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Slobber Knocker #65: Do fundo do baú II "SummerSlam 1993"


Bem-vindos a um novo Slobber Knocker que já devem ter percebido que de novo é só o artigo. O tema é uma busca ao baú das memórias, como já fiz uma vez - para um evento da embrionária ECW, ainda Eastern Championship Wrestling, o Super Summer Sizzler Spectacular. E mais uma coisa que tem em comum com essa edição do artigo é o ano do evento. Escolhi o ano de 1993. Podia ter escolhido algum SummerSlam a que tivesse assistido nos meus antigos dias, mas preferi recuar os tempos em que... Eu tinha 5 dias de existência. Logo é óbvio que eu não posso ter assistido a isto na altura, até o vi muito recentemente....

Mas já que cheira tanto a SummerSlam, à medida que o PPV se aproxima tão promissor como ele parece ser, por que não aproveitar esse cheirinho para ir buscar algo relacionado que também tenha um cheiro a mofo agradável? Viajemos no tempo com a segunda edição que realizo do "Do fundo do baú" que analisar o SummerSlam de 1993, 5 dias depois de eu ter vindo ao mundo, como já mencionei.

Razor Ramon derrota Ted DiBiase


O build-up para este combate foi aquilo que eu considerei a Face Turn mais estranha de sempre, por parte do "bad guy" Razor Ramon. Despindo até à raíz, notamos que a Turn deu-se como fruto de uma humilhação. O "The Kid", um jobberzito nada ameaçador conseguira derrotar Razor Ramon em pleno Monday Night Raw, o que criaria o 1-2-3 Kid e muitos cantos de "1,2,3" por parte do público, que gozava forte e feio com Ramon que tinha-a pegada com aquele mocito que viria a fazer coisas pouco bonitas com a Chyna uns anos mais tarde.

Durante esse mesmo frenesim, foi a vez de Ted DiBiase e Irwin R. Schyster gozar com Razor Ramon. E magicamente, o público começou a cantar o nome do "bad guy" em seu apoio. Mesmo que Ted DiBiase apenas estivesse a fazer o mesmo que essa mesma plateia estava a fazer quiçá, momentos antes. E os cantos de "1,2,3" transformaram-se no nome de Razor Ramon em apoio. E após tentativas de vingança contra o futuro X-Pac, do nada transformou-se em respeito e formaram uma equipa. Como disse... Foi uma Turn esquisita.

Mas culminou neste combate que abriu o SummerSlam. Mas apesar de envolver um veterano já lendário e um tipo que andava encaminhado para o main event - e até já lá tinha andado meses antes - não foi nada por aí além. Foi um combate de abertura, entre 7 a 8 minutos e viu Razor Ramon a sair por cima após domínio do Heel - que esse sistema já é antigo. Mas levava heat suficiente para que DiBiase quisesse começar as coisas antes do tempo. No final, o novo babyface vence, calando o gozo e vingando a sua ridicularização... Com os fãs... Os fãs que também gozavam com ele... Pois, é melhor não pensar muito nisso.

Este viria a ser o último combate de Ted DiBiase, que se retiraria dos ringues em 1994 após complicações com uma lesão. Acabaria colocando um tipo mais recém-chegado over. Razor Ramon, por outro lado, continuaria a sua aliança com o 1-2-3 Kid e receberia um push para se tornar Campeão Intercontinental antes do final do ano.

The Steiner Brothers derrotam The Heavenly Bodies pelos WWF Tag Team Championships e retêm os títulos


Nos tempos em que o Scott Steiner ainda não cuspia disparates a torto e a direito. E até era melhor em ringue. Mas houve pouca história a construir este combate e apenas há o pormenor curioso dos Heavenly Bodies nem fazerem parte do plantel da WWF. Um acordo entre a WWF e a Smokey Mountain Wrestling de Jim Cornette permitiu este intercâmbio.

Os Heavenly Bodies, constituídos por Tom Pritchard e Jimmy Del Ray e as suas gimmicks narcissistas, eram os Campeões Tag Team da SMW e apareceriam na WWF, com o linguarudo e ruidoso Jim Cornette a servir de manager. Como parte do acordo, esta equipa receria uma chance pelos títulos de equipas da WWF e a história baseava-se em pouco mais que isto. Aliás, baseava-se nisto.

