Slobber Knocker #30: Clones e reciclagens (Parte 1: Gimmicks)
3 dezenas de Slobber Knockers! Não é assim um número muito
exorbitante, mas nunca pude ter a certeza que chegava lá. Mas cá estou eu com
trinta edições, bom feedback, mau feedback, assuntos interessantes, outros nem
tanto. Mas siga para mais um, a ver se este também é cativante....
Ultimamente existe algo que tem vindo a dar que falar. A
história do caso entre John Cena e AJ. Não pela história em si, porque não há
certezas de que venha a sair algo realmente de jeito daí, só o tempo o dirá. É
mesmo por fazer lembrar demais outra situação muito recente na outra companhia,
a rival TNA. Kurt Angle já se pronunciou e até AJ Styles já pôde lançar a sua
posta ao ar durante o Impact Wrestling. Se têm total razão ou não, mais uma
vez, só o tempo dirá, porque uma história felizmente já acabou e a outra está a
começar ainda.
O certo é que pela forma como começou parece andar a tomar
caminho que não está a agradar lá muito. Não me refiro particularmente a mim
mas ao povo. É verdade que aquela história da Claire Lynch foi demasiado má e
até parecia uma mancha ali na TNA que atravessava a sua melhor fase - e ainda atravessa
– em muito tempo. O que valia é que dado os seus integrantes dava sempre em
combates impecáveis e com Kaz e Daniels a aproveitar para levar a coisa para a
palhaçada e com a representação lá da moça aquilo tomou proporções de “So bad
it’s good”. Mas pronto, que fique por aí, não é preciso outra. Admito que se
tomar o mesmo caminho, eu só me começo a rir, é tudo o que há a fazer. Mas
acredito que isto dê voltas diferentes.
Mas quanto ao assunto das histórias “roubadas” ou
recicladas… É primeira vez que acontece? Seja entre companhias ou dentro da
própria companhia? Por acaso não, o mundo do wrestling é um mundo
constantemente em reciclagem e com o passar do tempo é cada vez mais difícil
conseguir histórias totalmente originais. Até mesmo situações de supostos
“casos românticos” entre figuras do roster já não são novas. Nem sequer é
exclusivo do mundo do wrestling, em quase todo o entretenimento! Filmes, música,
literatura, TV, arte, moda, tudo… Pode-se considerar que esteja tudo em
reciclagem desde há uns valentes anos atrás e até mesmo quando aparece algum
pioneiro, tem sempre as suas influências.
No wrestling até dá para se inspirar não só em situações
dentro do wrestling, mas podem ir buscar ideias a outras coisas. Já quantos
romances ao estilo “Romeu e Julieta” ou até mesmo “A Bela e o Monstro” já
existiram? E olhem para o Sting… Ele já foi o “Corvo”, já foi o Joker, o que
desse mais jeito na altura e utiliza um ringname referente a escorpiões mas que
o partilha com um músico Britânico bem conhecido. Tinha tudo para ser um
falhanço, no entanto construiu um legado invejável e consta entre os melhores
de sempre – e é merecido. E até mesmo recentemente quiseram capitalizar no
sucesso do filme “Magic Mike” para dar uma gimmick à equipa de Tyler Reks e
Curt Hawkins, até Reks abandonar a companhia – para muita pena minha, que tinha
achado piada àquilo e previa finalmente um push aos dois.
E claro, existem sempre os casos reciclados dentro do
wrestling, que nós conhecemos bem. Passemos a isso?
