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Slobber Knocker #89: Altura difícil para ser fã da WWE...


Sejam todos bem-vindos ao Slobber Knocker desta semana que, como podem ver, já tem ares de ser algo diferente do habitual. Apresentando o habitual esquema a que já habituei ao longo de quase nove dezenas de edições, o formato e tom deste texto debruçar-se-á mais sobre o desabafo. Podia também ser uma crítica, mas olhando bem para as bases das críticas, todas elas acabam por ser isso, mas esta não a vou tentar disfarçar de outra coisa qualquer....

Também já deve ter sido feito, mas verei se no meu, abordo isto de forma diferente e se toco em pontos que ainda não foram tocados. É muito simples: é um olhar com tristeza àquela que será das piores fases da WWE, lá dentro e cá fora e que torna as coisas difíceis para qualquer fã que a queira defender. Não sou daqueles que só sabe reclamar que as coisas não estão bem porque já não é 2006 e eu já não tenho 13 anos outra vez, muito menos dos que vê a vida parada porque um programa televisivo atravessa uma má fase. Apenas tento olhar para os problemas e alhadas em que a WWE se meteu e tentar ver o que fizeram de errado, o que podem fazer de certo e, com menos ênfase e com o seu respeitoso espaço, alguma crítica.
Acompanhem-me e vejam se concordam com estes parágrafos que aqui apresento:

Road to Wrestlemania


É já aqui que se começam a enumerar os problemas. Ainda agora começou a que é suposta ser a viagem mais entusiasmante do ano, a estrada para a Wrestlemania... E já há tanta coisa que deixa tantos a torcer o nariz.

Em primeiro lugar, agora há um esforço tremendo em construir um card para a Wrestlemania. Quiçá mais do que construir um evento propriamente dito. Não digo que não tenha resultado recentemente mas a principal preocupação é colocar combates com nomes grandes que fiquem bem no cartaz, que se digam dignos de ali estar. Fazem isto nuns dois ou três combates e o resto enche-se com combates do lowcard com pouco tempo a seu dispôr. No entanto acho que deviam ser os próprios combates a fazer o show, em vez do cartaz, antes dos combates. Sim, é verdade que num palco tão grande como a Wrestlemania, estão as condições reunidas para se fazerem os duelos de sonho e é onde melhor assenta aqueles míticos embates que todos anseiam ver. Mas isto já está a originar um problema: recorrer muito ao passado.

Há três anos atrás, The Rock foi chamado como anfitrião da Wrestlemania XXVII e até era um bom papel, porque entretido era ele. A partir desta participação, vieram conflitos com John Cena e muitos já salivavam por um encontro entre estes dois Superstars de alto calibre. Assim se deu para a Wrestlemania seguinte. Talvez não devesse ter fechado o evento, talvez isso não fosse tão importante. E o combate foi porreiro, nada de espectacular mas foi aceitável e acima do mediano. E era digno de Wrestlemania. Portanto até aí tudo bem. Mas num instante ficam sedentos disto e The Rock começa a estorvar. Ao longo de todo esse ano, vimos Superstars a trabalhar no duro para obter estatuto. Assim que chegue a Royal Rumble de 2013, todos esses se arrumam para o lado para que The Rock - vindo de uma longa ausência - tenha uma oportunidade pelo título por pouco mais do que "porque sim". E ganha o título, que passeia por Hollywood fora, enquanto lá embaixo, os lutadores continuam a esforçar-se para chegar lá mas conseguem um combate de 5 minutos no Raw, onde The Rock seria anunciado como um convidado especial, mesmo sendo o Campeão, mas de tão ausente que era e para nos dar como main event, por exemplo, uma história sobre drogados - isto aconteceu. E já estava tomado o lugar do evento principal da Wrestlemania, aquele lugar que todos ambicionam... Estava concedido a um lutador da década passada, agora dedicado a cinema, para uma repetição que ninguém queria ver. Até apareceu na capa do WWE2K14 porque, de acordo com Michael Cole, fez muitos filmes. Se é assim, então exijo o Nicolas Cage na capa do próximo jogo, porque mais filmes que ele ninguém faz. Mas isto foi um àparte, já devem ter visto onde quero chegar.