Foi uma boa altura para a divisão Tag Team, apesar de não ser a época de força. Mas foi uma boa altura porque eram os irmãos Steiner que encabeçavam a divisão e quem quer que fossem os seus adversários, davam sempre bons combates. Neste caso, os Campeões da companhia não só eram Faces como estavam na sua terra-natal, o que lhes permitiu obter um dos maiores pops da noite. O combate decorreu de forma equilibrada e, como não podia deixar de ser, Cornette envolver-se-ia, com a sua raquete de ténis - melhor arma de sempre. Essa mesma raquete viria a ser usada de novo mais à frente, mas com pouco efeito pois após um desentendimento entre os parceiros da companhia visitante, Scott conseguiu finalizar com um Frankensteiner e dar a vitória à sua equipa, mantendo os cintos.

Bom combate e futuramente, os Heavenly Bodies teriam mais algumas aparições mas já não constariam na corrida aos títulos de Tag Team da WWF. Os Steiners, entretanto, ver-se-iam de mãos cheias com uma nova equipa de Canadianos, denominada "The Quebecers", para quem perderiam os títulos algumas semanas/meses mais tarde de forma suja.

Shawn Michaels derrota Mr. Perfect por countout, pelo Intercontinental Championship e retém o título


Com dois nomes destes era obviamente promissor. E a rivalidade até teve um build-up mais decente. Veio um pouco do nada e o propósito foi um "ass-pull" autêntico, mas suporta-se. Wrestlemania IX, Mr. Perfect insatisfeito com o seu adversário Lex Luger, decide ir atrás do "Narcissist" e dar-lhe uma sova. Nisto, Shawn Michaels que também já tivera derrotado Tatanka nessa noite/tarde decide meter o nariz onde não é chamado e ataca Perfect. Daí começariam as turras e a gota d'água viria quando Hennig distrai Michaels quando este defendia o seu título contra Marty Jannetty e fá-lo perder o cinto. Com ajuda do seu recente aliado Diesel, Shawn Michaels viria a recuperar o seu título a tempo de o defender contra o homem que lhe andava a fazer a vida negra no SummerSlam.

Este combate no papel já soava lindo, tendo em conta os talentos que envolvia. Sabendo que Diesel ia andar por lá perto a cheirar também podíamos contar com muito storytelling e que estaríamos à espera que o Campeão Intercontinental fizesse asneiras. O combate começou e foi-se arrastando de forma técnica, do mais belo que estes dois conseguem fazer. As artimanhas começaram assim que Diesel começou a meter o bedelho e a distrair. Já voavam Superkicks e já viravam Perfectplexes, mas foi com interferência directa e física do Nash que, arremessando Perfect contra os degraus, permitiu que Shawn retivesse o seu título através de um countout.

O resultado foi um pouco insípido, apesar de ter sido um bom combate e talvez o primeiro ponto verdadeiramente alto da noite. Mas o final deixou algo a desejar porque já na Wrestlemania, Michaels fora capaz de manter o cinto de forma duvidosa semelhante. No entanto com Diesel lá perto, uma vitória limpa não se esperava, mas pelo menos um pin sujo. Não aconteceu, tivemos um bom combate pelo menos.

A feud foi interrompida e, nem um nem outro teriam algo no seu futuro a curto prazo. Shawn Michaels seria suspenso e teria o seu cinto retirado, até regressar no Survivor Series para substituir Jerry Lawler. Mr. Perfect entraria em feud com Diesel, homem que lhe custara um título e enfrentá-lo-ia no Survivor Series no combate tradicional de equipas. Devido à sua lesão, foi substituído por Randy Savage - já podem notar pelas trocas e baldrocas nesse PPV, que o ano de 1993 foi uma autêntica bagunça em bookings - e só regressaria como árbitro na Wrestlemania X, onde viraria Heel. Entre estes dois não houve mais conflito. Infelizmente, pode dizer-se...

