Slobber Knocker #34: Do fundo do baú "ECW Super Summer Sizzler Spectacular 1993"
Olá e bem-vindos a mais um Slobber Knocker. Para esta semana
trago algo um pouco diferente. Muito gosto de revisitar algumas “antiguidades”
no mundo do wrestling, mesmo dos tempos anteriores ao meu nascimento. Porque
não partilhar convosco uma dessas viagens no tempo? Não sei se voltarei a fazer
isto ou não, para já é só uma experiência, se vir que é bem recebida, lá se
amanhará outra...
Ora então o que é que eu vos trago que fui resgatar ao fundo
do baú? Nada mais, nada menos do que a antiga ECW. Ora, a ECW que colocou o
wrestling extremo e hardcore no mapa e hoje em dia deve ser das coisas no
wrestling que mais suspiros de nostalgia e saudade causa, em conjunto com a
Attitude Era? Não, nem por isso, recuei ainda mais no tempo, aos seus dias
iniciais, quando ainda era a Eastern Championship Wrestling.
Quando se estreou na TV no Sports Channel, com combates
básicos e chegando a cortar alguns segmentos por serem considerados “demasiado
violentos”. Sim, isso mesmo, a ECW a cortar devido à violência, parece incrível
mas já foi assim. Ora então nesses dias, deu-se um evento ao qual se poderia
chamar de “Supercard”, visto que uma independente como essa não se podia dar ao
luxo de conseguir fornecer em formato PPV. Já pelo nome “Super Summer Sizzler
Spectacular” deveria dar para entender que esta não era uma ECW muito extrema…
Viajem então comigo para esta ECW embrionária, assim que
revemos alguns nomes que passam completamente despercebidos hoje em dia, assim
como alguns importantíssimos no futuro da companhia e não só. Aviso desde já
que devido à pequenez deste evento, não tenho grande suporte de imagem para
enriquecer este artigo… Mas no caso de se aborrecerem com leitura, colocarei os
vídeos no final se tiverem a curiosidade de assistir. Vamos a isto então:
ECW TV Title Match
Jimmy Snuka © vs JT Smith
(Se Jimmy Snuka vencesse voltaria a defender o título mais tarde contra o
“Ironman” Tommy Cairo)
Storyline: Eddie Gilbert e Paul E. Dangerously (exactamente,
esse é Paul Heyman) formariam ao longo das semanas uma stable Heel que tanto se
chamava “Hotstuff International” como “Dangerous Connection”. A primeira
afiliação deu-se entre Eddie Gilbert e Jimmy Snuka, virando o “Superfly” Heel.
Esta aliança deu-se durante o torneio pelo primeiro título de TV da ECW,
permitindo a Snuka que vencesse tornando-se o primeiro Campeão. Para este
“Supercard” ficou marcado um ou dois combates com integrantes desse mesmo
torneio.
Na mesa de comentários encontravam-se Jay Sulli (comentador
Play-by-play que permaneceria em todo o show) e Paul E. Dangerously, manager de
Snuka. O combate em si foi fraquíssimo. Começou lento e acabou lento, com
algumas tentativas básicas de se confrontarem, com Snuka saindo normalmente por
cima e com atitudes arrogantes. No final, saiu um Superfly e apercebemo-nos que
em cerca de 5 minutos estava o combate feito. Nada de mais aqui…
Snuka avançaria então para defender de novo o seu título
mais tarde contra Tommy Cairo.
First Blood
Match
Tony Stetson vs Larry Winters
Storyline: Antigamente parceiros, Stetson e Winters chegaram
a ganhar os títulos de Tag Team aos Super Destroyers, mas em questão de uma ou
duas semanas perderam-nos para os Suicide Blondes. Logo após essa perda, ambos
integraram uma Battle Royal para definir o primeiro Campeão da Pennsylvania
(vencida por Tommy Cairo). Ambos trabalharam juntos mas numa disputa com os
Suicide Blondes, Winters acidentalmente elimina Stetson. Este não leva a bem e
vira Heel atacando o seu parceiro. A rivalidade azedou e culminou num First
Blood.
