Tomos de Eternidade
Esta semana falarei de um wrestler desconhecido pela maior parte do público actual, mas este é um wrestler que deixou um legado tal que, não apenas tem uma banda Rock nomeada em sua honra, como está a ser produzido um filme biográfico sobre a sua vida.
Sputnik Monroe.

Poderão claro perguntar; “Mas que fez este wrestler de tão importante que está um filme a ser feito sobre a sua vida?! O Hulk Hogan não tem um filme! O Ric Flair não tem um filme!”.
A verdade é que Monroe usou o poder que tinha entre as quatro cordas de uma forma que mais nenhum wrestler o fez.
Mas antes um pouco de história.
Sputnik Monroe nasceu Rosco Monroe Merrick, a 18 de Dezembro de 1928, em Dodge City Arkansas. O seu pai faleceu cerca de um mês antes do seu nascimento, tendo a sua mãe voltado a casar mais tarde.
Monroe estreou-se no mundo do wrestling em 1945 lutando em feiras( na altura a ideia de promoções ainda estava no início). Ao longo das décadas seguintes viria a ganhar grande notoriedade, tendo ganho 19 títulos de campeão( individual e de equipas) em 7 promoções diferentes. Incluindo as notórias Championship Wrestling from Florida, Georgia Championship Wrestling e NWA Tri-State( mais tarde a Mid-South Wrestling). Entre as suas conquistas está um reinado como NWA Junior-heavyweight Champion( o único título mundial além do World Heavyweight reconhecido pela NWA).
Ele era particularmente conhecido nos territórios de Memphis, Tennessee( onde estabeleceu um recorde de assistência que durou até ás Monday Night Wars).
Mas a sua notoriedade não está, como já referi nas conquistas dentro do ringue, mas sim á volta dele.
Estávamos no final da década de 50/início da de 60e no Tennessee, bem como em outros estados Sulistas, a ordem social era dominada pelo racismo e segregação racial. Tal era visível no facto de haver escolas separadas para brancos e negros, cinemas separados, restaurantes, casas de banho, até parques públicos eram segregados.
Tal também se aplicava às arenas de wrestling. Normalmente os lugares reservados aos negros eram em pequena quantidade e eram essencialmente os piores assentos da arena.
Tal era o caso no Ellis Auditorium onde Sputnik era um habitual main-eventer, enchendo sucessivamente a casa. Um dia Sputnik, que em semelhança a muitos dos seus contemporâneos, acordou com a consciência dos Direitos Civis e decidiu tentar mudar as coisas.

O método que os promotores usavam para controlar o número de pessoas de cor nas arenas passava por terem alguém que ia contando quantas pessoas iam entrando até terem o número desejado. Sputnik subornava os contadores para darem um número mais pequeno do que a realidade, assim podiam estar 500 pessoas de cor no edifício que eles apenas contabilizavam umas dezenas.
Mas a certa altura Sputnik considerou que tal não era suficiente, e como tal decidiu fazer uma jogada no mínimo perigosa. Foi ter com os promotores e disse-lhes:
“Eu sou a vossa maior estrela, o vosso maior draw, sou eu quem traz a assistência á arena. Sou eu que vos crio dinheiro.
Por isso, ou acabam com a segregação na arena ou não actuo mais, e lá se vão os vossos lucros”.
É necessário ter em conta o que se passava na altura. Nessas décadas o Movimento dos Direitos Civis estava a toda a força, mas acabar com a segregação no Sul não era tarefa fácil, milhares de activistas eram presos, ameaçados ou atacados pelos apoiantes da segregação. Houve até casos de activistas assassinados por racistas( Martin Luther King anyone...). Um famoso caso foi o de Viola Liuzzo, uma dona-de-casa de Detriot, que foi assinada quando conduzia para o Alabama de forma a participar numa acção Civista. Esta foi apenas uma pessoa que morreu neste combate de ideologias, e como tal Sputnik Monroe estava a arriscar consideravelmente o pescoço ao fazer tal exigência.
Monroe contudo teve sucesso na sua batalha, tendo acabado com a segregação nas arenas, o primeiro passo tomado para a consequente vitória dos Direitos Civis.
Sputnik Monroe foi então considerado uma das figuras do final da segregação, tendo sido honrado em 2002 no Memphis Rock and Soul Museum pelo seu papel na luta pelos direitos civis.
Sputnik Monroe retirou-se do wrestling em 1998, terminado uma carreira de 53 anos!!! Teve uma morte calma, tendo falecido de morte natural( um luxo que muitos wrestlers não têm), durante o sono a 3 de Novembro de 2006, aos 77 anos.
Esta é a história de Sputnik Monroe, um homem que deixou um grande legado, não pelo que alcançou num desporto fingido(é verdade), mas sim de Luta de Direitos Civis, que eventualmente ajudou a acabar com as desigualdades raciais nos Estados Unidos.
Considerando que a maior parte das vezes apenas saem histórias tristes desta bizarra forma de entretenimento, achei por bem variar um pouco, mostrando o poder do wrestling para fazer o bem( algo lamechas não).
(tributo a Sputnik Monroe feito numa promoção moderna de Memphis. 4 de Novembro de 2006)
manjiimortal
“ Death is merciless. But let me tell you... Not being able to die is crueller still.”
Sputnik Monroe.