Irwin R. Schyster derrota The 1-2-3 Kid


A história já está contada na bizarra Face Turn de Razor Ramon que culminou no seu encontro com Ted DiBiase. Esta é apenas a outra metade. Se Razor se impôs contra o principal bully, DiBiase, em sua defesa e defesa do seu novo parceiro em quem encontrara respeito, o maior "underdog" actual da companhia tentaria também recuperar a sua honra contra o outro bully, IRS, parceiro de DiBiase.

A história do combate seria óbvia, o que fez do combate muito previsível, para além de curto e pouco agitado. Acabou por sofrer com isso e ficar marcado como um dos combates menos interessantes de todo o PPV. Já esperávamos que 1-2-3 Kid fosse o derradeiro "underdog" sem chance que levaria porradinha da velha durante todo o combate. Mas também sabíamos que o "underdog" tem os seus momentos heróicos e de vez em quando tinha um "boost" daqueles em que conseguia revirar a ofensiva, mas com pouco sucesso. De forma também previsível teria o seu momento de falso alarme em que parecia que ia ganhar mas que ficava a meio do caminho. Já um abdominal stretch com uso das cordas e um "Write Off" - nome que IRS dava à sua clothesline de assinatura - e estava o combate fechado. Breve mas lá contou a sua história.

A feud continuaria de forma mais indirecta e ambos voltariam a enfrentar-se no Survivor Series, no combate de equipas. O 1-2-3 Kid tinha no seu recente rival Razor Ramon, um novo parceiro e IRS perdera o seu, prosseguindo por conta própria. Manteve-se sempre over pois não faltavam os clássicos cantos de "Iiiiirwin... Iiiiirwin" em qualquer arena, reacção sempre teve ele, tal como os seus filhos actualmente. So que nesses, um anda a ter os maiores pops da noite como Heel e o outro a ter mais heat que os outros todos. Trocados mas as reacções etão lá. 1-2-3 Kid também conseguiria manter-se over, sempre como o "underdog". Só ficaria o tipo que conhecemos hoje quando chegassem lá mais uns amigos mas na altura foi-se safando e acabou por ultrapassar o estatuto de "aquele jobber que teve sorte uma vez".

Bret Hart derrota Doink the Clown por desqualificação


Não houve feud entre Bret Hart e Doink the Clown, o combate apenas fez parte da história. A feud era entre Bret e Jerry Lawler naquela que possivelmente seria a maior feud da WWF naquele ano - considerei-a melhor que a do título da WWF até. Em Junho, Bret Hart venceria o torneio King of the Ring, o primeiro a ser transmitido em PPV. Claro que uma coroação iria causar polémica e chamar a atenção de um outro "rei". Jerry Lawler, talvez conheçam o nome. Um dos Heels de topo que não hesitou em atacar Bret e em seguida envolver-se em segmentos em que insultaria a grande família Hart.

Chega à hora de finalmente andar à bulha e Lawler "não estava apto". De canadianas e a dar a entender que tinha tido algum acidente grave, Jerry tentava escapar-se do combate que nem um covarde. Hoje em dia quase que tem os lábios colados nos traseiros dos Faces e condena qualquer acto de um Heel, mesmo que ele fizesse pior, mas isso pronto... Sejam bem-vindos ao wrestling e à sua continuidade e às coisas nas quais não devemos pensar muito. Mas pronto, porque Jerry era um homem bravo, mandou Doink the Clown para o substituir.

Doink decide, então dar um banho a Bruce e Owen Hart, que se encontravam na plateia, antes de levar uma sova do irmão que lá estava no ringue. O combate viria a consistir mais nesse estilo bruto, com Bret a descarregar muita da raiva que queria soltar em Lawler no palhaço até que este conseguiu contra-atacar com manobras mais técnicas. Bret Hart e Doink - interpretado por Matt Osborne (R.I.P.) - dava um bom e promissor festim técnico. Aqui já deu para um aperitivo pois este era um combate que acabaria por ser um "pré-combate". Bret Hart lá lembra que detinha o título de melhor lutador técnico e inverte as submissões a seu favor, conseguindo chegar ao Sharpshooter.

