Slobber Knocker #136: Fastlane para o Fastlane
Bem-vindos a um novo Slobber Knocker
que chega quando o Fast Lane já aqui está tão perto. Apesar do
título, não é nenhum artigo genérico referente a uma antevisão
geral do evento, nem olha ao evento no total. É apenas uma olhadela
ao main event e ao que o mesmo pode envolver. O desfecho, muito
provavelmente, não se levantará muito além do muito simples. Mas
não significa que não haja espaço para colocar várias
possibilidades sobre a mesa.
Roman Reigns e Daniel Bryan
enfrentam-se por um lugar no main event da Wrestlemania e, como
indicou o brilhante final do último Raw, muito respeitinho e tal mas
as coisas estão intensas. Logo as coisas vão estar fortes no
Fastlane e vou enumerar várias maneiras para isto acabar.
Daniel Bryan vence e tira valor à
Royal Rumble
E isto tendo em conta que andaram
recentemente a recuperar algum do valor tremido que se havia
dispersado em anos anteriores, em que o vencedor da Royal Rumble
conseguia combates de abertura na Wrestlemania. Um combate de
abertura com menos de 20 segundos, se fosse preciso. Este ano
conseguiriam um autêntico assassínio se o vencedor da Royal Rumble
não fosse ao main event da Wrestlemania sequer. Desvalorizava
totalmente o evento e colocava em questão qualquer situação
futura. “O vencedor vai ao main event da Wrestlemania... Se os fãs
gostarem.”
Os próprios já mencionaram o assunto,
chegando a ter em segmento Triple H e Stephanie McMahon a discutir e
a questionar a legalidade dessa situação. Agora que colocaram mesmo
o posto em causa, isso torna a vir ao cima: se Daniel Bryan vencesse,
que significado teria a Royal Rumble, combate no qual ele durou uns
meros 10 minutos e o vencedor obteve nada?
Tinham que utilizar isso para história
e com muito cuidado para ter a certeza que não prejudicava as
futuras Rumbles. E tinha que servir para Reigns mudar a sua atitude e
tornar-se alguém bastante chateado e frustrado, com razão, por ter
sido tramado, por achar que já nem vale a pena conquistar as coisas
de forma limpa, quando elas lhe são tiradas. O problema seria em
quem descarregar essa sua frustração, quando os competidores do
main event da Wrestlemania já estão ocupados para se estar a
preocupar com ele e também não se vai virar contra o Triple H,
quando este tem mais part-timers com que se preocupar. É aí que
fica o buraco, porque Reigns tem que ir à Wrestlemania, mas fica sem
adversário se o seu propósito for, precisamente, ficar sem
adversário.
Daí que seja uma opção demasiado
baixa. Sim, todos gostamos de Daniel Bryan e bem sabemos a recepção
que Roman Reigns teve ao vencer a dita Rumble. Mas se isso era um
erro, já está cometido e não é agora que tem emenda através de
reversões. Se mudam de ideias e dão a vaga a Daniel Bryan, já é
tarde demais e estão a mexer em coisas que não devem. Logo é com
muita pena que se tem que admitir que se Daniel Bryan ganhasse, seria
uma má medida.
Roman Reigns vence e vira Heel
É uma hipótese a considerar para
aproveitar o heat que tem. Já que vai pela mesma estrada que o
Batista, até mais lhe vale apanhar a mesma boleia e tudo. Assim, com
uma controversa Rumble, tinham dois factores a emendar: o passar do
tempo até à Wrestlemania, sabendo que Brock Lesnar não estaria
sempre presente e o heat que Reigns carregava para um Face que é
suposto ser de topo. Para passar o tempo, arranja-se isto, tudo bem,
aí já está. Agora falta a outra parte. Contornar o heat? Não dá,
os fãs são persistentes. Abraçá-lo? É o melhor.
Da mesma forma que Batista se virou aos
fãs antes da Wrestlemania – antes do planeado – para poderem
estar mais “à vontade” com o heat que pairava sobre ele, podem
muito bem fazer o mesmo com Reigns e talvez explorar melhor os seus
dotes e qualidades para que seja mais bem aceite numa eventual Face
Turn. Que é sempre o melhor, já deviam ter aprendido que tentar
atafulhar Faces pelos olhos do público dentro não dá resultado.
Mas não precisa de dar uma promo para o justificar. Especialmente
quando o heat já começa no momento em que ele pega num microfone,
mesmo que se veja o seu esforço em melhorar nessa bendita área. Ele
já vai entrar na arena com heat, agora têm que aproveitar a
corrente e fazê-lo sair com mais, mas este num melhor sentido, num
sentido mais intencional. Num sentido com mais respeito.
