Slobber Knocker #23: Certo ou errado?
Cumprimentos a todos os leitores e um pedido de desculpas
pela ausência de uma semana. Com outras coisas que escrevo para outros sites de
áreas diferentes, acabei por ocupar a cabeça com outros assuntos e não saiu
nada para o Slobber Knocker. Mas se alguém ainda queria saber deste espaço,
descansem, que já cá estou de novo para uma nova edição.
Para esta semana guardo um artigo reflectivo sobre vários
aspectos no wrestling actual, com a pergunta: “Certo ou errado?”. Tento também
ver dois lados para as coisas e analisar porque é que algo está certo ou errado
apenas e somente na minha pobre opinião singular. Pretendo abordar as duas
principais companhias sem separar, vamos juntar tudo e abordar as coisas pela
mera ordem de lembrança. União entre as duas, afinal têm muitos fãs em comum ao
praticar a mesma modalidade.
Para introduzir, começo com um assunto recente, que ainda
sensibiliza e que até deu algo que falar:
WWE a continuar o Monday Night Raw após a indisposição grave
de Jerry Lawler. Certo ou errado?
Já deu que falar e causou alguma controvérsia entre alguns
mais sensibilizados que acharam que com uma situação desta gravidade, não daria
para se prosseguir com um programa de entretenimento. Foi dos Raws mais negros
dos últimos tempos, é verdade, mas o profissionalismo das personalidades
televisivas demonstraram que não havia porque parar com o programa. Chegou
mesmo a ponderar-se tal devido ao estado chocado e emocional de todos presentes
nos bastidores. Mas valeu a força de vontade e profissionalismo dos presentes
para concluir um programa que, na minha opinião, até tinha começado lindamente
– e até arrisco a levantar-me e afirmar que ultimamente a WWE tem colocado um
bom produto às Segundas-Feiras à noite.
Ora, caso semelhante sucedeu-se, mas com mais gravidade, em
1999 no pay-per-view “Over the Edge”, quando tragicamente o lendário Owen Hart
perdeu a vida devido a um acidente na sua entrada. O espectáculo continuou, com
muita polémica, enquanto um abalado Jim Ross tentava prosseguir após comunicar
aos seus telespectadores que a situação não se tratava de uma storyline e que
Owen Hart tivera falecido. Muitos consideraram um acto asqueroso e a WWE chegou
mesmo a ver-se atafulhada até ao nariz de problemas que daí partiram. O que
muitos utilizam em defesa é simples: “Owen Hart não quereria que o show parasse
por sua causa.” É um pouco arriscado saltar à conclusão sobre o que um defunto
pensaria se não lhe podemos perguntar para confirmar, mas de facto esta atitude
verifica-se entre wrestlers e até já vieram alguns dar o passo em frente e já
avisar previamente que nada que lhes aconteça faça parar o espectáculo, todos
levam a atitude de “the show must go on”, por muito difícil que seja tentar
prosseguir. Considere-se então, Jerry Lawler também não iria querer que o
programa parasse pelo seu problema, mesmo que grave.
Completa-se com o excelente profissionalismo e postura dos
integrantes e muito de parabéns estão Michael Cole pelo seu acto respeitoso e
emocional que o fez ganhar muito respeito de habituais fregueses que nunca o
gramaram – aqui se pôde ver a linha que separa o Michael Cole personagem e o
Michael Cole homem, nenhuma referência à ZON aqui pretendida – e Bret Hart, CM
Punk e John Cena no segmento final por conseguirem um bom segmento – em especial
Cena que deu das suas melhores promos em muito tempo, chegando a superar Punk
num confronto oral, algo não muito fácil de se fazer.
Logo, respondendo:
Certo.
Correu da melhor maneira possível e lidaram bem com a situação. Conseguiram
acabar o programa com postura e dignidade e não há nenhuma ofensa por parte de
Jerry Lawler, logo foi feito o correcto.
Existe uma grande possibilidade de John Cena vencer o título
no Night of Champions e enfrentar The Rock no Royal Rumble. Certo ou errado?
John Cena a ser Campeão mais uma vez já pode causar náuseas
a muita boa gente. No entanto, temos que pensar, ele nunca vai sair do topo,
ainda é jovem, não se lhe vê a reforma por perto. Inevitavelmente aquele título
vai-lhe parar à cintura mais alguma vez ou mais. É esperar que eles administrem
bem os tamanhos dos reinados e também lutadores de topo diferentes, porque não
convém muito que o recorde de 16 títulos mundiais seja ultrapassado, é daqueles
marcos que agora deveriam ficar.
