As Crónicas de Lance Storm XXVI - Não é preciso script
Lance Storm volta aos seus artigos sobre wrestling e desta vez apresenta um artigo interessante que aborda os scripts que existem no wrestling. Storm que não gosta dessa palavra, relata dois momentos da sua carreira onde se conseguiu trabalhar sem script e as coisas correram de feição. Para terminar, Storm define quem são os bons artistas nessa área...
Este mês irei falar sobre um dos conceitos que cuja interpretação é a mais errada no wrestling de hoje em dia e esta é dizerem que todos os combates possuem um script. A palavra script irrita-me até mesmo quando se fala de promos mas quando se referem aos combates, isso deixa-me absolutamente de cabeça perdida. Nos tempos de agora o facto de as promos serem escritas e dadas aos wrestlers e o facto de os combates serem mais estruturados fazem com que digam que tudo que se vê no wrestling é programado e isso irrita-me.
Não, eu não estou a dizer que todos os combates são na sua maioria reais ou que os lutadores vão para o ringue sem saber o que vão fazer, mas quando este negócio tem os melhores e é trabalhado ao mais alto nível e de modo correcto por profissionais talentosos o facto é que não é preciso script e na maioria das vezes os talentos até tem o desejo de trabalhar fora deste. Já tive oportunidade de dizer que o wrestling profissional é uma arte e pode ser tido em conta como uma forma de música. Penso que ele seja melhor quando é um estilo de jazz improvisado do quem um estilo pop ouvido de forma automática. Não estou a dizer que o jazz livre é bom e que o pop é mau, mas creio que se tivéssemos de ouvir sempre Britney Spears, eu teria de lançar o meu Ipod para bem longe e desejar que fossemos todos surdos.
Com este desabafo feito, acho que devo partilhar alguns momentos da minha carreira onde tive de tocar um estilo de jazz improvisado. Muitas foram as vezes na minha carreira onde tive de fazer as coisas de ouvido e eu sempre gostei desse desafio. Creio que a minha confiança para esses desafios foi crescendo uma vez que ao contrário dos meus companheiros, eu nunca ficava nervoso em antes de um combate. Quando te sentes confrontável com o ritmo, porque é que tens de te sentir nervoso? Se algo correr mal só tens de lutar!
Um grande exemplo em que eu trabalhei sem um script aconteceu recentemente. Para além de ter tido um combate totalmente no improviso, eu nem sequer sabia que ia combater dois minutos em antes do combate ter começado. O combate aconteceu em Agosto em Edmonton num evento da PWA. Eu era o árbitro convidado de um combate de equipas que envolvia Tommy Dreamer. Eu sou o booker da PWA e no fim deste combate fizemos um angle para o combate entre Tommy Dreamer e o PWA Champ Chris Steele no show da noite seguinte em Calgary. O angle teve mais heat do que eu esperava e em vez de se criar interesse (fazer com que os fãs viajassem até Calgary e vissem o show) os fãs começaram a irritar-se por o combate não acontecer nessa noite em Edmonton.
No final do combate, o Dreamer derrubou-me e eu fiquei ali estendido no mat a vender a queda e assistir o angle a acontecer. Eu apercebi-me o quanto o público estava a ficar irritado e assim iriam embora descontentes com o show. Eu não queria que isso acontecesse e assim num momento quase instantâneo, disse a um dos árbitros para ir perguntar ao Tommy se ele estava disponível para ter um combate de improviso. O árbitro olhou para mim estupefacto mas eu mandei-o ir perguntar ao Tommy. Após lhe ter perguntado, o árbitro regressou e disse que o Tommy faria tudo aquilo que eu quisesse. Mal ouvi isso, levantei-me, peguei o micro e de imediato desafiei o Tommy Dreamer para um combate ali e de imediato. Tommy aceitou o desafio e publico teve ali um combate inesperado e que nem em sonhos estaria no script do show. Eu disse ao Tommy que o ia por over e começamos a luta. Após um breve combate mas bem disputado, o Tommy aplicou-me o Death Valley Driver e ao fazer-me a cover, perguntou-me se era isso que eu queria e eu disse sim, fez-se a contagem, 1,2,3 e o público aplaudiu e foi embora contente.
