Slobber Knocker #19: O poder nas mãos do povo!
Saudações a todos os leitores assim que introduzo a décima
nona edição do “Slobber Knocker”. Para esta semana, trago um assunto que nos
diz respeito de certa forma. Mas não tanto, porque as situações que apresento
não se podem totalmente aplicar a nós.
Quantas vezes estamos nos a assistir a um programa da nossa
modalidade favorita e as coisas não estão a correr como nós queríamos. Se
estivermos a ver um jogo de futebol, olha, o jogo decorre e não há nada a
fazer. Mas sabendo que naquele caso é escrito, às vezes dá-nos aquela vontade
de entrar pelas portas do gabinete dos escritores dentro e berrar-lhes à cara a
disparar perdigotos – é assim que imagino o Vince McMahon regularmente.
Todos nós gostávamos de ser booker por um dia e fazer as
coisas à nossa maneira. Mas se calhar se tivéssemos mesmo essa oportunidade
íamos ficar mais entalados e aparvalhados que quem quer que esteja a escrever a
história do AJ Styles e da Claire Lynch na TNA. Nem todos nós têm a ideia e
capacidade para arregaçar as mangas e criar um divertido projecto fictício
inspirado naquilo que aprendemos, como o nosso amigo Wonderwall faz aqui neste
mesmo site com os seus guiões do “Impact War” que me costumam entreter e
divertir.
Mas de vez em quando há algumas situações que parece que nos confiam
a decisão de escolher aquilo que veremos ver. Ou será apenas uma ilusão de que
temos poder e acaba por ser igual ao costume? Analisemos três situações
diferentes que me sobem à mente:
Votações no Twitter
As mais recentes sondagens que passaram a integrar o
programa desde que mudou no seu formato para três horas. Será que é para se
manter?
Uma coisa é certa, mais tarde ou mais cedo isto ia
acontecer. A evolução da WWE está a torná-la cada vez mais moderna e começa
agora a entrar numa era voltada para a Internet. A obsessão com o Twitter
mostrou-se como sendo por vezes algo exagerada e tomaram-lhe tanto gosto que
até criaram a sua própria rede social de vídeo, o Tout, que não tem assim tanto
interesse quanto parece.
Logo, seria de se esperar que a qualquer altura a WWE fosse
usufruir de tal e dar o “poder” ao povo. Começaram logo por dar uma
oportunidade de escolher qual o combate em que Daniel Bryan e Sheamus. Este foi
bom, não foi? Por acaso mais parece que gozaram com as nossas trombas. Podia-se
escolher entre um “No Holds Barred”, um “Falls Count Anywhere” e uma “Street
Fight”. Mas afinal qual é a diferença? Bastante óbvio que só trabalharam um
guião, apenas um combate estava no plano e eles lá atiraram aquelas supostas
opções. Só me pergunto se aquela maioria que votou em “Street Fight” parou para
pensar exactamente que diferenças concretas é que existem entre esse e um “No
Holds Barred”. Mas pronto, nada de mais, talvez na semana seguinte se saíssem
com algo melhor.
Na semana seguinte, os fãs teriam o poder de escolher qual o
adversário de CM Punk. Pelo resultado mais equilibrado, já fica a ideia que
disfarçaram melhor. Mas também acho que desde sempre que sabiam que Kane iria
enfrentar The Miz mais tarde. Mysterio é sempre Mysterio, logo a plateia vai sempre
querê-lo. Pontos extra para os combates impecáveis que já teve com Punk no
passado. Mas pelo menos não seguiram aquela estrutura:
- O tipo que vocês querem ver!