Comecemos então com gimmicks
O rico aristocrata
Porque não aproveitar este tipo de personagem se resulta tão
bem para obter heat? E porque é que resulta tão bem? Porque é o pobre do Zé
Povinho que assiste ao programa e ganha pó ao ricaço presunçoso. E milionários
são facilmente detestáveis com as atitudes certas. Tendo alguém com o carisma
certo para representar tal, porque não aproveitar? Antigamente tínhamos o
lendário e inesquecível Ted DiBiase que se podia dar ao luxo de comprar títulos
e de afirmar que toda a gente tinha um preço. Dos primeiros e dos melhores
heels de sempre. Capitalize-se o sucesso. Uns anos mais tarde e um redneck que
toda a gente achava piada fica realmente rico ao dedicar-se a negócios da
bolsa. Passe-se esse sucesso para o kayfabe e temos JBL, outros dos grandes
heels que lidera esse lado malévolo nos anos mais recentes. E porque não mandar
vir alguns ricos de fora? Superstar actual que mais comparações com o último
mencionado puxa é Alberto del Rio que vem sempre com um carrão diferente, o
sacana. Veio com mais força que Ted DiBiase Jr. que aproveitou a fortuna do seu
pai antes de se tornar homem do povo com a “DiBiase Posse”. E convençam-se duma
coisa: irá sempre existir mais disto – já parecia que havia um sucessor no Leo
Kruger mas entretanto ele pirou da cabeça e até ficou melhor assim…
O grandalhão bailarino e adorável
Gente que entrasse a dançar não faltava. Disco Inferno era
simplesmente ridículo. Mas o Alex Wright, que até chegou a ser seu parceiro,
era ainda mais, o que fazia dele um espectáculo. Ele que regresse que eu marko
brutalmente. Mas uma maneira de tornar a coisa mais cómica ainda é colocando um
grandalhão pesado a fazê-lo. Assim que se cansaram de ter Charles Wright a
enfeitiçar gente como Papa Shango, a sua entrada para a WWF garantiu-lhe a
gimmick de “pimp” como The Godfather, que também adorava um baile. Um dos
maiores casos seria o de Rikishi assim que se juntou aos Too Cool e os seus movimentos
ficaram para a história até hoje. E um breve mas bastante caricato caso é o de
Ernest “The Cat” Miller… Mas esse nem sequer era muito grande… Não era, mas foi
dele que foi completamente roubada a gimmick do “Funkasaurus” Brodus Clay.
Música, catchphrase, tudo. Este sim é um caso de roubo mais descarado – mesmo
que a WWE apenas tenha ido buscar o que já era seu – e que não deixou o “The
Cat” muito contente…
O “All-American” técnico
A primeira coisa que nos vem correctamente à cabeça é Kurt
Angle. Galardoado com uma medalha olímpica na qual baseia o seu orgulho
Americano e com talento técnico que muitos sonhavam em ter apenas uma porção,
Kurt Angle representa-se a si próprio e pode muito bem ser uma personagem
única. Pelo menos um bocadinho, até se pegar em alguém também com dotes
técnicos, dar-lhe um fato parecido e o mesmo finisher, com o ajuste de “All
American American” e temos Jack Swagger. Não é propriamente uma cópia, mas as
influências estão lá. A principal diferença é que Kurt Angle apenas se adequa à
grandeza e felizmente é lá que ele está enquanto que o outro desgraçado é um
jobber de primeira água, sem merecer. Não que ele mereça andar aos níveis de
Angle que ainda lhe falta muita sopa, mas pelo menos um intermédio deve haver…
Exibicionista e narcisista
Este tipo de atitudes começou com o “Nature Boy” e nem me
refiro ao Ric Flair que já era bastante inspirado no original “Nature Boy”
Buddy Rogers. Um caso de alguém com forte inspiração noutra personagem mas que
conseguiu tornar-se em si próprio e atingir o estatuto de um dos melhores de
sempre. Mas daí para a frente, cada vez mais tipos iam ficando cada vez mais
convencidos e com uma auto-estima a disparar telhado fora. Lex Luger e Rick
Rude em pontos da sua carreira tinham uma obsessão doentia com a sua própria
imagem no espelho. Shawn Michaels afirmava no seu próprio tema de entrada que
era um “Sexy boy” e essa sua ideia não ficava só pela música, chegando até à
Playgirl. Val Venis tinha imenso orgulho no seu estatuto como estrela
pornográfica. Mais tarde isso viria também a notar-se em dois tipos cujos
sucessos foram rapidamente cortados: Rob Conway que entrava com uma música que
sugeria a que apenas olhassem para ele e Mark Jindrak. Quem aperfeiçoou esta
gimmick (pun intended) foi nada mais nada menos que Curt Hennig com o seu nome
“Mr. Perfect” que deixava a ideia pretendida bem explícita. Actualmente quem
faz furor ao abraçar tal atitude é nada mais nada menos que Dolph Ziggler, o
“Show Off” da casa. O seu paralelismo com Mr. Perfect era mais explícito pela
altura da sua estreia quando até entrava com o tema “I Am Perfection” e uma
atitude semelhante à de Hennig ou a de um “Ass Man” Billy Gunn. Com o passar do
tempo, Ziggler começou a adoptar uma postura singular e associável a si mesmo, tornando-se
um dos melhores e mais populares Superstars no plantel inteiro. Já evitou
tornar-se um “2º Mr. Perfect” e já está mais que encaminhado para ser o “1º
Dolph Ziggler”.
