Tomos de Eternidade
Bem vindos a mais uma edição dos Tomos de Eternidade, realizado na histórica semana em que o Wrestling Notícias alcança um Milhão de visitas!!! Alegra-me fazer parte desta casa, e espero ter de alguma forma contribuído para este fabuloso patamar!
Esta semana vou fazer algo que não faço há bastante tempo mesmo.
Vou analisar um combate.
Não um combate qualquer, mas um combate que recebeu incrível aclamação dos fans, sendo visto por muitos como o combate do ano!
Falo do confronto entre o Undertaker e Shawn Michaels na Wrestlemania deste ano que está a terminar.
Esta semana vou fazer algo que não faço há bastante tempo mesmo.
Vou analisar um combate.
Não um combate qualquer, mas um combate que recebeu incrível aclamação dos fans, sendo visto por muitos como o combate do ano!
Falo do confronto entre o Undertaker e Shawn Michaels na Wrestlemania deste ano que está a terminar.

Passados 8 meses visionei o combate por uma segunda vez, de forma a ver se este tinha “envelhecido” bem, tal como um bom vinho.
Algo que vale a pena dizer é que o build-up do combate não foi de qualquer forma fabuloso, tendo começado apôs o No Way Out a 15 de Fevereiro, onde o Shawn Michaels “conquistou” a sua liberdade do JBL. Nas semanas seguintes Michaels revelou o seu interesse em enfrentar o Deadman na Wrestlemania, e a 2 de Março derrotou Vladimir Kozlov para ganhar esse privilégio. Tal deu-lhes um mês para construir o combate que muitos dos fans desejavam ver á anos, o que em si não é muito tempo. Contudo o Michaels em particular deu o seu melhor para tornar o build-up interessante, e teve sucesso nessa empreitada. A WWE aproveitou o feudo que os dois tinham tido em 97/98, quando eles se enfrentaram 3 vezes (combate normal, o primeiro Hell in a Cell, e o Casket Match que quase reformou o Michaels) com o Michaels a conseguir roubar sempre a vitória.
Mas falando do combate.
Primeiro tenho de dizer que adorei o contraste das entradas. O HBK desce dos céus, vestido de branco, banhado em pura luz, ao som duma música com o seu quê de Igreja. O Undertaker ergue-se das profundezas do Inferno, no escuro, com a sua habitual e sinistra música. Logo desde o início eles estabelecem um tema de contraste, onde o paladino da luz defrontará o monstro das trevas!
O combate começa num formato de gato-e-rato, com o Michaels a fazer o seu melhor para evitar os strikes do Deadman, enquanto vai metendo uns quantos quando pode. Este formato de hit-and-run é mantido durante os primeiros minutos, até o Undertaker o mandar ao canto. Ele controla os minutos seguintes, mas falha uma Big Boot no canto e o Michaels começa a trabalhar o joelho usando a rotina do Ric Flair, que ele reformara um ano antes, culminando num Figure-4 para desgastar o Undertaker. O primeiro problema surge aqui, pois o Undertaker apenas vende o joelho durante 1 ou 2 minutos, e esta nunca mais o volta a incomodar. Por seu lado o Michaels não volta a atacá-lo, mostrando isso quando momentos depois contra-ataca um Chokeslam num Crossface, o qual não tem qualquer seguimento, pois apôs o adversário escapar o Michaels não mantém uma ofensiva á cabeça, usando mais chops. Por um lado a estratégia faz sentido, pois ele está a desgastar o Morto, mas a falta de coerência magoa um bocado um combate, uma vez que seria mais interessante se ele mantivesse o ataque numa zona, de forma a criar um ponto fraco na aparentemente invulnerável armadura do Undertaker.
Esta primeira fase do combate é ainda assim bastante boa, visto o Undertaker ser um adversário temível, o que obriga o HBK a aproveitar todas as abertas que arranja. Os chops que ele usa são bem sonoros, e o peito do Morto vai ficando escarlate com o passar do combate. Alguma consistência no ataque, e mais selling da parte do Fenómeno ajudariam, mas não são necessariamente um grande problema. Outro pormenor do qual gostei muito foi a forma como eles ameaçam o Chokeslam e o Sweet Chin Music durante esta parte, construindo-os para as inevitáveis near-falls, e mostrando como os dois combatentes se tinham estudado.
