Tomos de Eternidade - Final de Ano
Bem-vindos à última edição dos Tomos de Eternidade do ano de 2011.
É mais um ano de pro-wrestling que chega ao fim, e é sempre uma boa altura para pensar na maneira como poderá decorrer o próximo ano.....
Sendo muito sincero eu não prevejo grandes coisas para o wrestling, não a nível de qualidade de combates ou promos, mas sim a nível de evolução, ou neste caso recessão, do negócio em si. O ano de 2011 já não foi famoso nestes parâmetros quando olhando para os Estados Unidos, a WWE teve um claro declínio, a TNA continua na mesmo estado desde à 5/6 anos, e as indies em geral não parecem ter crescido em relação a anos anteriores, nem o ROH estando na Sinclair TV parece ter usado esta plataforma com sucesso para crescer.
As razões para este estado geral da indústria são muito discutidas, mas a meu ver o declínio sofrido na última década prende-se muito com o facto de o wrestling ser algo que não possuiu de todo (intencionalmente pelo menos) uma vertente intelectualmente estimulante, é em demasia dirigido ao infame "menor denominador comum".
Estamos numa era onde o entretenimento televisivo cada vez mais procura assimilar conteúdos com uma vertente mais intelectual, numa tentativa de chamar as audiências, que cada vez mais têm um mais elevado nível de educação escolar, que estarão algo fartas da programação para o "menor denominador comum", que querem programas onde a inteligência, mais do que os punhos, são utilizados para resolver os conflitos. Nesta década que passou eu apontaria um programa como aquele que verdadeiramente fez da inteligência uma razão para assistir (ainda que adaptada para funcionar num ambiente televisivo episódico), e esse programa seria o CSI original. Todos conhecem o CSI, o policial onde a acção em si decorre dentro de um laboratório em vez de ser nas ruas, onde o que resolvia o caso do dia era a força cerebral e não a força bruta, e que deu origem a todas estas séries em que a inteligência tinha um papel fulcral.
E não apenas programas que usem a inteligência, mas programas que consigam pegar em conceitos habituais da televisão e que os desconstruam, programas em que a escrita, a temática, a simbologia sejam devidamente utilizadas de modo a que levem a interpretações diversas, algo que mais uma vez é estimulante do ponto intelectual.
O wrestling não tem nada disto.
O wrestling é um mundo contido em si mesmo onde a solução para tudo, desde tentativa de homicídio ao derrame de café, é um confronto no ringue. Não existe lugar para inteligência ou intelecto, ou mesmo para a simples racionalidade aqui pois o final de todas as disputas é no ringue, mesmo quando existem soluções muito mais práticas e óbvias (vamos ser sinceros, o McMahon podia ter vencido o Austin em 30 segundos em 98, só precisava de o despedir formalmente da WWF, e que por conta de várias agressões contra ele podia igualmente processar o Austin com toda a facilidade. Com esta solução com um resultado 100% satisfatório porque é que ele haveria de levar a coisa para o ringue?). O wrestling actualmente leva-se demasiado a sério, tenta conter-se a si mesmo, procura desviar-se da sua faceta mais "cartonesca" para tentar apelar a este público mais sério.
E isso para mim é um problema.
O wrestling a meu ver tem de funcionar num equilíbrio muito específico entre ser sério e ser "cartonesco". Tem de ser suficientemente sério para não se tornar absurdo, mas ao mesmo tempo o wrestling nunca deixa de ser dois gajos a fingirem que estão a lutar, o que é ridículo olhe-se para onde se olhar, e por isso não se pode pôr de parte esta faceta. A meu ver ela até deve ser ampliada, pois se formos ver com atenção tanto a Rock n Wrestling Connection e Attitude Era foram alturas onde o lado "cartonesco" do wrestling estava em destaque.
Actualmente eu acho que demasiados wrestlers tentam ser controlados, sérios, reais, mas se mais uma vez olharmos para a história, o Dusty, o Flair, o Hogan, o Savage, o DiBiase, o Heenan, o Nash, o Austin, o Rock, o McMahon, etc., todos eles eram tudo menos sérios nas suas actuações, eles não actuavam tanto como exageravam o acto, gritando, gesticulando, fazendo caretas, usando metáforas e alegoria bizarras, faziam aquilo que no teatro é chamado "ham it up", e isso dá outra dimensão ao wrestling, torna a coisa mais entretida. Pode-se dizer que o wrestling é o filho bastardo da genra do primo de terceiro grau do teatro, e no teatro actuar em si muitas vezes não é o suficiente quando se está a representar para uma grande sala, é necessário exagerar.
Resumindo, o que eu quero dizer é que a falta de conteúdo estimulante no wrestling é a sua maior fraqueza, o que leva a que tende a chafurdar no menor denominador comum o que é facilmente copiável. No entanto eu considero que a faceta cartonesca do wrestling tem muito por onde ir, e terá potencial para estabilizar, ou quiçá levantar, o negócio. Contudo não ficaria surpreendido se daqui a um ano a TNA estiver na mesma mediocridade, o ROH continuasse sem crescer, a Raw estivesse com a audiência nos 2.5, e a WWE Network tenha sido um enorme fracasso (essa é uma cena que cada vez mais me dá um feeling muito mau).
Um Bom Ano a todos.
manjiimortal
“Death is merciless. But let me tell you... Not being able to die is crueller still.”