Mac in Touch #57 - Battleground 2013 - Análise combate-a-combate (parte II)
Como prometido aqui fica a segunda parte ao último PPV da WWE, o Battleground. Apelo novamente ao vosso feedback, a contrariar a tendência dos últimos textos.
Aqui fica:
Battleground 2013 - Análise combate-a-combate
Cody Rhodes e Goldust vs The Shield (Dean Ambrose e Roman Reigns)
A storyline que
mais toma conta da programação da WWE tem incidido sobre problemáticas sociais
bastante sérias, como é o caso do desemprego ou a desvalorização de um
trabalhador e as suas repercussões no seio familiar e a aparente indiferença e
falta de compaixão de quem toma este tipo de decisões (chefes, supervisores,
patrões, presidentes, etc’s) para com as situações tristes que os seus
empregados vivem ou passam a viver.
O duelo entre os Rhodes e os Shield reflete isso mesmo: uma família corroída pela insensibilidade do corporativismo e pelo abuso de poder do mesmo. Cody ficou sem trabalho, Goldust não conseguiu devolver o emprego ao irmão e no topo disto tudo, Dusty Rhodes, o pai da família, foi agredido por alguem que lhe é querido.
Não faz muito sentido ver HHH e Stephanie, na condição de figuras de autoridade pouco viradadas para a bondade, atribuir oportunidades atrás de oportunidades, pelo que este combate acaba por não ter muita lógica... mas toda a tensão social que se vive atualmente com problemáticas como o desemprego e o ódio ao corporativismo (ardentes nos EUA) assim como a inserção de figuras carismáticas para o público da WWE no ringue (ou à volta dele) quase que fazia valer o custo de se ignorar a lógica e ir em frente com o combate. Assim foi, e o retorno foi extraordinário, pelo menos em termos de receção do público – esteve completamente a favor dos Rhodes (facto extraordinário, principalmente por estarmos em Nova Iorque e os The Shield serem uma equipa bastante querida entre a IWC), ficando na retina e nos timpânos cânticos como “We Want Goldust”, o enorme “yeah!” que se fez ouvir quando se registou o hot tag e ainda o pop gigantesco quando Dusty Rhodes usou a Bionic Elbow em Dean Ambrose. Tudo isto e outros spots marcantes (vem-me à cabeça o dive de Goldust e é só um exemplo) foram geridos de uma forma bastante lúcida e lógica (da perspetiva da receção do público) pelo que há que se tirar o chapéu a todos os intervenientes pela psicologia de ringue.
No que diz respeito ao storytelling, tínhamos intervenientes que sabiam o que faziam, com experiência em ringue suficiente para saber fazer durar um combate de 15/20 minutos e assim o tivemos. O início fulgurante dos Rhodes é lógico do ponto de vista da história e da motivação que ambos traziam para o combate, assim como os fogachos de domínio que os Shield foram tendo (sempre conseguidos através de matreirice). No fundo, o fio condutor da história foi pautado por um elemento que qualquer combate wrestling deve ter no que ao storytelling diz respeito: simplicidade.
O final foi simplesmente caótico e teve uma receção incrível como só poderia acontecer. Afinal, o clímax aconteceu quando não dava para subir mais a expetativa de quem assistia ao combate.
Total: *** 3/4
Bray Wyatt vs Kofi Kingston
Os Wyatt’s, pela
voz do seu líder, Bray, têm prometido fazer cair cada lutador do balneário da
WWE. Será pela inadaptação ou inadequação dos mesmos às regras da sociedade e
pelo ódio a pessoas que parecem sentir. Por esse prisma, aceita-se que Kofi
Kingston seja encarado como adversário tal como seria aceitável se fosse um
Zack Ryder ou um Brodus Clay (simplesmente por fazerem parte do roster da WWE).
Contudo, a falta de construção prejudicaria sempre o combate no aspeto da
receção do público, e assim aconteceu neste caso concrecto. A isto não ajudou o
facto do público só conseguir “comprar” dele a imagem de uma personagem
estranha quando se quer passar para fora a figura de um monstro sem remorsos e
com gosto em infligir dor. Resultado? Pouca aderência do público ao combate
(daquele tipo de alheamento em que até se ouvem cânticos não-relacionados com
qualquer dos presentes no ringue) e fraca psicologia de ringue.
Em termos de storytelling, é justo dizer que se notou uma evolução de Bray Wyatt relativamente ao combate com Kane (no Sumemrslam) e que o encadeamento lógico fez mais sentido, contudo, houve a falta de entrosamento que se notou, e as limitações de Wyatt não ajudaram a trazer sentido ao combate.
O final surgiu de forma algo espetacular, um contra-ataque, com um finisher a um signature move é sempre bonito de se ver.
Ah, e claro, não
seria justo deixar passar em branco aquele momento em que Wyatt começa a andar
a fazer a “ponte” (quase como uma aranha).
Total: **
CM Punk vs Ryback
Punk procurava
redenção após três derrotas consecutivas “para” Paul Heyman. A primeira ditou o
rompimento entre os dois e custou ao Straight Edge a oportunidade de conquistar
a mala do Money in the Bank que lhe daria a oportunidade de lutar pelo título
da WWE, a segunda também aconteceu com a intreferência Heyman ante Brock Lesnar
e a terceira aconteceu com Heyman em cima de Punk, derrotando-o num combate de
wrestling, o que lhe permitia esfergar a sua alegada superioridade na cara do
antigo cliente e melhor amigo, mais uma acha para a fogueira da rivalidade
entre os dois e que teve o “patrocínio” de Ryback, que intreferiu no combate
onde Punk e Heyman, oferecendo a vitória ao segundo.
