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A promo de CM Punk aos olhos de um booker

Após a promo que agitou por completo o mundo do wrestling na passada semana, Dave Lagana apresentou um especial no seu blog onde juntamente com vários ex writters da WWE debateu esse acontecimento. Um writter em especial, Andrew Goldstein apresentou um artigo sobre CM Punk onde fala do que promos como a dele fazem pelo negócio, aborda a sua estreia na ECW e ainda a relação entre Paul Heyman e CM Punk....


Um momento “Holy Shit” dentro de outro momento “Holy Shit”

Tivemos mais uma noite de segunda-feira e bem, esta foi das grandes. Na longa e escrita história do wrestling profissional/ sports entertainment pudemos assistir aos Horsemen a partirem a perna de Dusty Rhodes, Orndoff a virar-se contra Hogan, Hall e Nash aparecerem no Monday Nitro, Steve Austin inventar o seu próprio versículo… e esses foram somente durante a minha vida… São momentos únicos de honestidade mas vistos sob um ponto de vista desonesto. São estes momentos que mantém o motor deste mundo sem sentido, deste circo de falsa competição, deste espectáculo surreal e recheado de melodrama sob a forma de cartoon que percorre varias terras, sem paragens e sem que ninguém lhe chame de “bullshit” a funcionar e impedem que ele pare. São como que um capacitador de fluxo a trabalhar num Delorean que juntamente com um foco de luz apontado e um som de 1.21 gigawatts conseguem catapultar aqueles performers especiais através do tempo para terrenos impossíveis e inimagináveis da sua carreira. Estes momentos podem literalmente levar um performer do meio do nada para o meio de TUDO – e é neste tudo onde CM Punk está neste momento. O seu nome é dito por todos os fãs de wrestling que salivam pela réplica após o terramoto verbal que teve erupção no Monday Night RAW desta semana.

Sentado como um indiano no topo da rampa após a sua última acção física instruída da noite, CM Punk preencheu os minutos finais do Monday Night RAW num ataque verbal e improvisado aos empregados, colegas e fãs e de uma forma que ninguém previa que ia acontecer (A ironia de estar sentado numa pacifica a declarar guerra nos seus opressores cria um momento perfeito para aquilo que se seguirá) Aquilo que assistimos é algo que raramente acontece em espectáculos com público a assistir. Conseguem imaginar, Lebron James a responder aos seus críticos após o sexto jogo da final da NBA como a mesma paixão e o mesmo fervor que Punk mostrou na segunda-feira passada? Conseguem imaginar Anthony Weiner a ter a coragem de CM Punk e na sua conferência de impressa dizer o porquê de ter feito o que fez? Conseguem imaginar o presidente Obama – ou alguma figura do género – a falar aos constituintes num discurso vindo do coração, sem ser previamente preparado e politicamente correcto? Não sei se iria acrescentar muito mais ao clima tumultuoso que já vivemos, mas que iria tornar a vida mais interessante, isso não tenho dúvidas!

São estes momentos “Holy Shit” que justificam o nosso amor e compromisso por uma causa que poucos entendem. Eles conseguem fazer a um fã de wrestling, o que um milissegundo de nudez fazia a um adolescente na década de 80. São estes momentos que nos fazem esperar por mais. Não importa se estaremos semana após semanas com uma acção estática, aborrecida e frustrante. Não interessa, pois já fomos cativados por aquele momento glorioso que nos fez ficar de boca aberta, com arrepios na espinha e com o coração a disparar e isso já vem desde o início de tudo que foi quando o wrestling nos foi apresentado e ficou-nos entranhado e aí está o ponto fulcral pois em antes queremos combates cinco estrelas e guiões cheios de voltas e reviravoltas dignas de uma novela… nós queremos momentos de clarividência na confusão reinante, cheio de convulsões e turvo que é o wrestling.

Eu tive hipótese de estar atrás da cortina deste mundo misterioso que é o wrestling e tive a oportunidade e de estar cara a cara com Punk. Nessa altura eu fui testemunha do nascimento de CM Punk versão WWE. Naquela altura, não tinha ideia de quem era CM Punk (Não fui seguidor da sua carreira nas indys e na TNA) mas lembro-me da sua estreia na programação da WWE (Eu estava na entrada de um dos túneis laterais da arena, algo que que os membros da equipa criativa costumam fazer – pois para além de ser um bom ponto de vista estratégico com boa visão para o ringue, é também um bom local para fugirmos da tempestade política que acontece quando estamos sentados a assistir no monitor no backstage juntamente com outros e a colher os frutos do trabalho). Enfim, eu lembro-me de sentir o publica a cantar “CM Punk, CM Punk, CM Punk” com o mesmo afinco e paixão do que se tivessem a cantar “Rocky, Rocky, Rocky”. Eles sabiam algo que eu não sabia.

