Chris Jericho, este é o “ring-name” pelo qual se oculta um dos mais eloquentes enterteiners e um dos mais primorosos wrestlers técnicos a alguma vez figurar no centro de um ringue. Christopher Keith Irvine, este é o nome do individuo perspicaz, versátil, íntegro e altruísta, que, desprovido de pretensões ou arrogâncias, tudo preconizou, ao longo da sua sublime carreira, de modo a assim satisfazer os caprichos das fervorosas multidões...
No calmo decorrer da passada segunda-feira, dia 13 de Abril, realizou-se, durante um episódio semanal da Monday Night Raw, a edição anual do WWE draft. No término deste mediático sorteio, Chris Jericho havia encontrado uma nova e acolhedora casa – a Smackdown.
É certo que nesta marca, Chris tudo e todos terá a seus pés. Afinal de contas estamos a falar do valoroso sujeito que, na minha opinião, é, logo depois desse colosso apelidado por The Rock, o maior e mais fogoso “enterteiner” da história do pro-wrestling.
Quando tomei conhecimento de que Christopher Irvine iria rumar até à Smackdown, um paradoxo de sensações abordou, subitamente, a minha mente...Por um lado positivista, a felicidade apoderou-se de mim, pois acredito que nesta nova marca, Y2J venha a gozar de uma maior atenção. Por um prisma negativista (mas sem dúvida alguma realista) senti-me deveras revoltado, frustrado e repugnado com este errante mundo em que coexistimos...

Neste momento, e como malogrado fruto de algumas constatações desagradáveis com as quais me tenho deparado nos últimos tempos, uma questão impõe-se no meu horizonte:
desfrutará Chris Jericho, do respeito, atenção e apreço que, justamente, merece no seio da promotora de Vince McMahon? É inequívoco que toda a carreira deste individuo foi um sucesso. Irvine tem a si conectado o primeiro reinado da história enquanto WWF Indisputed Champion. Para além disso, é também Chris o homem que, orgulhosamente, pode afirmar ser o detentor do maior número de reinados enquanto campeão Intercontinental dos anais da empresa da família McMahon. Porém, após alguns momentos de introspecção, interrogo-vos, por quantas ocasiões viu Chris o seu talento e importância verdadeiramente reconhecidos?
Recuemos até aos brumosos tempos em que se desenrolava o saudoso angle “Invasion”. Nesses dias, Jericho preconiza um dos mais mediáticos heel turns da história desta indústria e, numa única noite de brilhantismo, derrota, simultaneamente, Stone Cold e The Rock, de forma a assim se tornar no primeiro Indisputed Champion da história. Terá este soberbo triunfo tido como único intuito prestar vassalagem e credibilizar a carreira desse titânico atleta que é Christopher Irvine?
Evidentemente que não e, infelizmente, esta conquista apenas viria a servir para, postumamente, na Wrestlemania XVIII, Triple H derrotar Y2J, de maneira a assim se afirmar como o novo e reputado WWF Undisputed Champion.
Já que abordamos a temática “Lionheart na WM”, questiono-vos, por quantas ocasiões terá tido este homem o privilégio de sair credibilizado do maior evento de wrestling do universo? Respondendo à minha própria interrogação, em 8 participações de Y2J no maior palco de todos, este apenas saiu credibilizado/triunfante em duas ocasiões (vs. Kurt Angle & Chris Benoit na WM XVI e vs William Regal na WM XVII). De resto, o seu destino acabou sempre por ser ou jobbar para HHH e companhia limitada, ou então, arcar com um murro disferido por um actor que pretende reerguer das cinzas uma carreira há muito caída no descrédito.
Avançando...em 2005, Chris Irvine estava farto das pressões e compromissos intrínsecos a uma “WWE superstar”, como tal, este decidiu colocar termo ao contrato que o vinculava à companhia de Vince. Como se deu a saída de Jericho da promotora dos McMahons em 2005? Será que este teve direito a um pequeno tributo? Será que a este valoroso profissional foi prestada uma breve homenagem, que lhe permitisse abandonar a empresa de uma forma digna? Óbvio que não e, infelizmente, Chris abandonou a Raw após, humildemente, ter acedido a perder contra o então “money-maker” em colossal ascensão, John Cena, num You’re Fired match.
No término de 2007, a WWE vivenciava dias de profunda crise. John Cena estava lesionado e Shawn Michaels recusava-se, terminantemente, a desempenhar na empresa funções de maior relevância. Quanto a Triple H, este por razões inerentes ao “booking”, não podia enfrentar o então campeão Randy Orton, pelo seu título da WWE. Tendo em atenção estes agoirentos factores, o reinado enquanto campeão mundial do jovem oriundo de Saint Louis parecia estar, definitivamente, redimido à mediocridade.
