Mac in Touch #47 - “Vitórias sem contestação”
Sejam bem-vindos a mais um Mac in Touch. Hoje com uma versão
mais virada para Este do Atlas Mundial. O país é o Japão, a forma de arte o
wrestling e a minha tentativa de ... seduzir. A vocês, leitores do Wrestling
Notícias, para experimentarem um certo produto que vos vai deixar com uma
sensação de bem estar e conforto inexplicável e é proveniente de um país
estrangeiro. Não, não se consome com o
nariz ou com a boca.....
O deleite pelo consumo desta nova experiência é vos trazida pelo olhar e não se trata de nada alucinogénio (tipo aqueles vídeos que andam para aí a publicitar “mokas gratuitas”). É mesmo wrestling na sua arte mais pura, proveniente do Japão, e o mais aproximado possível da lógica, do “a sério”.
O deleite pelo consumo desta nova experiência é vos trazida pelo olhar e não se trata de nada alucinogénio (tipo aqueles vídeos que andam para aí a publicitar “mokas gratuitas”). É mesmo wrestling na sua arte mais pura, proveniente do Japão, e o mais aproximado possível da lógica, do “a sério”.
O torneio G1 Climax decorreu até dia 11 de Agosto e merece
ser mencionado no Mac in Touch.
“Vitórias sem contestação”
Há qualquer coisa em torneios de wrestling que me fascina.
Não só a mim como a outros colegas de paixão neste ou noutros países. Há uma
certa aura dada ao conjunto de eliminatórias, às expetativas de haver tantos
possíveis vencedores (se a coisa fôr bem “bookada”, claro está) e à
superioridade de um sobre o outro lutador que me/nos encanta. Creio que é mesmo
isso: a vontade de ver aqueles que foram superiores aos demais a colidir
conforme se previa quando o tal torneio fora anunciado – apurar o melhor de
entre os seleccionados.
Claro que no “nosso” desporto nem sempre as coisas funcionam como uma meritocracia e há gente bastante talentosa a ficar pelo caminho preterida por quem vai vender, mas só o conceito de se lutar, de se desbravar caminho até se chegar ao trófeu (oportunidade de lutar pelo título, um cinto, uma mala com 1 milhão de dólares... tanto faz) que todos desejam é algo que se aproxima da recompensa pelo mérito de se ser superior aos demais, é algo que se aproxima da lógica que rege o desporto “real”, da “verdade desportiva”.
É essa dose de realidade, essa competitividade que me/nos aproxima afetuosamente de torneios e coisas do género quando estes são instauradas no wrestling.
Pelo mundo ocidental, ficam conhecidos os vários torneios
que a WWE insere para apurar campeões de cintos sem dono, candidatos principais
a títulos ou o ... King of the Ring, inserido no contexto de “Taça”, com várias
eliminatórias até se apurar aquele que será o melhor ante os demais.
Também o Bound for Glory Series merece destaque e até se torna mais completo e aproximado da lógica, à priori: todos os lutadores se enfrentam entre si ao invés de haver eliminações diretas (apesar de existirem pré-eliminatórias), com o resultado final de cada combate a valer pontos. No fim de se enfrentarem todos, os quatro primeiros vão para um sistema tipo “Taça”, com meias finais e um final a apurar o candidato ao título da TNA no maior evento da companhia. Um conceito interessantíssimo, e muitas potencialidades a ser exploradas, nomeadamente... o retorno à origem, à simplicidade de onde se retirou esta ideia. O fato de haver combates “bónus” para além do modelo “todos-contra todos” somado a condicionantes pontuais para além do simples vitória-empate-derrota deixam-nos pouco satisfeitos relativamente ao produto que tencionávamos consumir. Penso que é excusado adicionar-se isso, e deixar o torneio rolar pela “monotonia” da lógica de forma a torná-lo uma das melhores coisas que há no wrestling profissional...
... um pouco como começou por ser e ainda hoje é o G1
Climax. Iniciado em 1974 sob o nome de World League, o G1 Climax tinha a elite
oriental e grandes nomes do mundo ocidental (gaijin) divididos em 2 grupos de 8
homens que se enfrentavam entre si, os 4 primeiros de cada grupo (determinados
por um sistema pontual que, confesso, desconheço) passariam à próxima fase para
se enfrentar, e aí se apuraria o vencedor do torneio, o melhor sobre os
melhores com base de meritocracia. Neste caso, registou-se um empate com três
lutadores, tendo que haver lugar a outro conjunto de combates entre os mesmos
para se apurar o vencedor – Antonio Inoki.
O torneio foi conhecendo modificações, nunca muito longe das
originais, até se chegar ao dia de hoje com uma cobertura mediática incrível no
Japão, receitas fantásticas de bilheteira e um enorme alvoroço à volta de um
conjunto de confrontos que coloca a elite a lutar entre si. Há todo um frenesim
próprio de um certame como uma final da Taça de Portugal por terras lusas, e
uma panóplia de estatísticas que fazem deste torneio algo extremamente
aproximado do que se faz num desporto normal e que traz credibilidade ao
wrestling profissional. A New Japan toma conta da franquia e usa este torneio
que dura uma semana para dar visibilidade ao seu produto, nomeadamente a
lutadores que se querem ver no topo do card e das preferências do público.
A tabela classificativa da edição atual “mexe-se” através de um sistema pontual simples que recompensa a vitória com 2 pontos, atribui ao empate 1 ponto, não ficando os derrotados com qualquer tipo de perda para além da oportunidade de subirem da tabela. Depois disto, os dois primeiros enfrentam-se para apurar o vencedor do torneio G1 Climax!
A febre passa, mas fica a fotografia e o nome do vencedor cravado nas mentes de quem acompanha wrestling profissional no Japão, como se tratasse de um vencedor de Wimbledon ou de Roland Garros. Porque não tratar tão bem o “nosso” desporto como fazem, desde há quase 40 anos a esta parte, os nipónicos? Pode não ser rentável, mas por ser mais lógico não geraria mais receitas, mesmo tendo em conta do conhecimento do público relativamente ao pré-apuramento do vencedor?!
Eu assinaria por baixo para que se fizesse uma coisa destas,
a sério, no mundo Ocidental. É aqui que o wrestling tem mais expressão e pode
ser mais visto pelo resto do mundo, e a faceta cartoonificada do mesmo já
prejudicou por tempo demais a sua imagem.
Vale a pena ver como faz a NJPW, que começou o torneio no primeiro dia deste mês e prolongou-o até dia 11, contando com 20 participantes que lutaram entre si (algumas lutas com direito a nomeação para Combate de ano). Creio que todos os combates e dias do torneio estarão disponíveis, brevemente e de forma gratuita, no Youtube (espero que sim, pois é um torneio que faço questão de ver). Gostaria muito de analisá-los (desde há algum tempo que ando para fazer análises a Puroresu), mas corro o risco de não ter público... ou posso contar convosco?
Fico à espera das respostas!