Slobber Knocker #87: Rumble, lar de artimanhas
O Royal Rumble já está quase aí e eu aqui a tentar que prestem atenção a mais um Slobber Knocker! O certo é que tenho mais um artigo e apanho a boleia do assunto da Rumble - fazer uma à Orton no último Raw mas menos à letra - para criar o tema desta semana. Há muita coisa que faz a Royal Rumble má. E, não havendo propriamente algo que a torne má, também há alguns lados menos positivos. O que é certo: não é um combate vulgar e nunca nos aborrecemos com esta altura do ano!..
Neste texto abordarei várias propriedades e características do clássico combate que tanto entusiasmo causa. Coisas que já se tornaram tradições e que já estamos à espera. Algumas que talvez sejam mais subtis. Tudo ingredientes para uma receita que nos é familiar mas que, felizmente, é sempre diferente. A ver se me acompanham nesta viagem.
As entradas surpresa
Uma das principais razões para nos deixar tão ansiosos por esta altura do ano. Alguém vai regressar, nem que seja só para dizer um olá. Há dois tipos de regressos surpreendentes: os regressos a sério e as visitas. Quanto aos regressos a sério, quando há algum Superstar de fora com alguma lesão ou outra razão, se fizermos as contas e virmos que por esta altura ele está fresco, lá vem ele. Para este ano, há quem espere Sheamus, Chris Jericho e até o desgraçado do Evan Bourne a fazer figas para que ainda tenha uma reacção. É sempre uma boa forma de regressar pois estão num clima de antecipação e espera. Qualquer música que soe após a campainha que não tenha sido ouvida em TV nas últimas semanas vai chamar a atenção. E se Sheamus voltar ao activo este Domingo pode recuperar muita da reacção que andava a perder antes de ficar de baixa.
Outros regressos que também nos costumam dar bastante gosto são os temporários. Algum veterano, alguma lenda insere-se entre os 30 competidores e decide passar só para se divertir e, em papel, tentar uma tardia chance de encabeçar a Wrestlemania. Recentemente já nos brindaram o Godfather, Road Dogg, "Hacksaw" Jim Duggan, Diesel... Muitos nomes podem vir à mente. E sabemos que eles não vão ficar. E sabemos que eles nunca conseguiriam dar um combate realmente bom e estão longe de estar em forma. Mas para aquela noite, para aquele curto momento, a nostalgia fala mais alto e levanta-nos dos assentos para markar um pouco. A Royal Rumble é como se fosse uma capela oficial para "markismo"...
Eliminações criativas
Isto também é um factor, apesar de nos passar ao lado algumas vezes. Chega a ser uma simples mentalidade: desde que passe por cima da corda, os dois pés toquem no chão, 'tá arrumado. Não há muito a acrescentar aí e até deve haver mais entusiasmo em ver os tipos à rasca a evitar a eliminação. Mas não pode ser só um festival de atirar corpos e vê-los a bater no chão. Tem que se arranjar algumas maneiras mais criativas de criar uma eliminação, para demonstrar que tudo pode acontecer.
Desde ao "estou safo, não estou" às alianças improváveis, parceiros a trair parceiros... Esses são os mais básicos. Pode-se contar uma história com cada eliminação. As eliminações em si podem ser uma história - tome-se como exemplo os Nexus a limpar o ringue a cada lutador que entrasse, dando a CM Punk a oportunidade de até se sentar à espera. Pode-se colocar alguém por uma mesa dentro... É uma questão da mesa ter sido lá posta antes e mais engraçado será se foi posta pelo próprio - Sabu a ser Sabu. Podem criar surpresas ao colocar lowcarders a eliminar lutadores de calibre mais alto - pense-se em Maven a eliminar Undertaker ou até num rookie como o Bo Dallas eliminar um Campeão como o Wade Barrett. E, como disse, se é suposto serem criativos... Não vale a pena estar aqui a listá-los, o que importa é o que possa estar para vir.
"O que o Kofi fará este ano..."
Quem diz Kofi podia ter dito John Morrison há três anos atrás. Uma maneira de dizer o oposto do ponto anterior que muitos possivelmente valorizam melhor. A maneira mais impressionante de se safar da eliminação. Pegar na expressão "dois pés devem tocar no chão" e brincar com ela o máximo possível. Aquela altura em que tiram partido dos dotes atléticos de certos wrestlers a quem não dão assim tanto destaque noutras alturas - se os exemplos para aqui chamados foram Kofi Kingston e John Morrison, acho que não podia ter arranjado melhores representantes.
