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Um olhar sobre a carreira de Ted Boy Marino

Na última quinta-feira faleceu no Rio de Janeiro, aos 72 anos, uma lenda do profissional wrestling brasileiro, Ted Boy Marino.

Um merecido descanso para o homem registrado como Mario Marino, que sofria de trombose há cerca de três anos. A doença, que normalmente é causada por alguma anomalia, impede a livre circulação do sangue, sendo a hemodialise um de seus tratamentos, algo que Ted realizava com frequencia desde o início e descoberta da doença.....

Era um tratamento exaustivo, de longo período e que poderia por qualquer um no seu pior estado de espírito. Marino, entretanto, era um sujeito alegre e nem a doença o pôs abaixo. "Debochado, estava feliz até seus últimos dias". Definição perfeita do tipo simpático com amigos e familiares, isto sem citar os fãs. Muitos deles. Alguém que fizera de tudo na vida, um precursor que não se abatia de forma alguma, enfrentando a vida da melhor maneira possível.

Foi na quarta-feira que ao regressar de uma sessão de hemodialise, Ted Boy sentiu dormencia em uma de suas pernas e resolveu ir logo ao hospital, tentando evitar algo de grave. A constatação foi de uma arteria interrompida, que com o tempo podia levar a amputação do membro inferior. Uma cirurgia foi feita. Demorado, levou cerca de 9 horas para o procedimento ser concluído. Ainda assim, tantos tratamentos acabaram a encurtar e enfraquecer a lenda, que sofreu uma parada cardíaca e faleceu.

De fato, para o homem que tanto fez, era até ironia estar debilitado por uma doença. Mesmo assim não havia rendição. Ele estava e está vivo! Em nossas lembranças...

Ironia também o fato de que o maior ícone do professional wrestling brasileiro não nasceu aqui. Ted Boy Marino nasceu na Itália, na região da Calábria, datado o ano de 1939. Contudo, não confundam o patriotismo do nosso ídolo. Em 1951, ele foi forçado (pelo fim da Guerra) a morar na América Latina e desde então surgiu a efeição pela cultura. Cultura esta que o levaria a tal patamar que alcançou, pois não sejam idiotas: no wrestling, não se vai longe sem amor!

Ainda púbere, a chegada na Argentina lhe apresentou imensas dificuldades, tendo de conviver com crises economicas e dificuldades (acarretadas pela supracitada) financeiras, levando-o a trabalhar como engraxate de sapatos para sustentar seu vício da luta-livre. O panorama social não ajudava muito, tampouco, tendo terminado recentemente a Segunda Guerra Mundial, estando o mundo num estado de caos, onde uma agulha causava outra guerra.

Marino costumava lembrar da sua infância com orgulho, entretanto. Eis um excerto de uma entrevista para O Globo: "Lembro que eu devia ter uns 12 anos quando tive a chance de usar um sapato pela primeira vez. O sapato era maior do que meu pé. Talvez porque minha mãe achasse que, quando eu crescesse um pouco, aquele sapato ainda me iria servir."

Logo, entretanto, o amor que citei antes foi o diferencial. Ted era o rapaz com melhor físico do bairro e isto lhe rendeu os seus primeiros trófeus da carreira. O telecatch (em outras palavras, wrestling) praticado foi lhe tornando um ícone na América do Sul, e aos poucos foi lhe levando ao reconhecimento de estações televisivas. Em 1962, Marino já estava a praticar a modalidade em países como a própria Argentina e o Uruguai. Sua chegada ao Brasil ocorreu aos 24 anos, e já era buzz por si só, tendo sido uma adquirição de um empresário que já havia reconhecido seu bom trabalho nos outros países antes citados. Este buzz não é exagero.

Tanto é que quando aqui chegou, em terras canarinhas, seu programa de telecatch logo alcançou patamar de competir com um outro show de extremo sucesso, Jovem Guarda. Ainda na TV Excelsior, Mario participou da primeira formação dos Trapalhões, grupo humoristico muito famoso, que naquela era estava ainda em fase inicial, tendo uma escalação que continha, além do lutador, Wanderley Cardoso, Ivon Cury e Renato Aragão. Este último ainda, para terem uma noção, continua a fazer sucesso nos tempos atuais, décadas depois. Em números, o ibope do programa rondava sempre os 50 a 60 pontos, algo cerca de 10 pontos acima das novelas brasileiras, que são o ponto alto de audiência nos tempos atuais.


A Excelsior fez tamanho sucesso com TBM que a Globo, hoje a maior estação televisiva do Brasil, comprou os direitos de imagem e assinou um contrato com a lenda, fazendo-o do maior solicitado na TV do período, fazendo um número recorde de mais de cinco aparições semanais em programas distintos.

E quando digo distintos, é porque engloba todo o nível e cariz de show, não só o telecatch. Marino foi um precursor e, acima de tudo, propagador da modalidade no Brasil, em uma época em que era difícil de se fazer um sucesso desta forma. Atuou em filmes humorísticos e comandava programas infantis e adultos.

A Globo passou a transmitir o telecatch em 1967, em horário nobre nos sábados a noite. O programa era total destaque ao babyface Marino, que recebia cerca de duas mil cartas por semana e necessitava de apoio de seguranças para transitar na emissora, tamanho o assédio dos fãs. Ele era um exímio lutador, o tipico John Cena em termos de carisma, que chegou a sacrificar seu corpo várias vezes, lesionando joelhos, cotovelos, braço, ombro e costelas.

O telecatch, na verdade, só deixou de fazer sucesso devido a censura, que proibiu sua transmissão na Globo. Após o regresso, mais tarde, o grande público que antes acompanhava perdeu o grande interesse, fazendo com que a lenda passasse a se apresentar em menores círculos.

Fora da sua carreira, ele esteve casado com Lourdes Helena da Costa, com teve três filhos: Fernando, Ted e Tiago. Ted era um sujeito pacato, que não gostava da badalação que causava. Seus hobbies incluiam pescaria, cuidados com hortifruticultura e, claro, a torcida pelo Fluminense, seu time do coração.

Ao falar da sua vida, é bom lembrar que todo o capital que arrecadou como ícone na década de 60/70, lhe renderam comodidade após os problemas de saúde e incapacidade de competir. Assim, pôde fazer a merecida aposentadoria sem passar as mesmas dificuldades de infância.

Para finalizar, fiquem com uma entrevista que Marino concedeu a um programa brasileiro:

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