E o que se sucede este ano? Temos vários talentos singulares a encher-se de momentum como Faces e a começar a sua escalada ao topo, como Daniel Bryan ou Roman Reigns, temos a malta da casa e alguns que andam a merecer um main event de Wrestlemania como CM Punk, que foi Campeão durante mais de um ano, mas raramente foi o main event. Nada disso, vamos trazer alguém por ter nome. Mesmo que seja alguém que sempre dividiu as opiniões dos fãs, que saiu em maus termos, passou a sua ausência a mandar bocas à WWE e a queixar-se do PG, como se ele tivesse sido um herói dos graúdos - na festa popular cá da terra, ainda se vendem nas barracas umas t-shirts de 2005, incluindo uma dele, de tamanho infantil - e que não aparenta estar assim em tão boa forma para regressar ao wrestling. Como é que se recompensa alguém com este percurso? Muito simples, dá-se-lhe a Royal Rumble e uma bandeja de prata com um lugar garantido no tal main event da Wrestlemania com que tantos sonham mas que cada vez mais longe o vêem. 

Acho que já devem estar a entender o meu ponto de vista, se é que já não o partilhavam comigo há muito tempo. E sou grande fã de Undertaker e rendo-me a qualquer combate que ele venha dar anualmente, mas ao ser mais um a tornar-se exclusivo da Wrestlemania, o grande evento começa a tornar-se o grande PPV onde vem malta part-timer competir e os mais novos, activos ficam lá atrás a ver e a comer snacks, à espera da vez deles. Sei que é um cenário exagerado e drástico. Mas não creio que estejam a olhar para as construções dos main events do maior evento do ano com os olhos certos, nem mesmo com os olhos do "best for business"...

Talento desagradado e moral embaixo


Como é que podemos ter um bom produto a ser-nos apresentado quando os performers não estão a 100% por não quererem estar ali? Sei muito bem que o conceito de profissionalismo pode vir à baila, mas não posso ainda culpar ninguém de falta de tal. Se temos um lutador tremendo a ser "aproveitado" como jobber ou raramente utilizado - tome-se como exemplo um Tyson Kidd - é normal que se sinta frustrado. Ainda para mais quando trabalha que nem asno para subir e os contactos que recebe andam dentro do "preciso de ti para te deitares perante este monstro novo que estamos a vender" ou o mais positivo "esta semana tens combate no Superstars". E esse lutador pode ficar com a cachola da vida dele, mas vai ao ringue e faz o seu trabalho. Pode estar a roer-se completamente por dentro, mas faz o seu trabalho. Ninguém o pode culpar de não ser profissional.

Se avançarmos um degrau e estes tratamentos começarem a passar para lutadores mais cimeiros e que por vezes deixam andar no mais alto midcard e até no topo - aqui um bom exemplo é Dolph Ziggler - mas decidem desistir deles... Aí é que o lutador pode ter as suas frustrações bem à flor da pele. Quer porque sinta que estava over mas os oficiais simplesmente não gostam dele e não confiam, mesmo que ele apele aos fãs ou que não lhe estão a dar verdadeiras oportunidades e cortam-lhe as pernas de imediato assim que lhe surge o mais pequeno tropeço. Este lutador podia ter panca suficiente para ir ao ringue fazer shoot em tom de protesto e não jobbar como o combate manda. Mas não, lá faz ele a sua parte, mesmo que chateado. Mas é claro que com isso, automaticamente e involuntariamente, deixa de dar o seu 100% e temos um lutador desmotivado que não consegue encontrar em si a força para dar o seu melhor desempenho perante os fãs. Então como motivá-los? Esfregando-lhes na cara um lugar no topo e em main events a ser entregue a "has beens" do passado que já passaram o seu pique e que vêm com pouco mais para além de interesses monetários. Depois como se há de ter um balneário de queixo erguido e manter tão vivo o sonho de miúdos de vir a ser um WWE Superstar?