Isso leva à segunda parte da situação, que é a parte de Cena
voltar a enfrentar The Rock. “Twice in a Lifetime”? Ou três? Ou umas sete, ou
quantas forem preciso? Se for feita uma sondagem sobre quem quer voltar a ver
os dois a defrontar-se, a fatia maior quer uma repetição com certeza, seja porque
são fãs de Cena a desejar a desforra ou porque apreciaram o combate da
Wrestlemania, que foi bom, mesmo que não dos melhores da noite, e queiram ver
mais. O único que parece ficar ali a pecar é que vai manchar todo o build-up
desse mesmo “Once in a Lifetime” e também pode causar alguma comichão a quem dá
mais valor ao trabalho árduo diário dos membros do plantel e que não vai achar
muita piada ao tipo que vai lá duas a três vezes por ano e numa dessas vezes
diz que lhe marcaram um combate pelo título e vemo-nos lá. É certo que The Rock
tem um estatuto enorme na companhia e estas aparições esporádicas são fruto de
uma subida de carreira que se deu devido ao trabalho diário árduo que ele
também experienciou desde que era ainda apenas um jovem aspirante. Mas quantos
por aqui caminhando entre nós acharão de mau gosto que se deixe o sangue jovem,
o futuro da companhia de lado para competição nostálgica? Das situações que
causa das opiniões mais polarizadoras actualmente…
Logo, vou estragar toda a ideia do conceito do artigo com
uma parva resposta a esta questão:
Misto.
É certo na medida que tal jogada resulta em dinheiro para a companhia – a
prioridade vai sempre ser o negócio quer queiramos ou não – e também em
entretenimento, não se pode negar. Mas muitos fãs vão achar errado e não vão
achar piada por números e nomeados factores que apontei anteriormente e mais
alguns…
Austin
Aries não defendeu o TNA World Heavyweight Championship no No Surrender. Certo
ou errado?
Começo com uma nota à parte. O No Surrender foi, para mim, o
PPV do ano da TNA, para já. Passe-se então agora para a questão. Se formos a
ver, ele nem teve um combate sequer, foi uma briga basicamente, mas que
constava no card. Tinha uma história a anteceder e originou uma história que se
foi prolongando ao longo de todo o evento e até gostei dessa parte. No entanto
o No Surrender sempre foi aquele PPV estranho que fica ali antes do Bound for
Glory e que com as Bound for Glory Series fica-se ali sem saber quem colocar
contra o Campeão… Não se pode retirar ninguém das series porque a intenção das
mesmas é apurar um… Ir buscar alguém que não esteja lá? As series já têm os
nomes de topo, logo não sobram muitos mais para se arranjar alguém digno de
candidato ao título, para além de que seria estranho vir um tipo e dizer “Vocês
estão todos aí nas series a lutar por um lugar pelo título no Bound for Glory,
mas eu estou aqui sem precisar disso e às tantas vou lá ter sem precisar de
somar pontos”.
A maneira de isto resultar é da forma como se sucedeu no ano
anterior, através de feud que já venha de há meses, a rivalidade a envolver o
cinto já se prolongue desde antes das Bound for Glory series e os seus
integrantes já não fizessem parte dos 12 competidores porque já ocupados
estavam quando o torneio se deu. Ora neste caso seria Bobby Roode, mas ficou
estabelecido no Hardcore Justice que não haveria mais rematch algum entre os
dois e também já estava guardado para Roode um angle com Storm, logo… Ficava
ali um buraco. Mas souberam lidar com a situação. Deixar o Campeão “descansar”,
ou seja, sem se preocupar em perder o título que o seu lugar no BfG está
garantido. Mas envolvê-lo numa história onde se mantenha quente e onde se
lembre às pessoas que ele é Campeão – foi essa a razão por ele ser o principal
alvo de ataques.
Logo, muito brevemente:
Certo.
É um PPV que não envolve defesa do título principal. É estranho, mas como
expliquei, era uma situação difícil e até souberam como lidar com ela.
A WWE criou um programa infantil para um bloco matinal aos
Sábados intitulado Saturday Morning Slam. Certo ou errado?
Que se alastre por aí um gemido de desdém… A WWE conseguiu
chegar a TV G! Conseguia ficar mais infantil? Conseguiu! Um programa para um
bloco infantil aos Sábados de manhã! E agora o meu gemido: Então e quê?
A WWE é um negócio em constante expansão e está sempre a
encontrar novas formas de chegar a novos públicos e de conseguir mais dinheiro.
