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Slobber Knocker #78: Isso não se resolve num ringue!


Bem-vindos a mais uma edição do Slobber Knocker, que já começa a somar muito artigo, muita palavra, muito tempo a escrever. 

Esta semana já temos Big Show de volta à WWE - como se ele já tivesse saído - e até já ganhou uma candidatura ao título da WWE no Survivor Series. Com os seus problemas, mas até tem sido uma história apelativa e tem dado televisão interessante. Apenas existe aquele pormenor que já é frequente no wrestling... O seu formato novelesco puxa drama... E para haver drama é preciso algo que o mova... E muitas das vezes vão buscar assuntos de fora... E temos os mais bizarros problemas a ser resolvidos em ringue!...

É preciso disto, não podemos ter anos de TV a basear-se em "não gosto de ti e tens um título, bora andar à porrada?" e têm que arranjar assim umas voltas. Neste artigo vou apresentar alguns exemplos que venham à mente - haverão mais - e vou apontar o quão surreal eles podem ser. Mas sem me importar muito, afinal de contas... Quando estamos a ver wrestling temos que desligar a parte do cérebro que procura realismo e lógica e simplesmente desfrutar o espectáculo.

Comecemos por analisar o caso que deu a ideia ao artigo, pelo simples facto de dar a ideia ao artigo, porque até nem é dos maiores nem dos mais escandalosos:

O processo de Big Show


Tem sido um caso complicado e trabalhoso para todos os envolvidos. Começou com a manipulação de Big Show a fazer o que não queria - se quisermos recuar ainda mais, começa no momento em que Big Show tem um contrato "Iron Claw" mas do qual não quiseram saber e fizeram questão de dizer que não vale nada. Bom saber que dão valor aos seus contratos. Daí para a frente tivemos Big Show a fartar-se, a ser despedido, a continuar a interferir, a processar a companhia, a ser banido, etc etc. Ainda conhecemos a história.

Até já meteu advogados. Ou o mais próximo que têm lá de um advogado - e assim David Otunga tem tempo de antena desde os tempos de carqueja, já não se pode sentir tão mal por estar a viver às custas da mulher.  Desde o momento em que sabemos que mete advogados, já sabemos que talvez o ringue não seja o sítio mais ideal para se tratar do assunto. Mas já tanto advogado passou por lá que agora, se vier a ter problemas sérios - e bato na madeira para que não chegue a isso - tenha o meu advogado ao meu lado... Dentro de um ringue.

Ao que parece, o caso foi simplesmente resolvido com a devolução do emprego e uma oportunidade ao título. Se assim não fosse, lá vinha o processo. Para ser completo, o processo também devia ser feito em ringue. Mas lá está... Para que é que a gente vai criticar quando é suposto ser mesmo assim e nós gostamos?

E este até nem é o caso mais extraordinário. Ainda souberam mantê-lo mais mundano e separando a parte do wrestling com a parte exterior. Apenas introduz o artigo porque daqui extraí a ideia, já o disse. Olhemos para casos mais extremos e até engraçados, como é o caso deste:

Poder / A posse de uma companhia


Isto é porreiro. E lutar pela posse de alguma coisa nem é algo que pareça minimamente de criança no recreio. Mas afinal também é possível colocar homens crescidos a fazer isto e de forma séria.

Ser dono de uma companhia é algo sério e a posição de uma chefia é algo que não se pode tomar por garantido, mas existe um longo processo legal antes de retirar esse título a alguém. A não ser que se faça parte do wrestling, neste caso, tanto a posse da companhia como a chefia pode ser decidida... À porrada. Imaginem que são donos de uma empresa, existe um outro empresário rival a tentar comprá-la e decidem estabelecer quem fica com ela num duelo no parque de estacionamento. Perdem e lá têm que dar as coisinhas. Assim é que são bons negócios.