- Este gajo não é muito mais que um jobber e pouco ou nada querem saber dele
- Nem se lembravam que este gajo estava empregado
É, ainda foram buscar umas opções razoáveis, mas continuam a
apresentar sondagens das quais já sabem qual o resultado vencedor ou no outro
caso, com opções iguais. Sistema ditador? Nem por isso, ainda estão a dar o
poder ao povo… Apenas já sabem desde sempre o que ele quer… Pelo menos dentro
de umas determinadas opções…
Mas existe outro caso que nos lembramos que não correu tão
bem…
O fiasco do
“Power to the People”
Sim, aquele Raw especial em que as estipulações e/ou participantes
dos combates eram definidos por votações do povo. Aquele programa com a música
do John Lennon de 1971, do mesmo nome. Fiasco porque de facto correu muito mal.
Problemas técnicos, má contagem de resultados, estava tudo
bêbado ou algo assim. Num momento em que se iria escolher o adversário de Evan
Bourne, um dos lutadores mais voadores e com o público do seu lado. Nas opções
havia o Jack Swagger que mesmo não estando tão baixo como agora, lá muito nas alturas também não estava; o bicharoco do Mason Ryan e o recém-chegado
cheio de hype e tão ou mais voador que Bourne, Sin Cara. Mas quem iria o
público escolher? Se repararem até é uma situação quase parecida àquela que eu
apresentei na hipérbole de exemplo acima. Demasiado óbvio que iríamos ter um
spotfest aéreo. No entanto pasma tudo quando a barra enorme de votações vai para…
Mason Ryan. Já não é assim tão credível que alguém queira ver Ryan no ringue
sequer, quanto mais contra um high flyer quando havia outro high flyer como
opção.
E pronto, com esse problema técnico o programa todo acabou
por sofrer com isso e tivemos que assistir também a um braço-de-ferro entre
Kane e Mark Henry. Ah espera… Acho que não houve nenhum problema com esse,
parece que havia mesmo gente que queria ver aquilo…
Lá tiveram que pedir desculpas e remarcar o combate que toda
a gente queria, esperava e até sabia que ia ver, mas que foi aldrabada. Se
quiserem repetir a experiência, ao menos que trabalhem bem a coisa, senão
parece gozo e chamariam ao evento “Power to the People… Just kidding…”
Agora, num tom de curiosidade mais ou menos relacionado.
Aconteceu muito recentemente, antes destas habituais votações no Twitter e já
bastante depois do “Power to the People”. Aquela vez em que perguntaram ao povo
se queriam ver um combate entre Jerry Lawler e Michael Cole? Com essa apenas
fiquei a pensar… Terão os resultados sido manipulados para que a WWE tivesse o
seu degradante espectáculo no qual tanto insistiram… Ou há mesmo assim tanta
gente com falta de gosto? Fica a questão…
E como falei em três casos diferentes, aqui fica finalmente
aquele que é o meu favorito:
Taboo Tuesday / Cyber Sunday
Talvez até a principal razão para eu me ter lembrado deste
tema. Foi uma viagem no tempo que eu decidi fazer. Deu-me um ataque de
nostalgia e eu decidi retroceder no tempo até aos shows da altura em que
comecei a ver. Para ver com diferentes olhos, para recordar. Por acaso acho que
a pessoa normal, com curiosidade iria procurar ver coisas que nunca viu e
retrocedia ainda mais no tempo, eventualmente apanhando o seu momento de
início. Mas eu não, eu sou um gajo de rever. E lá viajei para 2005 e por esta
altura no que tenho acompanhado anda a chegar a altura de um PPV diferente dos
outros… Não só porque é a uma Terça-Feira, mas também porque tinha esta
“gimmick” das votações.
Este já é mais interessante. Tinha um bom tempo de construção
para que se pudesse até persuadir a uma escolha. Quase como a construir para
que os fãs queiram um específico combate. Ou então escolhas simples em que dá
para trabalhar com qualquer uma delas. Dou dois exemplos. Primeiro, o de uma
história e rivalidade cujo pontapé de saída chocou bastante o miúdo mark em mim que
começava a assistir àquilo. A rivalidade entre Triple H e Ric Flair. Após o tão
aguardado regresso do The Game, em que abraçou o seu melhor amigo Flair – ele ao
menos tem uma data de melhores amigos, é sociável o homem – e logo de seguida
abre-lhe a cabeça à marretada deixando-o ensopado no seu sangue. Uma das muitas
cargas de porrada da vida de Flair e nas semanas seguintes se construiria a rivalidade
com alguns momentos caricatos como Ric Flair a sangrar… numa promo.