E é o dinheiro que importa? Se tivessem uma empresa multimilionária certamente
que não se iriam borrifar para tentar manter ou subir. Logo dá-se este tipo de
evolução – que alguns vêem como regressão não sei bem porquê, não sei se é
porque querem asneiras e sangue todas as semanas, ou porque têm que arranjar um
pretexto para se queixar – e procuram criar um produto multi-facetado que vá
desde aos programas matinais para os miúdos, aos nossos habituais programas
semanais para toda a família, aos filmes da WWE Studios que por vezes têm
classificações de TV-14 para cima – creio até que “The Day” recebeu a
classificação “R”. E pelo meio sempre existem blocos “vintage” e as cassetes
antigas de cada um que mostram desde o espectáculo mais super-heróico e
infantil da década de 80, à politicamente incorrecta “Attitude Era” repleta de
humor arriscado e adulto que bem caracterizava a TV adolescente/jovem na década
de 90 e início de 00. Vendo desta forma, até parece haver um pouco para todos.
Logo onde está o mal de procurar abordar diferentes gerações a começar pela
mais jovem, os que descobrirão o produto no futuro e têm aqui um aperitivo para
lhes fazer ganhar interesse? E se querem procurar vantagens, talvez com um
programa destes onde dê para depositar mais humor infantil, se guarde algum
conteúdo mais “edgy” para os programas habituais – que vai havendo sempre, mas
se não acham ou não querem sequer ver ou então não perceberam sequer a piada do
“Lipschitz”.
E é um programa que não pode ser alvo de crítica por parte
de alguns fãs mais graúdos, simplesmente pelo facto de que não é direccionado a
nós. Eu por acaso até tenho assistido aos episódios e a minha veia infantil até
acha um programa divertido. Mas era o que faltava um gajo levantar-se ao Sábado
de manhã, ligar a TV num bloco televisivo para miúdos e criticar por aquilo
estar demasiado infantil! Não homem, fica a dormir e espera pela Ring of Honor
que sai mais tarde no mesmo dia…
Logo, muito simples:
Certo.
Pelo simples facto de… Porque raio não há-de o ser? Se o programa começar a
estorvar aí já é diferente, mas para já ainda nada, portanto porque não há-de
lá estar? Se tiverem filhos, aproveitem e mostrem-lhes o programa e assim
assistem a algo com que se identifiquem um mínimo…
A TNA apresenta um bloco mensal de integração de novos
talentos chamado de “Gut Check”. Os vencedores não voltaram a aparecer em TV.
Certo ou errado?
A ideia era boa, trazer o sangue novo da OVW para ser
testado em TV, trabalhando com algum dos talentos mais de topo da companhia,
ficando a cargo dos fãs e do júri decidir se tem o que é preciso para integrar
o plantel do Impact Wrestling. É uma boa ideia, um conceito interessante e
mostraria preocupação em trazer sangue jovem para a companhia. Isto é, se eles
tornassem a aparecer.
Alex Silva, apenas me lembro dele por ter sido o primeiro –
e sou amigo dele no Facebook, se quiserem, ele tem uma página pessoal, procurem-no
e se ele não tiver atingido o limite é provável que vos aceite – a Taeler
Hendrix… Essa lembro-me bem, porque tenho as minhas razões para me lembrar bem
dela. E há o outro tipo que nem era mau, mas agora nem me lembro do nome dele
porque ele mais depressa desapareceu do que apareceu. Cereja no topo do bolo
para uma ironia descomunal é o facto de ter sido um concorrente que levou “No”
– tirando o último que de facto era fraquíssimo – o único a ser lembrado e a
aparecer em TV. Ora, alguma coisa não está bem aqui. Então a ideia era boa, uma
excelente oportunidade para a malta jovem em desenvolvimento e afinal não há
nenhuma mudança, apenas têm uma aparição em TV e depois voltam ao mesmo. Para
haver uma noção, Alex Silva e Taeler Hendrix têm títulos na OVW, o que indica que
têm lá o que fazer com eles e não os devem trazer ao roster principal tão cedo.
Joey Ryan é, de facto, o único que tem várias aparições, vai
ter uma nova oportunidade e até já tem uma feud com Al Snow. O que só dá a
entender que isto anda um pouco ao contrário.
Logo, a resposta já se tornou óbvia:
Errado.
A ideia é boa, mas encher roster ainda mais de lutadores inutilizados não é boa
ideia e estraga o conceito. Se de facto não os podem manter lá, então não
tenham tantos rodeios com a “oportunidade” que é o Gut Check…
Devon abandona a companhia e aparenta que consigo vai o TV
Championship. Certo ou errado?