É então aí que o "lesionado" Jerry Lawler decide mostrar o quão lesionado realmente estava ao atacar Bret e dando-lhe a vitória por desqualificação. Quando pensa que já se tinha esquivado do combate, chega o presidente da WWF, Jack Tunney - faz de conta, vá - dizer que ele seria suspenso por tempo indefinido se não competisse com Bret Hart, como estava deveras planeado. E o combate que estava no card e que puxou dinheiro a muitos que compraram o bilhete ou o PPV iria concretizar-se.

Jerry "The King" Lawler derrota Bret Hart por desqualificação


E o combate consistiria no mais puro do "brawling" porque devia ser a feud com mais tensão entre adversários. As próprias canadianas chegaram a ser usadas. Foi mais curto que o combate entre Bret e Doink e foi mais directo ao assunto - detestavam-se logo, andavam à porrada. Eventualmente culminaria na humilhação: Bret Hart utilizaria o Piledriver do próprio Lawler antes de o prender no Sharpshooter.

Aí Jerry desistia e o título de "Undisputed King of the WWF", uma estipulação que estava esquecida lá no meio - a feud tinha-se tornado demasiado pessoal para isso ainda importar assim tanto - seria atribuído a Bret Hart. Isto é, se ele não estivesse com uma pilha de nervos. Não larga o Sharpshooter para fazer Jerry sofrer após todo o desrespeito que ele prestara à sua célebre família. A campainha tocou, desqualificando o "Hitman" e dando o tal título a Lawler que, no momento, só berrava de dor.

Vieram os irmãos tentar acalmá-lo. Vieram oficiais tentar retirá-lo à força. Não adiantava, Bret Hart não largava e não queria saber que tivesse sido desqualificado, como disse, aquilo já se tinha tornado demasiado pessoal. Após três minutos e meio - parece pouco tempo mas não é - ele lá decide dar misericórdia ao dito "rei" e não se importa com a sua derrota. Jerry Lawler pagou e saiu a chorar que nem uma menina. Para ele foi uma vitória, saiu por cima e o público estava do seu lado.

Esta feud viria a prolongar-se durante os seguintes dois anos, pois nós bem sabemos que esta foi uma das maiores feuds que ambos tiveram nas suas carreiras. Mas durou muito tempo devido às suas interrupções. Jerry Lawler iria ter uns "cavaleiros" seus numa equipa para enfrentar a família Hart no Survivor Series mas o escândalo da acusação de abuso sexual de uma menor afastou-o da TV e do ringue. Teve que ser substituído à última da hora por Shawn Michaels. Bret Hart, para se ir entretendo, arranjou problemas com o seu irmão Owen Hart - ou o contrário, este é que quis arranjar problemas a partir de ciúmes. A feud entre Hart e Lawler acabaria por envolver os bizarros angles como o "Kiss My Foot" match e a introdução do estranho personagem Dr. Isaac Yankem - vocês sabem quem é esse.

A participação de Doink the Clown também foi importante, mesmo que não tivesse propósito na história. Após ser usado por Lawler, virou-se contra o "King" e virou Face, perdendo algum do interesse na sua personagem. Um palhaço maléfico é mais giro de se ver do que um palhaço que é... Um palhaço só. Mas ainda tinha a sua piada às vezes. Outro ponto importante foi a saída de Matt Osborne da companhia devido aos seus problemas com drogas e este combate marcou o seu último na WWF. Doink não seria mais interpretado por Osborne e por aquela máscara passou Steve Lombardi - o Brooklyn Brawler - e Ray Apollo, quem se estabeleceria. Como Face, teria feuds com vários midcarders em que os gozava com os múltiplos Doinks. Bastion Booger ou os Headshrinkers foram das principais vítimas e tal "feud" culminaria no Survivor Series, onde os 4 Doinks não eram Doinks - apenas os Man on a Mission e os Bushwhackers pintados de palhaços. Doink voltaria a encontrar e a feudar com Lawler, envolvendo uma data de anões e originando um dos piores combates na história do Survivor Series...