Outro que sabia era Paul Heyman que pushou e espicaçou Vince McMahon sempre que possível para capitalizar a credibilidade única e instantânea que CM Punk trouxe para a WWE,… mas infelizmente não teve aval. Na construção do PPV December to Dismember que teve como main-event uma Elimination Chamber, Pauley já tinha o seu génio a trabalhar a toda a velocidade – perguntou-me se gostaria de ficar a fazer umas horas extras para o ajudar a produzir uma série de segmentos vídeo de todos os participantes desse main-event para depois ajudar a vendar o heat do combate (Anos mais tarde a HBO iria começar a usar este formato brilhantemente para vender os seus combates). Pauley disse-me “Eu costumava fazer disto na ECW Original e elas funcionavam” (Mais uma vez, Pauley estava à frente do seu tempo). Não recusei!

Naquela noite eu vi o Paul Heyman a trabalhar a sua arte. Ele conseguiu extrair emoções que nunca tinha visto em wrestlers profissionais. Eu vi-os a falarem directamente do coração e não do script, Eu pude ver eles a transcenderem-se das suas personagens e falarem como um simples ser humano com sentimentos sobre o que os motivava a entrar em tão bárbaro combate. Eu vi um Bobby Lashley em lágrimas enquanto falava no desejo de ter sucesso par ajudar a sua família. Eu lembro o CM Punk – um desconhecido para mim na altura - com uma confiança que somente o Triple H e o Shawn Michaels mostravam na selva que era a WWE. Era fantástico. Como fã de wrestling era como que Xanadu, como membro da equipa criativa era uma bênção colaborar e poder aprender com alguém como Punk. Isso fez de mim um fã de Punk para sempre. (Claro está que esses vídeos nunca chegaram a ver a luz do dia. Eu tive conhecimento que o Vince se riu na cara do Paul quando este lhe sugeriu a apresentação dos vídeos nos episódios da ECW antecedentes ao PPV)

Para finalizar a história, Paul era um homem firme na sua visão e sobretudo sobre Punk. Ele propôs que Big Show (o ECW Champion na altura) e o rookie sensação Punk fossem os primeiros a entrar no Elimination Chamber match. O plano de Pauley era que Punk chocasse o mundo e eliminasse o gigante nos primeiros cinco minutos do combate – assegurando que num novo campeão iria ser coroado enquanto Punk ficava com uma imagem reforçada. Era um plano genial e que toda a equipa criativa adorou e provavelmente Vince McMahon também, mas bem lá no fundo pois a ideia surgiu não dele mas sim da mente do seu pet peeve de estimação… Paul Heyman e assim o plano foi recusado. Continuando sobre o combate, este foi uma porcaria e a fúria de Pauley sentiu-se (nunca é bom estar junto dele, quando ele tem esses momentos) Ele sabia que estava certo e agora ligado ao fracasso que foi o combate até mesmo em gerar emoção no publico ele foi com a típica frase de “eu disse” a Vince e a Stephanie. Não foi surpresa nenhuma ver ele sair da WWE, pedindo a demissão mesmo antes de eles o terem demitido.

O objectivo desta ida ao passado é mostrar que o Paul viu algo em CM Punk. É isso que o Paul faz, ele vê coisas nas pessoas e o que ele viu em 2006 em CM Punk foi de tal forma forte que se prontificou a sacrificar o seu confrontável, corporativo e bem pago emprego na WWE para rebater e defender o miúdo tatuado de Chicago em quem ele acreditava tão zelosamente.

É por isso que na noite de segunda-feira ao ver Punk invocar o nome de Paul Heyman enquanto partia com as suas palavras, todo e qualquer estatuto dentro das regras da WWE, eu tive um momento “Holy Shit” dentro de outro momento “Holy Shit”. Aquele período de tempo da minha vida, preencheu-se completamente com todas as palavras proferidas pelo Straight Edge Superstar, pois em 2006 eu vi aquele miúdo ser defendido por Paul Heyman que despoletou uma guerra contra o grande dragão e a perdeu. Agora vejo esse miúdo desencadear a sua própria guerra contra esse dragão em directo na TV e por larga margem venceu. E ao fazer isto, mostrou o porquê de eu ainda ser fã de wrestling profissional. Obrigado CM Punk

Original de Andrew Goldstein em IWantWrestling.com de Dave Lagana
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