Fiquei com pena deste cinto que andava a recuperar o seu
valor, significado e prestígio. Começaram a baldar-se e começaram a ser muitas
semanas sem o título a aparecer, sem o Campeão a aparecer ou a aparecer no
backstage por uns breves minutos. Era um título que poderia ser interessante
para accionar o midcard e era isso que parecia estar a fazer, tirando os
recorrentes rematches com os Robbies. Mas lá começaram a perder o interesse ou
a ficar sem tempo para ele.
O conceito inicial para esta ideia de “certo ou errado” era
a de abordar a saída de Devon. Pela primeira vez, Devon e Bully Ray não
trabalham juntos na companhia e parece ter havido alguma surpresa por parte de
pessoal da companhia que achou de Devon era um trabalhador dedicado e
colaborador com suficiente “star power” para que se renovasse contrato, no
entanto não foi isso que aconteceu. Iria comentar se a sua saída se consideraria
certa ou errada. Mas no entanto lembrei-me do título que ele tecnicamente levou
consigo, visto que não foi mais mencionado e lembrei-me logo de algo que afinal
está errado – melhor que outro “misto” que se calhar ia sair dali, dois desses
estragavam o conceito do artigo. Mas lá está, o título que andava aos
solavancos em valor e que desapareceu sem deixar rasto e sem alguma menção.
Isso já não está lá muito certo.
Com isso em conta, então:
Errado.
Um título é um título e se é para ser reformado ou para se conseguir um novo
Campeão, ao menos que se fale no dito cujo e se dê uma mínima explicação.
Fala-se num push a Ryback que tem vindo a estar invicto
contra jobbers e midcarders baixos, sendo este o processo que leva há meses
para impressionar o público. Certo ou errado?
Ryback é um tipo impressionante, de facto, um corpo imenso
que não atrapalha a sua mobilidade e que mistura velocidade e força bruta. As
suas capacidades mais básicas foram expostas em combates contra lutadores
locais e independentes que eram “squashados” numa questão de dois minutos, o
que dava a entender que o tipo tinha valor. A fasquia aumenta para dois
adversários de uma vez e mais tarde para lutadores “a sério” do plantel da WWE
que constem no mid/low card. É um processo natural de construção de um
Superstar novo… Tirando a parte de que andou a acontecer isto durante meses a
fio.
O processo de elevação é precisamente esse que ele está a
levar e o mais próximo de uma feud foi com Jinder Mahal que ainda está em
processo de desenvolvimento – e que desenvolvimento esse, que vê-lo a lutar
pelo título do NXT contra Seth Rollins e ver o seu combate de estreia no
Smackdown, um gajo até fica estúpido. Mais tarde vem a competição mais à séria,
um título de midcard, um adversário à altura, a primeira derrota, o retorno com
mais força, o main event. Pensem no Umaga, grande lutador era ele e grande
construção também teve – paz à sua alma. Ele é um exemplo de um lutador cujo
progresso seria o ideal para Ryback. O problema é que ele já anda no mesmo há demasiado
tempo e o seu processo de construção está pior que as obras de Mafra e assim em
vez de fazer o público gostar dele, mais depressa se fartam de o ver porque já
sabem o que aí vem.
Os cantos de “Goldberg” não devem desaparecer, mas
aproveitem que ao menos já há aderência aos “Feed me more” e que ele tem cada
vez mais reacção ao entrar e metam-no à bulha com alguém importante. Senão é
revirar os olhos porque lá vem o Ryback fazer mais do mesmo. O Brodus Clay que
o diga…
Logo, e como este é o último acontecimento que abordo para
já neste artigo, a minha última resposta à última situação é:
Errado.
Um monstro destrutivo de vez em quando não tem mal nenhum, é porreiro, venha de
lá ele. Squash fest semanal é que não tem grande interesse, portanto avancemos…
E é disto que se tratou este artigo esta semana, espero que
tenha sido do agrado. Não se esqueçam de comentar em baixo, visto que é
totalmente aberto e dêem as vossas opiniões, contradigam os meus certos e
errados com o mesmo respeito com que eu me abro às vossas oposições,
acrescentem vocês mesmos as vossas situações com esta análise e deixem o
feedback quanto à ideia do artigo em si.
Não tendo nenhum senão como na última semana, cá estarei na
próxima semana com mais algum Slobber Knocker, enquanto me continuo a esforçar
para escrever artigos com um mínimo de interesse. Até para a semana, se tudo
rolar bem.
Cumprimentos,
Chris JRM