O combate em si também não foi nada demais e a sua
estipulação violenta é uma pobreza ao lado do que a ECW se viria a tornar mais
tarde. Aliás, mais tarde na ECW um “First Blood” nem faria muito sentido,
piscava-se os olhos e já estavam todos com a torneira aberta. Mas lá seguiram
com isto. O combate não saiu do básico e não se estendeu muito para o uso de
objectos normalmente ilícitos, o mais extremo que chegou a haver foi um canto
sem protecção. Os lutadores trabalhavam na testa um do outro com socos e
joelhadas na tentativa de abrir. Eventualmente, por alguma razão que não
compreendi muito bem, não me lembro de haver história entre eles, lá vem o
Rockin’ Rebel interferir (ele lá teria o seu combate mais tarde) para distrair
Winters. Isso permitiu a Stetson colocar uma corrente à volta do punho e
soquear Larry Winters para vencer o combate.
Os dois tentaram atacar Winters após o final do combate mas
este lá conseguiu escorraçá-los sozinho. Não se viu nenhum vestígio de sangue
no seu rosto, por culpa talvez da má qualidade de imagem que existe num show
independente em 1993. No entanto, o acto de blading pareceu bem evidente.
Nota: Uma coisa que eu não gosto nada no Tony Stetson. O seu nickname. “Hitman” Tony
Stetson. A sério?
Catfight Humiliation Match
Terrible Tigra vs Miss Peaches
Storyline: Está ligada com a rivalidade entre Sandman e
Rockin’ Rebel que será explicada com mais detalhe no seu combate. Com Tigra do
lado de Rebel e Peaches do lado de Sandman, as coisas também azedaram entre as
duas moças e constantemente interferiam nos combates dos seus homens.
Eventualmente, Tigra humilharia Peaches, com ajuda de Rebel, rasgando-lhe as
roupas o que daria neste combate cuja estipulação seria arrancar as roupas da
adversária.
Era de esperar que um combate destes não tivesse ponta de wrestling.
E não teve. Foi como diz no nome, “Catfight”. Reboliço e puxões. Lá conseguiram
tirar o top uma à outra até que Tigra tenta fugir. Uma outra moça toda roliça
não identificada obriga-a a regressar ao ringue e Peaches finaliza o trabalho,
fazendo a Tigra fugir para o balneário.
Mais acção viria depois com Rockin’ Rebel e o seu recente
aliado Tony Stetson quando atacam Miss Peaches e conseguem arrancar o top da
outra moça desconhecida… Só que esta não tinha nada por baixo do top, para a
alegria de muito gajo naquela arena. Só faltava o Jerry Lawler nos comentários
a gritar “PUPPIES!”, apesar que com aquele tamanho, já nem eram “puppies” eram
uns Rotweillers adultos… Lá vem o Sandman salvar o dia e a sua dama, enquanto a
outra desgraçada se cobria…
ECW TV
Title Match
Jimmy Snuka © vs Tommy Cairo
Storyline: Já recapitulada no combate de abertura. Com Jimmy
Snuka saindo vencedor desse encontro, avançou para uma segunda defesa nessa
noite, desta vez contra o Campeão da Pennsylvania, Tommy Cairo.
Paul E. Dangerously saíra da mesa de comentários para
acompanhar Jimmy Snuka até ao ringue. Foi substituído na mesa pelo lendário
Terry Funk que viria a competir mais tarde no evento principal. O combate não
foi muito mais que o de abertura mas sempre foi melhor qualquer coisinha. Cairo
já teve mais ofensiva que o JT Smith e já obrigou Snuka a recorrer a algumas
tácticas sujas para vencer o combate.
No final, sem o árbitro se aperceber, Heyman, digo, Paul E.
Dangerously, agarra a perna de Cairo, fazendo-o cair. Snuka aproveita e faz o
pin, utilizando as cordas como ajuda. Snuka vence e retém o seu título duas
vezes na mesma noite.
Street
Fight
The Sandman vs The Rockin’ Rebel
Storyline: Sandman era o Campeão da ECW e entrou em feud com
Rockin’ Rebel pelo título. Entretanto começou a envolver-se com Miss Peaches
que demonstrou interesse no Campeão e acompanhava-o até ao ringue. Com isto,
Rockin’ Rebel também foi buscar Tigra para o seu canto, atrapalhando o Campeão
e permitindo que Rebel lhe partisse uma prancha de surf na cabeça. Um dos
momentos mais extremos naquela ECW. As coisas ficaram cada vez mais intensas e
pessoais entre os dois lutadores e só pioraram quando Rockin’ Rebel começou a
atacar fisicamente a Peaches. Esta rivalidade acabou por custar o título de Sandman
– perdido para Don Muraco – e culminou neste encontro.
E lá vinha o Sandman de cana numa mão e lata de cerveja
noutra, a irromper nervoso pela plateia fora, pronto para a porrada, certo?
