Comparação entre o WWE Network da WWE com o Fight Pass do UFC [McMahons fazem novo all-in com o negócio de PPV`s e abrem nova guerra]
Durante anos foi habitual ouvirmos a WWE e o UFC disserem que não competiam entre si pois eram produtos diferentes para audiências também já de si diferentes. Mas do ponto de vista de fazer negócios, o caso muda de figura....
Essa prova foi dada nos últimos dias com o UFC a lançar no dia 28 de Dezembro o UFC Fight Pass e a WWE a comunicar o lançamento do WWE Network para o dia 24 de Fevereiro. Duas networks similares mas que no curto prazo terão duas abordagens diferentes.
O sucesso que uma companhia tem nada tem a ver com a outra. O sucesso que o UFC possa ter depende do estabelecer lutas que as pessoas tenham interesse em ver. Estas poderão ser transmitidas em TV regular ou em pay-per-view. Já no caso da WWE, esta tralha com base em histórias e personagens. O único ponto em que estas abordagens se interceptam é quando melhoram e muito os negócios do UFC, ie aumento o número de pessoas que querem ver uma luta, é quando lutadores como Nick Diaz ou Chael Sonnen assumem-se como protagonizas, ou seja lutadores capazes de se mostrarem como uma personagem e liderarem uma história. É devido a esta característica, que estes nomes obtêm grandes vendas, algo que grandes lutadores como Junior dos Santos ou Lyoto Machida não conseguem.
Olhando à audiência em si, certamente que ao longo dos anos, há no UFC um conjunto de fãs da WWE, mas é impossível dizer quanto. Em 2005, quando o UFC começou a ter destaque nos Estados Unidos, a sua audiência era composta em grande parte por espectadores descontentes com a WWE. Esses espectadores viam o RAW e a compravam PPV`s do UFC que apresentavam nomes como Chuck Liddell, Randy Couture, Tito Ortiz, Ken Shamrock e até mesmo Royce Gracie.
Nessa altura, os números de vendas dos PPV`s da WWE começaram a cair nos Estados Unidos. Coincidência? Quando o UFC estava a bater recordes de vendas em 2010,a WWE estava a bater no fundo e quando o UFC teve um declínio em 2011 e 2012 devido às lesões, a WWE apresentou melhorias. Coincidência?
Mesmo com estes números, o CEO da WWE Vince McMahon e outros oficiais sempre negaram que a WWE estivesse a perder público para o desporto emergente UFC e disseram que eles eram isso mesmo, desporto e a WWE entretenimento. Completam ao dizer que se houver competição é entre o UFC e o boxe.
A WWE promove PPV’s ao Domingo e o UFC aos Sábados e quando isso acontece no mesmo fim-de-semana, é um facto que a WWE baixa os seus números. A explicação dada é que o UFC promove mais anúncios do que a WWE e assim a companhia de wrestling obtêm menos vendas.
Explicações à parte, é claro que a WWE tirando somente a Wrestlemania nunca consegue bater os números de vendas de PPV do UFC e não consegue praticar os mesmos preços de bilheteira. Do lado contrário, o UFC nunca conseguiu bater os ratings de TV que a WWE tem nem obtém a assistência alvo da WWE, adultos (18-49). E a verdade é que nos tempos actuais os contratos de TV tornaram-se importantes e os ratings valem mais que vendas de PPV e receitas de bilheteira.
Para tentar contrariar isso, tanto o UFC como a WWE optarem por um modelo semelhante, um canal digital privado, a WWE com o WWE Network e o UFC com o UFC Fight Pass.
Agora com o lançamento do WWE Network e do UFC Fight Pass, a WWE e o UFC apresentam-se com objectivos diferentes.
O WWE Network apresenta-se com uma semana grátis para os utilizadores testar e irá de imediato transmitir 1500 horas de conteúdos antigos, documentários e reality shows. Para além disso irá repetir os três shows semanais transmitidos nos Estados Unidos e os dois shows emitidos somente nos mercados internacionais.
Para além disso, todo o conteúdo de home vídeo, um tipo de vídeo em que a WWE é a melhor do que qualquer desporto, estará disponível somente com um clique. Todos os PPV’s da história estarão disponíveis sem edição, 279 na totalidade, bem como os 111 eventos da WCW transmitidos entre 1987 e 2001 e mais 21 da ECW transmitidos entre 1997 e 2000.
Nos shows de segunda e sexta-feira nem como domingo terá um pré e pós show. E no futuro haverá um talk show diário.
