Em resposta ao comentário de um leitor na semana passada
Minha resposta para isto:
“Eu quero ver o titulo principal da empresa ser disputado, quero ver titulo mudando de mão em shows semanais, quero ver valorização do plantel da WWE.”.....
Seria aprazível, até, que eu tivesse escolhido, por hábito, um comentário crítico quanto as minhas escritas semanais. Por mais que o meu objetivo, ao redigir, seja obter críticas, entretanto, ao contrário, fiquei bastante feliz com o comentário transcrito acima, de autoria de um leitor. Acho que a ideia do autor pode servir de plano concreto para um bom debate acerca de algo que discorri um mês atrás, no que tange à queda de qualidade do Professional wrestling e, em especial, da WWE.
Não sei, sinceramente, se retrato a ideia do leitor como mera ilusão ou como um desejo. Não posso eu julgar o que o outro pensa. Mas, por tudo o que li nesse blog desde que passei a integrar sua equipe em 2009, posso dizer, com certo grau de certeza, que esse leitor é um dos muitos que não percebe com exatidão o que se passa na WWE e no seu backstage. A propósito, só sabe quem lá vive. Nem mesmo o endeusado Dave Metlzer pode impingir as suas notícias sensacionalistas e pragmáticas um grau de confiabilidade que lhe dê méritos de conhecedor do backstage.
Todavia, o leitor, no caso acima, simplesmente ignora que todos seus desejos são, na verdade, impossíveis de se concretizar. Várias vezes teorizei que, ao alcançar a pax (isto é, a soberania), uma empresa começa a ganhar dinheiro através de medidas impopulares. Exemplos: fim da streak, manutenção de John Cena no topo, part-timers, etc. Isto difere do que se vive em um momento de afirmação, tal qual o do final da década de 90, onde a WWE carecia de clareza quanto à diferenciação do seu produto para o da concorrência.
Hoje, portanto, não é sequer interesse da WWE que se tenha uma valorização do plantel, ou um título valorizado, ao menos. Existe o tédio ao emblemático, ao inseguro. A WWE joga suas cartas com a certeza de não perder, ou seja, ela joga não para ganhar, mas para manter-se no topo. Cada medida adotada é coberta por um grau de segurança que muitas vezes não atinge aos fãs de acordo com aquilo que querem.
Sou eu um dos que, junto com o autor do comentário, acredito que o wrestling precisa de mais, mas, sobretudo, precisa de melhor. O conteúdo apresentado não pode se definir por comédias histriônicas ou perspectivas furadas de um tempo que não o de hoje. A indústria, como um todo, precisa aprender a pensar e valorizar (como disse o leitor) aquilo que convém ao espectador do século XXI.
Contudo, volto a afirmar, não é esse o desejo de empresas como a WWE. Deveria ser, porém, não o é. Aí entra o ponto: eu defendo algo que não vai de acordo com quem gerencia a WWE. Logo, eu não compreendo nada daquilo. Sou um mero escritor, alguém sem vínculo com o wrestling. Como saberei eu gerir, então, uma empresa (de wrestling)?
Pretendia sequer citá-lo, mas acho que aqui CM Punk entra bem, como meio de ponto de argumentação. Desde que saiu da WWE, mas já antes, Punk sempre fora um crítico severo de tudo o que concerne ao seio de administração da empresa.
Lembro de uma frase célebre dele, no final de semana do Royal Rumble 2014, fatídica última noite em que esteve num ringue. Nessa ocasião, disse ele: “Se diretor, não estaria pensando, nesse momento, na Wrestlemania XXX, mas já estaria planejando a Wrestlemania XXXI”.
Planejamento não é ruim. Planejamento é algo intrinsecamente atrelado ao conceito de valorização de que o leitor falou na semana passada. Se fosse por planejamento, quem sabe não se teriam desperdiçado Drew McIntyre ou MVP. Ou, até mesmo, não se estaria desperdiçando, hoje, Roman Reigns.
É esse ciclo de maus hábitos que faz a roda da WWE desengrenar. Desengrenar: soltar aquilo que estava engrenado.
Estava.
