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Artigo do leitor - Ainda sou do tempo que tremia como varas verdes numa Wrestlemania


 Um evento que reúne em si todos os ingredientes necessários para que, mesmo a velha guarda há muito retirada, se reúna em frente do ecrã e ao som de uma qualquer bebida aberta, veja o que de melhor este desporto, entretenimento ou arte tem para oferecer.....

Desde logo as altas expectativas. Combates metodicamente construídos de forma a não defraudar nenhuma expectativa, colocando cada fã, com os seus gostos e pretensões, imbuído num embate técnico, emocional, inconvencional ou qualquer que fosse o seu estereótipo. Ele estaria lá. Com a construção de um ano, com mais ou menos crispação que trespassa aquilo que é o negócio, com regressos, com muita mixórdia, tudo estava devidamente aprumado, de pompa e circunstância para o hastear da máxima casta mensal que a maior companhia do mundo de wrestling tem para oferecer…

Nem que esta comece que 18 segundos de desilusão. Ridículo. Uma golpada seca no estômago de quem clamou que este foi o dark match do ano transacto e este ano finalmente as pessoas certas assumiriam a pasta que a si se destinava, pagando-se os títulos com talentos. Errado.

Um pontapé do guerreiro celta, finalmente cimentado, após sucessivos erros de construção daquilo que ele é (ou poderá ser) dilacera o maxilar de alguém que faz meses provava que os “cães de ferro velho” que por inóspitos ginásios americanos actuam, poderiam triunfar no maior dos palcos.

Continua a ser incompreensível a maneira como as coisas que mais aguardamos sejam defraudadas e não exista necessariamente um culpado a quem se possa apontar o dedo, para infortúnio dos mais inconformados. Nem com um Orton, general recente, cada vez mais senhor do que menino, a ser derrotado por um monstro renascido das cinzas, que já proporcionou uma boa rivalidade. Fica a sensação de coisa apresada, atabalhoada, uma fraca tentativa de surpresa. Nem com um Rhodes, que tantos punhais já teve persistentemente cravados no seu futuro, a dar o derradeiro título a um gigante, depois de um reinado consistente e muito positivo. Questão: o que vem a seguir para ele? Demasiado verde para contendas maiores, demasiado gasto para disputas intermédias. Caso a ter cuidado.

Demasiado foi também o tempo dado às divas. Tempo esse que geralmente é cronometrado, pelo fã actual, como o de ida e volta à volta à WC. A divisão feminina está morta, desinteressante, com má qualidade, estagnada, cinzenta, chuvosa. Mas sinceramente, porque nos havemos de preocupar se quem gere o património não o faz?

Depois sim, o ponto alto da noite. O rapaz estrela, capitão defensivo de uma qualquer série americana, egocêntrico e mesmo assim carismático, derrotado e revogado para o exterior pelo maior dos demónios. O parceiro de sempre, primeiro irreverente, agora general, guerreiro nórdico, emotivo, e estratega, cerebral, de vincadas rugas na testa de outras batalhas. E o demónio, forte, dominante, um legado de destruição demasiado vasto para o ousarem desafiar, a terminarem uma era dourada. Arrepios na espinha para aquele final, que mostra que esta arte de pouco mais carece do que quem a saiba executar correctamente. Mas daqui em diante, mais sabor seco na boa. Uma contenda para determinar que alguém executivo assumirá o papel de figura da autoridade. Possibilidades para boas interacções futuras, curiosidade para saber o que aguarda aos membros vencedores, a quem ocupa as pastas mais irreverentes da ribalta.

Mas para findar, dois clássicos por fazer. Dois dos melhores técnicos do mundo, que tanto se assemelham, não roubaram o show. Deram bom espectáculo. Certo. Cumpriram com distinção. Certo. Mas qualquer um estaria a mentir se disse-se que nunca viu melhor (muito, atrever-me- ia a dizer) de ambos. Outra golpada em seco.

E o final. O derradeiro confronto de titãs que tanto e de tantas maneiras colocava tudo em causa. Gerações, ideologias, gostos, simpatias, crenças, posturas, parecenças. Simples antagonismo que ao mesmo tempo se torna tão representativo de massas. Toque pessoal para adoçar, e o resultado final… continua a deixar um trago amargo na boca. O final seria contestável de qualquer das formas. Mas cinjo-me ao que me é dado. Não será talvez insensato dar a vitória a alguém que durante 9 anos negou um legado? Voltou por quantias exorbitantes, sob presenças ocasionais, e venceu em detrimento de alguém que, como o próprio diz, carregou a companhia nas esquinas da amargura de uma modalidade que tende em perder o brio? E já lá vão mais dois combates históricos perdidos por Cena. Mesmo assim não calará o motim. Finalmente perspectivas de heel turn?

E quanto a isto, e num balanço final, enquanto fãs, será que precisamos de ser inundados com más prestações musicais fruto de acordos comerciais, com momentos jurássicos sem tom de humor existente, com anúncios e referências a filmes ou marcas registadas, com combates com demasiado tempo em prol de outros, e com as demais situações que matam o espectador e público presente de tédio?

Dizem-nos para nos sentarmos e apenas nos divertirmos enquanto o show passa, e não nos envolvermos no que se passa na parte obscura do outro lado da cortina. Mas será tão audacioso pedir para que nos divirtam mais? Para que parem com os momentos ridículos, com os espectáculos de má qualidade paralela e que os substituam por algo que nos traga um sorriso na cara, característico de um momento bem disfrutado?

PS: E também, para já, nem sinal de ninguém com um passado de “outros lados”. Seria um rude golpe numa noite em que se celebra o Wrestling essa aparição. Pelo menos para já.

Perdoem o meu purismo.

Maquiavel
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