Nota: Sei que, no que diz respeito aos castigos e ao profissionalismo, há muitos casos em que os castigos são consequência de uma falta de profissionalismo, muitas vezes fora do ringue. Aí é correcto que se recorram a algumas medidas disciplinares, mas também sabemos que por vezes os critérios de castigo são um pouco tortos...

O principal destaque, o caso mais extraordinário, que mais deu que falar e que mais polémica levantou recentemente: CM Punk. Das estrelas de topo, chocou o mundo quando, inesperadamente, sai da WWE após discussão. Há aquela desconfiança - que talvez seja mais uma esperança em negação disfarçada - de que seja tudo um enorme work, mas por muito que esse desejo pique os fãs, não há sinais disso. Pelo contrário, há muita notícia - a credibilidade das fontes é sempre discutível, claro - que nos apresenta muitas razões diferentes para que o "Best in the World" se tenha ausentado. Tudo versões diferentes, mas há altas probabilidades de que a versão verdadeira até possa ser um aglomerado de todas as diferentes razões. Batem certo.

Sim, pode considerar-se que algumas dessas razões já sejam mais orientadas por ego e outras desavenças venham por hábitos de estrelato. E CM Punk está longe de ser um tipo fácil de lidar e aturar, creio que o seu ringname "Punk" já o denuncia um pouco. Então punk como ele é, põe-se na alheta a sacudir as mãos, apresenta as suas insatisfações e fica aquele amargo tom no ar de "agora desenmerdem-se sem mim". Entre as razões está uma insatisfação por promessas quebradas e nunca lhe ser dada a oportunidade de chegar ao nível de Cena, mesmo depois de o ultrapassar em popularidade? Ah meu sacana, então não tiveste um reinado como WWE Champion de mais de um ano? Teve, mas vejam outro ponto de vista: durante essa temporada como Campeão da WWE - reinado esse que acabou com um People's Elbow, voltamos àquela questão inicial - quem fechava os programas e os PPVs? John Cena. Punk tinha o título. Mas o Cena era o Cena. Parecia ser a coisa que tinha mais prestígio naquela companhia que o seu principal título: ser o Cena. Devia ser disputado e na Wrestlemania termos Superstars a competir para ser o Cena. Eventualmente teríamos o Kofi Kingston como Cena de transição por dois meses - ou então não, o "ser Cena" é o topo dos topos e o Kofi tem uma imagem sua ao lado da palavra "midcarder" no dicionário. 


Mas como já estou a dispersar, lembrem-se do exemplo do Over the Limit de 2012. O PPV fechou com um combate entre John Cena e o GM John Laurinaitis, um ex-lutador já reformado e sem qualquer propóito em ringue. O evento fechou com um combate de comédia que apenas teve um final "chocante" com uma Heel Turn mais previsível que as afirmações dos jogadores de futebol nas entrevistas pós-jogo. Onde estava CM Punk? Antes disso, a defender o seu título contra Daniel Bryan, num espectáculo técnico capaz de fazer crescer água na boca de qualquer fã mais purista de wrestling técnico. Sim, CM Punk teve um reinado enorme. Mas sim, esteve coberto pelo Cena e até pela sombra do Cena por maior parte das vezes.

E apesar de também haver uma certa dose de ego nas suas acções, não se pode considerar a sua atitude de todo egoísta. A situação de Batista - que é seu amigo - perturbou-o e não foi por ele, mas sim por Daniel Bryan. E ele fá-lo a pensar no seus colegas subvalorizados, que ele muitas vezes menciona em televisão. E não se duvide que ele esteja a ser admirado por uns e odiado por outros lá dentro...

Agora outro ponto e até o último mas que tem muito por onde falar e não é propriamente bom. Talvez seja o mais grave.

Quanto querem saber dos fãs?


Infelizmente, cada vez vejo menos preocupação nisso. Para quem anda por aí a pregar tanto a ideia do "Best for Business", não parecem estar a pensar muito bem no business e anda a sair muita asneira numa altura crucial - Wrestlemania e WWE Network a chegar. Os desagradados são uma fatia pequena? Costumam ser, mas será que ainda são? Aquela plateia do Royal Rumble desempenhou um papel muito importante em fazê-los perceber algo que não sei se perceberam. Mas cada vez dão mais a ideia do "fazer o que nós achamos que vocês querem" em vez do "fazer o que vocês querem".

