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Apesar das derrotas, a carreira e o legado de Anderson Silva foi completa


Quando o UFC contratou Anderson Silva em 2006 ninguém poderia imaginar o sucesso que ele viria a obter. O brasileiro de trinta e poucos anos já tinha uma sólida carreira internacional como lutador profissional até àquele ponto e a maioria das suas lutas foram muito boas de se assistir, apesar do seu cartel de 3-2 nas suas últimas 5 lutas.....

Na verdade, Anderson já estava quase a aposentar-se depois de ter sido finalizado por Ryo Chonnan no evento de Ano Novo do Pride em 2004. Minotauro conversou com Anderson, ofereceu todo o seu apoio o convenceu-o a continuar e a seguir com a sua carreira.

Dizer que a carreira de Anderson Silva renasceu é pouco. O caminho de Anderson até o topo, um lutador que já tinha sido finalizado algumas vezes e era menos famoso do que seus companheiros de treino como Wanderlei Silva e Mauricio “Shogun” Rua, melhorou imenso durante o seu caminho no UFC.

Na sua estreia no UFC, Anderson atropelou o queixo de pedra Chris Leben, que naquele momento estava invicto no UFC. Depois dessa luta, Anderson foi directo para um title-shot contra o campeão dos médios, Rich Franklin.

Muitos não vão admitir hoje, mas vários de nós jornalistas pensávamos que Anderson estava a ser queimado ao casarem uma luta dele contra Franklin tão rapidamente. Com certeza Anderson era dinâmico, no entanto o forte e completo Franklin parecia estar um nível acima do brasileiro depois da vitória sobre Leben.

Em algum ponto entre o Japão, a Inglaterra e os Estados Unidos, Anderson tornou-se o “Spider” – uma imbatível força da natureza que não seria derrotado durante quase uma década. Anderson passou por cima de Franklin com facilidade, tomou o título dos médios e não olhou para trás em grande parte dos próximos 7 anos.

A evolução de um lutador bom para um grande lutador

Anderson defenderia com sucesso o título dos médios onze vezes consecutivas (sim, estou a contar a vitória sobre Travis Lutter, que não bateu o peso no dia anterior e tirou o status de defesa de título dessa luta). Anderson subiu de categoria três vezes para dominar a luta contra três LHW, incluindo o primeiro campeão unificado da categoria, Forrest Griffin.

Mais ou menos na época da sua primeira luta contra o desafiante Chris Weidman, no verão passado, Anderson já era o mais dominante campeão da história do MMA. Ele perderia para Weidman, quase dez anos depois da sua estreia, duas vezes em seguida.

Essas vitórias certamente estabeleceram Weidman como indiscutivelmente o melhor peso médio do mundo, mas as duas devastadoras derrotas não vão mudar o lugar de Anderson na história.

De 2006 a 2013, Anderson lutou como um verdadeiro gigante do desporto. Ele foi bom o suficiente para brincar com oponentes mais fracos e grande o suficiente para virar lutas contra oponentes mais fortes e manter o seu reinado.

Muitos adversários como Lutter, Demian Maia, Dan Henderson e Vitor Belfort pareceram fracos olhando em retrospecto. No entanto, na época, todos eles apresentavam lutas potencialmente “ruins” para Anderson.

Lutter derrubou Anderson, montou e ameaçou com vários golpes finalizar o campeão antes de Anderson encaixar um triângulo (triangle choke). Demian Maia vinha a dominar virtualmente todos os lutadores da categoria dos médios até conseguir a disputa pelo cinturão, usando takedowns e o seu jiu-jitsu de nível mundial para vencer.

Com certeza o campeão mundial de jiu-jitsu (grappling) apresentava um sério desafio para Anderson, que anteriormente já tinha tido problemas com quedas e finalizações. Ao invés disso, Anderson brincou com seu compatriota durante os 5 rounds até vencê-lo sem esforço na decisão.

Quando o campeão em duas categorias do Pride e wrestler olímpico Dan Henderson enfrentou Anderson em 2008, muitos acreditaram que essa luta seria um pesadelo para o “Spider”. Henderson tinha muito mais knockout power nos punhos do que Anderson e poderia derrubá-lo quando quisesse.

No primeiro round, Henderson fez o seu jogo – derrubou Anderson – mas o campeão sobreviveu até o final do round. No segundo round, um golpe preciso de Anderson derrubou Herdo e Anderson finalizou-o com um mata-leão, forçando-o a bater.

Belfort tinha sido campeão como peso-pesado e meio pesado (LHW), possuía todas as habilidades e golpes rápidos. Parecia que Anderson finalmente iria enfrentar um adversário a altura da sua velocidade e atleticismo e que como ele, também sentia-se confortável em qualquer posição durante a luta.

