Tomos de Eternidade - O wrestling e as audiências

Bem vindos a mais uma edição dos Tomos de Eternidade. Hoje vou abordar uma temática que na perspectiva do wrestling tem extrema e simultâneamente nenhuma importância.

Audiências televisivas.

Audiências têm zero importância para o wrestling na medida em que estas não reflectem a qualidade do show em questão, mas sim as expectativas criadas para este. Têm extrema importância pois são estas que garantem a sobrevivência do programa no canal....

No entanto o wrestling encontra-se numa situação única neste aspecto, na medida em que embora consiga audiências muito elevadas (embora muitos se queixem que as audiências actuais da Raw tenham descido imenso desde as Monday Night Wars, a verdade é que a Raw ainda é consistentemente dos programas mais vistos á segunda-feira à noite no horário que tem), aquilo que se ganha a nível de publicidade não está de acordo ao que seria esperado quando se olha para as audiências.

O Paul Heyman numa coluna dele uma vez contou uma história passada em 2001/2002 quando o Vince McMahon estava em brasa, pois a receita publicitária que a WWE tinha não reflectia a quantidade real de pessoas que viam o programa. A isto o Heyman respondeu que tal se devia ao facto dos grandes anunciantes (as grandes marcas de produtos) não se quererem arriscar a criar uma associação com o wrestling profissional.
Qual é a razão disto?

Fácil. Aos olhos da grande maioria dos indivíduos, incluídos os grandes gestores de empresas, o wrestling é a mais reles e baixa forma de entretenimento, e quem assiste a wrestling cai na terrível categoria do menor denominador comum.

É uma visão demasiadamente esteriótipada dos fãs de wrestling, mas que para todos os efeitos é aquilo que os anunciantes pensam, e por essa razão nem mortos seriam apanhados a publicitar os seus produtos durante shows de wrestling.

Isto tem uma grande razão de ser, pois actualmente no marketing é cada vez mais importante identificar um público alvo para cada produto. Isto claro quer dizer que se cria um perfil de cliente onde se identifica coisas como idade, nível de rendimento, interesses, etc. Com isto é possível ter uma ideia de usar o orçamento que se tem para a publicidade de forma mais eficaz, gastando-o apenas onde se tem mais ou menos a certeza de que a mensagem vai chegar ao cliente pretendido. A nível televisivo significa comprar tempo de anúncio nos intervalos de programas muito específicos (por exemplo, um torneio de golfe é uma boa altura para fazer publicidade a marcas como a Lacoste, Rolex, Mercedes, Porsche, porque quem tenha interesse num programa destes provavelmente pratica, e o golfe é um desporto para alguém com rendimentos elevados).

Claro que já estarão a ver qual o problema aqui. O estereótipo do menor denominador comum garante que as empresas não tenham interesse em fazer publicidade no wrestling, mesmo tendo em conta as audiências que tem, pois não acreditam que esta audiência venha a comprar os seus produtos. E lá se vão as receitas de publicidade pelo cano abaixo, retirando marcas como a Coca Cola e afins, onde o produto ainda é algo que apela á grande maioria das pessoas (toda a questão aqui prende-se com o conceito de marketing de massas, um conceito que por meio de maior nível de exigência do consumidor, por cada vez mais que querer produtos que satisfaçam necessidades muito específicas, muitos são os especialistas de marketing que acreditam na sua eventual extinção).

Isto em si já é um grande problema, mas contribui para um problema ainda maior. A extrema importância das audiências mencionadas no início da crónica.

Uma vez que o wrestling é um beco sem saída no que toca a publicidade (aquilo de que vivem as estações televisivas), porque razão é que ainda podemos ver wrestling e horário nobre, com duas horas de duração, e por vezes especiais de 3 horas? Resposta simples.

O wrestling é uma grande forma de aumentar a média de audiência geral dos canais, de mostrar aos stakeholders que a estação de televisão, quando vista numa perspectiva de "bigger picture", o wrestling ajuda a que a estação tenha uma melhor imagem. isto no entanto eleva ainda mais a importância das audiências, e leva a que as estações pressionem as promoções. Por exemplo foi a USA Network que forçou a WWE a criar a gimmick do Guest Host, bom como realizar mais especiais de 3 horas.

Mas a reacção aqui é que existe sempre o risco de as audiências caírem demasiado, e levar a que o programa mude de horário, ou seja cancelado no limite, porque o único, mas o único, valor que um programa de wrestling tem é a dimensão das suas audiências, não tem a publicidade para se salvar. Logo é audiências ou morte.

O meu colega Wolve tem uma visão futura do wrestling muito negra. Eu partilho essa ideia nos parâmetros dele, mas acrescento esta questão das audiências que é como uma corda à volta do pescoço dos promotores.

Existirá uma solução para isto? Eu digo que sim, e esta é pesquisa de mercado intensiva. É necessário que as promoções saibam bem quem são os seus espectadores e que depois publiquem esses resultados numa tentativa de atrair anunciantes para aliviar a pressão das audiências. De outro modo o futuro será muito negro, pois a tendência geral para a televisão é que as audiências desçam cada vez mais.

Por esta semana fico por aqui.

manjiimortal

“ Death is merciless. But let me tell you... Not being able to die is crueller still.”