APW na Baixa da Banheira: Red Eagle vs. Ultra Psycho - Análise e Reportagem

No passado sábado (09.04.2011), na Baixa da Banheira, no Chinquilho local, a APW fez o seu terceiro evento na localidade, denominado “Red Eagle vs. Ultra Psycho”, esse que foi o cabeça-de-cartaz do espectáculo, com o vencedor a receber uma oportunidade pelo Titulo Nacional da APW....
Mais uma vez, tive o privilégio de ser o “ring anouncer”, ou para dizer à portuguesa, o mestre-de-cerimónias. Algo que me deu, mais uma vez, um grande prazer ser. Subir ao ringue é sempre uma sensação muito mas muito especial.
Vamos então à reportagem do evento…
O espectáculo começou com o plantel da APW presente a subir ao ringue e prestar um acto de homenagem às vítimas do sismo no Japão, com dez badaladas. Um acto que fica sempre bem efectuar, sobretudo para com um país com tradições tão fortes no pro wrestling.
De seguida, o mestre-de-cerimónias chamou Red Eagle e Ultra Psycho ao ringue para dizerem umas últimas palavras um ao outro, sendo-lhes perguntado o quão importante era fazer este combate.
Ambos mostraram respeito um pelo outro, mas Ultra, assumindo uma postura um pouco mais arrogante e com um toque “heel”, relembrou ao lutador do Benfica o que tinha acontecido na última vez que pessoas vestidas de azul enfrentaram pessoas vestidas de vermelho, numa alusão ao último Benfica – Porto, em que a equipa nortenha festejou a conquista do Titulo Nacional, e no final, viram-se as luzes serem apagadas e o sistema de rega activado. E sendo a maioria do público presente benfiquista, com alguma discussão futebolística, Ultra ganhou um certo “heat”.
E até gostei, há que ser original, há que trazer certos assuntos sonantes do que se passa para lá do wrestling para dentro do mesmo para se terem algumas reacções por parte do público.
No final do segmento, ambos se cumprimentaram, e David Francisco apareceu com uma espécie de tubo atacando os dois lutadores.
(1) “O Camionista sem Travões” Albano Pina venceu André após um “Wasteland” num combate com cerca de 5 minutos: Não seria a melhor escolha para “opener” no entanto, tendo em conta que o evento começou oficialmente com a “promo” entre Eagle e Ultra aceita-se a decisão. Gostei de ver a evolução do André, acho que é alguém que demonstra uma grande paixão pelo que faz, vivendo no Norte, tem de vir a Lisboa para os treinos e à Margem Sul para os espectáculos.
Albano é um muito bom “entertainer”, fazendo uma “promo” antes do combate que visava a greve dos camionistas, pena a maioria do público presente ser crianças e por isso esse assunto é-lhes ignorado.
Após este combate, veio o intervalo em que André, Vitor Amaro e Red Eagle assinaram alguns autógrafos na zona de merchandising.
(2) “O Fantástico” David Francisco venceu Vitor Amaro após uma cadeirada e um “TKO” num combate com cerca de 12 minutos: Boa contenda, apesar de algumas falhas dos lutadores. David Francisco é o lutador mais carismático que esteve no evento, e à terceira vez na Baixa da Banheira, nota-se que cada vez mais não é necessário falar e fazer tanto para obter o “heat” da tarde, tendo aquele público cada vez mais na palma da sua mão.
Combate bem construído com “O Fantástico” a ganhar vantagem e a obter “heat”, e a alimentar bem os “hope spots” e o “comeback” de Vitor Amaro, que com um pouco mais de brilho, ainda se tornava um dos favoritos do público canalizando a vontade que os fãs têm de ver a boca do David fechada.
Só para terem a noção do quão este combate resultou tão bem na parte emotiva, um “Enziguiri” e posteriormente um “Pontapé no Céu da Boca” apanhando o adversário a meio do ar por parte do Fantástico silenciou a plateia por completo, e quando assim é, é tremendo. Os “kick outs” de Vitor Amaro a esses dois movimentos originaram talvez os maiores festejos da tarde da parte do público.
