Mac in Touch #75 - “Não cabe na cabeça...”


Sejam bem-vindos ao 75º Mac in Touch. Na última edição falei da TNA e pude comprovar que a empresa anda com falta de fãs em Portugal, ou então é só o Wrestling Notícias que anda desprovido de fãs da companhia. É que só tive um comentário, do habitué (nas últimas edições) V e foi para me agradecer a aposta no puroresu...

Portanto, não sei onde andavam vocês, fanáticos da TNA que tanto vociferaram por essas caixas de comentários afora, quando falei da companhia da vossa preferência (algo que ainda não consigo conceber logicamente – uma companhia da indústria ser mais importante que a indústria em si).

Neste Mac in Touch abordo a estrada para a Royal Rumble, que é também a estrada para a Wrestlemania e não tenho coisas muito boas a dizer sobre aquilo que foi feito no último Monday Night Raw antes do festim que é a Rumble, muito por culpa de ideias estapafúrdias por parte das cabeças "geniais" de quem decide o futuro da WWE, nas quais não parece caber a ideia de sustentabilidade.


“Não cabe na cabeça...”

Na madrugada da passada terça-feira tivemos o último Monday Night Raw rumo à Royal Rumble. Um episódio que, à partida, prometia pelo estatuto que vem tido a ter desde há uns anos a esta parte e por ser, tradicionalmente e de forma oficiosa, o último show antes do início da estrada rumo à Wrestlemania... que este ano assinala um número redondo – 30!

O regresso de Dave Batista, anunciado desde o início do ano e que marcou a primeira presença do “Animal” na programação semanal da WWE desde há 4 anos, a confrontação entre Big Show e Brock Lesnar e a reação de Cena ao ataque que Orton levou a cabo sobre o seu pai serviam para aumentar, ainda mais, a expetativa para este show.

No global, o show não deixou o fã mais excitado com falta de Kleenex porque houve momentos que enterneceram os corações dos espetadores (do mais ao menos “hardcore”) e toda uma panóplia de rostos carismáticos que se foram tornando familiares aos olhos de quem acompanha wrestling há algum tempo.

Contudo também houve lugar a momentos que não foram tão felizes e que se tornam preocupantes no que ao futuro da companhia diz respeito, já que entram em rota de colisão com aquilo que um negócio precisa para crescer – sustentabilidade.

Daniel Bryan

Bryan vinha a ser uma estrela em ascensão. Um produto fresco no main event da WWE que tem uma aceitação a roçar os 100% de unânimidade no conjunto de fãs da companhia. A reação que ele provoca no público quando a sua música começa a tocar é qualquer coisa de apoteótico, e é completamente independente do público para o qual atua. Arrisco mesmo a dizer (ou a especular) que, todas as semanas, ele é ovacionado da mesma maneira que seriam lenda que não habitam no panorama atual de wrestling mas que ainda recolhem muita simpatia no público (Goldberg’s, Ric Flair’s...).

Podia-se pegar neste produto e valorizá-lo enquanto ele está “quente”. Projetá-lo para o futuro como a bandeira da companhia. Bryan pode muito bem carregar esse fardo e conjugá-lo com combates fantásticos que não envergonham os fãs de wrestling. É bastante mais bem dotado do que Cena, e apesar de não ter tanto carisma, isso é algo que, conforme se confirma pelo próprio Cena, se trabalha.

Depois de 6 meses a fazer da WWE um produto acima do vulgar (sem ele, só CM Punk consegue ter o binómio qualidade em ringue/boa receção do público), a paga é afastá-lo da cena principal durante a época alta da indústria e entregá-lo à elevação de mid-carders ou à sua própria valorização enquanto um, conforme reflete o facto de Bryan ter sido “bookado” para um combate contra Bray Wyatt, dar-se por feliz por isso, “esquecendo-se” completamente da presença numa Royal Rumble, encabeçada por...

Batista

O regresso do Animal não me provocou arrepios, não me fez saltar da cadeira e gritar como Shawn Michaels, Brock Lesnar ou mesmo Chris Jericho lograram fazer nas várias vezes que regressaram este ano.
Isto reflete a importância de Batista na indústria. A própria reação do público não foi tão grande como, por exemplo, a ovação prestada a Daniel Bryan.

Ou seja, a teimosia da WWE continua a prevalecer, com regressos estrelas do passado que têm o condão de tomar o lugar de quem se esforça durante um ano inteiro para merecer um lugar de destaque no evento principal da companhia. Injusto, e completamente desabido tendo em vista o futuro de curto prazo da companhia, que continua focada nos seus meninos bonitos...

Randy Orton e John Cena

São os lutadores que irão encabeçar a Royal Rumble com um combate pelo título unificado da WWE e são eles que, parece, irão manter-se no topo da hierarquia da WWE, ofuscando quem quer crescer e escalar rumo ao topo.

A WWE parece eternamente cética ao desenvolvimento de novos talentos, e continua a apostar em gente com imagem extremamente gasta, como estes dois meninos, esquecendo-se que estes tiveram de vir de algum lugar para ocupar a posição que têm.

É possível que o impacto da storyline que ambos protagonizam atualmente não tivesse o mesmo impacto que está a ter com outros intervenientes, mas uma coisa parece-me igualmente provável: havia muita gente no midcard que, ao vestir a pele de Orton e Cena conseguiria sobrepôr-se à estupidez do guião que a esta tem sido dada. O último episódio do RAW foi exemplo disso mesmo.

Vejamos: 1. Triple H foi interrompido por Orton quando Batista estava para ser introduzido pelo The Game, e este não foi de modas quanto à “injustiça” alegada pelo Viper – no jeito arrogante habitualmente trazido pelas figuras de autoridade da WWE, transmitiu-se a ideia de que o título que ele tinha, a posição que ele ocupava e a posição que ele estava a tomar faziam dele um “pobre e mal agradecido”... como se o título lhe tivesse sido “dado” e não houvesse mérito na conquista do mesmo! 2. Cena vê o seu pai ser atacado, tenta ripostar em Orton, mas este foge. O que faz na semana a seguir? Espera que o show acabe e tenta atacar o Viper pelo que ele fez ao seu pai. Só tenho uma coisa a dizer sobre isto: se atacassem o meu pai, eu não chegava tarde e ia atacar quem o tinha feito... chegava mais cedo, e esperava por essa pessoa.

Toda esta conjuntura: desde o regresso desnecessário de Batista, passando pelo “afundamento” de Daniel Bryan e terminando na ridicularidade da storyline principal onde o título pelo qual todos os lutadores lutam tem de ser “dado” a quem cai no goto da parte corporativa da WWE não cabem na cabeça de ninguém com a noção de que a aposta em novos talentos é fundamental para garantir a sustentabilidade, que por sua vez é urgente para assegurar a manutenção da indústria num patamar de razoável sucesso.
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