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Tomos de Eternidade

Os Tomos voltam ao ataque, naquela que será uma edição levezinha.
Hoje achei interessante deixar umas curiosidades, umas provas de como por vezes a menor coisa pode mudar o rumo no wrestling profissional.
Falemos de planos de booking da WWE que foram mudados, por vezes devido a circunstâncias, por vezes devido a reflexão, por vezes devido a terceiros.....


Comecemos então em 1988. Hulk Hogan tinha sido o WWF World Champion durante 4 anos, e perdera por fim o cinto no especial televisivo The Main Event para o Andre the Giant, com uma ajudinha do “Million Dollar Man” Ted Dibiase. Como é sabido na WM 4 foi realizado um grande torneio para coroar um novo campeão, onde o Randy Savage (que aproveito para dizer que era indiscutivelmente o melhor worker da promoção entre 1985 e 1992) se consagrou campeão. No entanto existe o rumor de que o vencedor original do torneio seria o Ted Dibiase, e que no Summerslam seguinte o Macho Man o derrotaria para ganhar o desejado cinto. Por que razão teria sido mudado? A principal teria a ver com o facto de que este resultado implicaria que um heel saísse vencedor da WM, o que sempre foi algo mal visto na promoção, e que verdade seja dita, não ocorreu até hoje. Contra este rumor também está a ideia de que o Vince McMahon, antes da WM 3 terminar já tinha delineado o booking para o prémio máximo da WWE até á quinta WM. Ou seja, o reinado do Savage serviria para refrescar a imagem dum Hulk Hogan campeão, ocorreria a explosão dos Mega Powers (que se tinham juntado e 1987), e o Hogan voltaria a ser campeão, com uma imagem rejuvenescida.

Ainda em 88 houve outra situação, desta vez envolvendo o título Intercontinental. Honky Tonk Man era o campeão então (e é interessante ver que ele ganhou o cinto por acaso, isto quando o Steamboat pediu uma licença para estar com o filho recém-nascido, e teve de largar o cinto, neste caso para o HTM, que serviria como campeão de transição, mas que conseguiu enorme heat o que prolongou o reinado), e na WM tinha perdido por DQ num combate pelo título contra o Brutus Beefcake. Era suposto o Beefcake vencer o Honky Tonk Man no Summerslam, e começar um reino de sucesso como campeão Intercontinental. No entanto o Beefcake sofreu uma lesão pouco antes do evento (que em kayfabe foi justificado por um ataque do Ron Bass), e foi necessário encontrar um substituto para derrotar o Honky Tonk Man. Certamente que já terão ouvido falar dele, um sujeito porreiro chamado The Ultimate Warrior, cuja vitória no evento o catapultou para a fama...

Saltando agora para 1989, mais especificamente para o Royal Rumble. O vencedor desta edição do combate foi o Big John Studd, que fora um grande nome durante a primeira metade da década, mas apôs 1986 tinha quase que desaparecido. Na altura o Rumble ainda não tinha um prémio pelo qual competir (para além da honra de ganhar a maior de todas as Battle Royals), mas ainda assim a vitória de Studd parece arbitrária, ainda mais considerando que o Ted Dibiase tinha entrado em último lugar, e uma vitória no evento fortaleceria a sua personagem.

No entanto havia uma razão por detrás da vitória. A WWE planeava repetir o famoso feudo que Studd tivera com Andre the Giant em 1984/85 (onde Studd rapou o cabelo de Andre, e ocorreu o famoso Bodyslam match na primeira WM), mas desta vez com os papéis invertidos, sendo Studd face, e Andre Heel. No entanto Studd teve problemas de saúde, os quais somados aos problemas de Andre levaram a que o feudo não se realizasse (que supostamente incluiria um combate na WM 5), e em vez disso o Andre continuou o feudo com o Jake Roberts.


Em 1989 Hulk Hogan também teve o papel principal no infame filme “No Holds Barred”, o qual foi a primeira tentativa do Vince McMahon de fazer duma estrela de wrestling, uma estrela doutra forma de entretenimento. No filme Hogan fazia o papel dum wrestler (obviamente), que tinha de defrontar o monstruoso lutador Zeus.

No final do filme Hogan derrotava Zeus, e conseguia o final feliz. Mas esse não foi o final da história, pois o Vince decidiu trazer o feudo entre Zeus e Hogan para os ringues da WWE, levando a um combate de equipas no Summerslam (bastante bom devo dizer, o Zeus era muito limitado no ringue, mas a representação dum monstro psicótico estava muito boa, e tinha o Savage, Hogan e Beefcake para o ajudar), uma participação num combate de eliminação na Survivor Series, e uma desforra do combate do Summerslam numa Steel Cage (também bastante bom). O plano original seria para Hogan finalmente ter um combate individual contra Zeus na WM 6, enfrentando assim o seu maior desafio, mas depressa se viu que não haveria tempo para treinar Zeus, que era um actor de cinema, para ter um combate individual, ainda mais o main-event da WM. Isto claro abriu a porta para um novo adversário, o fulano simpático do Ultimate Warrior.