Posso listar os exemplos das três últimas Rumbles como exemplo: Morrison a empoleirar-se na barreira que nem um Spider-Man e a conseguir regressar ao ringue sem tocar no chão; Kofi Kingston a tocar com as duas mãos no chão mas só isso, procedendo a voltar ao ringue com a ajuda de um belíssimo pino; Kofi de novo servindo-se de Tensai e da cadeira de JBL para saltitar de volta ao ringue. Tudo momentos impressionantes que dão boa imagem aos wrestlers e que puxam uma grande reacção. Não acho que seja o único fã desses momentos. E este ano, tendo em conta que ainda temos Kofi e está naquela altura do ano em que ele parece importante - caramba, até ganhou ao WWE World Heavyweight Champion Randy Orton! - ainda podemos dizer... O que fará o Kofi este ano?
Números!
Pensamos que não damos atenção e vemos inicialmente com a ideia na cabeça de que não vamos ligar a isso, mas acidentalmente estamos sempre a fazer contas. Não é fácil evitar esse encontro, o Royal Rumble é, com certeza, o combate mais numérico que existe. E de várias formas. Isto, muito simplesmente, resume-se àquela montagem que fazem sempre antes do PPV e que fizeram no passado Monday Night Raw em que nos dão números e suas respectivas curiosidades. Os vídeos mudam pouco e acabam por apenas apresentar uma actualização já contando com o ano anterior. Mas há muitos números a ter em conta.
A ordem de entrada, quem é o primeiro e quem é o último. Quanto tempo dura o primeiro a entrar e quem é aquele resistente que aguenta mais tempo no ringue, quase completando uma hora, tempo que o combate costuma ultrapassar. Veremos a prestação de CM Punk como primeiro participante e esperaremos para ver quem é a surpresa beneficiada e guardada para a última posição. Vamos ter em atenção o número de eliminações que se dão. O recorde de Kane ainda é um bom objectivo a alcançar e este ano temos os olhos postos em Roman Reigns. Vamos estar atentos ao número 27, que "costuma" ser sortudo - ganhou um punhado de vezes, mais que os outros e já o número da sorte, não importa quem seja o cepo que venha, não é Otunga? E claro... Vão ser várias as vezes que, sem nos apercebermos, vamos estar a ajudar o público na contagem decrescente para a próxima entrada. Ou então vemos sossegados, também é possível. Mas isso não muda... Contas vão ser feitas mais uma vez!
Histórias durante o combate
Mais uma vez... Em mais de uma hora de combate, não podia ser só corpos a voar e a segurar-se. Tem sempre que haver mais alguma coisa que nos prenda a atenção, que nos entretenha, que brinque com os nossos nervos e com a nossa posição confortável ou que distraia do momento morto em acção/eliminações que está a decorrer. Imaginem que há um longo período em que apenas se vê um molhe de lutadores a um canto, a atacar-se uns aos outros, no outro canto um a segurar-se para não cair e dos outros igual. Que exaltação há a tirar daí? É aí que entram as histórias, os spots que se prolongam. Rivalidades são abordadas, iniciadas e por vezes até resolvidas dentro da Rumble. Desde o tal momento com os Nexus à espera do próximo adversário, ao recomeço da Rumble de 2005. Sem esquecer que CM Punk deve ter sido o único na história a dar uma promo durante o combate a tentar converter outros competidores ao estilo de vida straight-edge e ao seu grupo!
Sempre que uma tag team está em ringue, esperem que haja ali coisa. Vai, com certeza, haver algum participante que vai fazer algo caricato - imaginem algo mais absurdo, como uma batalha entre a Cobra e o Mr. Socko - e, ligando com outro ponto já apresentado, alguma eliminação pouco ortodoxa que dê que falar nas próximas semanas. Se é o início da "estrada" para a Wrestlemania, porque não começar com um desastre rodoviário como esta colisão entre 30 homens para conseguir não só um mas vários planos para o maior palco de todos? Para este ano, atentemos em Punk, o primeiro participante - acredito que algo lhe roubará a vitória para um ajuste de contas com Triple H na Wrestlemania - Batista, o retornado - que, muito possivelmente, ganha esta coisa - as batalhas de Daniel Bryan com tudo e todos e os Shield. Não só se espera que Roman Reigns desafie o recorde de Kane, mas ninguém se surpreenda se um dos nomes que este atirar para o tapete exterior seja Seth Rollins ou Dean Ambrose...