(3) Ultra Psycho venceu Red Eagle por submissão com o seu “Psychedelock X-Perience” num combate com cerca de 24 minutos: Red Eagle recebeu o “pop” da tarde e Ultra Psycho teve uma reacção muito mas muito… mista. Se por um lado é alguém que representa algo com que o público se identifica, houve quem não gostasse das inconvenientes verdades que disse sobre a guerra Benfica – Porto.
O combate teve um fio condutor muito bom e foi na minha opinião o combate da tarde! No segmento inicial em que David Francisco atacou ambos os lutadores com o seu tubo, abusou um pouco da perna de Red Eagle, e Ultra Psycho, um veterano dos ringues, astuto como é, fez jus à sua alcunha de “Raposa Azul” e experiência ao trabalhar na perna do seu adversário, tendo alguns tiques de “heel”. Eagle, que penso que poderia ter vendido ligeiramente melhor a lesão, foi recuperando e assistimos a uma parte final de combate bem interessante, na qual, por exemplo, este “botchou” um “Springboard”.
Mas no fundo, isso acabou por ser bom, porque de certa forma não foi visto como um “botch” mas como um sinal das dificuldades porque passava já que tinha a perna lesionada. Destaque ainda para o “619” de Red Eagle, que na minha opinião é a manobra que os fãs mais querem ver, já que mostraram sempre grande entusiasmo quando Eagle a tentava, e tendo em conta isso, acho que nos próximos combates ele deveria abusar um poucos dos “teasers” para esse movimento, talvez consiga um público mais barulhento.
Quanto a ilações a tirar sobre o evento, e dizendo isto na perspectiva de fã, não é o mais rentável para conseguir público para próximos eventos ter três combates com três vencedores “heel” (ou vá, no caso de Ultra, um “tweener”), e ainda que se perceba que para aquele “card” eram os resultados mais justos e que a nível da imagem dos lutadores, beneficia os mais talentosos e os que a curto-prazo podem dar algo mais à promotora, talvez se pedisse aqui alguma ousadia.
Percebo a intenção em querer vender um espectáculo em promover uma espécie de “dream match” para o público-alvo entre os seus dois favoritos, mas se calhar, se tivessem promovido um torneio com os seis lutadores o sucesso não fosse inferior, com numa ronda pré-eliminar termos o David a vencer o Amaro e o Albano o André, depois nas meias-finais, os dois juntavam-se aos vencedores do “Main-event” do último “show” e poderíamos obter daí duas vitórias “face”, com Eagle e Ultra a seguiram para a final.
Uma outra opção, e se calhar esta seria até mais aceitável, poderia ser uma “Battle-Royal” de seis lutadores ao inicio, a primeira que alguma vez se tinha realizado na Baixa da Banheira e isso poderia ajudar a vender o evento, e talvez fosse mais apelativo até do que Eagle vs. Ultra, sobretudo se a mesma tivesse um formato parecido ao do Royal Rumble, com os últimos dois lutadores a terem a oportunidade de se enfrentarem um ao outro no “Main-Event” pela oportunidade pelo titulo. E assim sendo, os dois primeiros combates mantinham-se e tínhamos um bom “opener”. No final dessa “Battle-Royal”, o segmento inicial poderia ter ocorrido na mesma.
Qualquer uma destas opções serviria também para “encher” mais o “card”, que foi algo escasso.
Se calhar o segmento inicial, que embora tivesse sido bom, pode ter estragado um pouco uma potencial alegria do público, já que Ultra ganhou algum “heat” e foi o “heel” do combate, mas se se tivesse mantido como “face” e tivéssemos algo mais “taco-a-taco” em vez de tão faseado os fãs talvez pudessem ir mais felizes para casa e com mais vontade de regressar numa ocasião futura.
No entanto, acho que os seis lutadores estiveram bem, com o André e o Albano a revelarem evolução, especialmente o primeiro, não que o segundo não a revelasse tanto, mas porque o seu estado já era mais maduro no evento de Fevereiro.
David Francisco cada vez precisa de fazer e falar menos para obter grandes reacções dos fãs, e isto está-se a tornar um caso muito sério. Vitor Amaro esteve bem, e penso que continuará a evoluir.
Ultra Psycho revelou-se um excelente “in ring general” e apesar de alguns “botches”, Red Eagle também esteve à altura.