Ludvig Borga derrota Marty Jannetty


Nem houve qualquer tipo de história ou rivalidade propriamente dita que construísse este combate. Pouco propósito para além de colocar Ludvig Borga mais over como um Heel destrutivo e ameaçador. O lutador Finlandês levava a originalíssima gimmick de Anti-USA, com vinhetas que criticavam os Estados Unidos pelo seu estado ambiental, entre outros defeitos. Não conseguiu agarrar-se a uma feud a sério, mas depois disso o Marty Jannetty lá disse "Ah e tal, como eu sou bué fixe, vou defender a nação contra ele". E fez-se o combate.

O plano original supostamente era colocar Marty Jannetty contra Rick Martel, mas vejo-lhe tanto ou menos propósito que o anterior. Ou seja, este combate tinha "chouriço" escrito por todo o lado. E tendo em conta que não passou de um squash com pouco mais de cinco minutos para vaneder Borga como uma besta imparável... Chouriço foi.

O combate foi o típico. Jannetty levou porradinha da mais velha, apresentando de vez em quando e de quando em vez algum raio de luz em que parecia que ia ter alguma ofensiva a sério. Mas sem sucesso, o estilo bruto de artes marciais de Ludvig - para orientar, uma referência moderna de alguém relativamente semelhante pode ser Vladimir Kozlov - saiu por cima e Jannetty não passou de um jobber. Nem parecia que tinha sido Campeão Intercontinental uns mesinhos antes - para a altura, porque actualmente vê-se muito Campeão de midcard a jobbar que nem tolo. 

Após este encontro houve pouco a fazer com Jannetty, que ainda apareceu no Survivor Series numa das equipas secundárias. Com Ludvig Borga já estava o assunto resolvido porque o Finlandês já andava a cheirar os ares do main event ao envolver-se em problemas com Lex Luger, o novo patriota da casa. Esse heat sentir-se-ia também no Survivor Series.

The Undertaker derrota Giant Gonzales num Rest in Peace match


Muito provavelmente a pior feud do Undertaker e que poderá ter originado o pior combate da sua carreira. Pobre Undertaker já teve que aturar cada coisa... Sempre que aparece um gigante novo que mal se mexe, lá tem que ser o Taker a carregá-lo ao início - basta avançar uns anos até à chegada do Great Khali. Nesta altura foi o Giant Gonzalez, um monte de gente que se mexia igual ou pior que o Khali.

Começou com a vingança que o manager Harvey Wippleman queria servir a Undertaker e apresentou-lhe o gigante Mexicano no Royal Rumble para o enfrentar na Wrestlemania. Pior combate que o Dead Man já teve numa Wrestlemania e a mais agridoce vitória da sua streak - por desqualificação. Após o roubo da urna - pobres urnas, muito são usadas - e envolvimento do Mr. Hughes, lá veio o rematch num Rest in Peace match no SummerSlam. As expectativas estavam, de facto, altíssimas.

E correspondeu às baixíssimas expectativas. Poderá ter tido algum valor no storytelling, se a história vos interessar. Mas pronto, Undertaker é excelente, poucos existem melhores que ele, mas... Ele não faz milagres e não ia conseguir carregar um tipo como o Giant Gonzalez para um bom combate. Consistiu mais em "brawling" e em ver os movimentos lentos e pouco realistas do Gonzalez - os seus sells eram desconfortáveis de se ver. Como parte da história, Paul Bearer tinha desaparecido e Wippleman tinha a urna, o que indicava que Taker não tinha poderes - ah, wrestling de antigamente... - mas na mais imprevisível das formas de nos mostrar algo do mais previsível, Bearer regressa, retira a urna e Undertaker recupera os seus poderes e derrota o Giant Gonzalez. E felizmente o combate tinha acabado.

Após o combate, Giant Gonzalez teve uma espécie de Face Turn ao atacar Harvey Wippleman. Mas não deu em nada, porque ele não deu em nada e lá foi à sua vidinha. Undertaker, a partir da ajuda prestada à equipa dos patriotas do Survivor Series, conseguiu um conflito com Yokozuna pelo título da WWF que não conseguiria vencer.

