Mac in Touch #38 - "No ponto..."
E aí vão 38 Mac in Touch! O espaço parece ir ganhando notoriedade a avaliar pelo número de comentários e o feedback que eles transmitem. Agradeço a todos, genuinamente, a atenção e os elogios que me motivam para não falhar um dia do artigo, mesmo quando a altura em que o escrevo seja aquela em que o cérebro nos manda fazer uma pausa depois de 16 horas de um cansaço que não corroendo, consegue moer.....
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O artigo de hoje pode entrar para a galeria da "markice", e até poderei ser ligeiramente parcial no que toca à pessoa de que estamos a falar.
Poderão achar exagerado o que digo sobre ele, e aceitarei isso sem problemas, mas leiam tudo à luz dos shows que temos presenciado antes de comentar porque acredito ter argumentos fortes não só no texto como nas imagens que nos chegam dos combates do senhor de que se fala neste artigo, e da sua unicidade no contexto do wrestling atual.
"No ponto..."
Um dos grandes apelos do wrestling é o poder que algumas lutas
conseguem exercer sobre nós. Trazem-nos para dentro do ringue, fazendo-nos
sentir cada murro, cada pontapé, cada golpe bem ou mal executado por quem
torcemos ou por quem queremos que perca. É a adrenalina que partilhamos com o
protagonista como se fôssemos ele! A locura do público, os holofotes... a magia
do wrestling vivido na primeira pessoa, mas trazido por um terceiro elemento
que está entre nós e o pessoal que nos transmite a emissão.
Ao vivo sente-se muito mais essa deslocação temporária da nossa pessoa para a do lutador pelo qual torcemos, ou no caso dos mais “sabichões” (que são impenetráveis à “markice”), daquele que mais merece vencer pelas polítiquices de backsatge ou pelo tipo de atleta que é. Está-se a uma distância curta do que se passa no círculo quadrado, os gritos são mais altos que na televisão, quem está ao nosso lado também sofrerá dessa mesma ‘transformação’ e ajuda a que o impacto sentido pela magia do wrestling nos contagie com maior intensidade.
Uns chamam-lhe magia, e eu também gosto de lhe dar esse nome
pelo efeito poético que traz a uma coisa que muitas vezes é menorizada sem se
ter o conhecimento da mesma, mas “tecnicamente”, a sensação de trocarmos de
papel temporariamente com o lutador ou, nos casos menos sensíveis, de sermos o
chefe de claque do mesmo chama-se psicologia de ringue.
Falo muito dela (basta irem ao vasto arquivo do Wrestling Notícias procurar pela série “Sucesso às Fatias”, ou, mais fácil, clicar no link que vai aparecer no final do texto onde diz “Psicologia de Ringue” para perceberem o que digo), principalmente para avaliar combates porque é, de facto, um fator importante. Subjetivo, claro, pelo simples e óbvio fato de aquilo que é para mim poder não ser para o Manuel (mas com uma forte possibilidade de ser avaliado de forma isenta dado o facto de o combate, por norma, se passar perante... o público)... mas é importantíssimo porque, no fundo, trata-se da cativação e a motivação que os lutadores conseguem trazer ao público em geral – o interesse que geram.
É algo tão simples, natural, belo e... essencial que acaba por se tornar na característica (muito discutível, sei-lo bem ;)) mais importante neste desporto. Porque sem atenção, sem fãs, não havia o “nosso desporto”. E como o contrário da existência é a não existência, o aspeto que existe dentro da existência de determinada identidade e que pode comprometer a sua existência é crucial para a sobrevivência desta.
Por outras palavras, a psicologia de ringue é aquilo que fez crescer o wrestling, e que lhe dá vida. É como o oxigénio para nós.
Indo para analogia do oxigénio, há no wrestling atual
algumas àrvores (maiores que outras), que permitem que a indústria vá crescendo
de forma saudável graças ao seu stock inesgotável desse elemento.
Pessoas que: com um olhar fazem levantar uma plateia (The Rock), com uma manobra simplíssima como um murro fechado conseguem fazer delirar o público (The Undertaker) ou que transformam um combate aborrecido em algo extramemente entretido com uma simples interjeição (WOOO! The... Ric Flair!). Todas elas criaram um legado para poder chegar a este ponto – o de permitirem ao público a entrada dentro delas mesmas. Carreiras inteiras de histórias, umas menos boas outras melhores, que lhes deram a popularidade necessária, títulos que ostentaram e com os quais fizeram novos fãs. É assim que a “magia” ganha ainda mais força – a influência de outra magia, a da familiaridade com o atleta.
Os cavalheiros acima mencionados precisaram de carreiras inteiras para gerar as reacções que vão gerando. 5 ou 6 anos no topo para conseguir encantar públicos, e em eras bem mais influenciáveis que a nossa. Já Daniel Bryan precisou de apenas 3 anos enquanto atleta “a sério” para que o público reagisse massivamente a toda e qualquer coisa que ele faça. Quando ele faz o “comeback”, a loucura instala-se no recinto e todos são contagiados, seja-se novo ou velho na indústria. Há braços erguidos no ar, gritos de palavras monosilábicas que se relacionam com o personagem e a indispensável vontade de ganhar o combate... perdão, vê-lo ganhar o combate!
Bryan sempre foi um atleta fora do comum, mas o atleticismo
pode não chegar. Ele não extaordinariamente alto, não tem um físico
impressionante, não tem uma máscara na cara, não vai para o ringue com spandex
luminoso... mas a alma, a forma como se entrega a cada combate, a cada manobra
executada ou sofrido é qualquer coisa como poesia em movimento!
Temos o privilégio de assistir a esse mesmo pico. Finalmente o ex- American Dragon consegue pegar nos 10 mil que costumam vê-lo todas as semanas e fazê-los viver o que os 200 ou 300 viveram enquanto ele comandou a Ring of Honor; familiarizou o mundo do wrestling em geral com a sua presença constante e aguerrida, com a sua loucura contangiante que finalmente! (apesar de ser relativamente curto o tempo de ascensão comparado com outras estrelas... mas para os fãs dele de há mais tempo, parece sempre muito mais tempo), dá dividendos gigantescos em termos de reacções (antes, só com o "Yes!", eram apenas "grandes").
É uma honra presenciar a ascensão deste senhor do ringue que só não crescerá mais no coração de cada um de nós, fãs de wrestling, se os responsáveis da WWE não deixarem.
No meu já está há quase 6 anos, e para muitos dos que me lêem por um período semelhante por aquilo que fez na ROH, mas faltam as massas ficarem agarradas para que Daniel Bryan, o lutador franzino de shorts vermelhos e atitude de guerreiro, fique na história como ficaram o nome de outras lendas.
Agora é a altura ideal para se fazer história, senhores criativos da WWE. Não a estraguem nem a façam menos bonita do que ela merece ser.
P.S.: Mais uma avaliação de combates, que parece estar a ganhar adeptos (e ainda bem). Esta vem "quentinha" da última RAW, e tem o visado da crónica nela (só podia):
Daniel Bryan vs Seth Rollins, (Monday Night RAW - 10.6.2013)