A Realidade do Wrestling - Pro wrestlers nas MMA
Castrum
By Phil Clark
Uma boa escolha profissional?
Desde que o boom das Mixed Martial Arts reapareceu em 1997, o wrestling profissional tem sido notícia. A principal razão para ter vindo a ser notícia é o facto de os seus atletas (pro wrestling) têm tentado a sua sorte em MMA de forma a demonstrarem que realmente são os melhores do mundo. No entanto, com a excepção dos alumni da UWF/UWFi e Rings, os pro wrestlers não têm sido muito bem sucedidos neste mundo. O maior exemplo disso foi o desastre de 21 segundos de Yuji Nagata contra Mirko Cro Cop em 2001. Neste passado fim-de-semana Brock Lesnar fez a sua estreia pela UFC, num esforço sem resultados contra o antigo campeão de pesos pesados Frank Mir. Enquanto a maioria poderia considerar isto como um desagradável imprevisto (não foi) ou como se fosse apenas outro pro wrestler incapaz de fazer a transição (não o foi). Muita gente não viu as coisas como elas são: um homem que perde no segundo combate que tem na carreira contra um antigo campeão mundial perito em ju-jitso brasileiro. Porém, Lesnar pode ser apenas a ponta do icebergue no que toca à nova relação pro wrestling/MMA, enquanto outros pensam ou planeiam também entrar no ringue/octágono.
Phil Clark diz: O que os wrestlers fazem em MMA não se deveria reflectir no wrestling e vice-versa.
Sempre que o wrestler profissional perde num combate de MMA – o que já aconteceu bastantes vezes – muita gente usa esse facto para exagerar com “a natureza falsa do pro wrestling” e de como eles não conseguem mesmo combater. Antes de mais, existem bastantes lutadores no wrestling profissional que são legítimos atletas de combate e há outros que não conseguem verdadeiramente combater sem que esteja já tudo planeado. No entanto, a hipocrisia desse argumento verifica-se quando um atleta de MMA tenta entrar no mundo do pro wrestling e não é bem sucedido – o que também já aconteceu por diversas ocasiões – sendo que aí já ninguém fala no assunto. O fiasco de Bob Sapp na New Japan há alguns anos é o exemplo perfeito de um lutador de MMA que entrou no mundo do pro wrestling e foi terrível, sem que ninguém falasse disso. Ou, se quiserem um exemplo ainda melhor do desempenho de Sapp, basta verem qualquer show da Wrestle-1 com este homem no card. E não pensei que eu estou apenas a deitar abaixo Bob, acho que Kevin Randleman, Mark Coleman, Don Frye, entre tantos outros exemplos de lutadores de MMA deveriam ter ficado no ringue em que os murros são reais, felizmente Yuji Nagata apercebeu-se disso a tempo.
Por outro lado acredito que se deveria elogiar sempre que um lutador de MMA tem sucesso no mundo do wrestling. Sempre que um wrestler desfruta de algum sucesso no mundo das MMA é logo notícia e é um assunto falado um pouco por todo o lado, mas um lutador de MMA ter sucesso no mundo do wrestling? Quem quer saber disso? É tudo falso, porque é quereríamos saber disso? Porquê? Que tal pelo facto de estar tudo planeado e coordenado e um lutador tem de confiar apenas no seu talento e habilidade em vez de confiar na sua dureza e num queixo duro. Kazuyuki Fujita é o único wrestler de uma promoção que não era “shoot-style”, a desfrutar de sucesso nas MMA que foi digno de nota. Sim, ele nunca foi nada de especial dentro do ringue de wrestling, mas o facto de ser um wrestler e de superar as expectativas iniciais em MMA levou-o a ser digno de ir combater ao Japão. No caso de Kazushi Sakuraba, Kiyoshi Tamura, Volk Han, e um conjunto de outros wrestlers de promoções “shoot-style” que acabaram por ser igualmente capazes no mundo dos combates reais, o seu passado no pro wrestling foi esquecido ou mencionado de passagem na melhor das hipóteses.
Mas e em relação à estabilidade de Ken Shamrock no wrestling? Eu sei que não foi nada de cortar a respiração, mas ele teve um desempenho muito melhor que qualquer outro lutador americano (lembram-se de Tank Abbot na WCW?) e nunca lhe foi dado o devido crédito por isso. O facto de ele entrar em 1997 – um tempo em que qualquer movimento técnico era considerado “old school” e que acabaria por ser considerado obsuleto até ao fim dos anos 90 – fez com que lhe fosse quase impossível manter o seu estilo, sendo que pelo fim de 1998 ele já era basicamente um brawler. Mas como trabalhador ele nunca foi terrível e no inicio até era bastante bom. Mas alguém se lembra disto? Provavelmente não.
Então o que tem tudo isto a haver com o combate de Lesnar? É uma medida preventiva contra qualquer um que vá citar este combate como mais um exemplo de um wrestler incapaz de singrar em MMA. Este foi o seu segundo combate – o seu primeiro foi contra um lutador com pouca experiência em Junho do ano passado – e foi realizado contra um lutador muito mais rotinado e experiente que Lesnar. No que toca ao pro wrestling, Lesnar abandonou-o em 2004. Se olharem para os seus combates na New Japan e o combate do ano passado comparados com o seu tempo na OVW e na E, saberão que não era o mesmo Brock Lesnar no ringue, mas um tipo que se fartou do negócio e que usou o seu tempo no Japão para ter algo para fazer antes de entrar nas MMA.
A realidade é...o “shoot-style” e o “mat wrestling” são as formas de wrestling mais realísticas. Elas assim o são porque têm as componentes mais parecidas com as que envolveria um combate verdadeiro. Na vida real não se veriam nenhum movimentos do estilo high-flyer ou wrestling hardcore a não ser que se estivesse a ver a Spike Tv às onze da manhã. Com Daniel Puder a contar com um currículo de 5-0 em Mixed Martial Arts, e tendo acabado de completar o seu “teste” na ROH, a linha entre as MMA e o pro wrestling atenua-se cada vez mais. A entrada de Lesnar em MMA, com os seus feitos no mundo do wrestling a serem a única fonte para a promoção do combate – nenhumas imagens da sua luta na K-1 foi mostrada – vai coincidir com o estatuto actual de Puder como tweener entre o pro wrestling e a MMA. Não estou a encorajar a entrada de mais wrestlers nas MMA, na verdade a minha opinião até é contrária. Os lutadores de wrestling que tentam a sua sorte nas MMA vêem-se num tipo de “jogo” completamente diferente do wrestling, aplicando-se o mesmo no sentido inverso. Se mesmo assim quiserem tentar, tudo bem, mas por favor treinem direito e não saltem directamente lá para dentro – não há nada a apontar a Lesnar porque este fez o seu trabalho para realizar a transição. Em ambos os casos, normalmente isto acaba em embaraço, não apenas para os lutadores que tentam, mas também para ambos os negócios.