Polêmica: Quem é Daniel Bryan? Vale a pena apostar no modelo errado?
Para se ter sucesso na WWE, vários elementos precisam alinhar-se para que o lutador persevere. Muitas vezes, vontade de competir e paixão pela modalidade não são o bastante. Muitas vezes, destreza dentro dos ringues não é o bastante. Prestes a ser main eventer do segundo maior evento da companhia de wrestling soberana no mundo, há de se fazer a pergunta: o que diabos estará a WWE pensando para colocar Daniel Bryan como contender ao WWE Championship?
Desde sua estreia como cabeça de cartaz do novo programa NXT, muito mudou no wrestling. A principal mudança, entretanto, se fez por detrás de balneários, partindo da tenra carência de novas estrelas. Não era a toa que em uma década, apenas Sheamus começava a cimentar-se no topo, ainda que como main eventer prematuro.
Todos os outros eram precoces mid-carders que jamais tiveram chances de ascender-se. The Miz começava a ser um líder para as jovens estrelas, tendo tempo de televisão e títulos para mostrar que muito mais do que ring skills, o carisma era essencial.
E quando Daniel estreou, notou-se clara a necessidade de desenvoltura ao portar um microfone. Sua primeira promo foi fraca, nervosa, algo normal se não fosse ele alguém adverso a este tipo de situação.
Suas altercações com um vilão futuro campeão mundial e main eventer de Wrestlemania foram dando-lhe destaque perante a plateia, que passava a enxergá-lo com bons olhos, muito diferente daquele olhar de renúncia aquando debutou. Em uma storyline envolvente e com combates excelentes, finalmente podia-se dizer que Bryan estava selado ao sucesso.
Sendo um mid-carder sólido, sua presença se tornou constante em todos os shows semanais, cumprindo bem a tarefa de qualificar contendas contra oponentes aleatórios. Daniel era o que o consumidor pedia no que concerne ao wrestling.
Mas faltavam palavras, faltava algo que o destacasse perante os outros. Era como se fosse muito bom vê-lo ali em seus cinco minutos de show, para depois se tornar facilmente esquecido. Ninguém se lembrava de sua figura.
O wrestling é conhecido por ser uma modalidade carnavalesca. Quem vê tudo com olhos sapientes não entende. A poesia da luta-livre se abre quando abdicamos do nosso lado de sanidade para apreciar uma arte que não se limita ao mundo real. Se criam efeitos e parâmetros distintos do nosso mundo. Pisam ali gigantes, mortos, loucos.
Bryan ganhou em um terreno que o fazia agora lembrado. Gimmicks são difíceis de renovar-se, mas ali havia um homem louco berrando “sim”, com uma barba por fazer e que tornou-se ainda maior que um gigantesco sujeito com uma máscara vermelha saída de uma festa de carnaval. Era como se fosse impossível não gostar do Submission machine.
Havia sempre um motivo. Ou sua comédia, que por sinal era inteligente apesar do quão bizarro tivesse de ser para chegar lá, ou sua relação com Kane, que tornou-se numa das melhores tag teams dos últimos
tempos pelo simples apreço dos fãs, que compraram fielmente as interpretações de aberrações fidedignas.
Mesmo que por pena, não se podia ver o RAW sem se ver Team Hell No.
Estava completo o ciclo.
Seu esforço foi remediado da maneira correta.
A competência da WWE e cautela ao elevá-lo ao topo pôde ser bem percebida desde que migrou das independentes. Sabia-se das suas dificuldades e elas foram sendo apatacadas na medida à moldá-lo para ser o diamante que é.
Todo o tipo de preconceito contra a sua passagem pelo mundo a lutar em empresas menores foi sendo recompensado por trabalho. As barreiras impostas pelos executivos em relação à suas origens foram quebradas.
E é assim sempre.
Se não fosse Ron Simmons a mostrar que tinha competência para portar um título mundial, talvez os negros ainda fossem tabu na modalidade. Mas ele venceu Big Van Vader.
Se não fossem as mulheres na Rock n Wrestling Connection, a ter destaque nas diversas mídias junto a Cindy Lauper, talvez as competidoras não pudessem hoje em dia pisar em um ringue.
E a história contará que se não fossem Daniel Bryan e CM Punk, competidores como Chris Hero, Tyler Black, El Generico, Jon Moxley e Claudio Castagnoli jamais receberiam chances. Seriam tratados por promotores negligentes que se negariam a ver talento em futuros main eventers de Wrestlemania.
Seu papel foi fundamental. Afinal barreiras só existem para uma finalidade: serem demolidas.
Poucos são os nomes que tem o poder de calar a Vince McMahon e os dois precursores supracitados enquadram-se neste seleto grupo. Seus portes físicos, visual e a maneira de viver; pontos contra o seu sucesso, foram exatamente o que lhes abriram as portas para a conquista das terras não desbravadas.
O público viu algo diferente e gostou. Os oficias viram algo diferente e tiveram de mudar de opinião.
Talvez porque em uma década, estavam ali dois nomes muito melhores do que vinte Sheamus.
Daniel Bryan pode ser pequeno e ir contra as restrições impostas pelos estereótipos do maior promoter de wrestling no mundo, mas afinal de contas, o que faz a modalidade a qual amamos ser tão aclamada é a sua teatralidade. Nada é impossível e nada é padrão na luta-livre. Por isso tantos nomes como James Storm, ainda que talentos gigantescos, nunca conseguirão vingar em big leagues. É assim que passadas décadas nunca se conseguiu dizer a fórmula de sucesso em um local onde talento não lhe leva ao topo.
Por mais que viva em uma selva de leões, Bryan conseguiu contar a história que parecia apenas existir em histórias animadas. A do final feliz.
E quem dirá que o wrestling não é uma história animada?
Neste domingo, ele enfrenta John Cena pelo WWE Championship no main event do Summerslam.
Este capítulo, apesar de não escrito, não precisa ser finalizado com uma vitória, pois o final da história já está definida.
Daniel Bryan já escreveu seu nome da história e de lá não se pode sair. Ele se firma como lenda. Mas não se pode explicar o porquê, afinal o wrestling não é feito de respostas. O wrestling não é algo datado. Se escrevem novas linhas todos os dias e muitos apenas anseiam que naquele dia, prontos ou não, tenham o seu momento. Esperam que a sua vez chegue.
E isto não é conquistar títulos. Isto é quebrar barreiras. Isto é chegar ao topo. Isto é ensinar o homem mais sábio do mundo na matéria de wrestling que pequenos também podem lutar.
A vez de Bryan chegou. Está aí em nossa frente um dos maiores de sempre.
Continuem bem de saúde e até uma próxima ocasião.
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