Foi então, que Vince, num lampejo de génio, se recordou que, em tempos recônditos, um tal de Chris Jericho havia exibido transcendentes capacidades na subtil arte de entreter os caprichosos espectadores. Sendo assim, nada mais restava à WWE a não ser permitir a reemergência desse tão desejado individuo no panorama da companhia, em todo o seu esplendor, pois no fim de contas, nesses tempos, Jericho evidenciava-se como um autêntico "salvador".
Jericho acede ao pedido da promotora do Connecticut e retorna assim à Monday Night Raw de forma a “salvar” a reputação do tenro Orton de um miserável reinado enquanto campeão mundial...Após este ter sido capaz de, com uma enorme distinção, reavivar a então débil “Age of Orton”, a WWE, curiosamente, esqueceu-se novamente de Y2J e de todas as suas prodigiosas capacidades, relegando-o para uma feud de terceira ou quarta categoria com o já retirado Jbl.

Chegamos ao período que marca o fim da Primavera e o inicio do Verão de 2008, a WWE encontra-se, por mais uma ocasião, em crise. Depois de intensos momentos de reflexão, a direcção da companhia converge, finalmente, em direcção a uma ideia viável -
Chris Jericho tornava-se assim no mais possante e enaltecido"motor" da empresa.O ano caminha decisivamente para a sua conclusão e em Boston, Massachussets, ocorre a edição de 2008 do credenciado Survivor Series. John Cena havia, finalmente, recuperado de uma longa lesão, sendo assim, Jericho era, novamente, um wrestler dispensável e, como tal, durante o decorrer do ppv mencionado nos primórdios do parágrafo, Cena torna-se, por mais uma monótona ocasião, no novo campeão mundial da WWE. Quanto ao Lionheart, infelizmente, a este, nada mais lhe restou fazer ou proclamar a não ser suster as frustrações e lágrimas, de modo a assim se preparar para os meses de irrevogável esquecimento, por parte da direcção da promotora sedeada no Connecticut, que então se avizinhavam.
Estamos em meados de Abril de 2009, e a World Wrestling Enterteinment, neste preciso momento, para grande regozijo de Vince, tem disponiveis todos os seus prestigiados main eventers (aka “money-makers”). Sendo assim, a presença de Christopher Keith Irvine já não é requerida na Raw e, consequentemente, este pode rumar em direcção ao B-show da companhia (Smackdown), pois agora, os seus prestáveis serviços já não são suficientemente valorosos para figurarem numa Raw, uma vez que HHH, Batista, Cena e companhia já estão disponiveis para cativarem as atenções das criancinhas.
Não duvido de que ingressar na brand azul da WWE possa trazer proveito a Y2J, no entanto, questiono-me, não mereceria este sujeito ser encarado por Vince McMahon com um pouco mais de respeito e carinho? Porquê tanto desprezo pela figura de Irvine? Qual a maldita constatação a retirar deste texto?
Qual a conclusão a retirar de toda esta transtornante "história de interesses empresariais"? Simples, infelizmente, nos dias transeuntes, o talento, a dedicação, a perseverança e a garra, de nada nos servem para ousarmos ocupar o topo, caso não tenhamos uma carteira atolada até acima com importantes e distintos contactos.
Chris sempre abominou o jogo de poder e o tráfico de influências que, sorrateiramente, ocorre no “backstage” e, por conseguinte, este sempre se tentou distanciar dos grandes senhores que, contra tudos e contra todos, instauram a sua vontade sobre os destinos da WWE. Como fruto dessa vontade louca em manter elevados os seus níveis de integridade pessoal, a carreira do Coração de Leão, apesar de ser uma longa história recheada de sucesso, nunca foi tão titânica como poderia ter sido, isto tendo em conta as suas prodigiosas capacidades, enquanto wrestler.
Não sei o que me dizem, mas, a meu ver, é simplesmente revoltante constatar que, infelizmente, Y2J nunca passou de um mero “desenrasca”, do qual Vince dispõe e predispõe quando não consegue encontrar mais ninguém dotado o suficiente para conduzir os destinos da sua companhia.
De qualquer modo, o “Lionheart” deve de ser um dos poucos profissionais a figurar na WWE que se pode arrogar de nunca ter necessitado de cunhas, de maneira a ascender ao topo. Tudo o que este conquistou foi como fruto das suas sublimes capacidades.
Por fim, num terno gesto de despedida, caros leitores, deixo-vos algo que, infelizmente é, nos errantes tempos transactos, e apesar de eu, tal como Christopher Keith Irvine, a abominar por completo, a mais segura e infalível fórmula para se chegar ao rejubilante mundo do sucesso...
Fiquem bem