O ponto forte do WWE Network é que os 12 PPV’s do calendário da WWE serão transmitidos aí em HD. Todo o conteúdo do canal terá o preço de 9,99 dólares por mês. Até agora, um PPV em HD tinha o custo de 54.95 dólares e a WrestleMania com um custo de 69.95 dólares.
A venda de PPV`s da WWE tem vindo a cair ao longo destes últimos anos. O pico de venda de PPV da WWE aconteceu em 2001 com um número de vendas anuais de seis milhões na América do Norte. No ano passado tiveram abaixo das 2.3 milhões. E este número foi superior a anos anteriores devido às presenças de drawers caros para a companhia como Dwayne "The Rock" Johnson e Brock Lesnar. Os últimos eventos de 2013, os números foram de tal forma desapontantes que mal chegaram às 100 mil vendas no mercado norte-americano. Com estes números a WWE declamou que a venda de PPV era um mercado em declínio e morto.
A contrastar com estas afirmações dos responsáveis da WWE, estão os números do UFC e do boxe. Em 2013, o UFC bateu os números de vendas dos dois anos anteriores e o boxe teve o melhor ano da história recente,
O UFC vinha a ter números desapontantes mas teve um final de ano de grande nível e em especial com UFC 168 que teve um número de vendas acima de 1 milhão e que teve ainda o preço de PPV mais caro da história do UFC. Três meses antes, a luta entre Floyd Mayweather Jr. e Canelo Alvarez que teve os preços mais caros da historia do PPV, teve 2.2 milhões de vendas e tornou-se o evento que mais ganhos teve na historia.
O que se retira destes números é que se a atracção certa estiver no evento, mais pessoas verão evento. Se por outro lado, os shows não forem atractivos, a maioria das pessoas não o verá ou então irá optar por uma stream ilegal.
A WWE espera ter no final do ano um valor se subscrições entre 1 a 2 milhões e com o WWE Network a já dar aí lucro e ter o seu grande boom em 2015. Só aí é que se pode avaliar se Vince McMahon mais uma vez foi visionário e fez bem em arriscar os lucros dos grandes shows, particularmente a WrestleMania que em anos normais gera receitas de 70 milhões de doares. Conforme foi confirmado pela WWE, prejuízos no relatório final de contas de 2014 já são esperados pois o número de subscritores e respectiva receita ainda não serão suficientes para cobrir o valor investido no WWE Network.
Um problema que se apresenta nestes números estimados de 1 a 2 milhões de subscritores é quando se fala em subscritores fala-se em casas e na actualidade somente 35% das casas norte-americanas subscrevem esse tipo de serviço e o maior show semanal da WWE, o RAW e assistido em 2.6 a 3 milhões de casas. Metade da audiência do RAW tem acima de 38 anos e metade da audiência do Smackdown está acima dos 48, ou seja, um grupo de pessoas que tendem a não aderir este tipo de serviço.
A WWE afirma que em 41 milhões de casas norte-americanas, pelo menos uma pessoa é fã de wrestling e pelo menos 21 milhões foram fãs no passado e terão de ser como que convidadas a voltar a assistir. Mas se somente 3 melhores de casas assistem por semana o RAW, estes dados fornecidos pela WWE tem de ser questionados.
O que gera lucro neste tipo de serviços é as livrarias como complemento dos programas de TV e talvez os pay-per-views e portanto é onde se tem de ter o foco do negócio.
Outro ponto de destaque é que a WWE com o lançamento do WWE Network cria repercussões também no UFC e no boxe e no final de tudo a indústria de vendas de PPV`s nos distribuidores.
Vejamos o caso do UFC que cujos preços de PPV são de 44.95 dólares para um show de qualidade normal e de 54.95 dólares para um PPV em HD, o mesmo preço dos shows da WWE. Nos dias de hoje, as pessoas compram mais o show de preço mais elevado. O argumento para se comprar não é o preço mas sim a qualidade do show pois os consumidores podem comprar um show mais barato dez dólares mas somente uma minoria o faz. Desses valores, metade vai para o distribuidor do PPV e metade vai para a promotora. Em certos contratos, as promotoras estão proibidas de fazerem um preço inferir de venda na internet e de modo a que os distribuidores sejam protegidos.
O UFC por exemplo, se permitido poderá cobrar 40 dólares para assistir a um PPV assistido no seu website e assim obter mais receita do que os 27.50 dólares. Aqueles que assim o queiram, obtêm um show mais barato e o UFC consegue ganhar ainda mais. Ao fazer-se sempre isso, os distribuidores é certo que entram em prejuízo e acabarão por cortar o serviço.