Não aconteceu em assim tantas ocasiões. Nem a personagem Vince McMahon seria capaz de arriscar o seu bebé preferido - mais amado que os próprios filhos - e colocá-lo em jogo contra outro alguém. Mas lá teve as suas loucuras. Também acontece com General Managers mesmo que, muitas das vezes não sendo eles lutadores, tenham que recorrer a alguma avaliação do seu trabalho - no wrestling? Porquê? Como assim? - em vez de uma batalha árdua. Um exemplo recente pode ser o caso do homem do "People Power", o Johnny Ace de que tanto sentimos a falta: despedido do seu cargo de General Manager pelo Cena ter saído duma jaula. Recuando um pouco mais no tempo e atravessando para o outro lado da estrada, Hulk Hogan cedeu a posse da TNA de volta a Dixie Carter, após perder uma luta que aceitou após ceder à pressão do Joker.

E nós entretidos a ver, porque assim o deve ser. Nunca vemos no jornal que o chefe de uma cadeia de hipermercados vai deixar o seu cargo, após um moço que o representava ter perdido uma briga com um outro moço que representava um outro magnata. O encarregado de uma fábrica não pode convencer o patrão a manter o emprego, desatando à bulha com os outros empregados - mas este até era interessante. É verdade que é um negócio que se movimenta à volta de indivíduos a lutar, mas lá se fazem os tais cruzamentos que não fazem todo o sentido... Mas quem se importa? Agora estamos é à espera do combate que dê a companhia ao Triple H de forma definitiva e mais nada...

Uma companhia é algo muito grande e que engloba muita coisa. Mas também há pequenos objectos que não podem andar aí de mão em mão...

Uma medalha olímpica


Não sei se há alguma coisa na carreira de Kurt Angle da qual ele se orgulhe mais do que a sua medalha Olímpica. Legítima, sem guião e com o pescoço partido. E a representar tão orgulhosamente o seu país. Mas não é por isso que ele vai deixar de a "defender" em TV, em companhias que nada têm a ver e que não têm qualquer poder sobre uma medalha  dos Jogos Olímpicos.

Mas pelo menos três situações se deram: uma em 2005, em que Angle simplesmente desafiou gente até se ver à rasca com Eugene e colocar a medalha em jogo contra o mesmo no SummerSlam - não arranjaram nada melhor para Angle no SummerSlam desse ano do que um combate de 4 minutos contra o Eugene, aparentemente. Claro que reteve. Uma feud com AJ Styles em 2008 levou a um combate Ladder por essa mesma medalha e também na TNA, 3 anos depois voltaria a colocar a medalha em jogo no milésimo combate da feud com Jeff Jarrett. Sim, ele conseguiu "reter" a medalha em todas as situações. Pudera... Mas... Que poder teria a WWE e a TNA sobre um prémio Olímpico?

Talvez não seja uma situação que se adeque 100% ao título deste artigo. Este é um assunto que se resolve num ringue porque já ficou resolvido e selado no ringue em que a tal medalha foi disputada. E a partir daí, não há mais nada a resolver, a medalha é de Angle e ponto final. Lá por ter muito poder, quem é a WWE para dar uma medalha não pertencente a eles a um outro lutador que só conhece os Jogos Olímpicos da TV? - talvez seja exagero, não importa. Estaríamos mesmo a imaginar as tabelas dos vencedores Olímpicos a chegar ao ano de 1996 e ver lá o Jeff Jarrett, com uma informação entre parêntesis a dizer (ganhou-a ao Kurt Angle em 2011, numa companhia não relacionada, num combate planeado, como parte de uma série de combates culminativos de um conflito pessoal)? Não parece muito plausível.

Mas lá está... A gente sabe o produto que está a ver, encolhe os ombros, solta uma pequena risada e relaxa e assiste ao espectáculo e ao grande combate que se dará - visto que estamos a falar de uma situação que envolve especificamente o Kurt Angle. O que seria problema é que já meio sabemos o que vai acontecer e já sabemos quem é o vencedor porque a companhia não se vai pôr a jeito de trazer as questões colocadas no parágrafo anterior ao cimo. Jogam pelo seguro, brincando com coisas pouco seguras. E a gente vê e não se importa...

Mas agora uma situação que até pode nem envolver um combate. A situação em si é um acto... E um acto que devia ser feito em todo o lado menos num ringue! Mas eles lá insistem!

