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Tomos de Eternidade

Este pode ser considerado um pequeno marco nos Tomos de Eternidade, uma vez que apresento-vos a Centésima edição deste meu espaço!
Tanto quanto sei não são muitos os espaços na CWO que já tenham alcançado a marca centenária, lembro-me do espaço do Dias Ferreira no Xbooker, mas fora esse mais nenhum me vem á cabeça.

Disto isto, deixemo-nos de tretas e avancemos para a crónica propriamente dita.
Tive a ideia para esta crónica graças a uns comentários encontrados noutro espaço do blog, mais especificamente a crónica do Jimmy. Decidi falar um pouco acerca da minha opinião relativamente a spotfests.

Todos certamente saberão o que é considerado um spotfest. Um combate caracterizado pelo uso em grandes quantidades dos chamados spots, bem como bumps, tendo habitualmente pouca história para contar. Geralmente associado aos wrestlers ditos high-flyers, embora já tenham ocorrido bastantes spotfest’s envolvendo wrestlers mais pesados. Foi um tipo de combate que começou a surgir na década de 90, e tornou-se algo habitual no wrestling mundial, tendo particular ênfase nas indies Norte-Americanas.

A opinião sobre os mesmos é algo dividida. Alguns adoram-nos devido á quantidade de spots utilizados, o rápido paço do combate, e a adrenalina que estes providenciam. Outros não gostam devido a serem na sua maioria combates destituídos de qualquer tipo de psicologia de ringue, bem como falharem em contar uma história.
Pessoalmente eu acho isto. Existem dois tipos de spotfests. O mau spotfest (infelizmente a maioria), e o spotfest divertido.
O mau spotfest é quando os wrestlers estão a fazer tudo ao calhas, mandam move a seguir a move, a seguir a move, sem qualquer tipo de lógica, onde os spots acabam por não ter significado nenhum devido a não darem tempo ao público de interiorizar o que ocorreu, além de não terem performances interessantes.
O spotfest divertido é o contrário, é quando existe uma, ainda que pequena, construção do combate, onde os golpes têm algum (pouco) significado, e os wrestlers constroem o combate para ir a algum lugar, em vez de fazerem simplesmente mais spots. Também mostram personalidade, incorporando-a no combate. Se tiver alguma comédia lá metida só ganha pontos a meu ver!

Notarão certamente que eu não refiro a existência de bons spotfest. Qual a razão?
Muito simples. Para mim um spotfest falha sempre a principal necessidade dum combate de wrestling, aquilo que separa o wrestling profissional dos verdadeiros desportos de luta, e o que o define. Contar uma história.
A meu ver aquilo que um grande combate não pode, mas não pode de qualquer forma possível, evitar ter é uma história contada em ringue. A história do combate é o esqueleto de todo o processo, é o que suporta tudo; a qualidade dos intervenientes, o seu carisma, o que é feito em ringue!
Eu já vi maus wrestlers a terem até bons combates devido á simples razão de se preocuparem em contar uma história, e excelentes wrestlers terem péssimos combates pela razão inversa.

A história é os alicerces dum combate, a base sobre o qual tudo é construído. Sem esta base tudo o que será construído é tremendamente frágil, e dado a ruir facilmente.
Voltando á questão dos spots, eu mostrarei como eu os encaixo num combate recorrendo a aquilo que penso ser uma analogia de fácil compreensão.

Vou equacionar um combate de wrestling a um filme!
A qualidade dum filme é habitualmente julgada sobre um número de atributos, podendo dizer-se que 3 dos mais importantes e/ou relevantes são: a qualidade do guião; a performance dos actores; e o aspecto/impacto visual do filme.
No wrestling eu equaciono estes 3 padrões respectivamente a: história contada durante o combate; desempenho dos wrestlers e acção em ringue.

Pegando nesta analogia podemos ver com alguma facilidade que os spots, os momentos altos do combate, poderão corresponder às explosões e/ou efeitos especiais usados na arte cinemática. Todos os que estarão a ler esta crónica certamente já terão assistido a filmes carregados de acção frenética, cheios de explosões, com efeitos especiais de pasmar. Todos certamente já saberão que a certa altura filmes cujo valor está dependente deste factor tendem a tornar-se tremendamente repetitivos, imemoráveis, e incapazes de deixar uma impressão. Para mim os maus spotfests são o equivalente do wrestling a este tipo de filmes, visualmente muito impressionantes, mas essencialmente desprovidos de qualquer verdadeira substancia. Depois de se ver um número deles, já se viram todos.