Combate não é a única coisa que pode ser feita sem um script, Confesso que sinto mais confiança no mat do que com um microfone na mão a fazer uma promo sem script que foi algo que nunca me entusiasmou. A palavra nunca pode-se aplicar sobretudo a quando eu estava na WCW a trabalhar com o Ernest the Cat Miller. Na WCW sempre me davam promos escritas para a TV mas sempre com a liberdade para as mudar desde que mantivesse a ideia base. Eu sempre reescrevia as promos e ao contrário dos meus combates que se mantinham no que eu tinha programado quando estava à frente do público, tinha sempre algo que falhava. Nesta noite em particular, eu tinha de fazer uma promo no The Cat ao vivo no Monday Nitro. Miller iria entrar primeiro no ringue e fazer uma promo longa. Eu iria interrompê-lo e desafiá-lo para um combate na hora. Eu não me lembro do que o Ernest iria dizer nessa noite mas eu tinha definido que a minha promo começaria por “Tu falas muito bem Cat, mas será que consegues aguentar” ou algo do género com o mesmo efeito o que me iria levar ao desafio para um combate.
Assim estava eu na gorilla position a ver o Cat fazer a sua entrada no ringue e enquanto percorria a minha promo de cabeça “Tu falas bem Cat”. O Ernest entra no ringue, o ring announcer passa-lhe um micro para a mão e este apôs uns segundos a olhar para ele, devolve-o. Após um breve silêncio no backstage onde toda gente abanava a cabeça a minha música toca e eu sem saber o que fazer, estávamos em directo na TV, ele não fez a promo e não tínhamos bookado o combate sequer. O Cat estava no ringue e eu tinha de fazer uma promo mal entrasse no stage. Eu tinha planeado dizer “ Tu falas bem Cat” mas o que raio eu ia dizer. A música toca e eu em directo, meti o script no caixote do lixo e fui para o stage lidar coma situação. Eu não me lembro do que disse mas consegui dizer algo com sentido e lançar o desafio para um combate que com certeza foi melhor que a minha promo mas a maioria do público deve ter achando que nada correu mal. Isto era a WCW em 2000 e desde que não houvesse bonecas insufláveis ou viagra on a pole, eu tinha uma grande chance de ter o melhor segmento do show.
Estes são dois exemplos de como se pode trabalhar sem script e embora seja sempre bom ter um plano, deixar que um combate ou uma promo se faça ao próprio gosto é onde de vê os verdadeiros artistas.
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Não é preciso script
15 de Janeiro de 2012
15 de Janeiro de 2012
Este mês irei falar sobre um dos conceitos que cuja interpretação é a mais errada no wrestling de hoje em dia e esta é dizerem que todos os combates possuem um script. A palavra script irrita-me até mesmo quando se fala de promos mas quando se referem aos combates, isso deixa-me absolutamente de cabeça perdida. Nos tempos de agora o facto de as promos serem escritas e dadas aos wrestlers e o facto de os combates serem mais estruturados fazem com que digam que tudo que se vê no wrestling é programado e isso irrita-me.
Não, eu não estou a dizer que todos os combates são na sua maioria reais ou que os lutadores vão para o ringue sem saber o que vão fazer, mas quando este negócio tem os melhores e é trabalhado ao mais alto nível e de modo correcto por profissionais talentosos o facto é que não é preciso script e na maioria das vezes os talentos até tem o desejo de trabalhar fora deste. Já tive oportunidade de dizer que o wrestling profissional é uma arte e pode ser tido em conta como uma forma de música. Penso que ele seja melhor quando é um estilo de jazz improvisado do quem um estilo pop ouvido de forma automática. Não estou a dizer que o jazz livre é bom e que o pop é mau, mas creio que se tivéssemos de ouvir sempre Britney Spears, eu teria de lançar o meu Ipod para bem longe e desejar que fossemos todos surdos.
Com este desabafo feito, acho que devo partilhar alguns momentos da minha carreira onde tive de tocar um estilo de jazz improvisado. Muitas foram as vezes na minha carreira onde tive de fazer as coisas de ouvido e eu sempre gostei desse desafio. Creio que a minha confiança para esses desafios foi crescendo uma vez que ao contrário dos meus companheiros, eu nunca ficava nervoso em antes de um combate. Quando te sentes confrontável com o ritmo, porque é que tens de te sentir nervoso? Se algo correr mal só tens de lutar!
