Tente outra vez
Mas distante do meu discurso ufanista da última vez, pretendo hoje ser mais conciso e direto. Consoante o visto no evento do UFC de ontem, parece-me clara a intenção por trás da avulta que tomou as declarações do antigo lutador praí o último mês. Desde o início, embora sempre tenha havido interesse em conhecer as motivações da sua saída, surpreendeu-me o exagero com que todo o processo informacional foi feito.
Não quero repetir as minhas palavras de sete dias atrás, mas minhas opiniões, diante de tudo que foi visto nas últimas 24 horas, ganham força e legitimidade para reafirmar os dogmas do infame podcast Art of Wrestling: um misto de mentiras e verdades que logram a estritamente causar buzz.
Não muito diferente desse meu artigo aos domingos.
O que se passa, em suma, é que Punk, totalmente desligado do mundo midiático desde seu casamento, precisou da exposição que obteve para alçar em profusão o anúncio do seu acordo contratual com o UFC. Reparem que, sem as discussões recentes, a contratação teria sido, no mínimo, menos barulhenta.
Por isso, o projeto conjunto de exposição, que foi o podcast, serviu para ajudar a todos os que, por ventura, convinha. Colt Cabana, vanguardista nas entrevistas, andava vilipendiado há muito tempo, dada a expansão dos programas de gente como Chris Jericho, Jim Ross ou Steve Austin, notadamente maiores que o lutador Indy. CM Punk ganhou exposição duas vezes, acompanhado pelo UFC que aproveita o fluxo crescente de buzz para revelar uma das maiores notícias no mundo do wrestling em 2014.
Propriamente, gosto da decisão e da forma como feita. Não serei eu hipócrita em dizer que o plano não funcionou – tanto que cá estou novamente falando de um tema já abordado. E, ao mesmo, não vou negar que anseio por vê-lo estrear e de que forma o debuto irá correr. Sempre admirei, ainda que não acompanhe regularmente, a forma como o UFC desenvolve a promoção de seus combates e acho que tem se aproximado bastante da forma já gestada pela luta-livre.
Uma das razões pelas quais me aproximei do wrestling foi justamente esse circo que é a modalidade. Os desnecessários foguetes, os dramalhões, os exageros. Tudo supérfluo, verdade, mas o importante, nesse caso, é que acaba acendendo a alma de um fã. A monotonia é o contrário pois, quando constante num programa de entretenimento, vai isolando gradativamente o espectador até o ponto máximo de torná-lo um ex-expectador. Por isso que muitas vezes exulto medidas impopulares, pois elas são o ápice da interação fã-empresa.
Quando se dá ao público aquilo que este não quer, coloca-se inevitavelmente a empresa como motivo de discussão – ou seja, aumenta-se a exposição. A derrota de The Undertaker, por exemplo. Ou, para retomar o ponto do texto, a contratação de CM Punk pelo UFC.
Escrevo num blog de wrestling, por isso oro que quem me lê – naturalmente, fãs de wrestling – compreendam que é extremamente impopular a contratação de Punk por uma companhia de MMA. Isso pois o wrestling é extremamente impopular para fãs de MMA.
Diferentemente de Brock Lesnar, Punk não tem um background concreto no esporte e isso rompe com qualquer tipo de meritocracia em uma empresa que, muito diferente da WWE, precisa ter em seu plantel, os melhores – e não os que vendem mais. Contudo, aí reforça-se a visão que muitos céticos teimam em negar. Se a WWE pudesse colocar Punk ou The Rock num main event, prontamente optaria pelo segundo. O UFC, podendo contratar (e isso partindo do principio que o UFC estivesse, teoricamente, querendo contratar um ex-wrestler) Bobby Lashley ou CM Punk, optou pelo segundo.
Bobby Lashley combate desde 2008. Em seis anos, foram catorze combates e apenas uma derrota por KO. CM Punk, ao adverso, permanece uma incógnita.
O mundo hoje naturalmente peca por imoralidades desse tipo. Como pode alguém que diz-se prejudicado diante de main events perdidos, ir ao plano seguinte em sua carreira e fazer o mesmo, obstruindo o espaço de outros?