Errado. Esta era a primeira versão do Sandman, surfista, que levava a sua
prancha o seu fatinho de surf e entrava ao som da “Surfin’ USA” dos Beach Boys.
O combate foi outro combate que ficou muito aquém. Street Fight e provavelmente
com a rivalidade mais pessoal a seguir à do main event. Também se ficou pelos 5
minutos e de extremo teve pouco. Sandman viria a fazer muito mais no futuro.
Começou rápida e física, com Sandman a não esperar sequer pela campainha para
começar. Dali para a frente, houveram algumas cadeiradas não muito fortes no
exterior do ringue.
Eventualmente, o árbitro vai ao charco – isto dos árbitros
ficar KO já é velhinho – e entretanto Tony Stetson tenta vir socorrer o seu
novo parceiro – num timing que não fez ponta de sentido, para que é que ele
esperou para que o árbitro estivesse no chão se era uma Street Fight e ele
podia intervir quando lhe desse na real gana? Vá, talvez tenha sido por acaso.
O certo é que Sandman lá se consegue livrar dele e o ringue é invadido por mais
uma rapariga toda vistosa que ninguém sabe quem é. Jay Sulli coloca a possibilidade
de ser afiliada de Miss Peaches, mas ninguém é estúpido para acreditar nisso.
Ela lá lhe esborrifa qualquer coisa para os olhos, o Rockin’ Rebel dá-lhe com o
cinto nas costas e faz o roll-up. Vitória para o Heel, mais uma vez. Combate
mesmo muito abaixo da expectativa…
Singles
Match – Challenge
Dirty Dick Murdoch vs The Dark Patriot #2
Storyline: Com a estreia do lendário veterano (chegou a
passar na WWF na década de 80) Dick Murdoch no ringue da ECW, Paul E.
Dangerously introduz um desafio ao mesmo tempo que introduz um novo membro da
sua stable: The Dark Patriot. O combate ficou marcado, mas o lutador que
encarnaria a personagem do Dark Patrior não se encontrava disponível nessa
noite, logo antes do combate Heyman/Dangerously anunciou a substituição pelo
Dark Patriot número 2 que vinha igualmente equipado de máscara.
Este novo Dark Patriot lá aproveitou que Murdoch já estava
pronto para dar um selo na boca do Paul E. Dangerously para o atacar por trás e
dominar o início do combate. O veterano lá consegue revirar para grande
entusiasmo de Terry Funk. Após o combate se equilibrar, Dick Murdoch vence com
um “roll up”. Mais uma vez, nada de mais…
3-on-3 Tag
Team Match
Suicide Blondes (Jonathan Hotbody & Richard Michaels) & Hunter Q. Robins
III vs Super Destroyer #1, Sal Bellomo & Stevie Wonderful
Storyline: Os Super Destroyers eram Campeões de Tag Team com
o Heel Hunter Q. Robins como seu manager. Eventualmente perdem os títulos para
Stetson e Winters e não os conseguem recuperar. Hunter Q. Robins decide
traí-los e virar-se para os Suicide Blondes (Jonathan Hotbody e Christopher
Candido), que conquistam os títulos de Tag Team. Com Hunter a manager,
introduzem um terceiro Suicide Blonde, Richard Michaels. Os Super Destroyers
viram-se contra o seu ex-manager, virando Face no processo e aceitam a ajuda do
doido Italiano Sam Bellomo que anteriormente tentara passar-se por “Super
Destroyer #3”. O presidente marcou um 3-on-3, mas Bellomo exigiu que fosse um 4-on-3,
para que Hunter, o manager, também competisse. Assim ficou marcado.
No dia, muitas alterações se deram. Não havia Chris Candido,
logo ficou 3-on-3. Pior, também não havia Super Destroyer #2 e à última hora
substituíram-no pelo comentador semanal, Stevie Wonderful. Uma jogada não muito
bem-feita, porque Wonderful costumava ser um comentador Heel e tinha uma
opinião muito fincada quando a esta rivalidade, e agora estava do lado
contrário, destruindo qualquer continuidade. Mas que se dane.
Um dos principais pontos deste combate deu-se antes e fora
do ringue: Terry Funk saíra para se preparar para o seu combate e para o
substituir veio… Joey Styles! Estreia do mítico comentador ao microfone da ECW.
