Ultimas

Linguagem do wrestling I

Nos seguintes textos, irei dar uma de Jim Cornette e vou falar sobre a linguagem do wrestling. O original não é meu, ma sim de Sean Taylor, com a tradução e alterações por mim. Durante as próximas semanas poderão ver os diversos temos que compõem o mundo do wrestling. Muita gente pode dizer que já conhece isto tudo mas não tenho dúvidas que muitas há por aí que não sabe como são as coisas. Portanto aqui vai, o primeiro termo:

KAYFABE

Kayfabe é um termo exclusivo ao wrestling que mesmo partindo a palavra em duas, “kay” e “fabe” esta não tem tradução, nem uma lógica. Crê-se que foram os lutadores que inventaram a palavra como uma mera junção de sons.

Kayfabe é talvez o mais importante um lutador pode ter. É o que separa os lutadores dos fãs. O kayfabe permite ao lutador manter obscuros os maiores segredos do wrestling, de modo a que o produto final seja apresentado como real, legítimo e credível à audiência. O kayfabe é como que se fosse uma parede invisível que protege o wrestling. Outras formas de entretenimento possuem algo do género, onde por exemplo expressões como “magia da televisão”, ou “filme mágico” tornam coisas impossíveis acontecerem. A diferença entre o wrestling profissional e as outras formas de entretenimento é tanto maior quanto maior for a capacidade dos lutadores em manter a verdadeira arte de se manter dentro do kayfabe.

Enquanto os estúdios de Hollywood orgulhosamente mostram as suas novas e inovadoras tecnologias, a indústria do wrestling luta desesperadamente para se manter nos seus modelos e esconder os seus segredos. Quando o wrestling profissional passou de combates reais para combates com fim pré-determinado, houve um esforço para se tentar manter o segredo, mas depressa os fãs descobriram e acharam que aquilo que viam, era fabricado. No entanto, eles não se importaram. Porquê? Por causa do kayfabe.

O kayfabe tornou-se um mútuo e silencioso acordo entre os lutadores e a audiência. A audiência não sabia que os lutadores lhe chamavam isso, mas entendiam como funcionava. Essencialmente, se a audiência vi-se e senti-se que aquilo era real eles iriam reagir como tal. Isso acontece quando vimos um filme, pois toda a gente sabe que o Super-homem não existe. Nós simplesmente sabemos que não existe nenhum homem na Terra com velocidade superior a uma bala, mas no entanto existe uma história e uma personagem que faz com que haja uma lógica que nos faça acreditar na personagem e sobretudo faça creditar em toda a história que roda em volta dela, como Metrópoles e o Super-homem.

É o kayfabe que faz o wrestling profissional funcionar. Quanto mais o kayfabe é puxado, mais a audiência se prende e não fica com a ideia do falso.

Até ao inicio de 1990, o kayfabe raramente era quebrado. Os lutadores e os promotores lutavam arduamente para o manter vivo e assim esconder os segredos dos olhos do público, mesmo fora do ringue. Os heels e os faces nunca viajavam juntos ou permaneciam no mesmo hotel. Em certos territórios, os lutadores tinham permissão e até eram encorajados para andarem à porrada nos bares depois dos shows. Isso levava a duas coisas, primeiro, as pessoas frequentes no bar, veriam os lutadores darem na boca ao durão da zona e assim ficavam com curiosidade e comprariam bilhetes para o show seguinte. Segundo, a briga iria sair num jornal local e nos próximos shows várias pessoas iriam ver o show com base na má publicidade.

A punição por quebrar o kayfabe, nas suas diversas formas (sair da personagem, perder uma rixa num bar, ser visto com um legitimo adversário, etc) podia variar entre o pagamento de uma multa (raro) e o despedimento (frequente). Quebrar o kayfabe é a maior ofensa que um lutador pode fazer. É como que um policia dar um tiro indiscriminado num inocente, bem na cabeça. Esta era a razão, pela qual os lutadores viviam a sua personagem todas as horas do dia. Por exemplo, se dois lutadores entrassem num restaurante, porreiros da vida a conversar e se de repente a empregada chegasse para os atender, os lutadores tinham imediatamente de entrar na personagem e falar sobre o próximo show, de modo a que a empregada fica-se impressionada e passa-se a palavra. Este era um dos modos como os promotores divulgavam os seus shows, pois mutas vezes não havia televisão. O modo como os lutadores davam o sinal que a empregada estava a chegar è mesa, era a palavra “kayfabe” e de imediato entravam na personagem.

Nos dias que correm, o kayfabe praticamente já não existe, poucos são os segredos do wrestling. Praticamente todos os fãs conhecem o como modo as cosias acontecem e funcionam. Estações como a ABC ou organizações anti-wrestling como a Parent’s Television Council tentam expor o wrestling como sendo uma fraude. Em 1999, Mick Foley deu o primeiro grande olhar para dentro da indústria do wrestling, quando escreveu a sua primeira autobiografia “Have A Nice Day: A Tale of Blood and Sweat Socks" e deu a conhecer o modo como uma pessoa poderia entrar no mundo do wrestling. Ele contou histórias dos seus treinos, o dinheiro e tempo com a família que sacrificou e todo o planeamento por detrás do mundo do wrestling. Durante essa altura, foi frequente ver nas Monday Night Wars o kayfabe ser frequente quebrado.

Recentemente a indústria do wrestling tende a perder um elevado número de fãs, simplesmente porque as personagens não fazem sentido nenhum e as storylines serem de baixo nível. Só os verdadeiros fãs se mantêm. Aqueles que conseguem manter a sua alma durante o show.
Aqueles que se mantém, são aqueles que ainda acreditam – ou escolheram acreditar, em kayfabe.
Com tecnologia do Blogger.