Mas não se enganem. Dana White é tão ambicioso quanto Vince McMahon. Ambos são sujeitos que, dentro dos negócios, são capazes de negociar as próprias mães. Caráter, nesse ensejo, é ilustrado por meio de quanto dinheiro se faz. Não existem relações afetuosas. Não existe verdade, sequer.
Um exemplo. Para Dana White, Brock Lesnar está saindo da WWE e rumando de volta ao UFC desde 2012. Até agora, nada. Para que, então, mentir em entrevistas? Exposição.
Em outras palavras, é assim que se fazem negócios: medidas impopulares. O público precisa entender que está indefinidamente escravizado pela empresa a que acompanha e precisa engolir sem regurgitar aquilo que ela oferece. Simples.
Fui observar opiniões de fãs do UFC e percebi que, dentre a maioria, impera essa negativa, já que são várias as críticas para a chegada desse novato na companhia. Todavia, existe o interesse desses fãs, à medida que, gostando ou não, a notícia trouxe novidade. A polarização entre WWE e UFC parece estar acabando, verdadeiramente. A chegada de Punk atrai fãs de wrestling e de MMA para acompanhar essa intrigante história. Parece-me que, dentro de alguns tempos, tornar-se-á inevitável associar uma competição entre wrestling e MMA – a qual sempre fora refutada por diretores de ambas as companhias.
Punk, não enganem-se vocês, está nesse entrevero como mera marionete. Passa a valer menos do que valia na WWE. Posso estar enganado, mas sua posição, ao transacionar de um esporte para outro, será apenas de holofote, isto é, angariar exposição ao UFC. Como já referido, Punk não tem (e quando digo não tem, quero me referir a zero, ou seja, nulidade) experiência e é inferior a outros wrestlers que rumaram ao MMA, ou seja, está lá para ser um draw. Vou ser didático: Punk é aquele hall of famer que vai ser introduzido na ala de celebridades. Ninguém sabe o que vai lá fazer, mas está lá. Ponto.
Portanto, em 2015, será interessante ver o desenrolar desse longo capítulo que permeia CM Punk. De fato, destaca-se a determinação e coragem do mesmo em lançar-se diante de um desafio como esse.

Essa era uma característica importante que o fez ascender já na IWA:MS. Acuso dizer que, desde o início, era ele maior que muitos da ROH ou outros empresas indys de maior patamar. Relembro, por exemplo, seus combates com Chris Hero: a TLC, a 2-out-of-3 falls, a ironman. Magníficos, soberbos. Dignos da alta classe de uma WWE.
Mais tarde, veio Samoa Joe. Veio com ele as gloriosas batalhas de mais de hora. Veio o irromper de fãs clamando por Punk. Veio o sucesso, mas nada mudou. Continuou Punk a ser o mesmo trabalhador esforçado, aquele da coleira com Raven, aquele dos second city saints.
Seu retrospecto refreou na WWE. Há de se, aqui, dar-lhe razão. Punk chegava das independentes num nível muito acima do que se esperava, para seu tempo. Entretanto, imperava na WWE a indyfobia, que excluía os lutadores independentes do sucesso. Mas foi-se lá o Best in the world quebrar o paradigma. Graças a ele, hoje temos um futuro campeão como Seth Rollins ou um ex-campeão como Daniel Bryan, vindos do mesmo piso do seu fundador.
No entanto, difícil será entender de que forma se pode relacionar o fato de Punk ter, por exemplo, duas lutas cinco estrelas na carreira, analisadas por Dave Metlzer, e o seu futuro no MMA. Ao entrar no octógono, Punk deixa de lado a combinação dos golpes e o show. Deixa de lado o teatro. Deixa de lado aquilo no que é melhor e aquilo que sabe fazer de melhor.
Mas, há sempre a surpresa. Pessoalmente, ainda que acredite que o sucesso será difícil, para mim, Punk continuará, agora dentro dos octógonos, o Best in the world!