Mac in Touch #26 - "The Rock:das piores coisas que podiam acontecer ao wrestling actual"
Mais um Mac in Touch para a colecção, que já vai longa, de artigos com a "camisola" do Wrestling Notícias. Quis o destino que o número que assinala a metade de semanas num ano (26) acontecesse naquele que serám, em princípio, o último MiT antes da Wrestlemania 29 - aquele que se prevê ser o show maior da indústria em termos financeiros......
Não posso afirmar com certeza que será o último Mac in Touch porque ainda não vi a RAW, e tratando-se do último show antes da Wrestlemania, com certeza que poderei ter de vir aqui falar daquilo que se planeia fazer para o certame de Domingo.
Hoje trago-vos um tema aparentemente polémico...
"The Rock: das piores coisas que podiam acontecer ao wrestling actual"
Foram milhares de milhões as
vezes que algo que soava bem no papel não correu bem na prática. Olhe-se para o
exemplo do comunismo (no seu extremo) – conceito bonito, mas impraticável pela
insaciedade do homem e pela impossibilidade de alheamento da competitividade
quando há pelo menos dois seres humanos num determinado espaço comum; aliás,
olhe-se para a nossa constituição! – uma das mais bem feitas e das que mais
reconhecimento coleciona pelo mundo fora… mas a nossa justiça não é conhecida
pela celeridade com que trata dos processos.
Tal acontece, também, no mundo do
pro-wrestling com gente a arruinar promos
escritas com todos os cuidados e toda a lógica pela incapacidade de ter
um micro na mão e fazer vender algo diferente daquilo a que estão habituados
(ou simplesmente por não saberem vender).
Mas não há que culpar quem fez as
leis, os conceitos ou os textos porque foi tudo feito de modo a correr bem e a
pensar que as coisas não iriam conhecer os obstáculos da realidade. Há até que
os louvar pelo facto de terem criado boas ideias num… mundo perfeito. Mas este
não é, e quando algo é escrito para que outros o interpretem quase sempre que a
ideia corre de uma maneira menos conseguida do que o esperado à partida da
mesma. 90 % das vezes, quase de certeza que é assim, os outros 10% são
divididos entre 5 % de sorte e 5 % de gente que interpreta o papel que lhes é
escrito e o transforma em algo fantástico pela sua capacidade de improvisação,
talento ou … estatuto.
Olhando para o cinema primeiro –
quem viu Eram Tudo Bons Rapazes e pensar na personagem de Jimmy a fundo, apercebe-se
que a interpretação da mesma é dificílima, contudo, Robert DeNiro deu a
intensidade, os olhares e sorrisos que era suposto sair como falsos e as
pequenas expressões que a coisa precisava para correr bem, e ali está ele num
dos melhores filmes de sempre com uma das melhores personagens de sempre. O
mesmo se aplica com Jack Nicholson em Shinning- alguém imagina um homem a
querer matar o filho e a mulher depois de 3 meses fechado num hotel com eles e
a fazer soar isso mesmo credível? Claro que não.
Nicholson e De Niro, dois
dinossauros do cinema (no sentido de grandiosidade e de estarem no topo da
cadeia alimentar do reconhecimento, não pela idade que têm), deram o mote para
que muita gente os tentasse emular, e os próprios realizadores acharam por bem
buscar as bases a este tipo de papéis e pôr a fórmula noutros… mas os outros
não tinham talento, e … puff, fez-se o flop!
O mesmo acontece com o wrestling.
Há textos inatacáveis em termos lógicos e que se enquadram bem numa dada
storyline, mas se o lutador que pega neles é alguém que é averso ao texto ou
está num período de menor motivação (ou, mais vale dizê-lo, não tem o que é
preciso) a coisa pode sair mal e obter uma reacção a roçar o péssimo. O público
não reage, a emoção emprestada à promo é notoriamente fingida e, claro, é dado
como fracasso a promo ou a ideia implementada e que leva as culpas é o
criativo. Nós, fãs de wrestling, somos terríveis nesse aspeto e tal como
costumava acontecer no Benfica há uns anos atrás em que o elo mais fraco era
sempre o treinador, também acontece neste contexto relativamente aos criativos
da WWE/TNA/ROH/outra… as ideias perdem-se e os textos também. Não somos só nós
fãs, são também eles, administração, que vetam ideias excelentes e que soariam
bem em muitos outros contextos ou com outras pessoas, mas que como não resultaram
daquela vez, são abandonadas.
Há um número considerável de
pessoas que conseguem pegar numa promo pré-feita e fazer com que ela soe bem
aos ouvidos de quem o ouve. Acredito no profissionalismo antes da motivação de
muitos lutadores e acredito que a maior parte das vezes a coisa corre bem,
porque se colabora com quem escreve os textos. Mas há um número ínfimo de
pessoas que conseguem tornar um texto ou uma ideia má numa promo excelente.
Conseguem-se contar pelos dedos, e quando conseguimos distingui-los a fazê-lo é
qualquer coisa de extraordinário, é arte!
The Rock é sem dúvida alguma uma
das “aves raras” pela expressividade e carisma que Deus lhe deu e pelos anos de
experiência que tem no circuito (assim como a carreira como ator).
Notei a arte do People’s Champ na
semana passada, quando houve aquela sessão de perguntas e respostas com as
lendas da WWE. Soa terrível ver um Bret Hart desanimado, de cabelho grisalho e
incrivelmente mal tratado a dizer algo sem se enquadrar no assunto (sou fã
indefectível do seu trabalho no passado, não me interpretem mal), assim como
Dusty (apesar do jeito de falar) e Booker. Foley consegue, pelo passado
recente, mergulhar com maior facilidade na história, mas ver um painel constituído
pelos três primeiros a fazer perguntas às quais responderia John Cena e outra
pessoa qualquer seria um descalabro. Ainda para mais num show rumo à
Wrestlemania e que serviria para promover o Main Event! Mas The Rock, praticamente sozinho, e, há que
reconhê-lo, um John Cena que deu a sua costela de heel (e só não te venci
porque…) à promo, tornou-a em algo
fantástico e que torna a Wrestlemania um pouco mais apetecível e faz crescer o
(em mim, até ao momento, quase nulo) interesse no main event do maior show do
ano para a WWE.
The Rock pode ser a pior coisa
para o wrestling profissional neste momento. Confusos? Vejam:
Muitos administradores, ou melhor, "Board of Directors" correm o
risco de, quando a equipa criativa falha, olhar para trás e dizer: “lembras-te
daquele Q&A com as lendas? Isso resultou!”. Sim, porque The Rock lá estava.
Ponham lá o Cena no seu papel e o Swagger/Ziggler a fazer de “Cena” nesta promo
e temos descalabro na certa. Não pela capacidade destes dois (a de Ziggy até é
melhor que a de Cena, com o micro nas mãos, a meu ver), mas pelo facto de a
ideia ser má e ser preciso ser-se muitíssimo talentoso e muitíssima
experiência.
Espero que saibam enquadrar o fator
“Rock” no futuro e não repetir uma fórmula sem a variável fundamental. É pelos criativos, e não por ele (obviamente!), que Rock é uma das piores coisas que podiam acontecer ao wrestling profissional da actualidade.