quando já lá está outro que é o ouro daquela plateia? Aquele a quem não seriam capazes de estragar qualquer segmento. Exacto, sempre que Batista e Triple H subiam ao ringue, estavam acompanhados por Daniel Bryan. Virem lá as costas a isso agora. Na azeda troca de palavras entre Bryan e o casal-maravilha, os apupos eram bem altos e fortes, não haja dúvida. Mas apenas para um lado e com o propósito que eles querem. O pessoal ainda se cala para ouvir Daniel Bryan falar e para o apoiar. E a Authority fica bem carregadinha de heat, mas neste caso, heat de Heel e numa quantidade invejável para quem tanto dava para alcançar tal. O propósito desta storyline: Triple H, o Heel, ouve as bocas; Daniel Bryan, o Face, é adorado. Em vez de: Triple H e Stephanie McMahon, as figuras de poder que ainda vemos em TV para poderem ser o alvo do descontentamento, vêem o seu segmento sabotado por heat indominável. E admitamos, Daniel Bryan não está na mó-de-baixo, ele está a encher bem a TV, tem uma posição e uma história de topo, vendido como um heróico underdog e não há semana sem ele ou uma acção grandiosa dele. Isto de “não receber uma chance”é uma storyline que está a rolar bem e,a não ser que o Triple H queira fazer das dele na Wrestlemania, Bryan está longe de estar enterrado.

Agora passemos para o outro. Este já não se pode dizer que seja storyline alguma. O gajo virou Heel porque teve que ser. Ele nem é como o John Cena, que a malta ainda se diverte a vaiá-lo, este querem mesmo vê-lo dali para fora. Foi um falhanço, uma má ideia, não há grande volta a dar e o Vince já está, com certeza, a roer-se por dentro sem querer dar o braço a torcer, porque é o Vince. Este se está a ouvi-las e bem fortes, não há como fazer com que sejam “porque é suposto ser assim”. O máximo que pode haver é “para parecer que é suposto ser assim”. E colocá-lo num combate contra Daniel Bryan é uma brilhante ideia porque, se ele ia ser fortemente vaiado a cada movimento que fizesse... Ao menos que fosse contra aquele a quem havia uma chance de acontecer isso de qualquer forma. Aquele que é fortemente aplaudido a cada movimento que faça. Batista, agora já Heel, a ser vaiado para fora da arena, num combate contra Daniel Bryan, Face favorito dos fãs. Que tem isso de extraordinário? Não é suposto ser sempre assim?

Mais uma vez, deixam-me a impressão de que, afinal ainda sabem o que estão a fazer e que não se vão deixar controlar por fãs descontentes. Porque se isto não foi intencional, parece, pelo menos, olhando para o que eu disse, há ali pistas de estratégia, ainda por cima no show que eles tinham que agendar com muito cuidado, por ser onde é. Não parece coincidência. Porque também não há nada que salve o main event da Wrestlemania, muito sinceramente. Logo, ainda têm com o que ir remediando nestes dias...

Outras coisas que os fãs gostam


Há mais programa para além do panorama principal. Se querem distrair o público e mandá-lo para casa com o sentimento de satisfação em vez de desagrado e cólera, misturado com algum de poder e domínio, no caso de terem estragado alguns maus planos – apesar que isso deixa um gajo bem divertido – têm que lhes dar outras coisas que os deixe entusiasmados e que os faça esquecer a ideia inicial de que iam sabotar aquele Raw. Porque, nem por nada deste mundo, iam sabotar aquilo.

Primeiro ponto: era aqui o palco perfeito para o rematch entre os Shield e a Wyatt Family. Das “feuds molhadas”, recorrendo a termos pouco bonitos. E já com um combate com lugar garantido nos tops de final do ano, no Elimination Chamber. Um rematch com mais umas implicações novas – os Shield cada vez mais próximos de se desmoronar  - e com promessas de mais qualidade da alta, com um conjunto de tipos que ainda não foram capazes de fazer alguma coisa má desde que chegaram – isto para não dizer, logo directamente, que são das melhores coisas que lá estão. Um combate deste calibre e qualidade é feito de encomenda para aquela plateia e ela delicia-se enquanto assiste a mais um tremendo combate que já levou mais storytelling entre os Shield para tornar o combate diferente e criar novas reacções e nova fasquia. Uma boa história a desenvolver-se e a começar já outra, com um grande combate como pano de fundo. Os fãs não podem vaiar isso. Em vez disso, estavam todos loucos a saltar nos assentos enquanto não conseguiam esconder o entusiasmo pelo que a companhia que queriam sabotar lhes estava a dar. Bem jogado.

Segundo ponto: outro palco para cimentar mais um pouco a Face Turn de Cesaro. Uma coisa é certa: o tipo está extremamente over em todo o lado. Até o Vince e os oficiais já estão finalmente convencidos que aquele tipo é ouro. Está ali mais um main eventer para o futuro próximo e distante. Mas se querem dar um passo grande, que o façam numa localidade onde lutadores do calibre dele são adorados como figuras mitológicas. Ainda se reconciliou – mais ou menos – com Jack Swagger, mas já houve ali contacto físico e uma ameaça de swing – que com certeza iremos ver eventualmente. E um pop daqueles para cada coisa que ele fazia. A sua interferência no combate de Swagger para ficarem quites foi tão bem recebida como se ele tivesse salvo o mundo do apocalipse. Estas coisas podiam acontecer em qualquer lado que ele está suficientemente over para virar Face à vontade e ter boas reacções. Mas um passo importante num sítio destes dá-lhe um outro sabor.