Um grande exemplo em que eu trabalhei sem um script aconteceu recentemente. Para além de ter tido um combate totalmente no improviso, eu nem sequer sabia que ia combater dois minutos em antes do combate ter começado. O combate aconteceu em Agosto em Edmonton num evento da PWA. Eu era o árbitro convidado de um combate de equipas que envolvia Tommy Dreamer. Eu sou o booker da PWA e no fim deste combate fizemos um angle para o combate entre Tommy Dreamer e o PWA Champ Chris Steele no show da noite seguinte em Calgary. O angle teve mais heat do que eu esperava e em vez de se criar interesse (fazer com que os fãs viajassem até Calgary e vissem o show) os fãs começaram a irritar-se por o combate não acontecer nessa noite em Edmonton.
No final do combate, o Dreamer derrubou-me e eu fiquei ali estendido no mat a vender a queda e assistir o angle a acontecer. Eu apercebi-me o quanto o público estava a ficar irritado e assim iriam embora descontentes com o show. Eu não queria que isso acontecesse e assim num momento quase instantâneo, disse a um dos árbitros para ir perguntar ao Tommy se ele estava disponível para ter um combate de improviso. O árbitro olhou para mim estupefacto mas eu mandei-o ir perguntar ao Tommy. Após lhe ter perguntado, o árbitro regressou e disse que o Tommy faria tudo aquilo que eu quisesse. Mal ouvi isso, levantei-me, peguei o micro e de imediato desafiei o Tommy Dreamer para um combate ali e de imediato. Tommy aceitou o desafio e publico teve ali um combate inesperado e que nem em sonhos estaria no script do show. Eu disse ao Tommy que o ia por over e começamos a luta. Após um breve combate mas bem disputado, o Tommy aplicou-me o Death Valley Driver e ao fazer-me a cover, perguntou-me se era isso que eu queria e eu disse sim, fez-se a contagem, 1,2,3 e o público aplaudiu e foi embora contente.
Combate não é a única coisa que pode ser feita sem um script, Confesso que sinto mais confiança no mat do que com um microfone na mão a fazer uma promo sem script que foi algo que nunca me entusiasmou. A palavra nunca pode-se aplicar sobretudo a quando eu estava na WCW a trabalhar com o Ernest the Cat Miller. Na WCW sempre me davam promos escritas para a TV mas sempre com a liberdade para as mudar desde que mantivesse a ideia base. Eu sempre reescrevia as promos e ao contrário dos meus combates que se mantinham no que eu tinha programado quando estava à frente do público, tinha sempre algo que falhava. Nesta noite em particular, eu tinha de fazer uma promo no The Cat ao vivo no Monday Nitro. Miller iria entrar primeiro no ringue e fazer uma promo longa. Eu iria interrompê-lo e desafiá-lo para um combate na hora. Eu não me lembro do que o Ernest iria dizer nessa noite mas eu tinha definido que a minha promo começaria por “Tu falas muito bem Cat, mas será que consegues aguentar” ou algo do género com o mesmo efeito o que me iria levar ao desafio para um combate.
Assim estava eu na gorilla position a ver o Cat fazer a sua entrada no ringue e enquanto percorria a minha promo de cabeça “Tu falas bem Cat”. O Ernest entra no ringue, o ring announcer passa-lhe um micro para a mão e este apôs uns segundos a olhar para ele, devolve-o. Após um breve silêncio no backstage onde toda gente abanava a cabeça a minha música toca e eu sem saber o que fazer, estávamos em directo na TV, ele não fez a promo e não tínhamos bookado o combate sequer. O Cat estava no ringue e eu tinha de fazer uma promo mal entrasse no stage. Eu tinha planeado dizer “ Tu falas bem Cat” mas o que raio eu ia dizer. A música toca e eu em directo, meti o script no caixote do lixo e fui para o stage lidar coma situação. Eu não me lembro do que disse mas consegui dizer algo com sentido e lançar o desafio para um combate que com certeza foi melhor que a minha promo mas a maioria do público deve ter achando que nada correu mal. Isto era a WCW em 2000 e desde que não houvesse bonecas insufláveis ou viagra on a pole, eu tinha uma grande chance de ter o melhor segmento do show.
Estes são dois exemplos de como se pode trabalhar sem script e embora seja sempre bom ter um plano, deixar que um combate ou uma promo se faça ao próprio gosto é onde de vê os verdadeiros artistas.