Mac in Touch # 68 (extra) - Análise combate a combate - TLC (parte II)
Aqui fica o prometido Mac in Touch com a continuação da análise do TLC 2013. Espero as vossas críticas e comentários, ao contrário do que se verificou no último post (mas atenção, compreendo que não tenham comentado, afinal o TLC já não é, propriamente, um tema "fresco").
Terminarei a minha análise do evento incluindo o combate de tag team, e todos os combates desde o Miz vs Kofi Kingston até final.
Deixo, mais uma vez, o apelo às vossas críticas, aqui fica:
TLC 2013 - Análise combate-a-combate (parte II)
Combate pelos títulos de Tag Team
Cody Rhodes e Goldust (c) vs Big Show e Rey Mysterio vs Curtis Axel e Ryback vs Real Americans (Antonio Cesaro e Jack Swagger)
Olhando para cada
um dos intervenientes, só podíamos ter um público atento ao combate: Rey Mysterio
será sempre um fenómeno de popularidade, Big Show a mesma coisa, os Real
Americans tem crescido em termos de popularidade e já se nota uma substancial
legião de fãs, Ryback e Axel são estrelas em ascensão e os campeões de Tag
Team, os Rhodes, têm protagonizado excelentes espétaculos nos últimos tempos,
pelo que o público não lhe seria indiferente (ainda por cima tendo em conta o
facto de Dusty Rhodes, o pai destes “meninos”, ser nativo do estado do Texas,
onde se realizou o evento). Ou seja, no que diz respeito à psicologia de
ringue, os fãs da WWE já estariam bem servidos, sentido-se desde logo um
ambiente fantástico (para a dimensão) à volta do combate algo que já se
esperava, apesar da pobre preparação para este combate. Uma pena não ter sido
potenciado ao máximo.
Em termos de
storytelling, a contenda decorreu normalmente, sem grandes falhas em termos
lógicos e com os irmãos Rhodes a superiorizarem-se de forma clara. Houve
momentos marcantes e entusiásticos mas tiveram sempre o “condão” da lógica
sobre eles. Lembro-me das “chapadas” de Big Show em Axel ou do desespero de
Goldust a fazer o tag como exemplos de momentos fantásticos e brindados com
lógica que deveriam constar nos livros de aprendizes a wrestler profissional.
O final foi, como
já tem vindo a ser hábito, apoteótico, com Cody Rhodes a executar um Cross
Rhodes em Rey Mysterio após uma troca de ataques sublime entre as duas equipas
que sobraram.
Miz vs Kofi Kingston
É melhor existir um motivo para um combate existir do que não existir fundamento nenhum para que este se realize, certo? Pensava que essa era uma verdade insofismável, mas os criativos da WWE conseguiram desafiá-la, colocando frente-a-frente Miz e Kofi Kingston num duelo onde não se percebia por quem é que os fãs deveriam torcer. Vejamos, Miz, de maneira absolutamente inexplicável, tinha virado as costas a Kofi Kingston num combate de tag team, e este interrompeu-o num segmento de pre-show, agredindo-o e interrompendo o seu trabalho. Obviamente que o público ficou confuso, e a psicologia de ringue teve reflexos, com um alheamento enorme da parte da audiência de Houston.
No ringue, Kofi Kingston, consegue ser entusiasmante, mas Miz não é um primor de técnica nem consegue gerar reações efusivas. Assim, e quando há lugar a botches fruto de um entrusamento relativamente pobre, é normal que não se encare a contenda de forma séria e que esse facto lhe retire alguma lógica, refletindo-se nos storytelling.
O final acabou por ser aceitável, e é a única coisa que se deve realçar pela positiva. Nem que seja pelo facto de finalmente assistirmos a um combate entre estes dois com uma vitória “normal” (isto é, sem rollups/school boys etc.).