Casamentos


Agora estou a imaginar isto como o sonho de qualquer jovem rapariga: casar... no meio de um ringue! Nada mais inspirador e mágico que pai a levar a filha pelo braço... Até ao ringue, sentar-se na segunda corda para que ela entre e entregá-la ao noivo que ali está no meio, para se celebrar o matrimónio por cima de restos de sangue, suor e cuspo que outros marmanjos lá deixaram depois de terem andado lá a rebolar enquanto se tentam derrubar. Se calhar até nem é assim muito diferente de uma Igreja e o mesmo também acontece lá, mas agora de repente não me sobe isso à mente. Nem eu sou propriamente da opinião que um casamento tenha que ser na Igreja, era o que faltava. Portanto... À medida que escrevo isto cada vez mais me converto à ideia de que afinal o ringue realmente é o melhor sítio.

Sendo ideal ou não, não deixa de parecer estranho que num bloco de 2 ou 3 horas cuja programação consiste em variados combates para promover a sua arte, a sua modalidade, de vez em quando lá para o meio também se meta um casamento - que nunca acaba bem. Apesar de dar um bom slogan para uma agência: "Temos homens de calções curtos a lutar, jaulas, anões vestidos de touro e casamentos". Agora quero abrir esse negócio.

Um outro problema com os casamentos é que às vezes nos deixam ficar mal. Quando querem defender perante outros que o que vocês estão a ver é um produto rijo e bruto. E dão a mostrar... No momento em que têm um altar no ringue e dois noivos. E para ter a certeza que pareça que ligaste numa novela da Globo, ainda vêm a mostrar evidências dos noivos andar a "encornear-se" um ao outro com outros membros do plantel, para resultar numa choradeira. E quem quer que estivessem a tentar convencer sai a rir-se e vocês ali ficam embasbacados. Até fiz uma referência à feud entre Edge e Undertaker, que envolveu o casamento do Rated R Superstar com Vickie Guerrero... E que originou num tremendo combate Hell in a Cell. Mas se calhar para esse combate, já não tinham ninguém por perto e é quando estão sozinhos que as melhores coisas estão a acontecer. E quando voltam a apanhar-vos a assistir a tal, se calhar já vêem um outro casamento dentro duma jaula, com os dois noivos em roupa interior! - assim até é fixe! Mas depois da confusão passar, lembram-se que diferença vos faz que hajam segmentos destes... Numa porra de um ringue de wrestling! O tal controverso "Sports Entertainment" engloba muita coisa e estes segmentos fazem parte de todo o espectáculo que, mesmo tendo a sua "modalidade", acaba por ser dos programas mais variados em conteúdo que se encontra pela TV. Há lutas, concursos de dança, conversa, comédia, drama e casamentos! E porque o casamento do Kane com a Lita foi brutal, também...

Mas pronto, da próxima vez que tiverem dúvidas sobre onde queiram casar e vos ocorrer um ringue de wrestling... Já não são os primeiros! Por muito estranha que vejam a relação entre uma cerimónia desse calibre e um ringue feito para suportar dois ou mais homens/mulheres a ter um embate físico... Acontece com frequência!

E depois do casamento vêm os filhos, o que me leva a uma nova categoria mais bizarra e que não acontece muito frequentemente, este já é um caso que vai longe demais e por isso só me recordo de um acontecimento:

A custódia de um filho!


Muitos ainda se lembrarão da rivalidade entre Rey Mysterio e Eddie Guerrero. Dois tremendos lutadores e grandes amigos, o que automaticamente lhes dava uma excelente química. Mas foram buscar uma história... Lá porque são Mexicanos, tinham mesmo que ir consultar guiões de novelas Mexicanas? Ou porquê buscar algo tão pessoal? Mas de facto não é todos os dias que se luta pela custódia de um filho!

Lá decidiram ir buscar a família de Mysterio e metê-la à baila, com uma história que afirmava que Eddie é que era o pai biológico de Dominick, o já conhecido filho de Rey Mysterio. Realmente meteu advogados. Meteu papéis legais. Mas ao fim, o raio da custódia estava pendurada no ar, com o propósito de ser alcançada com uma escada para decidir quem é que ficava com a criatura! Quem precisa de processos legais e problemas familiares quando pode muito bem marcar-se um combate Ladder entre os envolventes para decidir um assunto delicado. E faça-se assim com tudo. Um jovem maltratado pelos pais quer emancipar-se? Só tem que derrotar ambos os pais num Cage Match. Um casal a divorciar-se e a decidir quem fica com os filhos? Um simples 2 out of 3 Falls decide. Há uma herança para dividir entre dois irmãos que até se dão bem e nem estão assim tão importados com isso? Não é relevante, decide-se num Falls Count Anywhere em todo o Tribunal. Mais uma vez, à medida que vou escrevendo, vou achando que este sistema era lindo e infalível.