A única coisa que não ficou muito bem: Big E, o Campeão Intercontinental, foi um boneco aqui. Ganhou por desqualificação duas vezes, foi usado como ferramenta de disputa entre Cesaro e Swagger e ao fim ainda leva heat por tabela, sem ter feito algo de mal – ele até é um lutador que a malta gosta, nem todos estão tão convencidos, eu pessoalmente gosto dele, outros são mais indiferentes... Mas não é lutador que carregue heat. E aqui não saiu favorecido em nenhuma forma...

Terceiro ponto: É um bom ambiente para os títulos Tag Team mudarem de mãos. O obstáculo: os New Age Outlaws serão sempre apreciados e apoiados pelos fãs, onde quer que seja, qual seja o lado das personagens deles. Cancela-se aquela introdução e ria de catchphrases para não ter a malta a cantar a mais eles e faz-se isso com uma boca reles. Pronto, essa parte está semi-resolvida. O pessoal gosta dos Usos e concorda que já não é cedo para ganharem os raios dos títulos. Um combate que solidifica a divisão de equipas e com grandes implicações, afinal, os títulos de equipas sempre mudaram de mãos. Não foi dos pontos mais fortes, mas também não foi mal pensado e até foi uma boa jogada para enriquecer um Monday Night Raw que, supostamente, iria pertencer ao público.

É claro que não dá para encher só disso e têm que vir os momentos de maior indiferença, como o combate de Divas ou a rivalidade mista entre os bailarinos e os goofs. Aqui, sinto que a Emma não esteja a ser bem utilizada de acordo com o seu potencial. Ela é feita para a comédia, mas não sinto que a estejam a explorar para ficar tão over como era no NXT. Ela até podia puxar bons pops por aqui, mas não deu – eu até estava a achar piada à confusão das tags, mas parece que o público não.

Mas, com isso de parte, ainda foi um Raw com bastante recheio para que pudessem dizer “Que razão de queixa têm? Tiveram isto, isto e aquilo que tanto gostaram, porque reclamam?” Mais uma vez, jogaram bem...

Tornar o Batista interessante


OK, pronto, aqui já não tenho por onde pegar, nem há nada a fazer. Todo o respeito aos fãs e gostos à parte, mas está mais que provado que trazê-lo foi um erro e o próprio Vince já deve saber isso. Numa altura em que só se fala em “best for business”, tomam uma medida que possivelmente os deixará a chafurdar nos próprios despojos: ainda se sujeitam a ter gente a sair da arena quando chegar ao main event – se houver malta com tomates para isso – e, com transmissão na WWE Network, já não se contam só compras de PPV... Também já se contam audiências e visualizações online. E também não me admiraria que vissem uma queda trágica ao chegar àquele momento – lá está, também, se houver alguém que acredite bem no que diga e o faça. Porque... Não há qualquer interesse em Batista agora. Achavam que um nome do passado ia trazer dinheiro... Acontece ser dos nomes do passado que o povo menos quer saber. Quantas vezes se cantou o nome de Batista nas arenas, após a sua saída...

Mas vá, para não acharem que eu estou apenas a ser mau e que estou a aderir a uma “moda” – há quem diga que o apoio a Daniel Bryan é uma moda... Apreciar talento em ringue é moda? – podem verificar em Slobber Knockers antigos... Eu nunca tive qualquer interesse num regresso de Batista e até o tinha nas listas de coisas/pessoas que não queria que voltassem porque não me fazem qualquer falta. E o meu entusiasmo de agora é o mesmo de quando se anunciou o seu regresso. E aparentemente, de uma grande fatia dos fãs.

Voltando ao assunto do que tentaram fazer, já não há muito a remediar. Mas tentam colocar uns remendos aqui e ali. Como a sua atitude Heel para dar a ilusão de que “Vocês não gostam dele porque ele é assim” e para manter a outra ilusão de que ele estava contra os fãs antes destes estarem contra ele. Quando é evidente que ele arrecadou a sua dose de “butthurt” porque pensava que ia estar tudo a fazer-lhe vénias. No entanto esta jogada já não tem tanto sucesso porque não passa de uma ilusão. Ainda se vê bem que o público não está a vaiar um Heel, está mesmo a mandá-lo embora e a pedir àos macacos do poder que façam coisas em condições. E o main event da Wrestlemania continua a ser uma alhada em que se verão à rasquinha para tentar sair.

Mas tendo isso de parte... Concluo a dizer que até se safaram bem. Talvez colocasse a mão no fogo para dizer que toda essa coisa do “Hijack Raw” foi criada por eles mesmos – e fartaram-se de falar e usar o termo – para deixar os fãs a pensar que iam ter poder, enquanto os colocavam exactamente onde queriam. Pode ser. Não sendo o caso, souberam fintar a situação e dar um Raw, com falhas, mas inteligente e com um óbvio esforço em superar lacunas que os têm vindo a enterrar aos olhos de muito antigo fã.

Como este parágrafo já foi a conclusão, é a vossa vez de comentar o assunto. Tudo o que anda à volta disto, desde o estado da Road to Wrestlemania, à atitude dos fãs e à forma como estão a lidar com tal. E quanto às tácticas de superação de obstáculos vindos da bancada, digam vocês se vêem esses planos como intencionais e bem sucedidos. Eu lá me vou retirando e deixo a palavra em vós e devo voltar para a semana com um assunto já mais simples e tradicional, referente a outra companhia. Por lá nos vemos, fiquem todos bem e, saltando de território, um bom Lockdown a todos.

Cumprimentos,
Chris JRM
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