Mac in Touch #39 (extra!) - Payback - análise combate-a-combate (parte I)
Mais uma segunda-feira de ressaca de PPV, mais uma análise no Mac in Touch. A primeira hora e meia do evento já foi analisada por mim e podemos dizer que não foi das melhores primeiras partes de PPV's a que já assisti, mas terminou da melhor maneira com um combate sólido entre Del Rio e Ziggler que dignificou o estatuto do título Mundial de Pesos Pesados.....
Aqui fica:
Payback - análise combate-a-combate (parte I)
Damien Sandow vs Sheamus
O combate beneficiou do seu background e de um público
atipicamente (para um combate de pre-evento) afeto ao mesmo: a história que
trazia de trás, boa ou não, assinalava vários confrontos entre ambos e uma
rivalidade legítima e merecedora de ser levada a sério e o público de Chicago
adere facilmente, embora não seja fácil de agradar. O star power também ajudou
ao desenvolvimento da psicologia de ringue.
Em termos de storytelling, o combate também não teve muitas falhas, desde logo com a incorporação daquilo que deve ser, em termos lógicos, a ofensiva de Damien Sandow ou o contra-ataque àquilo que Sheamus fazia depois de se revelar um lutador mais agressivo e disposto a pôr as mãos no seu adversário sem piedade. Ilustrou-se isso nas últimas semanas e aquilo que ele fez no início e também ao longo do combate foi de encontro a isso mesmo. Contudo, o final pecou pelo que Sheamus não foi fazendo ao longo do combate, evidenciado-se o estilo “super-homem” que vai contra as regras da lógica – surgiu depois de três back-breakers da praxe e um Brogue Kicki quando Sandow dominava completamente o combate. Ou seja, as falhas de storytelling foram poucas, mas relativamente graves.
No que toca ao entrosamento, foi notória a falta dele quando Sandow executou dois neck breakers com o adversário nas cordas que saíram mal “vendidos” por Sheamus (contudo, seria dificíl fazê-lo tendo em atenção as dimensões do “irlandês”, sejamos justos) e ainda quando surgiu um “Eletric Chair” por parte de Sheamus, que foi executado depois deste sofrer murros de Sandow ... que parou quando se apercebeu que ia sofrer o golpe. Evidenciou-se a falta de química entre ambos.
A duração do combate foi boa e seria ideal se Sandow o tivesse ganho, colocando-se uma cereja no topo do bolo “conzinhado” ao longo do combate... mas sendo o seu adversário a vencer, surgiu de forma abrupta e indesejável em termos lógicos. Ou seja, o final e a duração acabam por sair prejudicados da análise
Total: **
Miz vs Wade Barret vs Curtis Axel
O background do combate não era muito favorável para que ele
apelasse à mobilização do público, mas o star power era suficiente para captar
a atenção, ainda por cima com a inclusão de um lutador que, mal ou bem
construído, esteve no main event em 2 das últimas 3 RAWs.
A forma frenética como começou o combate beneficiou-o grandemente, principalmente com a dinâmica a três que a WWE consegue colocar em combates deste género. Foi evidente e até surpreendente (pelo facto de haver, no máximo, uma semana de preparação para o combate dada a lesão de Fandango) o entrosamento entre os três lutadores, que souberam fazer com que os movimentos não parecessem “ensaiados”. Contudo, nem sempre a espetacularidade é aliada à lógica e tivemos um exemplo cabal disso mesmo nesta contenda, com o domínio inicial assumido por Miz e a subvalorização de Axel, quando se devia estar perante uma estrela a ser levada a sério na companhia (no caso do filho de Curt Henning).
O combate conheceu uma travagem brusca quando Wade Barret ficou de fora do ringue, ficando Miz e Axel a tomar conta do recado, o que acabou por ser prejudicial – decréscimos repentinos de interesse são muito pouco aconselháveis - , contudo há que destacar a contribuição do segundo para que o combate tivesse a sua quota parte de manobras bem executadas, sendo justo responsabilizá-lo pelo fato de não se tratar de um combate com pouco ou nenhum atleticismo graças à técnica exemplarmente aplicada por ele.
O final do combate aconteceu na altura certa, mas não foi propriamente credível. Ou seja, em termos de duração não há nada a dizer, mas no que toca ao storytelling e à lógica acabou por ser mau – Wade Barrett estava a ser vítima de um Figure Four Leg Lock, que imobiliza as pernas, e estava a manter os ombros constantemente levantados quando este estava a ser executado... chegou Axel e executou o pin sem haver reacção da parte do campeão, quando o mais certo seria ele escapar ou pelo menos oferecer resistência.
Um combate que merecia outro final, especialmente (e aqui fica uma notazinha fora da avaliação) por se tratar de algo tão bonito quanto a conquista por parte de Curtis Axel de um título que o seu pai tantas vezes tivera à cintura e logo no dia do Pai nos EUA. A alegria do novo campeão intercontinental foi algo que me emocionou, tal como o constante olhar o céu. Um dos momentos marcantes do PPV.
Total: ** 1/2
AJ vs Kaitlyn
Toda a história do admirador secreto favorecia a atenção do
público para este combate, nem que seja apenas pelo tempo que ambas as
lutadoras tiveram no ar (porque não será pela construção ou pela solidez das
promos desta rivalidade que se deve valorizá-lo ou justificar a atenção para
com o mesmo).