É possível que seja um dos casos mais irrealistas que a WWE já nos apresentou. Tentam fazer-nos acreditar que uma companhia tem poder sobre assuntos de tribunal e que este mesmo lhes deu a permissão de definir um vencedor de um caso, através de uma luta física. Um caso que leva semanas, meses de dores de cabeça e papeladas e visitas aos tribunais, a ser resolvido ao vivo em pay-per-view, em frente a milhares de pessoas e com escadas metidas ao barulho. A vida de uma criança nas mãos de um velho louco como Vince McMahon que deixou homens lutar num ringue para decidir tal.

Surreal e louco. De abanarmos a cabeça em desdém. Até olharmos para o canto inferior esquerdo do ecrã e vermos o logo que nos lembra a programação que estamos a ver. Até vermos o tal combate Ladder entre dois estupendos lutadores a dar grande espectáculo e a colocar-nos na beira da cadeira. E até nos lembrarmos que o wrestling tem disto e são estas coisas surreais que fazem do tal "sports entertainment" uma coisa única... Já fartinhos nós estamos de saber de quem Dominick é filho - ou assumimos nós, sobre a vida privada deles sabemos nada - e sabemos bem que ele não vai mudar de mãos. Mas tal como já disse, é questão de sentar, relaxar, soltar uma risada e continuar a ver o nosso programa favorito porque já sabemos o que a casa gasta...

E porque não acabar com um caso bastante cómico?

Ai Russo, Russo...


Claro que uma bem boa tinha que vir do Sr. Russo e das suas histórias fantásticas. Esta conhecida história, nem sei se a hei de incluir como um caso de uma situação que não devia ser resolvida num ringue, porque... Não é assunto demasiado sério para um ringue, mas acho que é demasiado... Pessoal para ser exposto. Mas parece que um combate "Viagra on a Pole" dá boas audiências! Russo, o homem que adorava combates "On a Pole" quase todas as semanas, lá teio que vir a altura em que ele quis pendurar no varão algo que... Levantasse outro varão...

Dois tremendos lutadores, Shane Douglas e Billy Kidman. Reduzidos a isto. E um deles foi dos principais responsáveis pela fundação da Extreme Championship Wrestling. Aqui não conseguia sequer levantar o Zé. A fantástica história girava à volta de "sex tapes", com uma do Billy Kidman com a Torrie Wilson, que foi um momento escaldante de TV para quem gosta de ver lençóis a mexer-se - também não tinham mais para mostrar, nem havia razão para isso, se quisessem ver disso, era noutro canal. E quem também queria fazer o mesmo era o Shane Douglas - e com a Torrie Wilson na mesma, era fresca - só que ele não conseguia, vá... Pôr o motor a trabalhar, diga-se.

E claro, isto é razão para se ocupar tempo de TV na programação da WCW. E o melhor que se podia fazer era o célebre, lendário e tão recordado combate "Viagra on a Pole" que viu Shane Douglas a tentar ganhar um frasco de pastilhinhas azuis que lhe iam ajudar a fazer sex tapes com sucesso. Uma boa causa. E a melhor desculpa para os comentadores fazerem comentários javardos.

Será que era um assunto a ser tratado em ringue?... Sempre!

Já que acabei nesta nota mais cómica, deixo o assunto agora a vosso cargo para se lembrarem de outros casos deste calibre e que eu não me tenha recordado. Espero que tenham gostado e que o assunto tenha sido minimamente apelativo e que desse para pensar um pouco. E mais uma vez, volto a dizê-lo, isto não é uma crítica, é apenas uma reflexão e uma análise de curiosidades, pois não levo nada disto à cruz... Sei o programa que estou a ver e já sei como costuma funcionar e à base do quê. E agora é a vossa vez de continuar. Para a semana, a ver que assunto vos trago.

Até lá fiquem bem e um bom S. Martinho a todos.

Cumprimentos,
Chris JRM

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