Total: *
Combate handicap 3x1
The Wyatt Family (Bray Wyatt, Eric Rowan e Luke Harper) vs Daniel Bryan
A estrela do
momento da WWE Daniel Bryan. Por mais repetitivo que soe, e por mais clichê que
seja dizê-lo, a verdade é essa, dêem as voltas que quiserem dar. Esse motivo é
suficiente para que qualquer combate em que o antigo “American Dragon” esteja
envolvido seja razão de euforia entre o público, e, como é óbvio, a contenda ante
os Wyatts não foi exceção. O público manifestou-se sem reservas, criando uma
atmosfera vibrante, de Main Event. O trabalho de psicologia de ringue, claro,
ficou facilitado para os intervenientes. Momentos como a ponte de Bray Wyatt e
as manifestações do poderio físico de Rowan e Harper foram “amplificadas” pelo
público muito por causa de lá estar Daniel Bryan. E claro, este não precisa de
fazer muito para que a audiência entre em delírio pelo que tudo o que fez foi
recebido com enorme ovação.
Em termos de
storytelling, foi um combate bem construído desde o início, com Daniel Bryan a
descarregar tudo o que tinha em cima dos monstros que tinha pela frente. Uma
jogada que se entende pela tarefa hérculea que tinha pela frente, mas que
acabou por prejudicar o ex- “American Dragon”... de forma credível – foi com “demasiada
sede ao pote” e permitiu o domínio dos Wyatts. A partir daí, estes conseguiram
manobrar Bryan, este reagiu energicamente quando teve forças para tal, mas foi
interrompido e derrotado pela força dos números. Tudo bem feito e executado de
forma lógica.
O final foi
credível, a imprevisibilidade reinou até
ao fim, e o entrosamento entre ambas as partes foi notável. Mérito, aí (mais
uma vez) para Daniel Bryan.
Total: *** 1/2
John Cena vs Randy Orton
Para usar um
eufemiso, a WWE foi pretensiosa ao considerar este combate o mais importante da
sua história. Não há como negar a importância dele, afinal teria implicações ao
nível do topo da hierarquia, passando a existir um único “top guy” na
companhia. Contudo, a premissa que trazia este combate era fraquíssima,
baseando-se no facto de Cena ter interrompido a celebração de Randy Orton
aquando da retenção do título da WWE no Survivor Series e no facto de Stephanie
McMahon tomar a decisão de ir em frente com o combate com uma reação do género:
“bem, andamos a pensar nisso já há algum tempo, pode ser”.
O combate foi
vendido exaustivamente, não há nada a apontar nesse sentido, mas por vezes a WWE
esquece-se que os seus fãs são providos de inteligência e de um pensamento que
vai para além do que lhes é imposto. Assim, vendendo-se um produto, que por
acaso tem valor, mas cujos vendedores parecem desesperados em vender, deixa os
fãs um bocado menos entusiasmados do que seria esperado para um combate com
tantas implicações na história da WWE.
Isto tudo, associado à enorme contradição de um combate desta craveira (auto-vendido da forma que foi) não acontecer no maior evento de wrestling (Wrestlemania), tornava a reação dos fãs um bocado confusa.
E assim foi, com reflexos na psicologia de ringue. É certo que se sentiu o tal “big fight feel” (o segmento brutal que encerrou o RAW anterior ao TLC terá ajudado), mas não considero que este combate tivesse uma adesão que fosse além de um Main Event de um PPV. Durante o combate sentiu-se isso com uma reação relativamente morna do público aos spots executados (embora devamos considerar que este foi um TLC “calmo”).
Em termos de
storytelling, foi notória a capacidade de ambos os lutadores em construir um
fio lógico para o combate, embora esse tenha sido, em parte, abalado, com o
recurso de Orton a umas algemas para prender Cena e a demora que este levou a
desenvencelhar-se das mesmas. Foi um momento que roçou o caricato e não merecia
constar num combate desta categoria...
... teve
implicações no final, embora também este não tenha tido, muito provavelmente, o
entusiasmo pretendido pelos criativos da WWE.
Total: *** 1/4