Free Thoughts VIII - Sangue, suor e lágrimas

Não me vou alongar muito na análise do filme, penso que, certamente já todos saberão que a obra em questão narra a história de Randy “The Ram” Johnson, um wrestler que vive os últimos dias da sua carreira e que constata que, infelizmente, os seus humildes pertences se reduzem a uma caravana a desfazer-se em mil pedaços e uma família desagregada que de si pouco, ou mesmo nada, quer saber.
Não sei se padecem deste mesmo mal que eu, mas, aqui o vosso companheiro das sextas-feiras no WN, quando sente a semana a alcançar o seu término, tem por hábito realizar uma pequena retroespectiva sobre os seus últimos comportamentos e atitudes. Com estes breves momentos de intensa introspecção, vem a nostalgia e o saudosismo que me obrigam a recordar com ternura os tempos em que eu era uma criança feliz, despreocupada e ingénua que brincava de forma endiabrada todo o dia e adormecia a desejar avidamente pelo amanhecer, altura em que o divertimento chegaria novamente.
Admito que a obra “The Wrestler” teve o poder de me colocar a pensar, não só em wrestling, mas também nesta decadente existência que protagonizamos e tão pomposamente denominamos por vida. É deveras constrangedor perceber que a maldade e a premeditação, são intrínsecas à precária condição humana. Vivemos numa sociedade promíscua e corrompida em que valores como a fraternidade e o altruísmo nada nos transmitem. Infelizmente, nos atribulados dias trausentes, tudo se singe a um mísero punhado de notas. Dinheiro é poder e quem disser o contrário vive na mais imbecil das utopias.
É hediondo constatar que um Hulk Hogan (tinha de vir bater no ceginho...), a maior figura do wrestling profissional de toda a história do pro-wrestling, é perfeitamente capaz de faltar a um show para o qual estava inicialmente escalado, desiludindo assim milhares de fãs que aguardavam fervorosa e expectantemente pelo “Real American”, tudo por um desentendimento na quantidade de zeros a colocar no seu belo cheque de vencimento.
Depois, existem aqueles tipos asquerosos, como por exemplo Batista e Booker T, que de uma maneira extremamente curiosa se esquecem das suas origens, para assim se passarem a comportar como dois autênticos, arrogantes e distintos snobes que tudo fazem por um pouco de destaque e protagonismo no seio das suas respectivas empresas.
Em suma a futilidade e a superficialidade dominam o mundo, e consequentemente, também essa sublime federação apelidada de WWE se encontra sob os seus efeitos nefastos. Nos dias actuais, a única coisa que parece interessar ao ser-humano, são sumptuosas casas campestres, com floridos jardins, belas piscinas de águas luzídias; e velozes carros desportivos, de preferência descapotáveis, topo de gama, acabadinhos de sair do stand com o conta-quilómetros ainda no zero.
Até me podem chamar lamechas, não quero saber, honestamente não me causa a menor impressão admitir que nestes momento de decepcção, olho em volta, miro o que me rodeia desinteressadamente, respiro fundo, sinto a vista a aclarar e então suspiro de forma tranquila...pois por fim compreendo a, outrora, indecifrável verdade, nem tudo está perdido, ainda existem coisas porque lutar e acreditar...Podemos ter uma Liga Sagres inundada de árbitros corruptos e de interesses dos senhores Pinto da Costa, Luis Filipe Vieira e Soares Franco. Todavia, ainda existe aquele jogo de 3ª ou 4ª categoria entre o Ericeirense e o Olivais, em que as condições ao espectáculo não são muitas, mas em que os seus intervinientes nos dão o melhor de si para agradar à meia dúzia de viva-almas que tiveram a rídicula ideia de ir assistir a tão mísero jogo.
Regressando à temática central do texto, pro-wrestling, não sei o que me dizem, mas a meu ver, por vezes, já basta de observar as birrinhas infantis e desprovidas de nexo do Batista, as pretensões por bajulação e destaque de Booker T e os favores cobrados por Triple H a Vince que, usualmente, acabam por lhe providenciar mais um título mundial, para então assim alargarmos os nossos horizontes até campos anteriormente inexplorados e, consequentemente, abandonármos este mundo mundano e superficial, completamente atolado em invejas alheias.
Tenho de aceder ao facto de que, nos últimos tempos tenho aprendido a apreciar e a louvar, cada vez mais, o trabalho desenvolvido nas promotoras de wrestling independentes. Nessas pequenas companhias as coisas ainda vão funcionando de uma maneira relativamente singela e transparente, não existem mordomias, confortos desnecessários, caprichos, influências ou qualquer tipo de jogo de poder nos bastidores. Antes pelo contrário, todos se auxiliam mutuamente, sacrificando por vezes a sua vida pessoal em prol da sua paixão.

Todos aqueles profissionais cooperam no sentido de nos providenciar algum entretenimento, não existem tempos mortos para lamúrias ou queixumes, há sempre um ringue a desmontar ou um palco a erguer para o espectáculo da próxima noite.
Por razões óbvias, estes senhores permanecerão para toda a eternidade confinados ao anonimato e nunca terão o privilégio de exibir a sua considerável mestria e engenho num grande palco. Para além disso, estes corajosos e bravos guerreiros estão perfeitamente cientes que nunca terão dedicados a si textos bonitos, recheados de palavras de palavras caras e apreço por parte dos fãs, uma vez que, na grande maioria dos casos, estes não passam de uns menosprezados lingrinhas quando comparados com os avantajados wrestlers da WWE.
Tenho alguma pena que o assim seja, mas infelizmente um talentoso lutador de uma indy, que, comumente, apresenta um fraco porte fisico, nunca obterá sucesso na companhia de Vince, pois aí imperam os palermas com grandes músculos e não os atletas verdadeiramente competentes.
Porém nada disso interessa minimamente a esses valorosos homens que figuram nas independentes, visto que, para eles o mais importante é a confraternização e a diversão que a modalidade lhes proporciona, se com isso conseguirem ainda proporcionar ao pequeno reducto de espectadores que assiste aos seus shows um bom momento de wrestling em que todas as quesílias e preocupações interiores (tanto dos presentes na plateia como dos envolvidos na contenda) ficam de parte, melhor!

Fiquem bem