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Free Thoughts XII (edição extra)

Por volta de 1980, o wrestling profissional era uma indústria assente numa grande precariedade. Por um lado, dominavam ainda as tradicionais promotoras regionais, que limitavam a sua acção e difusão a uma determinada região. No entanto, em oposição a esta ideia, o mundo e, consequentemente, o pro-wrestling, caminhava, cada vez mais, no sentido da globalização.

Vincent Kennedy McMahon, era então um jovem empresário visionário, que procurava concentrar na sua promotora o monopólio do wrestling Norte-Americano. Nesse sentido, muitos passos haviam sido calcorreados pelo líder da WWE, como por exemplo, a criação de storylines cada vez mais elaboradas, a clara delineação entre faces e heels, a introdução de merchandise e a contratação de um então jovem culturista, de nome Hulk Hogan, no qual Vince tinha descoberto um carisma indomável, capaz de gerar receitas, anteriormente, impensáveis.

A 31 de Março de 1985, Mr. McMahon apresentava ao mundo a prova inequívoca de que pretendia transformar o wrestling num fenómeno mundial e foi assim que, com grande coragem e ousadia, este, em conjunto com os seus leais subordinados, criou, a partir de nenhures, o primeiro ppv da história do wrestling profissional, estou, evidentemente, a falar-vos da Wrestlemania.

Durante a década de 80, muitas foram as adversidades impostas ao desenvolvimento do pro-wrestling. Infelizmente, por muitas ocasiões, esta modalidade foi mal interpretada e acolhida com desconfiança por parte do grande público. Porém, nada disso consegui abater o espírito combativo de Vince, que recorrendo a estratagemas que iam desde contratos com celebridades, a parcerias com a MTV e com outros meios de comunicação que pretendiam cativar a juventude, lá foi tendo sucesso na árdua tarefa de difundir este, hoje em dia, tão aclamado desporto.

Nos finais da década de 80, primórdios da década de 90, o wrestling já havia preconizado o seu colossal “boom” e assemelhava-se agora a um mundo meio “cartoonistico”, recheado de aventuras e desventuras, nas quais o bem e o mal estavam em constante confronto.

Em meados dos anos 90, com a difusão do movimento “grunge”, o até então público alvo do wrestling profissional, havia-se tornado mais maduro. Para além disso, a World Championship Wrestling, crescia cada vez mais, tornando-se assim numa séria ameaça para a companhia sedeada na região do Connecticut.

Tendo em conta este agourentos factores, era requerido, à então, WWF que repensasse com urgência o seu produto e qual o seu público alvo. Por voltas do Survivor Series de 1997, a companhia da família McMahon estava numa crise profunda, sendo assim, Vince não podia de modo algum arriscar a boa saúde da sua empresa e então traiu Bret Hart no mediático incidente que ficou conhecido por Montreal Screwjob.

Com esta malograda ocorrência, todas as anteriores concepções acerca de wrestling profissional haviam caído por terra. Já não havia lugar para os heróis, esta era a época da irreverência, da delinquência e das figuras politicamente incorrectas.

Se em 1980 Vince havia escolhido Hulk Hogan para liderar a WWF, 1990 viria a ser a década da rebeldia de Stone Cold, o que evidenciava que as mentalidades se tinham alterado drasticamente e que, agora, o público alvo do produto oferecido pela empresa de Vince, pertencia a uma faixa etária bem mais elevada e que, por consequência, não se contentava com as antigas conjecturas irreais, ambicionando assim por rivalidades com bases cada vez mais verídicas.

Estamos em 2001, a WCW havia sucumbido perante a força e perseverança avassaladora da WWF, sendo assim, era o momento de findar em glória todo aquele período vulgarmente denominado por Attitude Era.
Em Abril desse ano, deu-se a Wrestlemania X-Seven, sendo que, esta é para muitos, a melhor edição de sempre do maior palco de todos.