Tatanka e The Smoking Gunns derrotam Bam Bam Bigelow e The Headshrinkers


E por falar em chouriço... É o que parece, mas até havia uma história por aqui. Mas também houve uma mudança de planos, porque em '93 andavam numa disto. O plano original seria um "mixed tag team" com Tatanka e Sherri Martel a enfrentar Bam Bam Bigelow e Luna Vachon, porque aí realmente havia uma rivalidade. Sherri Martel tinha deixado Shawn Michaels após este a tratar mal e ela decidiu juntar-se ao seu adversário da Wrestlemania, Tatanka. HBK apresentou-lhe então uma amiga, uma tal de Luna Vachon, com quem Sherri criaria rivalidade. Luna afastou-se de Michaels e encontrou graça em Bam Bam Bigelow que aproveitou a fervura entre as duas moças para arranjar problemas com Tatanka - e chegou-lhe a cortar a tão significativa e simbólica madeixa de cabelo vermelha.

OK, aceita-se. Dá pretexto para um combate no SummerSlam e até deve dar um combate porreiro. Isto é, se a Sherri não fosse despedida a meio disto - apareceria na ECW pouco depois. Então para emendar vai-se buscar os Smoking Gunns porque sim e os Headshrinkers porque sim. Nem grande rivalidade tinham, as duas equipas, só foram trocando alguns combates ocasionais pela divisão "tag team". Ficou um combate de chouriço e foi assim que se desenvolveu.

Até teve uma boa duração e aguentou mais de 10 minutos mas foi sempre dentro do normal. Na sua estrutura e sem irromper em algo extraordinário. Domínio dos Heels, interferência exterior por parte de Afa, manager dos Headshrinkers, "reboot" de energia da equipa Face sem grande sucesso. Lá foi preciso o momento heróico final e Tatanka soube como aproveitar um erro dos Headshrinkers - ao falar um duplo Diving Headbutt - para conseguir a vitória. Combate mediano mas até nem arrefeceu muito a coisa.

Após este (des)encontro, Tatanka seguiria para um passeiozinho no main event. Juntou-se à equipa dos patriotas do Survivor Series mas uma lesão (kayfabe) causada por Yokozuna retirou-o do combate e fê-lo ser substituído por Undertaker - que juntou-se a uma equipa patriota, algo que não tinha nada a ver, porque "eles lutavam por aquilo que acreditavam". Só isso, Taker? Porque tecnicamente, os Anti-USA também... Mas adiante. Bam Bam Bigelow e os Headshrinkers passariam para a parte "cómica", sendo vítimas do(s) Doink(s), com quem teriam o mais parvo combate do Survivor Series - com Bastion Booger na sua equipa também.

Lex Luger derrota Yokozuna por countout, pelo WWF Championship, mas Yokozuna retém o título


O tão aguardado main event. E a mais desesperada manobra de tentar criar um novo Hulk Hogan após a tentativa de esticar a Hulkamania nesse mesmo ano ter dado em fiasco. Após estrear-se como Heel e ter a sua feud com Mr. Perfect - que passou pela Wrestlemania - virou Face num evento especial de 4 de Julho, com uma overdose de patriotismo, quando aceitou a "BodySlam Challenge". Isto consistia em vários Superstars e até alguns Zés quaisqueres tentar pegar em Yokozuna e aplicar-lhe um Slam. Ninguém conseguiu até vir o último salvador. O anteriormente "Narcissist" mudava gimmick para um patriota dedicado com a frase "Love it or leave it" em relação aos EUA. Como homem forte foi capaz de levantar Yokozuna e aplicar um Slam, mesmo que tosco - não era fácil também, era o Yokozuna.

Tal acto heróico - ainda por cima ele veio de helicóptero - deu-lhe uma oportunidade ao título no SummerSlam. Nas seguintes semanas seria um frenesim caótico de tentar atafulhar Luger como o menino de ouro pelos olhos dos espectadores dentro. O Lex Express, um autocarro que percorria o país a felicitar fãs e muito "Love it or leave it" à mistura. Vinhetas que davam a conhecer o "lado humano" de Lex Luger, onde discutia assuntos delicados como a utilização de esteróides - lies, all lies... E esta era a altura em que confundiam patriotismo com ódio exterior e toda a personagem que fosse estrangeira odiava o país. Ainda mais longe, todo o Japão estava do lado de Yokozuna numa jornada maléfica em destruir os EUA - tempos negros na WWF, estes... - e isto quase parecia a Terceira Guerra Mundial dentro dum ringue. Para heat, Jim Cornette juntou-se a Yokozuna e este andava então com 2 managers - Cornette e Mr. Fuji.