A WWE não está a cortar o preço, esta a criar uma situação que entra em confiro com os distribuidores pois estes apresentam o PPV com um preço exorbitante em relação ao apresentado pela WWE. A WWE ainda quer que os destruidores transmitam os PPV`s para aqueles que não subscrevam o WWE Network.
Um dos maiores distribuidores de PPV`s senão o maior, o DirecTV já veio a público dizer que estão a considerar não continuar a transmitir os PPV`s da WWE e para além disso expôs publicamente a WWE ao dizer que o seu negócio já vinha a mostrar-se em queda e que o lançamento do WWE Network se por um lado demonstrou que a WWE não precisa deles, por outro, acelerou um processo de corte que o distribuidor já vinha a pensar fazer.
Mas se o DirecTV, inDemand, Dish Network continuarem a transmitir PPV`s da WWE e a permitirem que a companhia os transmita no seu canal a preço significativamente inferior, isto abre a porta ao UFC e ao boxe que são muito mais fortes em vendas de PPV do que a WWE, em fazer o mesmo. Isto iria acelerar o declínio dos distribuidores de PPV e levar estes à falência.
O UFC cometeria um erro se pelo menos neste ano de 2014, seguisse a WWE e transmitisse os PPV no UFC Fight Pass. Para além disso do ponto de vista de opinião pública seria um erro pois iria parecer uma cópia para aqueles que comparem os dois serviços. Em 2018, o panorama já poderá ser totalmente diferente.
O Fight Pass tem o mesmo preço de subscrição de 9.99 dólares com um período de testes de dois meses que termina a 29 de Fevereiro. Tal como o WWE Network, apresenta também uma vasta livraria. A WWE tem cerca de 100 mil horas de vídeos que compilam os 50 anos da sua história, territórios da América do Norte, década de 80, etc. O UFC para além da sua livraria tem a livraria do Strikeforce, Pride, WEC, Elite XC, Affliction e outros grupos, contudo nunca chegará ao nível de conteúdo da WWE. O MMA não tem a história, o conteúdo e o tipo de livraria que a WWE tem. A não ser que o negócio de PPV caia, o Fight Pass nunca terá o tipo de atracções o que o WWE Network tem.
O Fight Pass é baseado na transmissão de shows internacionais. Esses shows têm uma duração que é o dobro de um house-show da WWE. Mas a WWE pela sua natureza consegue apresentar shows sempre com grandes nomes. A WWE tem um roster de 65 performers que conseguem ter 225 eventos por anos. O UFC tem mais 450 lutadores mas cada um só tem três ou quatro lutas por ano.
O Fight Pass nunca irá transmitir eventos ao vivo que tenham campeões, pois estes lutam em PPV e se não for aí será no FOX ou FS 1.
A WWE irá cobrar 9.99 dólares por mês mas com um período mínimo de subscrição de seis meses. Assim é uma despesa de 60 dólares mínima e não 10 dólares como no UFC. Depois desses seis meses, a renovação é de novo por mais seis meses. Assim, poderá se passar um mês a assistir shows antigos ou somente obter a WrestleMania a um preço mais barato e depois cancelar o serviço.
No UFC o serviço de subscrição é mensal
O WWE Network precisa de 1 milhão de subscritores para ter lucro, o UFC Fight Pass muito menos elaborado precisa somente de 100 mil. O WWE Network vem a ser trabalhado há muitos anos e o lançamento não foi apressado. Ele tem vindo a ser cancelado há dois anos. O Fight Pass teve de ser lançado no dia 4 de Janeiro pois foi o primeiro show do UFC que não tinha contrato ligado à FOX.
Se o Fight Pass falhar e ter números desapontantes, certamente que não afectará os negócios do UFC pois este tem o lucro dos shows assegurados pela transmissão da FOX e de outros canais internacionais, bem como o lucro de PPV.
Já se o WWE Network falhar, a companhia irá perder muito dinheiro e o seu valor em bolsa vai descambar. E para além disso terão de voltar a conquistar os fãs que tiveram PPV`s quase de borla para terem de pagar novamente 54.95 dólares.
No caso de o WWE Network for um sucesso, o UFC poderá fazer o que já fez e copiar e retirar as lições mais importantes e não se arriscar demasiado.
Se são fãs de wrestling e MMA, o WWE Network é mais indispensável tanto para o fã como para a companhia. O Fight Pass é somente para o fã de UFC que quer ver tudo.
Em conclusão, os dois canais irão evoluir nos próximos anos numa base de tentativa e erro. Será esta a fórmula de sucesso para o futuro? Isto é que as duas tentam descobrir.
Original de Dave Meltzer em MMA Fighting com tradução de Wolve