O contraste sério/cómico
Volto a mencionar a duração e tamanho do combate. É grande, há espaço para tudo. Ao início há espaço para que midcarders cómicos venham fazer das suas e divertir o público, para que este relaxe enquanto espera ansiosamente pelas seguintes entradas. Repito a mênção do segmento envolvendo Santino Marella e Mick Foley, com a Cobra e o Mr. Socko a protagonistas, na Royal Rumble de 2012. E sem nos esquecermos da participação de Ricardo Rodriguez nessa mesma Rumble e onde chegou a encontrar esses mesmos dois. Há sempre por onde pegar e têm pessoal para isso - espero algo dos 3MB, há a possibilidade de El Torito fazer das suas, nem que seja do exterior, e até Zeb Coulter pode tentar algo lá de fora. Só não dêem esse destaque ao Khali e a alguma dança parva sua.
No entanto isto é um momento para desanuviar. Também têm que vir os momentos de testar os nossos nervos. Um favorito que ia ser lançado a ser eliminado. Eliminações injustas com interferências exteriores. Qualquer batalha para se manter em ringue, quer tenha sucesso ou não. E aqueles momentos finais com os quatro competidores finais são os que nos colam à beira da cadeira e que nos coloca a matutar sobre qual daqueles será o escolhido vencedor. Algum Heel pode sempre fazer algo de mau gosto. E basta eliminarem a nossa escolha que está o caldo entornado. Para este ano espera-se aquilo que já mencionei: a batalha de Punk para se manter, com tudo contra ele; a intensidade de Batista; tensão entre os Shield; aquele final... A Rumble é a maior montanha-russa de emoções que a WWE nos pode apresentar e a gente cá gosta de alternar a temperatura dos suores...
Pequenos pushes
Todos gostam de ter o seu breve momento de fama e num combate onde há espaço para 30 homens, têm que arranjar de vez em quando o espaço para deixar algum lutador menos benificiado brilhar. Até o próprio Kofi Kingston que vai tendo sempre o seu momento aqui e ali, nunca sai da cepa torta, mas a Rumble é sempre uma boa arena para fazer alguma bonita. E é o grandioso Kofi... Até ao dia seguinte. É usual que se dêem momentos de destaque a lutadores da mó de baixo, mesmo que não tenham intenção de o manter. Ou com algum spot doido, ou alguma eliminação grande e improvável. Pode só fazer algo diferente e que agite e está aí o seu momento.
Cito casos que já mencionei como o de Maven quando eliminou Undertaker e o próprio ficou incrédulo. De novo debruçando-me em casos mais recentes, não nos esqueçamos do rookie estreante Bo Dallas que eliminou o Campeão Intercontinental na última Rumble - e quando digo "não esqueçamos" é para o caso de alguém já se ter esquecido. E porque não, Santino Marella? Ganhou alguma notoriedade negativa quando quebrou o aparentemente inquebrável recorde de menos tempo no combate, ao ser eliminado após apenas um segundo em ringue. Mas recuperou algo em 2011 quando quase vencia, ao ficar esquecido no exterior do ringue e ao apanhar Del Rio desprevenido a celebrar a sua vitória antes do tempo. É certo que distraiu-se, deixou-se levar e arrumou mas fica nos registos que Santino Marella quase ganhou uma Royal Rumble. Há muito lowcarder a precisar de uma mãozinha nem que seja por dois minutos e que podiam beneficiar da Rumble. Será que é desta que dão tempo a Zack Ryder? Ou, mais uma vez, servirá apenas para ele se atirar para o chão de cabeça, como ele tanto gosta de fazer? Ou... Será que ele nem pela Rumble passa? Pobre Ryder...
As regras alteráveis/esquecidas
Isto não é o ponto mais positivo que aqui está. Aliás, não é um ponto positivo sequer. Mas felizmente também não é algo muito regular e apenas se contam pelos dedos as vezes que recorreram a esta lacuna. Algo sem qualquer ponta de lógica é desqualificar alguém num combate cujas regras são bastante claras quanto à forma como se é eliminado. Mas se verificarem os registos, já existem eliminações por desqualificação, uma pelo menos. Não devia acontecer e esperamos que não volte a acontecer.