Por outro lado todos conhecerão filmes que são considerados clássicos da sétima arte, baseando-se num argumento de qualidade, e em performances memoráveis do elenco. E claro que em muitos casos não encontramos explosões nos mesmos. “Música do Coração” é considerado um dos maiores clássicos do cinema, sendo completamente desprovido de explosões, cenas de acção intensa, ou fantásticos efeitos especiais (o aspecto visual fica-se basicamente pelas lindas paisagens dos Alpes, cenário do mesmo), tendo num entanto uma grande história e grandes performances do elenco, particularmente da actriz principal Julie Andrews.
Para mim no wrestling, se um combate contar uma história de qualidade, e os wrestlers mostrarem personalidade, então 85% da qualidade está garantida. O trabalho de ringue pode não ser fantástico, mas o resto mais que compensa essa falha.

Os spotfests divertidos podem ser considerados filmes como a séria da “Arma Mortífera”, que são filmes com muita acção, um guião que não é nada de louvar por aí além, mas com excelente dinâmica entre os actores principais, Mel Gibson e Danny Glover, cujas sucessivas interacções e estatuto de “Odd Couple” carregam o filme.
O spotfest divertido tem claro a abundância de spots, mas algum esforço em construir o combate, e emoção por parte dos wrestlers salva o combate de ser um disparate total.

Este é o meu ponto de vista relativo a este assunto, poderão concordar ou não, poderão reflectir ou não. Sinceramente tal não me preocupa, pois apenas o procurava expor.
Dito isto não posso deixar os leitores em um exemplo daquilo que considero um spotfest divertido, muito divertido na verdade!

Para tal fazemos uma pequena viagem no espaço e tempo, até Tóquio no Japão, 27 de Outubro de 2008, a um combate da promoção Big Japan Pro-Wrestling, BJW.
É um combate 8-man tag, intitulado Men’s World, devido a ser contestado por membros do grupo MEN’s Club, um grupo de wrestlers indies de várias promoções, todos amigos do MEN’s Teioh, o fundador do grupo.
Tem as características dum Spotfest divertido, muita acção, com alguma construção da mesma, uns momentos clusterfuck como não podia deixar de ser, muita personalidade, o número de intervenientes reduz tremendamente problemas de overkill e no-selling, e alguma comédia metida no meio.
Algumas notas; o Onryo tem a gimmick dum fantasma, o Shinobu é um bissexual, o Yuki Sato é um fedelho, os tipos com fatos que apenas diferem nas cores são uma tag-team intitulado SOS (Speed of Sound). E todos os membros do MEN’s Club, retirando o Teioh e o Onryu que são mais velhos, podem ser considerados Ikemen.

2008.10.27 – BJW – Men’s World - MEN's Teioh, Onryo, KUDO & Shinobu vs. Makoto Oishi, Tsutomu Oosugi, Hercules Senga & Yuki Sato


E um bónus especial. Aquele que para mim foi o melhor combate de equipas de 2008, e por muitos considerado o melhor combate desse ano em todo o wrestling existente, e eu muito sinceramente vejo-me muito tentado a concordar!
Os nossos amigos MEN’s Teioh e Shinobu desafiam os campeões de equipas da BJW, Kengo Mashimo e Madoka. Claro que o que torna o combate muito interessante logo desde o início é o facto de os campeões serem wrestlers do KAIENTAI-Dojo (pode parecer estranho mas no Japão não é particularmente raro ver wrestlers duma promoção campeões noutra), o que garante que a equipa da casa tenha o apoio do público. E para ajudar às coisas, o Shinobu que já é um underdog natural, tem o ombro magoado, fazendo deste um alvo gigantesco.
Eles constroem magnificamente o combate durante os primeiros 10 minutos, estabelecendo papéis, delineando a história, de forma que quando eles começam a acelerar o combate entra num estado tal que o público do Korakuen Hall já nem consegue estar sentado!
O Shinobu tem indiscutivelmente a sua career-performance, e traz selling de qualidade para o combate.
Vejam que não se vão arrepender!

2008.05.23 - Kengo Mashimo & Madoka vs. MEN's Teioh & Shinobu, BJW tag titles




Vemo-nos para a semana.

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“ Death is merciless. But let me tell you... Not being able to die is crueller still.”
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