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Tomos de Eternidade

Esta semana vou abordar a carreira de dois populares wrestlers, a forma como começaram as suas carreiras juntos, e como mesmo apôs terem seguido caminhos diferentes, estas continuaram a mostrar uma elevada sintonia.
Falo do Ultimate Warrior e do Sting.

Para aqueles que não sabem, o Warrior e o Sting estrearam-se no mundo do wrestling como membros da Power Team USA, um grupo constituído por antigos culturistas sem qualquer experiência em wrestling. O grupo não resultou como esperado, mas estes dois senhores desenvolveram uma amizade e decidiram enfrentar juntos os desafios duma vida no wrestling. Eles tiveram uma breve estada em Memphis a qual não teve momentos particularmente memoráveis, mas tiveram depois a possibilidade de competirem na Mid-South Wrestling, onde se tornaram conhecidos como os Blade Runners, uma das muitas cópias dos Road Warriors que surgiram na altura (wrestlers muito musculados que usavam pintura na cara). Na Mid-South tiveram um feudo de algum nome com Ted Dibiase e o falecido “Dr Death” Steve Williams, os Blade Runners eram heels, tendo como manager o famoso “Hot Stuff” Eddie Gilbert.


A parceria seria no entanto quebrada em 1986, quando o Warrior saiu da Mid-South descontente com o Bill Watts. A partir daqui os dois seguiram caminhos diferentes, tendo o Warrior partido para a World Class Championship Wrestling onde competiu como o “Dingo Warrior” (um protótipo do Ultimate Warrior) durante o resto de 86 e grande parte de 87 até ir para a WWF, enquanto Sting permaneceu na Mid-South durante esse período até o David Crockett comprar a Mid-South (que tinha mudado de nome para UWF) e assimilar o talento nas Jim Crockett Promotions, mais tarde a WCW.
Em finais de 1987 ambos os senhores estavam nas promoções onde ganhariam a grande fama, começando aqui o reflexo das suas carreiras.

Foi em 1988 que ambos tiveram o combate que os catapultou para a fama. Sting no primeiro Clash of Champions em Março, onde combateu Ric Flair a um empate de 45 minutos estando o NWA World title em jogo, enquanto o Ultimate Warrior esmagou o Honky Tonk Man em 30 segundos no primeiro SummerSlam para ganhar o seu primeiro título Intercontinental. A vitória do Sting serviu para lançar a sua carreira, embora ele ainda passasse o restante 88 em combates e feudos de mid-card. Por outro lado o combate do Summerslam ajudou a catapultar o Ultimate Warrior para o estrelato, começando a sua escalada para a Imortalidade.

1989 também foi igualmente semelhante, pois ambos tiveram o feudo que os estabeleceu como main-players nas suas respectivas companhias. O Warrior teve um feudo de 8 meses com o Rick Rude, o qual foi iniciado no Royal Rumble desse ano, e que levou a que o Warrior perdesse o título Intercontinental na Wrestlemania, mas que eventualmente o recuperasse no Summerslam, estabelecendo-o como o único Babyface cuja popularidade rivalizava com a de Hulk Hogan.
Sting por seu lado derrotou o Mike Rotunda em Março para ganhar o NWA Television Championship, mas foi apenas em Julho no Great American Bash que Sting teve o feudo que o definiu, neste caso com o Great Muta. Os dois tiveram um famoso feudo pelo título Televisivo, o qual acabou por se juntar ao feudo entre Ric Flair e Terry Funk, com os lutadores de cara pintada a unirem-se aos veteranos. Trabalhar com o Ric Flair, tornando-se até membro dos Four Horseman (quando eles eram faces), mais o feudo com o Great Muta tornaram Sting no maior babyface da companhia no final de 89, derrotando até Ric Flair no Starrcade 89 durante um torneio.

E seria no ano seguinte que ambos subiriam ao topo da montanha, tornando-se os ícones das suas promoções.
O Warrior teve uma interacção com o Hulk Hogan durante o Royal Rumble que mandou a casa abaixo, tendo os dois depois desenvolvido um feudo que culminaria no “Ultimate Challenge”, um Dream Match entre os dois na Wrestlemania onde o título Intercontinental do Warrior, e o título da WWF de Hogan estariam em jogo, com o vencedor do combate a sair com ambos os cintos. Os dois tiveram um combate épico na Skydome em Toronto, perante mais de 67 mil pessoas, o qual viu o Ultimate Warrior atingir o Warrior Splash para conseguir a contagem até 3, tendo-se sagrado campeão Intercontinental e campeão mundial da WWF ao mesmo tempo, um feito ainda por imitar!
O Sting por seu lado viu o Ric Flair e os Horseman virarem-se contra ele no Clash of Champions de Janeiro, apôs ele recusar deixar de utilizar a oportunidade pelo título mundial de Flair. Nesse mesmo show o Sting sofreu uma legítima lesão no joelho, o qual faria atrasar o seu desafio pelo título até Julho no Great American Bash na Baltimore Arena, onde perante uma mais modesta audiência de 10 mil pessoas os dois tiveram um combate menos espectacular, mas que ainda assim viu Sting consagrar-se o NWA World Champion.

Tanto o Warrior como o Sting começaram 1990 como os wrestlers mais populares da sua promoção, e durante o ano ambos alcançaram o topo da mesma, tornando-se os principais campeões. A escalada ao sucesso foi idêntica e simultânea (salvo alguns meses de diferença) para ambos, e esta simultaneidade continuaria a mostrar-se ainda que a partir daqui no sentido inverso. O da queda.

