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Chronicles of a Hitman #1 - Sports Entertainment



Saudações, caros leitores do Wrestling Notícias. Como "prometido" pelo Wolve, estreio-me nesta "casa" numa bela madrugada de sexta-feira. Esperavam um "Christian" qualquer? Pois, não admira, mas há algumas considerações a fazer sobre o o teaser. Em primeiro lugar, a quem achou que isto seria um espaço novo tenho a informar que tem razão, de certa forma; no entanto, o teaser destinou-se a apresentar mais um cronista novo do que, propriamente, uma rúbrica (que também ela será nova) - a verdade é que os teasers nem sempre são para serem levados "ao pé da letra" e "Classic" não se referia a quem as pessoas pensavam. Em segundo lugar, penso que já dei mais que provas, ao longo do meu percurso na CWO que sou tudo menos uma "gaffe"; sugiro que, da próxima vez, esperem para saber quem é antes de fazerem considerações "seguras" sobre essa pessoa. E, finalmente, ao contrário do toque de telemóvel com a música actual do Christian (sem ofensa, Jericho), o teaser não "revela" nenhum blogger "mark" pelo Christian; para isso, iria fazer um teaser com a temática Bret "Hitman" Hart, o wrestler que teve esse estatuto, nos meus primeiros tempos de "adepto" - reforço, mais uma vez, que o teaser não foi feito para ser "religiosamente" interpretado, segundo o que era mostrado. Posto isto, chega de "paleio" e vamos ao que realmente interessa.

"Sports entertainment", um conceito (aparentemente) ligado ao wrestling desde sempre, mas que, na realidade, marcou uma geração, uma era. O "génio" de Vincent Kennedy McMahon fê-lo utilizar este termo, pela primeira vez, quando tomou a sua primeira grande iniciativa, no mundo do wrestling profissional: assumir que, no Pro Wrestling, tudo era planeado, tudo estava definido e toda a acção que se passava no ring era controlada a partir dos bastidores. Algo óbvio, dirão alguns. No entanto, para a época, foi uma notícia algo "chocante" para muitos, já que estavam habituados a "shows" de companhias "regionais" (como a Stampede Wrestling, uma das maiores companhias de wrestling, nos anos 80) - espectáculos, esses, que eram tidos como sendo extremamente realistas. Pode-se dizer que, com tal revelação, Vince McMahon "arrumou", desde cedo, com a eventual concorrência que poderia ter, sem sequer precisar de ir contratar elementos dessas mesmas companhias (como acabaria por fazer). E este conceito acabaria por ter uma dimensão muito maior do que certas pessoas esperavam.

Tomemos, por exemplo, os casos das duas grandes rivais de sempre da WWF: a WCW e a ECW. Um dos motivos pelos quais a WCW se aguentou e, até, superou a companhia de Vince foi, precisamente, por adoptar o mesmo estilo de promoção que ele - o "sports entertainment"; já no caso da ECW, apenas se aguentou até um certo ponto, mantendo o seu estilo tradicional e "realista" (com alguma inovação à mistura, através do seu "roster") até à altura em que o factor financeiro começou a ter mais "peso" do que aquele que a companhia podia suportar. Eventualmente, as duas acabariam falidas (e, curiosamente, pela mesma altura), mas a WCW realmente conseguiu ser uma verdadeira concorrente à WWF. Então, o que "falhou" para o "sports entertainment" ter o sucesso que tem hoje? Muitos fãs queixam-se da pouca qualidade técnica dos combates ou do mau "selling" que é feito de certos movimentos (algo que não acontecia - nem acontece - nas chamadas "indies"), mas continuam a ser seguidores do estilo "virado" para o entretenimento - uma contradição? Talvez, mas penso que a definição do conceito pode explicar o "porquê" desta "realidade".