Nem de perto. Anderson acertou um chute frontal no rosto do “The Phenom” nocauteando-o ainda no primeiro round. Belfort não perdeu mais nenhuma luta como peso médio desde então, no entanto Anderson mostrou para ele que estava em um nível acima.

Anderson mostrou talvez a virada mais sensacional jamais vista no MMA quando ele finalizou Chael Sonnen no quinto e último round da luta de 2010 depois de apanhar a luta inteira. Posteriormente Sonnen foi punido por ter violado o regulamento anti-dopping para ter apresentado essa performance.

No rematch dessa luta em 2012, Anderson novamente apresentou sérios problemas com a estratégia de Sonnen derrubá-lo e facilmente mantê-lo no chão durante o primeiro round. No segundo round no entanto, Anderson teve pouco trabalho para derrotar o “The American Gangster” com uma saraiva de golpes que se seguiram a uma rápida e precisa joelhada no esterno de Sonnen.

Anderson, parecia, que poderia aguentar os melhores golpes de todos os lutadores e permanecer calmo, aguardando a oportunidade de, com apenas um golpe, vencer a luta.

Mesmo Anderson teve alguns pontos baixos na sua carreira – sua mania incessante de provocar os adversários como Thales Leites, Maia, Forrest Griffin e Weidman – são, de um modo geral, simplesmente características de outros grandes desportistas dos últimos dois séculos como Muhammad Ali e Michael Jordan. Ali era rápido para apelidar, rápido para fazer brincadeiras, regularmente escolhendo adjectivos racistas ao referir-se aos seus adversários como Joe Frazier e George Foreman e como fez literalmente e fisicamente perseguindo seus adversários em casa como ele fez com Sonny Liston.

Jordan, é claro, foi um dos piores “trash-talkers” e um dos piores provocadores da história. Ele também gritava e insultava os técnicos adversários durante os jogos e acertou alguns socos nos companheiros durante os treinos.

Algumas vezes, os grandes desportistas foram perfeitos idiotas durante uma parte do caminho até o topo. Assim como aconteceu com Ali, Jordan e inúmeros outros, nós iremos lembrar de Anderson pelas suas grandes conquistas e não pelos momentos desagradáveis e métodos deploráveis que ele usou para chegar até o topo.

Embaixador do desporto

A conduta de Anderson Silva no octógono demonstra o que actualmente é a chave para o exponencial crescimento do UFC e do MMA. A primeira luta de Anderson Silva no UFC foi no pequeno Hard Rock Hotel and Casino. Com o passar dos anos, ele e o UFC foram lotando arenas e suas lutas transmitidas para o mundo inteiro atingindo números na casa das dezenas de milhões.

Anderson tornou-se um astro tão grande que talvez tenha ajudado a introduzir o UFC no seu maior mercado – Brasil. No seu país natal, Anderson tinha cobertura da Rolling Stone (?), assinou contratos de patrocínio com a Nike e Burger King e lotou arenas. De volta aos Estados Unidos, Anderson provou ser um dos melhores vendedores de PPV do UFC.

Incrível longevidade e carreira

A carreira de Anderson Silva durou mais do que qualquer outro lutador da sua época e baseou-se principalmente na sua velocidade, timing e impecável senso de distância. Seu ídolo do boxe, que compartilha dessas mesmas qualidades com o campeão do MMA, certamente não teve essa longevidade.

Anderson sempre insistiu, algumas vezes como simples provocação, outras com mais seriedade que ele gostaria de enfrentar Roy Jones Jr. A luta nunca aconteceu e não há problema nenhum nisso.

Para deleite do público, iria ser um espectáculo triste. Roy Jones tem recebido muito mais golpes durante sua carreira e já deveria estar aposentado há muito tempo por motivos de saúde. Se os lutadores, que parecem ser amigos, quiserem marcar um “sparring” só entre os dois, em particular, eles podem.

Anderson Silva não tem mais nada a provar, contra Jones ou contra qualquer outro lutador. O título de maior lutador P4P do mundo não iria adicionar nada a sua brilhante carreira. Sempre haverão os próximos desafiantes e os próximos campeões – como Chris Weidman.

Weidman é um grande lutador e quem sabe os grandes feitos que ele ainda pode realizar durante sua carreira. Ele com certeza parece que será campeão por um longo tempo. Talvez Anderson consiga recuperar-se da sua traumática lesão na perna e tente outra série de lutas em busca do cinturão. Nós com certeza esperamos que ele tenha saúde para realizar essa tentativa.

Anderson, eu acho, não pode tornar-se um gigante maior do que ele já é actualmente. Sempre irão existir os desafiantes e candidatos mais jovens a transformarem-se no maior lutador de todos os tempos e Anderson teria que enfrenta-los.

Uma coisa posso garantir, nunca existirá outro Anderson Silva.

Original de Elias Cepeda em Yahoo! Sports com tradução de MarceloBreve
Com tecnologia do Blogger.