Para o Taboo Tuesday o que ficava ao cargo dos
telespectadores era o tipo de combate em que estes dois se matavam. Não me
recordo bem das outras opções, mas corrijam-me se estiver errado, que é
possível, mas creio que consistia num combate normal e num combate de
submissão. Ora a outra opção era simplesmente um Cage Match. Já por si já é o
que reina ali naquelas opções. Mas poderá sempre haver um fã – muitos aliás –
com o bichinho pelo wrestling técnico que queira ver os dois a levar o assunto
ao tapete e a tentar fazer desistir um ao outro. É certo que o tipo de
rivalidade que era, a melhor maneira de culminar era num combate bruto e
violento, que desse em briga velha.
Logo, inicialmente já se instalava o combate Steel Cage como
aquele que venceria. Também já estava meio manipulado. Mas como ter a certeza
que chegava-se ao Taboo Tuesday e o combate seria disputado numa Cage? Colocar
ao longo das semanas de construção promos em que Ric Flair implora ao público e
afirma rezar todas as noites para que o metam numa jaula com Triple H. E
pronto, já podem usar um só guião sem precisar de suplentes porque já está
garantido que os dois lutadores lendários vão acabar enjaulados.
Curiosidade: O título Intercontinental estava em jogo neste combate, o que demonstra que o título andava numa mó alta nesses dias…
Outro caso em que as escolhas seriam apenas para diversão e
podia-se trabalhar o mesmo para qualquer uma é o caso de Carlito que rivalizou
com Mick Foley algumas semanas antes do evento. Os fãs teriam que votar em…
Qual a personagem que Foley encarnaria para o combate. Muito simples, apenas
tinham que escolher entre Mankind, Cactus Jack e Dude Love que Foley fazia o
resto e adoptaria os maneirismos de qual quer que fosse a personagem que tão
bem já interpretou. No dia, vestiu-se de Mankind para agrado de muitos
nostálgicos que queriam ver o mentalmente instável lutador de volta por mais
uma noite.
E uma maneira de eu concluir a ideia deste artigo é com uma
simples questão reflectiva sobre este assunto:
Serão as votações da programação da WWE reais ou
manipuladas?
Estaremos nós a ser enganados e mantidos na ilusão de que
temos algum poder na decisão das coisas, quando na verdade é só para a
fotografia e eles fazem o seu programa tal e qual como sempre? – digo “nós”
apesar de nunca votar nessas coisas.
Para ser muito sincero… Não me importa muito. Sei que é giro
a ideia de dar aos fãs o poder de voto e convém e fica bem à companhia que
levem isso a sério. No entanto não acho que a essência do programa esteja na
parte interactiva. É giro que se faça isso de vez em quando, uma situação por
semana também é porreiro – a não ser que nos dêem a escolher entre 3 combates
iguais – mas cuidado que às vezes dalguns fãs também pode sair asneira.
E mais uma questão final. A WWE quer saber do que nós
pensamos? Acredito que sim e mais do que muita gente pensa. Só não dá é para
agradar a todos…
Finalizo então aqui com a habitual passagem de palavra ao leitor sobre o assunto e questionando sobre o que acham destas situações
interactivas, se acreditam na sua veracidade e já que estamos numa de poder, o
que é que mudariam lá por agora e que combates marcariam se tivessem todo esse
poderio.
Por aqui fico, espero que tenham gostado deste artigo como
de outros e para a semana devo andar por aqui outra vez.
Cumprimentos,
Chris JRM