O início agressivo por parte de Kaytlin teve toda a lógica pela humilhação a que tinha sido sujeita dias antes às mãos da adversária, assim como a resposta de AJ a este tipo de abordagem mais com o coração do que com a cabeça. O domínio que se gerou desde aí por parte da contendora principal foi de valor acrescentado. Aliás, em termos de storytelling o combate acabou por ser surpreendentemente bom dada a estrutura lógica que se conseguiu montar no mesmo e que encaixou na perfeição na história que antecedia o mesmo, com AJ a levar a melhor em termos mentais contra uma adversária visivelmente afetada pela noite anterior.
Em termos técnicos é que a coisa não funcionou muito bem, com a falta de entrosamento a tornar-se evidente em variadíssimas situações, o que fez perder o interesse do público (compensado, apesar de tudo, pela história ... perdão, pelo tempo que ambas as lutadoras tiveram de TV nas últimas semanas, beneficiando de um “slow build”). O primeiro finisher de AJ correu bem e foi excepção à regra, com Kaytlin a escapar, já o segundo, que determinou o fecho do combate, não sendo mal executado, foi mal vendido pela agora ex-campeão que desistiu com pouca exuberância retirando importância a uma coisa tão importante como o final do combate.
Dean Ambrose vs Kane
Por maior que seja a rivalidade e os assuntos pendentes
entre os Shield e, por exemplo, os Team Hell No, não se pode esperar de um
combate marcado à última da hora uma reacção ferverosa. Não foi obtida e o
facto de o combate ser maioritariamente desenrolado num ritmo baixo prejudicou-o
largamente em termos de psicologia de ringue. O star power compensou isso mesmo,
dado que Ambrose já tem um crédito considerável entre o público da WWE e Kane é
um peso-pesado que já anda nestas andanças, de forma regular, há 15 anos, tendo
andado a ser mais exposto ultimamente, o que o tem beneficiado.
Em termos de storytelling, não há nada a dizer. Não houve manobras mal vendidas, não houve nada que alterasse a estrutura do combate de forma drástica. Creio que até se pode dizer que foi um combate bem construído do ponto de vista da história que se queria contar dentro do mesmo, com pequenas subtilezas que o valorizaram como a “venda” da perna de Kane após dois Japanese Leg Drag’s ou o início com o Big Red Monster a superiorizar-se e a resposta do seu adversário perante um contendor que foi com “muita sede ao pote”.
O entrosamento não foi mau, e permitiu que assistissemos a um combate sem grandes falhas... mas que acaba por não fugir à vulgaridade de uma contenda de show semanal.
O final foi credível e inteligente, ilustrativo da rivalidade entre os Shield e os seus adversários e a assinalar o poder dos “mind games”. Pena não ter sido muito valorizado pelo público em geral (ao vivo e por aqui) – há ainda muitos tabus relativamente a Count-Out’s -, algo que prejudicou a psicologia de ringue.
Total: ** 1/4
Alberto del Rio vs Dolph Ziggler
O fato de ter havido 2 meses sem defesas de título
beneficiou este combate em larga escala. Assim como a subida da “temperatura”
da rivalidade, sorrateira, subiu. Os timmings geridos que culminaram com este
combate foram algo que, não sendo totalmente intencionais, beneficiaram a WWE,
passando a imagem de uma companhia estrategicamente preocupada com a
credibilidade dos seus títulos, mesmo sendo a lesão de Dolph Ziggler a
principal causa disso mesmo...
... que, vou-vos ser sincero, me fez “markar” um bocadinho quando houve ataques sucessivos à cabeça de Ziggler por parte de Del Rio. O eco de cada pontapé de Del Rio ainda se faz sentir nos meus ouvidos e ainda sinto um arrepiozinho como se fosse eu a vítima deles e tivessido sido eu a pessoa que sofreu tais golpes. Excelente trabalho, este de se explorar a lesão de Dolph e, possivelmente, de se favorecer um futuro “heel turn” para Del Rio, que tratou o seu adversário de forma completamente arrogante, assim como à namorada do mesmo (o pontapé de desprezo no cinto de AJ é uma relíquia, se se quiser ter em vista o tal heel turn). Caso se vá numa direcção oposta, tratou-se de um combate completamente contraditório relativamente ao que as personagens têm sido, algo que nem a alegada vontade de ganhar de Del Rio nem a suposta adaptação às circunstâncias (público de Chicago) poderia salvar.
A psicologia do ringue esteve sempre em alta, excepção feita para uma altura em que o público começou a gritar “RVD”, que nada tinha a haver com o combate em questão e que ilustra um pouco a desatenção. Mas de resto, tanto no decorrer como no final do combate, verificou-se um público que aderiu, principalmente por Dolph, vibrando com um final eletrizante e que chegou, com naturalidade, com um pontapé na cabeça de Dolph.
Tudo credível e bem construído, mesmo as “nearfall’s” de Ziggler aos sucessivos golpes na cabeça.
O entrosamento foi o esperado de dois lutadores habituados a
lutar entre eles, tendo Ziggler contribuição especial para o mesmo, com a sua
adaptabilidade a qualquer tipo de estilo. Falhou, é certo, no Famasser, mas de
resto, esteve bem em todos os momentos do combate. Del Rio, poderia ter sido
mais incisivo no ataque a Dolph Ziggler, mas compreende-se que tenha “travado”,
dadas as circunstâncias da sua personagem.
Total: *** 1/4