Mac in Touch #40 - Payback - análise combate-a-combate (parte II)
Continuo a análise ao Payback e onde abordo a segunda parte do evento com a recapitulação do combate CM Punk frente a Chris Jericho e as defesas dos títulos de equipas e da WWE....
Payback - análise combate-a-combate (parte II)
CM Punk vs Chris Jericho
São raros os casos em que o público responde a a um início
de combate lento e disputado sobre o chão, mas quando CM Punk está em Chicago, a
adesão do público foge às regras da normalidade e é natural que, tapando-se o
ringue, se pense que durante o “grappling” inicial estejamos perante o finish
de um combate com gente normal. Mas não estávamos, nem no fim nem perante gente
normal – Y2J é um performer bem acolhido em qualquer parte do mundo, e só por
se opôr a Punk é que obteve uma reacção mais agreste, mas foi mais por se
tratar do adversário do jogador da casa do que propriamente o rival eterno
deste. Ou seja, Punk tornou-se nos Chicago Bears, Y2J num adversário
respeitável (Dallas Cowboys... por aí).
Posto isto, é excusado falar mais na psicologia de ringue
que este combate teve - a um nível tal
de delírio que fez parecer que o combate não correspondeu ao público, já que se
disputou a um ritmo relativamente lento, embora inteligentemente estudado. Quem
não tivesse som na TV ou no PC, poderia apanhar uma desilusão relativamente à “batida”
que estes dois estabeleceram no combate. Algo que custa a compreender quando
estão frente-a-frente dois lutadores experimentados e com história passada entre
eles, e cuja justificação poderá encontrar-se na possível falta de confiança de
Punk, ou da pessoa Phil Brooks, que chegou a “botchar” uma submissão exectuada
ao braço esquerdo de Y2J quando ambos estavam no chão. Mas nem só Punk tem
culpas no cartório, porque também Jericho parecia estar um pouco atarantado,
evidenciando-se isso mesmo quando foi alvo de um Anaconda Vice estando ambos em
pé, e ao qual respondeu lentamente e a abanar o braço que podia usar... para
atacar Punk. Depois caíram e, claro, a reacção não teve a explosão que se
queria.
Enfim, um entrosamento estranhamente pobre entre estes dois.
Em termos de storytelling, foi tudo muitíssimo bem gerido,
desde logo com a exploração dos braços do Y2J, com trocas de domínio bem
vincadas (O Lionsault interrompido; O
Codebreaker executado quando Punk saltava das cordas...) e uma linha contínua
de situações que fizeram sentido perante o que se passou antes. A única exceção
terá sido os strikes (executados, lá está, com pouca intensidade) de Jericho
que acabaram por lhe dar o domínio em alguns pontos do combate.
O final foi vertiginoso, mas a falta de “agressividade” descompensou isso mesmo, sendo evidente num embate do qual se esperaria mais.
Total: *** 1/2
The Shield (Seth Rollins e Roman Reigns) vs Randy Orton e Daniel Bryan
Se a intenção dos criativos da WWE era fazer diminuir a
atenção para os The Shield, dando-lhes a entrada logo após a saída de CM Punk,
então considero que agiram bem... mas duvido e espero que tal não tenha
acontecido, remetendo as responsabilidades para a negligência desses senhores.
As reacções saíram todas “pegadas” e tal prejudicou a reacção do público para este
combate, que foi muito junto ao seu antecessor, que teve a estrela maior do
evento em jogo. O problema foi o tempo? Bem, a WWE deveria ter investido mais
em pensar nisso porque são uma companhia de milhões e milhões de dólares e
obrigam os seus fãs a pagar muito para assistir ao seu produto. Só um desabafo
que acaba por ir ao encontro deste combate, prejudicado claramente por isto,
pese embora a longa história que Daniel Bryan e Randy Orton tem com os The
Shield e toda a disfuncionalidade e desencontro de personalidades dos dois
primeiros que servia de apetite para a atenção do público.
Ainda bem que há lutadores que conseguem combater muitas das
adversidades que lhes são apresentadas, e Daniel Bryan tem sido um exemplo
cabal disso mesmo ao longo do tempo que tem de WWE, superando-se em angles e combates que têm menos destaque ou
dificuldades em “arrancar” e pondo, algumas vezes, de lado, contendas com mais
condições de sucesso. Foi benéfico o
fato de ele ter começado o combate e não Randy Orton, não só pelo estado de
graça em que se encontra como também pelo público que tinha perante ele e que o
recebeu, apesar das condicionantes, de braços abertos. A forma como iniciou o
combate, apesar de um mini-botch (em que as culpas nem foram dele) quando pôs
Reigns no canto contra-atacando os ataques de ombro deste ao seu estômago, é a
todos os níves incrível! A intensidade contagiante, a vibração que traz com ele
são pérolas de psicologia de ringue. Entretanto o combate abrandou, mas Orton
beneficiou daquilo que Bryan já tinha feito e quando pisou o ringue obteve
excelente reacção mantendo-se o estado de graça para com esta equipa, que
conheceu o seu auge quando houve o “hot tag” favorável ao ex-American Dragon,
que limpou o ringue com as manobras do costume, mas com uma reacção do público
que vai crescendo cada vez mais, executando cada golpe com a perfeição do
costume e aprimorando aquilo que devia ser simples, como foi a resposta de um
rollup de Rollins para um No Lock – simplesmente... perfeito (daqueles momentos
em que ficamos com um riso parvo na cara, difícil de tirar)!