Formou-se uma
nova aliança e um novo alvo a abater para CM Punk num contexto que beneficia um
combate de wrestling, mesmo tendo em conta que os protagonistas da rivalidade
não pisam o ringue ao mesmo tempo (Punk e Heyman), pelo que a receção do
público seria sempre significativa, como foi, e o combate teria sempre alguma importância
histórica. Posto isto, e ainda o facto de estarem envolvidos dois nomes
bastante populares na “cena” do wrestling atual (outra vez Punk e Heyman),
tornavam a psicologia de ringue bem mais fácil de se concretizar... mesmo tendo
em conta um possível alheamento de Ryback na interação com o público, como é
normal nele. Mas até isso foi compensado por spots como aquele em que Punk
bateu com as costas no poste do ringue ou a elbow drop que este executou numa
altura em que a tensão estava nos píncaros.
No que diz respeito ao storytelling, foi um combate bem estruturado. O mini-domínio, se é que se pode chamar assim, de Ryback foi devidamente efetuado pela superioridade física, vindo depois a vontade de vencer e a experiência de Punk ao de cima. Fiquei agradado pelo facto de a mudança de domínio não ter acontecido sob circunstâncias previsíveis (Ryback tentou usar aquelas táticas dos heels para ficar por cima, mas não o logrou). Depois de finalmente Punk ter ficado por baixo e Ryback com o domínio do encontro, a coisa descambou um bocadinho com uma dose (baixa, vá) de underselling por parte de Punk, reagindo cedo demais a um headlock precedido de alguns “power moves”.
O final é excelente, não tanto pela espetacularidade ou pelo encadeamento lógico (aconteceu de forma brusca, o que é sempre de lamentar) em que se inseriu mas sim pelo contexto da história da rivalidade entre Punk e Heyman – ele usou uma das táticas do seu antigo “mentor” para derrotar o oponente que o representava.
Quando há algo
imprevisível (derrota de Ryback) e lógico (no contexto histórico, sublinho) a
acontecer no wrestling profissional, ainda para mais nos dias de hoje, é sempre
de enaltecer.
Total: ***
Combate pelo título da WWE
Daniel Bryan vs Randy Orton
O “Big Fight Feel”
só podia estar presente num combate desta nomeada: Bryan é a estrela mais popular
da WWE neste momento, facilmente adorado pela IWC pelo que faz no ringue e pelo
resto do público pelo facto de ser a figura da oposição ao sistema instaurado,
ao corporativismo; é um main event de um PPV da WWE e isso significa muito nos
últimos tempos; Orton continua em alta entre o público, na medida em que
ninguém lhe fica indiferente. A isto tudo ainda se junta todo o contexto desta
rivalidade (é o prato principal da WWE) para apimentar.
A psicologia de ringue beneficia de todos estes fatores... e mais um, como é o de se estarem no mercado de Nova Iorque, com um público que se entrega facilmente à contenda, ainda para mais com Daniel Bryan dentro dela. Os spots vistosos, nomeadamente o dive de Bryan do topo das cordas para o chão, o superplex de Orton ou aquela cabeçada “voadora”, foram todos bem geridos, surgindo em alturas estratégicas em que se pedia um aceleramento da excitação. Mas a psicologia de ringue não se resumiu a isso, merecendo também destaque a troca de murros entre ambos com gritos cheios de intenção e entrega de “YES” e “NO” vindos das bancadas.
No que concerne
ao storytelling, a abordagem ao combate podia ter tido maior agressividade por
parte de Orton dado o incentivo de HHH e Stephanie para que ele se galvanizasse
e voltasse a ser massacrante como fora no passado. Contudo, entendo que se
adopte uma postura calculista para mais tarde se capitalizar em agressividade devastadora
(tal como fazia antes), pelo que se aceita o lock up inicial. Aliás, até merece
elogios pelo facto de ter sido feito com simplicidade e a uma velocidade lenta
mas completamente aceitável.
Houve rasgos de ambas as partes, e o domínio começou a dividir-se com o Inverted Headlock BackBreaker. Daí até final houve cuidado nas transições de domínio e um encadeamento lógico perfeitamente aceitável que não exigiu muito esforço mental para se compreender o que se ia passando no combate. Quando assim é, um fã de wrestling não pode pedir muito mais... o problema é que o combate não acaba no meio, e aquilo que se passou no final foi bastante confuso...
... isso
prejudicou o combate, mais em termos de psicologia de ringue que outra coisa,
porque acaba por ser lógico o facto de ambos os lutadores ficarem “knockout” e
ainda se aceita não haver àrbitro porque Scott Armstrong era o eleito de Maddox
e Stepanie McMahon e HHH estavam fora... ups, afinal ter dois membros de chefia
da WWE e que têm encabeçado os shows semanais a sair a meio de um evento maior
da empresa não faz assim tanto sentido.
O combate
terminou, portanto, de uma maneira que o prejudicou, revelando-se infrutíferas
as excelentes performances de ambos os lutadores antes do mesmo.
Total: *** 1/2