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Styles Clash # 1 - O Ùltimo Resistente

Ele acorda cansado, acorda exausto, mas desde há muito tempo que não se sente dorido, não sente o seu corpo a chegar ao limite, não sente nada, e curiosamente isso deixa-o revoltado, e com uma sensação de vazio enorme.
Olha á sua volta e vê que se encontra numa suite, aprumada, aconchegante, requintada, e com uma vista incrivel sobre a cidade de Philadelphia. Mas mais uma vez, isso apenas o deixa cada vez mais nostálgico, aos tempos em que passava as noites em residencias baratas, degradantes, e sem qualquer conforto e requinte.

Vê no seu corpo várias marcas e cicatrizes. Ele sabe exactamente a data e as circunstâncias em que cada uma delas aconteceu.E também sabe que nenhuma delas aconteceu recentemente.
Dirige-se ao átrio para tomar o pequeno-almoço. Encontra um jornal enrolado e esgatafunhado, na mesa onde se senta.
Abre o jornal e apenas encontra mais do mesmo. Mais rumores para novas contratações do Benfica, um mundo em crise, criminalidade, tudo continua na mesma. O Mundo continua o mesmo, e ele pergunta apenas o porquê da sua querida ECW não continuar também, a mesma. O nome mantêm-se mas o conteúdo é apenas mais um. E é isso que o icomoda, porque a , sua, ECW já não é diferente, agora ela é igual. Igual a tudo e igual a nada. Deixa o jornal da mesma forma que o tinha encontrado, enrolado e esgatafunhado.
Hoje é dia de trabalho e têm uma limusine á sua espera. Bem no fundo ele queria destrui-la. Ele sabe que apenas lhe dão este luxo todo, porque ele não o quer. Ele sabe que isto é uma provocação. Mas também sabe que não têm outra hipótese. Engole o orgulho, respira fundo e entra na limusine. Estão já lá dentro alguns elementos da ECW.
Depois de cumprimentos timidos, e alguns deles até falsos, gera-se um silêncio cortante, que apenas é interrompido pelo som irritante, e insurdecedor de uma busina. Enquanto os outros conversam entre si, ele fica em silêncio. Vai olhando as ruas de Philadelphia, e a meio da viagem algo lhe chama a atenção. Ao fundo da rua viu uma arena. A sua arena. A arena da sua ECW. Ele conheçe aquele local como a palma da sua mão, mas naquele dia tudo lhe parecia novo, parecia a primeira vez que por ali passava. Abriu discretamente a sua janela e olhou atentamente para aquele local que lhe trazia tantas memórias.

Aquele Bingo sem conforto, ou qualquer classe era o local aonde ele pertencia. E se por momentos ficou com um sentimente reconfortante, rapidamente a nostalgia regressou ao seu espirito. Ele viu a “ New Alhambra Arena “ fechada. Aquele recinto que outrora, albergou noites memoráveis para fãs e lutadores, encontrava-se agora com um silêncio, e um vazio deprimentes. Ele mais uma vez recostou-se no carro sem dizer uma palavra.
Era altura de sair para o Wichovia Center o local do show dessa noite.
A limusina parou e todos sairam dela. Menos ele. Ele encontrava-se distante, muito distante dali. Várias memórias e pensamentos interpelaram-se na sua cabeça, e apenas foram interrompidas depois de várias tentativas do motorista de o “acordar”.
Finalmente saiu e entrou no recinto. À medida que passava pelo corredor no backstage, todas aquelas caras eram diferentes. E ao mesmo tempo eram todas iguais. Todos os cantos daquela arena eram diferentes. Mas de certa forma também pareciam todos iguais.
Enquanto percorria o corredor, ouvia risos troçadores ao longe, bem longe. Ouvia risos troçadores de todos aqueles que não respeitavam o seu estilo de vida. Que não respeitavam a alma da ECW, que ainda jazia dentro dele.
Olhou para o bálneario e já não restava á sua volta nenhum dos seus companheiros, da original, da antiga ECW. Apenas via ali “Superstars”, não restava nenhum Rei do Hardcore, não restava lá nenhum Suicida e Homicida, não restava nenhum bebâdo com a sua cana de singapura, não restava ninguém dos bons velhos tempos.


Já não falta muito para começar o show. Um show repleto de combates de wrestling...normais, típicos.
Já sabia qual seria o resultado final do seu combate. Iria novamente perder para um qualquer lutador, decadente, limitado, e inglório . È algo que já começa a ser uma rotina, e mais uma vez tinha que esconder o seu orgulho e insatisfação e fazer tudo conforme o previsto.
Chegava a altura de ele entrar em acção. Começou a tocar a sua música de entrada, e ele tinha que entrar com a mesma expressão, com a mesma atitude de sempre, esqueçendo que mais uma vez iria ser humilhado e desrespeitado.
Enquanto olhava á sua volta, via claramente, que aquele não era o seu público, que aquela não era a sua arena, que aquele não era o seu ringue. Ele pertencia e sempre pertencerá aquele bingo que fica na 7 West Ritner Street.
Aquele combate pouco lhe importava, já sabia que novamente ia sair por baixo.
Mas algo o faz continuar de pé e orgulhoso. Quando bate com a mão três vezes no peito, apesar de timidamente, gritam-se as palavras de E....C....W. Nesse momento ele percebeu que o Legado da ECW ainda não estava Morto. Enquanto ele se mantivesse ali, mesmo estando sozinho, ele poderia garantir que as letras E C W não seriam esquecidas por ninguém. Porque enquanto olharmos para ele será inevitável não pensarmos na Companhia que ele personifica melhor que ninguém.
O resultado daquele combate já era sabido. Ele perdeu. Mas mais importante que isso, muito mais importante que isso, foi que ele se voltou a levantar e mostrou que apesar do respeito que merece não lhe ser dado, ele continuará a dar a outra face.
Tommy Dreamer é o último resistente.

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