Mac in Touch #88 - Bray Wyatt
Sejam bem-vindos a mais um Mac in Touch, este a tempo e horas de ser
publicado na "slot" regular ao contrário do que tem acontecido nas
últimas semanas (tanto se publicam artigos em série como se falham no
dias)....
Espero que tenham desfrutado das RAW's de
ressaca da Wrestlemania, porque este artigo vai pegar num dos seus
protagonistas, designadamente Bray Wyatt, que tem demonstrado um
trabalho notável ao microfone que não tem merecido o devido
destaque nestas linhas...
... mas creio chegar a tempo de repor "justiça" e de dar ao homem o protagonismo que ele merece.
Bray Wyatt
Na minha opinião, a oratória não é um dom que nasce com privilegiados, mas sim algo que se potencia ao longo da vida. Seja com a educação (a confiança, fator importantíssimo para se abordar uma sala cheia de pessoas, que temos hoje é fruto do nosso passado), com a socialização e/ou com o treino específico (aquele que empresas como a WWE fornecem aos seus atletas para que sejam competentes no microfone ou a experiência que a pessoa em questão tenha).
Ironicamente, Bray Wyatt, no papel de um renegado da sociedade, alguém que, deduz-se, é “alérgico” ao convívio e às regras da socialização, consegue ter o “mundo todo nas suas mãos” quando pega num microfone. Sejam marks ou smarks, toda a gente absorve, como esponjas, as palavras, (claras) como àgua, do chefe da família Wyatt gerando-se um silêncio que vale muito mais que uma ovação prolongada.
Esta capacidade não se “fabrica”, não se potencia apenas com workshops de bem falar ou de psicologia de multidões, não é apenas fruto de um formação profissional, mas sim de uma de duas coisas: ou de um elevado “background” social (socialização + confiança/educação) da pessoa com o dom da oratória ou da experiência que esta tem em falar para vastos auditórios.
The Rock, Triple H, Chris Jericho ou Paul Heyman são exemplos de pessoas na “nossa” indústria que conseguiram valorizar a experiência de falar para pavilhões cheios e transformá-la em algo cativante e até mesmo empática.
Encontrar exemplos de pessoas que entraram no ramo sem muita experiência em falar para grandes multidões (como aquelas que vemos em cada show semanal emitido internacionalmente) parece mais difícil. Há sempre aquele “engasgamento”, aquele nervosismo compreensível fruto da “verdice” do atleta que torna complicada a tarefa de encontrar um atleta que torna complicada essa tarefa.
Será por isso, porventura, que as gimmicks que se atribuem a lutadores estreantes são menos exigentes nesse aspeto. A WWE fê-lo com vários elementos dos NeXus, incluindo Bray Wyatt, antigo Husky Harris, mas o tempo de microfone que lhe foi dado não chegaria para que se estreasse de forma triunfante numa futura gimmick...
... mas aconteceu, e tem-se evidenciado como um dos melhores “talkers” do panorama atual do wrestling profissional pouco tempo depois de ter debutado, em televisão nacional, a personagem que encarna nos dias de hoje.
Bray Wyatt faz promos durante quase todos os shows semanais. São sempre carregadas de intensidade, de revolta e levam uma certa dose de insanidade. Mas nunca soam exageradas, nem lodentas e a adesão é escandalosamente grande. Creio que isto se deve à linguagem corporal que acompanham cada palavra (55% da comunicação é corporal, dizem os entendidos). São coerentes com o que se diz, ilustram tudo o que aquele personagem deve ser
A WWE sabia a pérola que tinha em mãos, de outra forma não teria dado tanto mic work ao ex-Husky Harris. Era só uma questão de tempo até encontrar uma “slot” vaga de heels para o introduzir, e achar as palavras certas para ele dizer.
Ficam os meus parabéns pelo sucesso na criação deste “monstro”, que é fruto do talento do homem que interpreta Wyat, da capacidade criativa dos responsáveis pela escrita da sua promo e da gestão da personagem.
Se todos estes fatores continuarem a estar interligados desta forma bem sucedida, no futuro, teremos mais um nome a juntar aos inesquecíveis da indústria no médio prazo (5/6 anos).