A seguir surge o meu primeiro grande problema com o combate, a pouca importância dada ao Hells Gate. Um ano antes esta submissão tinha sido construída como algo assassino, capaz de subjugar o maior dos adversários, e na Wrestlemania anterior dera o World Heavyweight title ao Undertaker. Era tão temível que a única maneira de lhe passar ao lado foi bani-la completamente! Aqui ela é atirada ao calhas pouco depois dos 10 minutos de acção, e nunca mais é feita uma tentativa de a usar, mesmo considerando a forma desesperada como o Michaels foge para as cordas, que podia ser usado para construir o final do combate.
A acção depois passa para fora do ringue, quando o Undertaker falha o legdrop no canto e o HBK tenta um Moonsault para o exterior, caindo de corpo no chão (ouch!!). O que segue é o momento mais infame do combate, pois quando o Undertaker tenta o Suicide Dive uma combinação do cameraman não estar na posição certa e o Morto perder o ímpeto demasiado cedo, levam a que ele caia no chão de cabeça, num dos momentos mais assustadores do ano.
Este botch mata um bocado o combate para mim, pois arruína completamente o paço que eles tinham estabelecido, isto sem esquecer os legítimos receios de que o Undertaker podia ter sofrido uma lesão no pescoço. Eles obviamente gastam tanto tempo quanto possível para o Undertaker recuperar, tendo felizmente evitado uma lesão, e o Michaels improvisa uma reacção de ansiedade enquanto o árbitro faz a contagem, pois desta forma poderia conseguir a preciosa vitória. Não 100% limpa, mas vitória ainda assim.
Quando o Undertaker regressa ao ringue o Michaels manda o cuidado às urtigas e tenta o SCM, mas o Undertaker apanha-o com um potente Chokeslam, o qual havia sido construído anteriormente, para obter uma quente near-fall. O Michaels vinga-se atingindo o SCM um minuto depois, mas deixa-se cair no ringue de forma a atrasar a contagem, o que dá outra grade near-fall da qual o Deadman escapa. De seguida ameaçam, e eventualmente atingem a Last Ride, resultando ainda noutra excelente nearfall. Este é outro ponto do qual eu gostei muito, a forma como o Chokeslam e a Last Ride foram construídas como legítimos match-enders, quando o Undertaker sempre usou o Chokeslam como um signature move, e vão anos desde que a Last Ride foi tratada como um finisher legítimo. Isto contudo mostra um problema do Michaels, a falta de truques no seu arsenal que sirvam como finisher para além do SCM (em 2008 ele andava a usar um Figure 4, mas isso já lá vai).
O Undertaker se seguida tenta algo diferente, na forma dum top-rope Elbow Drop, mas o Michaels rebola do sítio para o evitar, e eventualmente o HBK é atirado por cima das cordas, sendo no entanto capaz de se agarrar á terceira corda, e usa um Skin the Cat para tentar regressar ao ringue, altura na qual o Undertaker o apanha, e planta-o com o Tombstone Piledriver, sendo no entanto Michaels capaz de escapar ao 2 e 9/10s...
E este é o meu grande, GRANDE, problema com o combate. A forma como eles desrespeitam o finisher do Undertaker, pondo o Michaels a escapar desta forma!
Nunca, mas NUNCA, alguém tinha escapado desta forma do Tombstone! Assim de repente só me recordo de 3 indivíduos que tenham sobrevivido ao Tombstone, mas todos tinham “atenuantes”. Primeiro foi o Kane na WM 14, que precisou de 3 Tombstones para ser derrotado, o que contudo fazia sentido em contexto, uma vez que ele tinha sido estabelecido como sendo mais poderoso que o Undertaker, e o mais perigoso adversário que ele enfrentara! O segundo foi o Batista na WM 23, onde o Undertaker demorou a fazer a fazer a cover, permitindo ao poderoso Batista (assim estabelecido) escapar! O terceiro havia sido um ano antes na WM 24 contra o Edge, onde um ref-bump demorara consideravelmente a contagem do Tombstone, o que permitira ao então campeão Edge recuperar (o que nos deu um dos melhores momentos da história da Wrestlemania, com o sprint do Charles Robinson para o ringue)!