Ao contrário do estilo apresentado por companhias como a Ring of Honor, a New Japan Pro Wrestling ou a Consejo Mundial de Lucha Libre (todas com uma grande aposta na parte técnica da modalidade e respectivo "realismo"), o estilo da WWE baseia-se em algo que surplanta o destas concorrentes: no factor psicológico. Como é de conhecimento geral, muitos dos desportos nos Estados Unidos estão assentes numa filosofia altamente "psicológica", como retratado nos filmes; qualquer equipa ou atleta, de qualquer modalidade, tem o seu "lado mental" trabalhado ao extremo, permitindo-lhe aguentar situações de enorme pressão ou ajudando a aumentar, consideravelmente, a sua auto-estima e confiança - e esta filosofia, consequentemente, é passada para o povo, que tem, assim, uma "sensibilidade" maior para com esta "temática". No Pro Wrestling "versão sports entertainment", este lado mais apelativo ao sentimentalismo e à fé é explorado ao máximo; os atletas que apresentam nem sempre têm de ser os mais dotados; basta uma gimmick apelativa, aos olhos do público, e poderemos ter um grande fenómeno em ascensão. Casos como os de Hulk Hogan (o "eterno" patriota, defensor de todo o povo americano - algo que, como sabemos, tem um "peso" enorme para qualquer cidadão do país) ou John Cena (principalmente, a partir do momento em que foi representado como "marine" - e qualquer força armada americana recebe total apoio do seu povo, como também é sabido) representam os exemplos mais sonantes (apesar de Cena sempre ter sido "mais" wrestler do que Hogan alguma vez o foi).

Por isto mesmo, reparamos que muitos dos shows se assentam mais em "promos", segmentos "backstage" com wrestlers, vídeos de promoção de um "angle" ou de um evento, do que nos combates propriamente ditos. Qualquer que existe um "mínimo" de qualidade exigível e este facto tão pouco implica que não se assistam a bons/excelentes combates, mas é, reconhecidamente, em "doses" menores do que as das companhias mais "tradicionalistas". O "produto" e a forma de o "vender" são sempre postos em primeiro lugar; e há uma frase de Vince McMahon, durante um "ring segment" com Hulk Hogan, que penso que retrata exactamente a realidade, apesar de, na altura, apenas ter sido usada como uma forma de obter algum "heat": "I could have anyone play the part of Hulk Hogan!". Acredito que isto seja mesmo verdade.

Tudo isto, aliado ao "fenómeno" do marketing, representa a combinação perfeita para o sucesso do conceito. As opções "dadas" aos fãs para expressarem o seu "fanatismo" pela modalidade não faltam e, com o seu lado psicológico "vulnerável" ao idealismo ou fantasia apresentados pela empresa, os seguidores da companhia acabam por representar uma parcela ainda considerável dos lucros. Mas aguentar-se-á este estilo imutável durante muito mais tempo? Penso que não - e só preciso de um motivo para o afirmar: TNA.

À primeira vista, a TNA é "mais uma WCW"; no entanto, penso que tem mais pontos "a favor" do que "contra". É verdade que, no final da década de 90, início do século XXI, a WCW foi pioneira em alguns aspectos do wrestling americano, como a aposta numa "Cruiserweight division"; no entanto, o "booking" que ia apresentado acabaria por se tornar monótono e, eventualmente, fatal, para a sustentação do "seu" próprio estilo de "sports entertainment" - e sem um "produto" de qualidade, não há marketing "de qualidade", obviamente. Neste aspecto, a TNA parece estar a enveredar pelo mesmo caminho, até por o "head booker" ser o mesmo daquela época, na WCW. No entanto, a "inovação" que a TNA tem feito permite-lhe "moldar" o seu próprio estilo, de uma forma que pode causar problemas à WWE: assentar o seu roster no talento encontrado nas "indies". Ou seja, a TNA alia os segmentos, o "hype" e o "grafismo" gerado pelo "sports entertainment" à elevada qualidade técnica dos seus wrestlers. Resultado prático: uma companhia em clara ascensão e a "depender de si própria" para atingir novos horizontes.

E aqui fica a minha estreia no Wrestling Notícias; um texto um bocado "maçudo", devo reconhecer, mas que me parece uma forma de explicar (de certa forma) o estado actual do "panorama" do Pro Wrestling - pelo menos, nos seus "casos" mais mediáticos - WWE e TNA. Com isto me despeço, até à próxima semana, para a continuação deste espaço. Fiquem bem.


- Vash


Loaded - Shattersphere
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