A vitória de ambos foi bem planeada e executada, e verdade seja dita uma grande vitória pode fazer muito pelo reinado dum campeão. Mas se esta não for seguida com bom booking e adversários dignos de ver, o reinado será no mínimo conturbado. E foi o que aconteceu a ambos.
Warrior e Sting ganharam os seus títulos vencendo as maiores estrelas das respectivas companhias, derrotaram o Rei e conquistaram o seu reino, mas feito isto não havia nenhum adversário que verdadeiramente estivesse á altura. Claro que bom booking ajuda a criar adversários à altura, mas bom booking esteve aqui em falta...
O Warrior não tinha heels com credibilidade suficiente para o enfrentar, visto o Ted Dibiase, o Randy Savage e o Mr Perfect terem todos sido derrotados pelo Hulk Hogan nos meses anteriores a perder o título, de forma que quando o Warrior ganhou o título os principais heels não estavam em condições de o enfrentar, razão pela qual defendeu no Saturday Night contra o Haku, um mid-carder na melhor das hipóteses. A WWE tinha um monster heel que estavam a construir com sucesso na altura, o John Tenta sob o nome do temível Earthquake, que apôs a Wrestlemania esmagou o Hogan, e “partiu-lhe” as costelas, havendo o risco de causar uma reforma antecipada. Com este push o Earthquake poderia ter sido um adversário mais que temível para o Warrior no Summerslam, pois embora o Warrior tivesse vencido o Hogan, o Earthquake acabara com a carreira dele. Mas não foi isso que aconteceu.

O Hogan esteve uns tempos fora de acção, mas conseguiu voltar no Summerslam para ter uma desforra com o Earthquake, combate que venceu ainda que por contagem. Entretanto o Warrior enfrentava o Rick Rude, numa repetição do feudo de grande sucesso do ano anterior. Desta vez contudo a coisa não resultou como esperado, visto o público não acreditar que o Rude, que perdera um ano antes e que passara o tempo entre Summerslams no mid-card, pudesse vencer o Warrior. Como tal o Warrior como campeão esteve longe de ser o sucesso esperado, visto não ter adversários convincentes, padrão que continuou durante 1990, até praticamente ao fim quando o Sr. Slaughter e o Randy Savage finalmente conseguiram ser estabelecidos como heels de nível (o Slaughter com a gimmick Pró-Iraquiana, e o Savage com a gimmick de Macho King), com o Slaughter a ganhar o título ao Warrior apôs o Savage intervir. No final o Slaughter perdeu o cinto para o Hogan na Wrestlemania, e o Warrior “reformou” o Savage. Como resultado o reinado do Warrior foi muito afectado por mau booking.

O Sting sofreu um destino semelhante, pois apôs vencer o Ric Flair, top heel indisputado da companhia desde 1985 não tinha ninguém para enfrentar. O Lex Luger poderia ter sido uma hipótese, mas este tinha feito um face-turn de forma a encher tempo enquanto o Sting não recuperava da lesão, e como tal não estava em posição para ter um feudo com o Sting. O Ole Anderson, que era o booker na altura, lembrou-se de criar um wrestler mascarado que apresentava poderes paranormais para confundir o Sting, chamado Black Scorpion.
E sim, foi tão mau como soa!
A storyline foi uma confusão desgraçada, com o Sting a derrotar o Black Scorpion mais de uma vez, apenas para ser revelado que não era o verdadeiro, e que este estava apenas a fazer mind-games. Pelo meio ele gostava de usar truques de ilusionismo de terceira para mostrar os seus “poderes”, os quais acabavam por ser mais ridículos que impressionantes, e o facto que o Ole Anderson estava a usar um distorsor de voz para falar como o Black Scorpion não ajudou.
O Flair disse que o Ole devia estar pedrado quando teve a ideia, mas também disse que o Ole nunca estava pedrado, por isso...
No final o angle terminou num cage match no Starrcade 1990, onde percebeu-se durante o “confronto final” entre o Sting e o Scorpion que o homem debaixo da máscara era na verdade o Ric Flair (mesmo antes de se retirar a máscara o público já tinha percebido, pois o Flair usara muitos dos seus maneirismos, e fora retirado dum Tag em que era suposto participar no show).
Toda esta história foi um desastre completo, e como resultado o Sting como campeão foi um flop bem pior que o Warrior, o qual tinha sobretudo falhado em cumprir as expectativas. No final o Sting perdeu o título para o Ric Flair algumas semanas depois de o Warrior perder para o Slaughter, e fê-lo num house-show, o que diz muito sobre o reinado dele...

Para terminar esta comparação entre os antigos Blade Runners, nem um nem outro voltariam a ter a oportunidade para se tornarem o homem por detrás da promoção. O Warrior teria o grande feudo com o Savage que culminaria no Retirement match, mas ele sairia da WWE pouco antes do Summerslam 1991, e embora tivesse regressado duas vezes (na segundo voltou a ter um grande combate com o Savage) ele nunca conseguiria recuperar o sucesso anterior, acabando por deixar o wrestling. O Sting por seu lado teve a hipótese de voltar a ser campeão em 1992, mas o seu reinado teria muito pouco sucesso, embora fosse ajudado por booking muito melhor (o wrestling em geral estava em muito mau estado na altura), e ainda seria campeão um número de vezes a partir de 1997, mas esses reinados foram flops totais, ao ponto de que a única memória que verdadeiramente existe deles é o desastre do Starrcade 97...

E termino aqui a retrospectiva da carreira destes dois senhores, e a forma como durante anos estas se reflectiam uma na outra. Regresso para a semana com outra edição dos Tomos!

manjiimortal

“ Death is merciless. But let me tell you... Not being able to die is crueller still.”

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