De resto, a estrutura do combate foi sólida e não conheceu
grandes golpes de ilógica. Aliás, creio que não conheceu mesmo nenhum, apesar
de não haver nenhum tipo de genialidade no que toca ao storytelling. Foi bom.
A química e o entrosamento foram extraordinários,
nomeadamente quando Daniel Bryan (sempre ele) estava no ringue.
Total: *** 1/2
John Cena vs Ryback
Pela pouca frequência com que se fazem 3 Stages of Hell na
WWE, é bem inserido. Contudo, o contexto é um pouco confuso, a rivalidade não
chegou aos píncaros desejados para se tratar de um combate deste género. É
certo que há a preocupação de se superar o que se fez, e bem, no Extreme Rules,
mas se se mantivesse o Ambulance Match não seria, de todo, mal pensado e até
encaixaria bem no referido combate.
O build-up para o combate remonta já há algum tempo e é um dos fatores que beneficiam o mesmo, contudo, tem havido mais destaque, ou pelo menos maior frenesim, na rivalidade entre os Shield e Daniel Bryan, por exemplo. Ou seja, o contexto em que este combate foi construído é prejudicial para o mesmo, embora a construção não tenha sido, de forma alguma, má – inclusivé pelo fato de Cena ainda não ter “pinnado” Ryback antes deste combate acontecer.
Combate Lumberjack
O “bigfight feel” costuma repercutir-se principalmente no início dos combates, e este primeiro estágio dos 3 Stages of Hell teve isso a seu favor. O público aderiu bem à contenda, e o desenrolar, apesar de lento, do combate, foi contraposto com uma reacção positiva. Neste sentido, destaque também para o super-spot de Cena a atirar-se para um mar de gente e as quedas em “dominó”- algo que não será apagado das memórias de quem viu este PPV durante um longo período de tempo.
A forma como foi gerida a situação dos Lumberjack deve-se destacar, porque o timming em que cada lutador foi lançado às feras foi perfeito, assim como a reacção das mesmas quando tiveram de colocar as mãos à obra.
Em termos de storytelling e de final do combate, creio que aquele Shellshock aplicado do nada (assim como todas as manobras executadas dessa maneira) não beneficiou aquilo que é a credibilidade do combate e a força de John Cena cimentada no “never say die attitude”. Um tão proclamado super-campeão não cairia ao primeiro finisher de um PPV, ainda por cima quando este é um contra-ataque a outro finisher. É bom que a WWE perca os preconceitos que tem de “pinnar” Cena, mas que os faça de forma credível.
Combate de Mesas
Foi credível a abordagem de Ryback a este segundo combate – entrou a todo gás. Era o que devia ser, e ainda bem que assim foi, pela razão da lógica...
... aliás, em termos de storytelling, creio que há muito pouco a apontar, porque o combate também não teve muito por onde explorar nesse sentido – foi demasiado curto (como, porventura, teria de ser) - e o que teve de assinalável foram só coisas boas, como as trocas de domínio, nomeadamente a inicial, onde Cena ganha supremacia sobre Ryback.
O público adormeceu um bocado neste combate, e não aderiu
tanto como no anterior.
De resto, acho que o uso das escadas de acesso ao ringue para partir mesas foi uma ideia particularmente inteligente porque transmitiu uma ideia de brutalidade a quem via o combate, assim como o caos eminente e a diminuição das capacidades do lutador que caísse através da mesa...
Combate de Ambulância
... uma preocupação ridícula no combate de mesas, dado o súbito levantar de Ryback e imediata reacção do “monstro”, completamente absurda para quem acaba de ser atirado através de uma mesa com o uso do finisher de uma personagem que tem tentado ser vendida como “super-campeão” da WWE. Ou seja, em termos de storytelling, o combate de ambulância começou muito mal pelo antecedente ilógico que teve...
... e não melhorou quando vimos Ryback a manter a aura de super-herói ao resistir a arrombamentos da porta da ambulância, a agressões com muletas e um back body drop (por sinal, botchado) sob o vidro do veículo! Enfim, demasiado para um lutador aguentar e ser aceite pelo público razoável, mesmo para o monstro que a WWE quer construir.
O final foi impressionante, é certo, mas teve uma antecedência lógica muito pobre, fosse ou não fosse o tempo o principal inimigo dos responsáveis da WWE.
No geral, um combate de nível insuficiente para figurar num Main Event de um
PPV, ainda por cima quando a estipulação era como que uma novidade! Pecou pela falta de lógica, nomeadamente com a entrada em cena do super-herói Ryback, mas em
termos de “impressionismo” e de apelo à atenção, acabou por ser eficaz.