Sinto, provavelmente assim como o leitor, que quanto mais volto ao passado, mais aumenta a qualidade da WWE. Não sou tão velho espectador do esporte como muitos de vocês, mas, nos oito anos que vejo os programas, posso, com exatidão, comparar o desnível com que tudo foi sendo levado.
E não é preciso voltar tanto.
2011, pode-se dizer, foi o último bom ano da empresa. Tivemos CM Punk em destaque. Tivemos Mark Henry com uma construção excelente. Tivemos a feud Randy Orton v. Christian. Tivemos o início da ascensão de Daniel Bryan. A volta de The Rock. A formação da dupla The Miz e R-Truth, com uma storyline muito boa, ao longo dos meses, para o segundo. Enfim.
Eis o que separa o supracitado ano do atual: planejamento.
O tédio ao inseguro, entretanto, impede que a WWE adote, hoje, muito do que fora adotado outrora. Mas reparem que, desde 2011, pouco mudou no patamar da companhia, visto que continua a única grande no wrestling. Contudo, várias fatores, como o RAW passar a três horas ou o lançamento da WWE Network, tiveram papel basilar nessa transição do eufórico para o estagnado.
Isso pois, hoje, está tudo estagnado.
À exceção de um Dean Ambrose, talvez, não temos um lutador, ao menos, que se destaque. Não estou brincando. Brock Lesnar já não faz mais nada (nisso incluo Paul Heyman). John Cena não é bem empregado (embora seja o maior nome da companhia, ainda).
E isso sem citar gente como Kane ou Big Show, que parecem ser meros fantoches a aparecer nos shows semanais para que se mostre que são lendas. É como que se estivessem lá por respeito. Não há papel para eles e para mais de metade do plantel.
Mas tudo bem, leitor. Compreendo-o. A WWE carece de tudo o que citastes. Fostes lírico. Porém, ao mesmo tempo, expressastes uma opinião fora de contexto. É como a justiça ou a lei. O bom seria que fosse cumprida. A prática não é bem assim, pois o mundo precisa continuar sendo gerido de maneira o mais tediosa possível.
A WWE é a mesma coisa. O que conta é a constância nos ratings. A estabilidade. A WWE é como um idoso e sua previdência social. Está para os fãs assim como várias outras organizações ao redor do mundo. E, como precursora, é seu papel o de ocupar o cargo de vanguarda na modalidade.
Eu preferia evitar escrever outro texto assim. Sinto-me, a cada parágrafo, a escrever a mesma coisa, mas de forma diferente, para que possam compreender a maneira como se dá a gestão atual da companhia. Controversa, porém estável.
Eu não concordo, como muitos de vocês, mas para isso tenho o acervo da internet, caso queira relembrar bons momentos do passado. A WWE, hoje, parece ser criada para verem-se combates, mas não histórias. Isso não é wrestling – ou esportes-entretenimento, que seja assim chamado.
Eu, que perdi todo o mês de dezembro, chego ao último RAW e vejo-o com a naturalidade de quem não perdeu absolutamente nada. A WWE vive uma constante vigília para sua próxima transição. Enquanto isso, somos reféns de um infinito buraco que leva a lugar algum.
Isso evita o que o leitor clamou. Não se fazem trocas de campeões em shows semanais. Não se valoriza o roster. Não há a necessidade. Não há concorrência, nem mesmo nos calcanhares.
Eu só posso aceitar ou, como já disse semanas atrás, engolir o que nos apresentam sem regurgitar.
Mas a beleza do wrestling é que, sabe-se lá, semana que vem posso vir aqui dizer que está tudo bem. Que não há nada de errado com a WWE. Posso vir aqui concordar com os devaneios do leitor, autor do comentário, e dizer para ele: você está certo.
Entretanto, enquanto escrevo esta edição, o momento ainda não chegou. Portanto, leitor, recupere-se, assista aos shows e faça como eu: não faça nada. Não há o que fazer, a não ser aceitar a tirania da única companhia de wrestling do mundo.
Faça-se ali a vontade da WWE.
Estarei eu a assistir e, uma vez mais, engolir sem regurgitar.