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Mac in Touch #28 - A não-questão


Nota prévia- escrevo-vos sem ter visto o RAW da madrugada de terça-feira

Muito obrigado a todos os que comentaram na segunda-feira: aos que disseram bem e aos que disseram mal, aos que perceberam e aos que não... ligar o WN para ver como tinha resultado o Mac in Touch no dia a seguir à Wrestlemania e verificar 21 comentários foi algo fantástico, e espero repetir a sensação por muito mais tempo. Espero ter agarrado leitores e mudado hábitos em todos os artigos desta casa!....

Com os agradecimentos fora da equação, sigo para mais uma edição do MiT e que versa, mais uma vez, a Wrestlemania 29, no caso uma personagem muito especial e que é presença constante no ódio das pessoas que gostam da nossa indústria há mais tempo...

A não-questão

As boas gimmicks são aquelas que conseguem perdurar durante eras e eras sem ficar desgastadas, mas até essas, às vezes, precisam de ser remodeladas. O exemplo de Undertaker é o mais gritante, já que sempre vestiu o facto de “Deadman”, alguém assustador, obscuro, impiedoso e com uma relação próxima dos assuntos da vida para além da morte. Ainda hoje é conhecido como tal, ainda hoje surgem arrepios na espinha após o tradicional “gong!” e sequente escuridão como ficou provado na madrugada de segunda-feira.
‘Taker é único no wrestling profissional. Um autêntico case study, talvez. O único que consegue carregar uma ‘persona’ durante mais de uma década… no entanto, a personagem dá azo a isso mesmo (é o fantástico do além, a espetacularidade da entrada) e o worker que a interpreta, vamos a reconhecê-lo, é dos melhores que a nossa indústria conheceu.

Mas apesar da conjugação fantástica de fatores que fazem da personagem de Undertaker uma das mais fantásticas e duradouras de todo o pro-wrestling, também esta teve de ser remodelada e tivemos um tempo em que o Deadman passou a ser o “American Bad Ass”, substituindo a marcha fúnebre pelo hard rock dos Limp Bizkit na sua música de entrada, as luzes opuseram-se à escuridão e o caminho para o ringue passou a durar menos graças a uma… mota.

The Rock já foi Rocky Maivia… mas mesmo assim não esteve exposto ao público da mesma maneira exaustiva que Undertaker esteve.


Ou seja, todas as personagens precisam de um refresh a dada altura da sua carreira. Precisam de um mudança e alteração nos traços da sua personalidade. Caso contrário , a menos que sejam muito especiais, são condenadas à estagnação, o público deixa de lhes prestar a atenção devida por esperar mais do mesmo, a menos, lá está, que esta continue a ser rentável em termos de receção e… de tesouraria.

 Há alguém assim na WWE e não é preciso puxar muito pela cabeça para lá chegar – John Cena. É alguém que é muito bem recebido pelo público em geral (no sentido em que ninguém lhe fica indiferente) e que se adora ou odeia na mesma proporção. Rendeu a Vince McMahon e familiares exatamente 1 jacto, 4 motas de água, 20 carros topo de gama (claro que não sei estes dados, mas invento para que não me acusem de especulação eheh ;))… ou o equivalente em merchandise vendido… em termos líquidos! (sim, aquilo que se vende fora dos EUA nos shows ao vivo não é sujeito a carga fiscal tão apertada e aposto que em todo este tipo de eventos foram vendidas, pelo menos 10 t-shirts a 20 dólares. Ora, foram, com certeza, cerca de mais de 500 (“lá está ele com a especulação”) house-shows aqueles que a WWE fez nos últimos 10 anos.

Os dois parágrafos que escrevi em cima acentam em duas coisas: necessidade de refresh de QUALQUER personagem de wrestling e dependência financeira.

Cena não é o worker que Undertaker é. No ringue não tem a mesma capacidade e no micro é irritante para a maior parte dos fãs acima dos 12 anos. As expressões faciais de alguém com cara de sonso deixam qualquer um de “nós” à beira de um ataque de nervos… mas hey! John Felix Cena é um lutador que vende, dá projecção ao wrestling pela popularidade que gera entre o mais novos e ainda garante sustentabilidade ao negócio, que precisa de “super-homens” deste tipo.

Desperdiçar o encaixe financeiro que Cena costuma dar anualmente aos cofres da WWE nos últimos 7/8 anos (algo inigualável por QUALQUER estrela que haja por aí, a curto prazo) seria algo impensável numa conjuntura de contração de consumo global… mas muitos fãs não pensam assim, e veriam, por prazer próprio (acuso-me) e sem pensar no futuro da companhia, que o heel turn de Cena era o melhor a fazer com a personagem. Claro que isso não é viável, porque nós não compramos tanto quanto os nossos filhos/contemporâneos que têm filhos!

Claro que Cena não é eterno e que terá de haver alguém que o substitua na venda de merchandise, e a WWE não tem ninguém pronto nessa situação que compense as perdas que uma eventual mudança de papel de Cena possa gerar. Muitos disseram que esta era a altura ideal, e eu concordo que a fazê-lo seria agora… mas por motivos financeiros e pela sustentabilidade da WWE e, claro, da própria indústria, é impensável fazê-lo.

O heel turn de Cena é uma não-questão… infelizmente.
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