Poderão claro perguntar; “Mas que fez este wrestler de tão importante que está um filme a ser feito sobre a sua vida?! O Hulk Hogan não tem um filme! O Ric Flair não tem um filme!”.
A verdade é que Monroe usou o poder que tinha entre as quatro cordas de uma forma que mais nenhum wrestler o fez.
Mas antes um pouco de história.
Sputnik Monroe nasceu Rosco Monroe Merrick, a 18 de Dezembro de 1928, em Dodge City Arkansas. O seu pai faleceu cerca de um mês antes do seu nascimento, tendo a sua mãe voltado a casar mais tarde.
Monroe estreou-se no mundo do wrestling em 1945 lutando em feiras( na altura a ideia de promoções ainda estava no início). Ao longo das décadas seguintes viria a ganhar grande notoriedade, tendo ganho 19 títulos de campeão( individual e de equipas) em 7 promoções diferentes. Incluindo as notórias Championship Wrestling from Florida, Georgia Championship Wrestling e NWA Tri-State( mais tarde a Mid-South Wrestling). Entre as suas conquistas está um reinado como NWA Junior-heavyweight Champion( o único título mundial além do World Heavyweight reconhecido pela NWA).
Ele era particularmente conhecido nos territórios de Memphis, Tennessee( onde estabeleceu um recorde de assistência que durou até ás Monday Night Wars).
Mas a sua notoriedade não está, como já referi nas conquistas dentro do ringue, mas sim á volta dele.
Estávamos no final da década de 50/início da de 60e no Tennessee, bem como em outros estados Sulistas, a ordem social era dominada pelo racismo e segregação racial. Tal era visível no facto de haver escolas separadas para brancos e negros, cinemas separados, restaurantes, casas de banho, até parques públicos eram segregados.
Tal também se aplicava às arenas de wrestling. Normalmente os lugares reservados aos negros eram em pequena quantidade e eram essencialmente os piores assentos da arena.
Tal era o caso no Ellis Auditorium onde Sputnik era um habitual main-eventer, enchendo sucessivamente a casa. Um dia Sputnik, que em semelhança a muitos dos seus contemporâneos, acordou com a consciência dos Direitos Civis e decidiu tentar mudar as coisas.

O método que os promotores usavam para controlar o número de pessoas de cor nas arenas passava por terem alguém que ia contando quantas pessoas iam entrando até terem o número desejado. Sputnik subornava os contadores para darem um número mais pequeno do que a realidade, assim podiam estar 500 pessoas de cor no edifício que eles apenas contabilizavam umas dezenas.
Mas a certa altura Sputnik considerou que tal não era suficiente, e como tal decidiu fazer uma jogada no mínimo perigosa. Foi ter com os promotores e disse-lhes:
“Eu sou a vossa maior estrela, o vosso maior draw, sou eu quem traz a assistência á arena. Sou eu que vos crio dinheiro.
Por isso, ou acabam com a segregação na arena ou não actuo mais, e lá se vão os vossos lucros”.
É necessário ter em conta o que se passava na altura. Nessas décadas o Movimento dos Direitos Civis estava a toda a força, mas acabar com a segregação no Sul não era tarefa fácil, milhares de activistas eram presos, ameaçados ou atacados pelos apoiantes da segregação. Houve até casos de activistas assassinados por racistas( Martin Luther King anyone...). Um famoso caso foi o de Viola Liuzzo, uma dona-de-casa de Detriot, que foi assinada quando conduzia para o Alabama de forma a participar numa acção Civista. Esta foi apenas uma pessoa que morreu neste combate de ideologias, e como tal Sputnik Monroe estava a arriscar consideravelmente o pescoço ao fazer tal exigência.
Monroe contudo teve sucesso na sua batalha, tendo acabado com a segregação nas arenas, o primeiro passo tomado para a consequente vitória dos Direitos Civis.
Sputnik Monroe foi então considerado uma das figuras do final da segregação, tendo sido honrado em 2002 no Memphis Rock and Soul Museum pelo seu papel na luta pelos direitos civis.
Sputnik Monroe retirou-se do wrestling em 1998, terminado uma carreira de 53 anos!!! Teve uma morte calma, tendo falecido de morte natural( um luxo que muitos wrestlers não têm), durante o sono a 3 de Novembro de 2006, aos 77 anos.
Esta é a história de Sputnik Monroe, um homem que deixou um grande legado, não pelo que alcançou num desporto fingido(é verdade), mas sim de Luta de Direitos Civis, que eventualmente ajudou a acabar com as desigualdades raciais nos Estados Unidos.
Considerando que a maior parte das vezes apenas saem histórias tristes desta bizarra forma de entretenimento, achei por bem variar um pouco, mostrando o poder do wrestling para fazer o bem( algo lamechas não).
(tributo a Sputnik Monroe feito numa promoção moderna de Memphis. 4 de Novembro de 2006)
manjiimortal
“ Death is merciless. But let me tell you... Not being able to die is crueller still.”