O combate até nem foi mau, mas olhando em retrospectiva para o que se acabou de ver, foi do mais previsível que podia haver. Começou com olhares de tensão, até que partissem para a bulha. Levaram a história do bodyslam mas sempre naquela, Luger já não conseguia com um Yokozuna que estivesse a dar luta. O combate depois seguiu aquela estrutura com Luger, o super-herói a levar a sovinha da vida dele, mas a nunca deixar-se derrotar. E sempre ali com um ar da sua graça, de que iria conseguir sair por cima, mas sem sucesso. Foi preciso chegar à altura do fatal Banzai Drop, que Lex conseguiu esquivar-se, defender-se de/atacar Mr. Fuji, e conseguiu finalmente o bodyslam a Yokozuna. Segue isto com uma cotovelada daquelas - mais uma analogia moderna, pensem no BullHammer do Wade Barrett - que derrubou Yokozuna para fora do ringue. E ainda sobrou porrada para o Cornette.

Conclusão do combate: Yokozuna fica lá fora a dormir com a pancada e não responde à contagem de 10. Lex Luger ganha por count out mas não ganha o título, porque as coisas não funcionam assim. Mas não importou. Ganhou ao gigante e manteve o seu orgulho e o da nação, ao não deixar-se derrotar pelo Japonês maléfico nascido na Samoa. Uma data de Faces foi ao ringue para festejar com Luger a sua não-conquista do título. A estipulação estabelecida na assinatura do contrato - se Luger não sucedesse, não teria mais oportunidade pelo cinto - ficou meia tremida, porque ele não conseguiu o título mas também não perdeu o combate. E com balões das cores da bandeira, foi assim o mais bizarro final do SummerSlam. 

Lex Luger conseguiu manter-se no main event e a sua gimmick patriota permitiu-lhe manter a rivalidade com Yokozuna e descobrir uma nova com Ludvig Borga. As oportunidades pelo título não ficaram em risco pois a sua co-vitória da Royal Rumble com Bret Hart permitiu que ele tivesse mais uma oportunidade na Wrestlemania X. Yokozuna seria ainda o Campeão, o que indicava que conseguiria esmagar - muitas vezes literalmente - toda a competição que lhe apareceu pela frente - o que incluía Undertaker.

Foi assim o SummerSlam de 1993 que apresentei neste Slobber Knocker saudosista. Eu, todo nostálgico a recordar os meus primeiros dias de vida - aqueles é que eram os bons velhos tempos. Em análise... O PPV até nem foi grande coisa. Mas não foi o pior evento do ano, ainda dou esse prémio à Wrestlemania IX, mas também ficou muito aquém. Isto por uma razão muito simples: o ano de 1993 foi um ano desastroso. Os bookings eram pobres, a "Golden Era" tinha acabado mas eles ainda se queriam agarrar a factores dos 80s, tinha problemas em modernizar-se, a WCW andava a crescer cada vez mais a e apertá-los e foi preciso alguns anos e um abanão na programação - Attitude Era - para a WWF voltar a erguer-se. Mas '93 foi um mau ano para a WWF - para aqueles que acham que as coisas são más agora só porque são agora... Não, nesta altura estavam no seu pior e a WWF é que se via apertada com problemas financeiros, algo hilariante de se pensar nos dias de hoje. 

No entanto, podem opôr-se a esta opinião e para isso têm a caixa de comentários que já é vossa para utilizar porque este artigo já está no fim. Espero que tenham gostado - para quem já viu ou para quem já não viu e tem curiosidade em ver - e podem dizer o que acharam deste evento e até o que acham de eu continuar a fazer, de vez em quando, uns artigos "From the Vault". Para a semana voltarei, se não tiver nenhum obstáculo.

Até lá, continuação de um bom Verão e cumprimentos,
Chris JRM

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