O combate foi decentezinho até, mesmo que, tal como quase
todos os outros combates, não conseguisse muito sair da cepa torta. Conseguiu
alternar um pouco entre seriedade e comédia e o principal ponto de concentração
da equipa Face era de que Hunter entrasse em ringue, para levar na boca. Entrou
umas duas vezitas, mas pouco fez e pouco levou. O combate lá acabou com uma
double team em Michaels que finaliza com um Splash de Bellomo. Os vencedores lá
celebram com Stevie Wonderful também os felicitando, mesmo que há coisa de
menos de uma semana estivesse a mandá-los abaixo de Braga.
Curiosidade: De acordo com a minha pesquisa, Christopher
Candido abandonou a ECW para se juntar à Smokey Mountain Wrestling (mesmo que
fosse detentor de um título). Quanto ao Super Destroyer #2 é que não se chegou
a saber nada. Especula-se que fosse ele o Dark Patriot #2…
Texas Chain
Match
Terry Funk vs Eddie Gilbert
(Vencedor seria coroado “King of Philadelphia”)
Storyline: Tudo começou quando a ECW se estreou em TV e
Terry Funk foi anunciado como cometador “color”. Desde esse momento, Eddie
Gilbert viria a mostrar atitudes de desrespeito perante o veterano.
Eventualmente pediu-lhe desculpa, tudo como preparação de uma tramóia, mais
tarde na mesma noite, atacaria Funk por trás com uma cadeira. Desde aí
tornou-se pessoal e Terry Funk desafiou-o para o seu combate: o Texas Chain
Match Massacre. Gilbert aceitou e nas seguintes semanas haveriam segmentos de
Funk no seu rancho, de volta dos seus cavalos, a dar promos de ameaças a
Gilbert.
Infelizmente, Joey Styles só lá esteve para um combate e foi
o presidente da ECW, Tod Gordon que se juntou a Sulli na mesa de comentários.
Este era o aguardado main event e o que se esperava que fosse o combate mais
violento da noite. E foi. Mas mesmo assim, é coisa para meninos comparado com o
que depois viria e Terry Funk já estava habituado a pior.
As regras do combate são simples. Os dois lutadores estão
ligados por uma corrente presa aos seus pulsos. Não há desqualificações e a
corrente pode ser usada como arma. O intuito do combate é incapacitar o
adversário para o arrastar à volta do ringue. Considera-se vencedor aquele que
conseguir tocar nos 4 cantos.
Começou muito lento, com Gilbert a tentar fugir a maior
parte do tempo e Funk a servir-se da corrente para o puxar para perto de si.
Não tardaria muito e Eddie Gilbert estaria a dominar. Terry Funk sangrava e
Gilbert tirava partido da ferida aberta como seria de esperar. Funk, doido,
acabaria por recuperar o domínio. Já ambos sangravam. Fora do ringue e quase no
meio do público, Funk dá uma tareia em Gilbert com a corrente. No ringue, de
novo a velha tradição entra em vigor: árbitro a dormir. Entra um árbitro novo
que é distraído por Paul Heyman/E. Dangerously enquanto Funk toca no quarto
canto. Funk celebra a vitória mas o árbitro não viu, não há festa para ninguém.
Gilbert aproveita, ataca Funk com uma cadeira e um Piledriver e toca nos quatro
cantos. Gilbert vence e no meio da balbúrdia, Paul expõe o árbitro como sendo
“comprado”. Gilbert é coroado por Heyman que é interrompido pelo presidente Tom
Gordon que apenas acabaria por levar com o telefone de Heyman na cabeça. O
evento acaba com um Funk desiludido.
De modo geral, o evento foi fraco até. Ainda para mais tendo
em conta a companhia que é. E então vocês perguntam “Para que raio nos vens
falar de uma coisa que não é assim tão boa?”. Simples, é curioso. Todos nós
conhecemos bem a ECW, mas poucos estão familiarizados com o seu formato inicial
que em nada se assemelhava ao que a Extreme Championship Wrestling nos viria a
dar.
Claro que agora caberia a vós comentar sobre isto: Conheciam
este evento? O que acharam dele? Acham que a ECW realmente não valia nada até
mudar de cara completamente? Ou esta é uma era subvalorizada na história da
ECW? Para comentar como bem entenderem e para quem estiver interessado em assistir,
aqui ficam os vídeos:
Parte 2 (Continuação do First Blood, Catfight) (A ver quantos vão pausar naquele momento...)
Assim me despeço até à próxima semana, espero que o artigo
não tenha sido do vosso desagrado, mesmo que não tenha abordado um tema muito
familiar. Para a semana cá estarei talvez, com um artigo melhor.
Cumprimentos,
Chris JRM