No término desse ppv, Vince McMahon auxiliou Stone cold a conquistar o título da WWF num NO DQ match, frente a The Rock. No final da contenda em questão, para estupefacção dos espectadores, os dois indivíduos (Stone Cold e Vinnie Mac) de cujo o ódio nutrido um pelo outro havia sido o mais esplendoroso motor da Attitude Era encontravam-se no ringue, a saudarem-se mutuamente a a beberem cerveja em conjunto.

Por mais uma vez, as concepções que circundavam a WWF tinham-se alterado por completo e, com o pacto preconizado pelos dois eternos rivais, uma nova era do wrestling profissional conhecia o seu inicio.


Estamos em abril de 2009 e no passado domingo, dia 5, decorreu em Houston, Texas a vigésima quinta edição da Wrestlemania. A principio senti-me desiludido com o desenvolver dos combates, posso parecer palerma aos vossos olhos, mas tinha esperanças de ver John Cena a preconizar um heel turn, de forma a sair da WM com o título numa mão e Vickie noutra. Tinha fé de que Stephanie se aliasse a Orton, por algum motivo incógnito, de maneira a assim tentar destruir Triple H e os restantes McMahons. Enfim...tinha esperança de que ocorresse algo capaz de alterar toda a actual realidade na qual a WWE está assente.

Quando iniciei a redacção deste texto, procurava descarregar aqui as minhas frustrações em relação à Mania, tecendo diversas criticas à direcção da WWE e a Vince McMahon. No entanto, após realizar esta pequena pesquisa em relação à evolução da companhia dos McMahons até aos dias trausentes, constato que não tenho a menor razão para fazer tal coisa...

Primeiramente, o wrestling era um desporto praticado a nível regional, Vince soube globalizá-lo e transformá-lo num negócio próspero. Em meados da década de 90, quando a WWF se deparou com uma grave crise, na qual a WCW a ameaçou ultrapassar, Vince evidenciou por mais uma ocasião estar ao corrente do que se passa no mundo e, consequentemente, maturou o seu produto de forma a transformá-lo em algo bem mais adulto e rebuscado.

Nos princípios do novo milénio, a ameaça da WCW já não existia, assim sendo, já não fazia sentido manter aquela politica frenética que foi empregue durante as Monday Night Wars e, como consequência, por mais uma vez, Vince reorientou o seu produto, de maneira a voltá-lo novamente para um público mais juvenil.

É evidente que um John Cena, por exemplo, não vai protagonizar um heel turn, Vince nunca iria correr os riscos de perder os avultados lucros que o individuo oriundo de Massachussets lhe possibilita. É óbvio que Rey Mysterio e Batista gozarão sempre de uma posição proeminente no seio da WWE, no fim de contas, estes são idolatrados pelas criancinhas...

Em suma, com a sua politica actual, as receitas da companhia sedeada no Connecticut vão-se mantendo prósperas e os tipos que reclamam por wrestling bom e adulto não são ouvidos, pois, infelizmente, nos dias correntes, estes não passam de uma minoria.
Todavia, tenho esperanças de que esta minoria continue a crescer e de que, quem sabe, em breve, passe a ser uma maioria forte, ponderada e coerente, porque no dia em que essa feliz situação se verificar, garanto-vos, meus amigos, Vince não estará a dormir e então, este modificará, por mais uma vez, todo o seu produto, para assim nos passar a oferecer algo muito mais elaborado, realistico e adulto.

Por enquanto, nada mais nos resta fazer ou proclamar, a não ser encarar a realidade, por mais dura que esta seja. Quer queiramos, quer não, actualmente, o produto proporcionado pela promotora da família McMahon, tem por único objectivo, agradar às crianças, de maneira a que estas vão para casa, todas satisfeitas, exigir aos pais que estes sintonizem no canal televisivo que transmite a Raw e que lhes dêem dinheiro para esbanjar num boneco do John Cena.


Fiquem bem
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