As meninas mimadas com a mania
Não sei bem dizer ao certo quando se começou com isto nem
qual o primeiro caso. Sei é a inspiração que é muito simples: vida real. Todos
conhecemos algumas artistas assim. E tal como na realidade, também no wrestling
elas andam em grupos. O primeiro exemplo que me lembro consta dos tempos em que
me iniciei a assistir a esta modalidade com as “Vince’s Devils” – que por si já
satirizava as “Charlie’s Angels” – constituídas por Victoria – agora Tara - ,
Torrie Wilson e Candice Michelle. Três meninas bonitas do patrão que faziam a
vida negra à Campeã Trish Stratus. Daí para a frente mais casos se deram,
recordando-me agora da dupla da TNA de Velvet Sky e Angelina Love, as “The
Beautiful People” cuja missão era a de limpar a “feiura” que constava no
plantel – mais um paralelismo/reciclagem pois era isto que a Raquel Diaz também
andou a fazer depois no NXT enquanto ainda lá andava. A mais recente seria na
WWE e contaria com Michelle McCool e Layla, as LayCool uma das melhores
coisinhas a acontecer às Divas nos últimos anos. Também não duvidem que no
futuro haja mais, porque também é o modo fácil de colocar heat numa moça toda
vistosa…
O oriental Anti-Americano
The Shiek, um dos pioneiros daquilo a que hoje podemos
chamar de “Hardcore wrestling” é o primeiro caso a saltar à mente. Parte do seu
legado também passou para o seu sobrinho, a lenda da ECW Sabu. Mas diga-se que
o sucessor directo de Shiek e que mais aproveitou a faceta Anti-Americana para
se tornar um dos mais poderosos heels do seu tempo e de sempre é o indivíduo de
nome semelhante: Iron Shiek. Hoje adoramos ver as suas entrevistas “shoot” e os
seus disparates quase imperceptíveis. Mas no seu tempo era um tipo bastante
detestável com a sua atitude. Sempre polémica uma personagem destas, um que foi
tão longe ao ponto de ser despedido após choque de pessoas sensíveis foi
Muhammad Hassan que caminhava a passos largos para estar no topo da companhia como
um dos maiores Heels em muito tempo. Depois da sua saída, ficou ali um vazio
oriental Muçulmano no qual eles não deviam querer mexer devido ao assunto ainda
estar quente. Voltou recentemente de forma mais branda sob a forma de um
aristocrata Indiano de nome Jinder Mahal que partilha as ideias contra a nação
mas não as atitudes mais extremistas. Actualmente, Mahal afastou-se um pouco da
sua gimmick ao ingressar os hilariantes 3MB como o “membro engraçado” – isso
dito com a maior das caras apáticas o que só tornou a coisa mais engraçada
ainda. E no caso de dúvida ao formar uma personagem destas, simplesmente
dêem-lhe o “Camel Clutch” como finisher.
Isto alguns exemplos de gimmicks generalistas que podem
incluir vários lutadores de várias eras. Mas também existem alguns lutadores
cuja personagem, mesmo não sendo nada em específico, vai ter comparações a
outras mais antigas, seja pelo estilo visual ou pelos seus maneirismos. Alguns
exemplos:
Goldberg --- Ryback
Chris Masters --- David Otunga (ambos também encaixam um
pouco no campo narcisista)
Mark Henry (Sexual Chocolate) --- Viscera
Gangrel --- Kevin Thorn (Os The Ascension sempre conseguem
ser bem diferentes e a Winter só era meia esquisita, não era propriamente
vampiresca)
Andre the Giant --- Big Show (Nos tempos de The Giant a
intenção até era que fosse um successor directo)
E com certeza muitos mais exemplos que deixarei para vós a
oportunidade de me lembrar quais.
Com isto concluo esta parte, fazendo algo que ainda não fiz
no “Slobber Knocker” e que estreio na sua trigésima edição: dividir um artigo
em duas partes. Devido à sua extensão e por ver que dava perfeitamente para
dividir em dois, este assunto será continuado para a semana abordando outro
assunto.
Anuncio então o tema da próxima semana – algo que faço
pouco: Clones e reciclagens: Storylines – até é o que mais está directamente
relacionado com a introdução deste texto.
Até lá deixo a palavra em vós para comentar esta parte
acerca das gimmicks recicladas e recuperadas, o que vocês acham, se está
correcto e bem feito ou se é chato e, claro, no caso de se recordarem de mais
exemplos estão totalmente à vontade. Se quiserem também já deixar uma
palavrinha quanto ao tema da próxima semana, a caixa dos comentários também é
livre…
Então até à continuação disto, despeço-me.
Cumprimentos,
Chris JRM