E qual é a obrigação deles em agradar-nos? Nós, o povo, temos que comer e calar, não é? Claro, é assim que funciona qualquer negócio cujo lucro se baseia no feedback dos fãs, que têm que manter o interesse para lhe poder dar um seguimento. Um erro crucial e que enterrou totalmente algum empregado da WWE anónimo que mandou uma carta aberta aos fãs - e que pôde ser lida aqui no "Wrestling Notícias" - que dizia para relaxarmos e desfrutarmos do produto que nos estão a apresentar. Porque é assim que funciona a televisão, não vês porque te mantém interessado, vês porque eles mandam. Confesso que vejo por compromisso - e se deixasse de ver, não havia Slobber Knocker - e para cada coisa mal feita, há mais que me fazem ver. Mas não é igual para todos, muitos não querem ver o Batista na Wrestlemania e simplesmente não vêem - há sempre aqueles que só têm garganta. Mas a atitude é essa "São muito engraçados, calem-se e vejam o que nós achamos que é bom." Depois não se admire de ter Hall of Famers com tweets e vídeos de protesto, só porque eles parecem ter mais noção que muitos.


Sim, ainda há aquela prestação de fãs a quem as decisões se adequam. E é provável que se direccionem a esses. Mas podem basear-se sempre neles e deixar o seu conteúdo estagnar? Os miúdos que mais compram merchandise vão crescer e perder o interesse - eventualmente olhar com saudosismo para estes dias da mesma forma que muitos agora olham para uns anos atrás - e eles sem sair do sítio para apelar a uma geração nova e manter algumas antigas. Mas isto já aconteceu antes e eles sobrevivem sempre e mostram-se capazes de recuperar bem e entrar numa boa era. E é aí que finalmente chego à parte positiva deste artigo: podemos estar num período transitório. Não entre eras, que agora todas têm que ter um nome porque outra antes já teve e até podia fazer outro artigo sobre como essa porcaria da "PG Era" que todos falam não existe e nunca existiu, mas isso não é o assunto agora. Esta altura pode estar cheia de tropeções para procurarem uma conturbada estabilidade para tomarem um novo rumo. Talvez eles comecem a ouvir os cânticos que tanto ecoam - se ecoa o nome de CM Punk e foi ele que saiu, não têm muito a fazer, mas ele é tolo, pode ter feito tudo para agitar umas águas para ver se eles sabiam como as parar. 

Ou então, estamos presos com isto e com muitos de nós a fazer de conta que queremos ver porque eles assim o dizem. Não vou mentir, há muita coisa que eles fazem bem e muitas mais razões para ver, mas a fatia em que eles mexem mal é muito grande e importante. Mas eu cá fico à espera. E, como sei que os estimados leitores deste sítio também são persistentes e esperançosos mesmo com desilusões, também ficarão.

Creio que disse o que tinha a dizer. Nem sei se foi um artigo mais pequeno que os outros ou se foi maior. Se foi uma leitura mais agradável ou não. Se foi melhor ou pior ou se teve mais ou menos feedback de concordância. Qualquer forma que seja, espero que não tomem a mal este desabafo e não acho que seja preciso este tom muitas mais vezes. Espero que tenha corrido bem esta abordagem e espero que para a semana tenha algo mais positivo para falar. E que no futuro, só tenha coisas positivas para falar - isso nunca acontece, nunca houve uma altura 100% boa.

Agora a caixa de comentários está aberta a todos vocês, para falarem como bem quiserem acerca deste assunto. Não sei se este assunto puxa mais ou menos conversa ou sequer qual o tipo de feedback. Mas cá está, é todo vosso e cá estarei para a semana, se nenhuma barreira me aparecer à frente. Até lá fiquem bem e força neste período que descrevi!

Cumprimentos,
Chris JRM

Com tecnologia do Blogger.