Aqui não houve nada disso! Foi Tombstone, cruzar os braços, 1, 2, tr-, não!!!
Uma coisa que eu gosto na WWE, e que o contrário me chateia no wrestling Japonês, é a maneira como os finishers são protegidos! É raro ver alguém escapar de forma limpa dum finisher, o que faz um excelente trabalho para os credibilizar, e permite uma grande reacção quando alguém escapa (geralmente devido a qualquer coisa que demora a contagem). E o Tombstone do Undertaker era praticamente 100% fatal, o que faz o Michaels sobreviver muito pior! Isto sem esquecer que o spot em si era perfeito para o final do combate, mostrando que ao pensar de forma criativa o Undertaker conseguira vencer um adversário que se preparara á grande para ele, o que tornava uma desforra muito mais interessante, devido a poder não existir esta aberta uma segunda vez.
Em vez disso eles fazem uma near-fall, e a única coisa boa que daí sai é a expressão facial do Undertaker quando o HBK sobrevive. O combate depois vai um bom bocado por água abaixo para mim, pois eles não fazem nada de verdadeiramente interessante após a near-fall. O Taker tenta outro Tombstone mas o Michaels contra-ataca num DDT botchado. Atinge um top-rope Elbow Drop, que só serve para preparar outro SCM, o qual também só consegue 2 e meio numa contagem normal, descredibilizando o finisher (conseguindo no entanto muito heat). Eles depois gastam tempo a trocarem strikes sem qualquer motivo, apenas para o Michaels subir ao canto e tentar um Moonsault (com o qual não ganha um combate desde 96...), mas demora demasiado tempo a preparar-se o que resulta no Undertaker ter de ficar em pé parado uns 5 segundos á espera. O Michaels salta, é apanhado pelo Deadman, Tombstone, 1,2,3, Undertaker ganha, 17-0, a Streak continua viva.
Já podem ter adivinhado a minha opinião do combate. Gostei imenso da primeira parte do combate, retirando o uso á toa do Hells Gate, e adorei a estratégia inicial do Michaels, e forma como construíram golpes, e mostraram que se tinham estudado.
O Suicide Dive dá cabo, como já referi, um bocado do paço do combate, mas eles improvisam bem. O período seguinte de near-falls é muito bem construído e consegue excelente heat, mas o combate devia definitivamente ter acabado no primeiro Tombstone!
Era um belo spot, com muitos benefícios anteriormente enunciados, e terminava o combate num ponto alto. Em vez disso prolongaram-no nuns 6 minutos, onde a única coisa que verdadeiramente se aproveitava era a near-fall do SCM, a qual poderia ter ocorrido antes do Skin the Cat. O Spot do Moonsault era a mesma ideia, e o tempo que demorou a preparar só piora as coisas!
Em resumo.
A minha opinião deste combate não mudou muito, embora goste ainda mais da primeira parte dele, e a segunda (das near-falls) foi também muito bem conseguida. Nem de perto o classificaria como MOTY, ou mesmo MOTYC, devido a tudo depois do primeiro Tombstone ser muitos passos atrás do que se passara anteriormente!
Nem o consideraria o melhor combate da WWE este ano, pois já houve combates bem melhores na minha opinião. Edge vs Big Show vs John Cena na WM, Christian vs Swagger no Backlash, Rey Mysterio vs Chris Jericho no Judgement Day e The Bash, Randy Orton vs John Cena no Breaking Point e Bragging Rights, e DX vs Legacy no Hell in a Cell.
Eu aceito perfeitamente que muitos não partilhem da minha opinião, mas eu também acho que muita boa gente dá desconto ao combate devido a ser o Shawn Michaels contra o Undertaker na Wrestlemania, um combate com que muitos sonhavam à 1 ou 2 anos.
Não consegui encontrar o combate nos sítios habituais, e por isso peço desculpa. Contudo os vídeos no sapo são capazes da ainda estar aí. Para a semana voltamos a ver-nos.
manjiimortal
“ Death is merciless. But let me tell you... Not being able to die is crueller still.”
Vídeo do Combate