Outro caso que consta nos registos da história é com Randy Savage que, devido a mau timing ou castigo, fez má figura em 1993. Não é o ponto principal deste tópico mas abordo-o primeiro. Na Royal Rumble de 1993, os dois últimos sobreviventes eram o "Macho Man" e Yokozuna, que participava na sua primeira Rumble para ganhar. Savage consegue o que poucos alguma vez conseguiram, que foi dominar a besta Samoana a fazer que era Japonesa. Assim que consegue derrubá-lo, eis que Savage comete a burrice e... Tenta o pin em Yokozuna, permitindo a este que o eliminasse, ao sair da cover e levantando-o por cima da corda, para o exterior. Tal spot foi propositado mas nesta altura pareciam estar a gozar com Savage, pelo incidente do ano anterior, o que entra no conceito deste tópico do artigo. Savage, num ataque de fúria, sai do combate e parte atrás do rival. Até aí tudo bem... Se ele não tivesse saído por cima da corda, causando a sua eliminação que não era suposta. Como ele ainda era necessário no combate, tiveram que inventar a regra de que, tendo em conta que ninguém o atirou para o exterior, ele não se considera eliminado. Algo que não se aplica. Mas que tiveram que amanhar para salvar o couro a Savage. Já no ano seguinte, mais parece que fizeram para parecer que o Macho Man não faça a mais mínima ideia do que está a fazer neste tipo de combate...
Neste caso, não vejo qualquer tipo de situação possível a acontecer com isto. Ou espero eui que não. Poderia a Authority manipular um pouco as regras para prejudicar alguém como Daniel Bryan ou, especialmente, CM Punk? Beneficiar alguém? Parece pouco provável, mas coloque-se encima da mesa, de qualquer forma...
O vencedor!
E acho que deixei o ponto mais importante para o fim... Porque na Royal Rumble não sobem 30 tipos ao ringue só para acumular pontos que podem trocar por comida na cantina da arena. Há um vencedor e maior burburinho à volta do evento é sempre: quem será o grande vencedor este ano? Estamos nós a analisar o topo do plantel e a ver quem poderia ganhar, quem o merecia, quem é que parece encaminhado para tal, quem é que beneficiaria disso, quem é que gostaríamos, qual o último que queremos ver e por vezes, quem parece o inevitável.
Logo em seguida, já estamos involuntariamente a analisar a sua estrada à Wrestlemania e a fazer contas de cabeça sobre como podem as coisas decorrer até lá chegar e lá brilhar. Olhamos para os últimos vencedores como John Cena, que agradou a poucos e a sua conquista do título da WWE a The Rock na Wrestlemania, o que agradou a ainda menos. Muitos procuram algo a compensar este episódio, já que no ano anterior, Sheamus foi um vencedor aceitável mas a sua participação na Wrestlemania foi desperdiçada para um squash de 18 segundos. Agora olhamos a todas as hipóteses. Daniel Bryan a fechar o evento com milhares de braços a acompalhá-lo em enormes "YES!" em uníssono?; CM Punk a cuspi na cara da autoridade e a sair vencedor mesmo sendo obrigado a entrar na primeira posição?; Batista a regressar em grande com uma vitória tão grande?; Roman Reigns a provar a sua supremacia perante os restantes membros dos Shield e a iniciar a sua emancipação do trio?; Zack Ryder a mutar e a eliminar toda a gente? - acho que é esta aqui. Há várias opções e para sabermos a resposta, estaremos todos atentos no Domingo à noite para saber, após todas aquelas peripécias que descrevi ao longo do artigo... Quem será o grande vencedor da Royal Rumble de 2014...
Por aqui fico, acho que toquei em pontos essenciais a aguardar na Royal Rumble e agora cabe a vós acrescentar mais algum, no caso de haver mais algum pormenor que vos prenda e que torne este evento um dos vossos favoritos. Espero que o artigo tenha sido do agrado e, mesmo que pareça só uma enumeração de coisas que acontecem no evento, como se nunca tivessem visto, e dê a impressão de ser tão útil como a vinheta dos números que vemos na programação da WWE... Ao menos que tenha sido uma leitura entretida. Aguardo o vosso feedback e as vossas opiniões sobre o assunto.
Para a próxima semana, espero que o bichinho da Rumble se mantenha e ainda haja alguma faísca no ar para o meu habitual rescaldo que eu insisto em fazer e compromisso que mantenho. Até lá fiquem bem e boa Royal Rumble a todos!
Cumprimentos,
Chris JRM