Uma lição de storytelling por um dos capítulos mais negros da World Wrestling Entertainment, a tragédia de Chris Benoit
O SocialTimes.com publicou um artigo interessante onde analisa a abordagem da WWE à tragédia de Chris Benoit e onde simplesmente eliminou o falecido lutador da sua história. Decisão sensata ou exagerada? Aqui fica a tradução do artigo realizada por Simão Machado....
A 22 de Junho de 2007, a antiga estrela da WWE Chris Benoit matou a mulher, filho e depois suicidou-se. Não muito tempo depois, a WWE fez destruição maciça de tudo que envolvia Benoit deixando poucas marcas da sua existência. Eu acho fascinante que nós permitimos conteúdo para especialistas de marketing falar de um grande jogo ou contar histórias, mas raramente deixamos esses especialistas falar mais do que os outros tipos de marketing fazem. Por isso hoje, vamos falar de uma companhia que realmente produz histórias, e o que podes aprender de uma decisão difícil que eles tiveram que fazer durante um dos capítulos mais negros da história da companhia.
Apesar da WWE ter sido posta numa situação extrema, o incidente Benoit tem precedentes. Na verdade estamos a assistir a algo parecido hoje em dia nas notícias com Aaron Hernandez, antigo jogador dos New England Patriots. Durante a história da NFL houve casos de homicídio envolvendo jogadores como OJ Simpson, Jovan Belcher, Rae Carruth e provavelmente o recente vencedor do Super Bowl Ray Lewis. Agora imaginem se a NFL decidisse remover da sua existência todos os jogos envolvendo esses jogadores, incluindo este último SuperBowl. Não faz sentido pois não?
Pode não ser uma aposta segura, mas aposto que vocês nunca mataram ninguém. Por isso é improvável que estejas na mesma posição que a WWE esteve, mas tu podes encontrar te numa posição em que tens de decidir se vais ou não apagar alguém ou algo que foi parte importante da tua história. O problema em apagar é que estás a atirar o pó para debaixo do tapete, já se não apagares é uma vergonha se não souberes o que estás a fazer.
Isto complica-se quando as histórias produzidas pela WWE, tal como os jogos da NBA, são ficcionais. Por isso apesar de não ser uma pessoa importante durante a história da WWE, Chris Benoit representou a companhia quando ganhou o Royal Rumble 2004 e quando ganhou o Título Mundial no evento principal da Wrestlemania desse ano; e ele fê-lo sob o seu nome real. Isto quer dizer que a linha que separa Benoit pessoa de Benoit lutador é muito ténue. Pensem no problema que seria que o futuro candidato do GOP ao Tennessee Glenn Jacobs, que luta na WWE sob o nome de Kane, se ele fizesse as mesmas coisas que faz como Kane personagem fizesse sob o seu nome real. Por muito hilariante que seja pensar nisso, não era muito agradável estar no senado e saberem que mataste os teus pais, raptaste outros lutadores, e estás sempre a dar uma tareia à lenda do basebol Pete Rose.
Ao apagar Benoit, a WWE está apagar uma boa parte da história no seu universo fictício e isso cria um buraco negro onde ele e suas histórias com outros lutadores existiram. E tendo em conta que a WWE tem em sua posse a maior videoteca do pro wrestling isso cria recursos ilimitados para DVD’s, merchandise, retrospectivas e programas redireccionados, podes ver que a tal buraco negro pode criar um problema para a companhia e respectivos acionistas. Especialmente se esta decisão de apagar um lutador estabelecesse um precedente que seria seguido e expandido para incluir lutadores que fizeram coisas pela companhia, sejam os acionistas ou até mesmo o público. Tu não estás só a apagar o infractor, tu também estás a apagar o combate do outro tipo, o que vai limitar a sua capacidade de vender merchandise (que é como a WWE avalia os esforços do lutador) e isso estraga uma das partes mais lucrativas da companhia.
Tu não deves fazer o que a WWE fez. É difícil culpar a WWE pela sua decisão neste caso particular e eu pessoalmente não os culpo. Mas do ponto de vista de “storytelling”? Não é
uma decisão que tu queiras fazer. Até eu aceitei que houve uma altura em que eu trabalhei como Pai Natal no shopping para me safar durante um período difícil da minha vida. Se alguma vez encontrares um problema com uma história que estás a contar ao público admite o problema. Se tu és o culpado pelo problema primeiro explica como o mesmo aconteceu, como o vais arranjar e depois conta que o arranjaste e como o fizeste. Se não criaste o problema, e os protestantes profissionais e os media estão a fazer um filme disto, ignora-os. A segunda vez que tal ocorrer isso vai gerar visitas e audiências e eles ai irão embora.