Agora em 1990. O Royal Rumble continuava sem um prémio tangível, mas vencê-lo seria ainda um grande momento. O vencedor original para esse evento seria o Mr Perfect, que ganharia o combate, podendo depois avançar para o feudo de main-event, contudo o próprio Hulk Hogan estava contra a ideia, pois dizia que não fazia sentido o Perfect ganhar o Rumble se o main-event da WM 6 seria Hogan vs Warrior. A argumentação dele também se fazia valer pelo ponto de que se ele ganhasse, uma vitória do Warrior na WM seria maior do que de outra forma (pessoalmente eu acho que o que fazia mais sentido era o Warrior ganhar o Rumble, dando mais força ao desafio), e estes argumentos acabaram por convencer o Vince. Hogan ganhou o Rumble, e depois o Warrior derrotou-o na WM ganhando o cinto.


1990 foi também o ano que os famosos Road Warriors se estrearam na WWE um mês antes do Summerslam, sob o nome de Legion of Doom. A WWE já tinha uma dupla de powerhouses de cara pintada, que vestia couro, os igualmente famosos Demolion, Ax e Smash, que são sem dúvida os mais famosos imitadores do modelo de equipa dos Road Warriors (e que este cronista põe a hipótese de a certa altura terem superado os originais), e por essa razão um feudo entre as duas equipas era algo que despertava em muito o interesse dos fans. Os Demolition eram os campeões de equipas, o Summerslam estava á porta, tudo parecia perfeito para realizar um grande combate no PPV.


No entanto havia um problema, o Ax estava a sofrer com uns problemas de saúde cuja gravidade ainda não era completamente certa, e de forma a não pôr em risco Ax, os Demolition acrescentaram um terceiro membro ao grupo, Crush. Esta situação obviamente que trouxe limitações, pois o interesse era ver a colisão entre o Animal e o Hawk dos Road Warriors, contra o Ax e o Smash dos Demolition, e não contra o Crush.

Para tornara a situação pior, quem no Summerslam desafiou pelos títulos de equipa não foram os LOD, a nova equipa acabada de chegar e cheia de heat, mas a Hart Foundation, uma dupla que para todos os efeitos estava num estado de mera existência apôs o push individual para o Bret Hart em 1988 ter sido posto de lado. E para tornar a coisa ainda pior, a Hart Foundation venceu os Demolition com ajuda dos LOD, o que retirou muito do interesse do feudo. Isso mais os problemas do Ax, que lhe retiravam cada vez mais tempo em ringue, sendo eventualmente substituído definitivamente pelo Crush apôs a Survivor Series, conseguiu retirar todo o heat que o feudo tinha, e nos meses a seguir à Survivor Series os Demolition começaram a ser jobados por todo o lado.

Agora damos um salto para 1992. O título mundial da WWE estava vago, para ser entregue como prémio ao vencedor do Royal Rumble desse ano (e o melhor de sempre posso acrescentar). Nesse grande evento, o lendário Ric Flair que se estreara em Setembro de 91 na WWE ganha o seu primeiro título na promoção. A WM 8 está à porta, e tudo parece indicar que Flair defenderá o cinto contra Hulk Hogan, naquele que seria o maior Dream match da década de 80, quando o grande Ás da NWA/WCW, enfrentaria o grande Ás da WWE!

No entanto o combate nunca ocorreu...

Quais foram as razões para nos ter sido negado este embate de Titãs?

Primeiro, toca a desmistificar a ideia de que o Hogan tinha “medo de ser exposto por um verdadeiro wrestler como Flair”, que os smarks anti-Hogan tanto gostam de utilizar. 2 anos mais tarde na WCW, este feudo seria realizado, e os combates nesse ano tiveram grande qualidade, com o Hogan a mais que fazer a sua parte. E mesmo em 91/92 eles tiveram combates em house-shows (dos quais dois deles no MSG estão disponíveis em vídeo e DVD).

A grande razão pela não realização deste combate e feudo (que começara antes sequer de o Flair se estrear na WWE, quando o Bobby Heenan começou a anunciar que o “Real World Champion” estava prestes a chegar), foi que Hulk Hogan planeava pôr termo á sua carreira. Apôs 8 anos durante os quais foi a grande estrela da promoção, Hogan tinha decidido que a altura de parar chegara, e que a sua reforma ocorreria na Wrestlemania 8. Isto claro punha em questão os planos originais, onde o Flair perderia o cinto para o Hogan no main-event do show, começando então o quinto reinado de Hulk Hogan. Com o Hogan a planear reformar-se, caso se seguisse este plano, o cinto teria de ficar vago apôs o show, e seria necessário fazer algo para encontrar um novo campeão.

Isto desagradava ao Vince, que por um lado queria que saísse um campeão face da WM, mas que queria que este tivesse um reinado com significado. Por essa razão foi decidido fazer o Double Main-Event, com o Flair a defender o cinto contra o Randy Savage (naquele que eu considero o melhor combate que o Savage teve na WM, superior até ao contra o Steamboat), e o Hogan a enfrentar o Sycho Sid num grudge match, onde o Sid seria posto como o novo grande monster heel da WWE.

Eu tenho mais uns casos para relatar, mas por hoje acho que já chegou, por isso vemo-nos para a semana noutra edição dos Tomos.

E porque me apetece, deixo uma promo maluca do Randy Savage!



manjiimortal

“ Death is merciless. But let me tell you... Not being able to die is crueller still.”
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