E tudo o que precisa é de uma vitória
suja, visto que a atitude arrogante já está lá perto para a
agarrar. Tanto Reigns como Bryan têm soltado bastante do “asshole”
dentro deles nas últimas semanas como forma de entrar na cabeça um
do outro, culminando no último Raw com mais força. Reigns tem que
aproveitar isso, capitalizar e vencer de forma duvidosa. Não falo em
envolver a Authority, senão agora qualquer Heel para virar tinha que
se juntar à stable e é mais um caso de alguém a quem as fizeram
negras para estar depois a juntar-se a eles. E para isso já temos o
Big Show e a sua milésima turn. Uma estratégia questionável, uma
ilegalidade, algo fora do normal do recente Reigns, algo que irrite
qualquer um e faça os fãs mais novos reconsiderar a preferência
por ele. Algo que não o deixe a parecer fraco porque não convém
estar agora a descer degraus de “toughness” só porque virou
Heel. Mesmo que seja um atalho, considere-se que era só por ser
apenas contra o persistente e duro Daniel Bryan e para abrir caminho
para uma besta como Brock Lesnar.
O que também tinha que vir daí seria
uma Face Turn de Brock Lesnar e, apesar de tal já ter sido
considerado ultimamente, não é fácil de fazer. Heyman é demasiado
brilhante a Heel para passar para o outro lado – mesmo que ele seja
do tipo de Heel adorado, é assim mesmo que é adorado – e para se
virar a Lesnar – digamos que até mostra preferência por Roman
Reigns, a pegar no tal respeito que tem por ele e pela sua família –
temos um Lesnar sem porta-voz e isso é das coisas que menos jeito
dá. Para fazer Heel vs Heel, mesmo que não houvessem grandes
dúvidas sobre o objecto de preferência – as plateias adoram
sempre o Brock Lesnar e foram rapidíssimos a perdoar-lhe o final da
streak – não é uma boa estratégia, nunca o é. Logo,
deparamo-nos com novo enredo. Mas que eles conseguiriam emendar.
Ainda para mais quando a tal Face Turn de Brock Lesnar até nem é
assim tão improvável.
Roman Reigns vence e fica tudo na mesma
É o tal de andar sempre para a frente
e assobiar para o lado, a fingir que não se passa nada. As reacções
negativas não são unânimes, é verdade, ainda há uma fatia do
público a apoiá-lo e, a julgar pelo tom das vozes, é mais jovem.
Nada de errado com isso, já é costume haver polarização de
gostos, especialmente no que diz respeito a Faces heróicos. Mas
entrar para uma recepção mista dessas é coisa de Cena e esse
obteve esse estatuto com o tempo. Entrar logo à Cena parece uma
manobra algo bruta, não se constrói um Face assim.
Mas podem tentar na mesma. A sua
atitude já mudou, de qualquer maneira, logo não adianta andar com
sorrisinhos e abraços porque esse já não convenceu e já não
combina com ele. Para tal, bastava-lhe obter uma vitória limpa e
justa, com uma celebração convicta de quem está a provar todos
errados. Os seus fãs aplaudirão de pé e o restante lá permanecerá
com a sua opinião vocal menos positiva.
Mas ainda tem dois trabalhos. Conseguir
uma reacção mais amena, conseguindo um grande combate que roube o
espectáculo e imponha algum respeito. Tem o worker perfeito para
brilhar e sabemos que, lá porque é limitado e ainda por amadurecer
totalmente, Reigns tem um bom desempenho em ringue. Para alguns aqui
é o “vai ou racha” e se passar o teste, não cala a malta mas
acalma-os e talvez os deixe a pensar que o main event com Brock
Lesnar até pode ser jeitoso. Outro é simplesmente endurecer a sua
atitude mais arrogante, a aproximar-se de um Heel mas sem chegar a
tal. Seria o tal anti-herói que eles gostam muitas vezes de abordar
– e que não quiseram ainda explorar a 100% em Dean Ambrose. Se ele
mostrar alguma hostilidade “amigável”, por assim dizer, apenas
sem que se vire totalmente contra os fãs que se viram ele, senão já
era Heel, para receber mais apoio dos seus fãs que gostam de ver o
seu Superstar favorito a impor-se e para ganhar também algum
respeito desses mesmos antagonistas. Ao fim e ao cabo, trata-se
apenas de ganhar respeito.
Ironicamente, talvez como Heel ele
conseguisse esse tal respeito, que é o que ele mais precisa agora
para ser main eventer da Wrestlemania. Mas se é para obter isso
mantendo a mesma ideia de que Reigns é o herói de topo, então vai
dar mais trabalho. Mas era para valer a pena e, como tudo, é uma
mera questão de agirem com prudência e inteligência. E eles às
vezes até o fazem.
Daniel Bryan vence e vira Heel
Claro que esta entrada está aqui para
marcar presença e não tem muito por onde se justificar. Conseguir
uma proeza destas está praticamente à beira do impossível. Daniel
Bryan podia ganhar com três golpes baixos, dar um tiro a Reigns e
outro a um comentador e abanar uma bandeira com uma suástica que o
público ia continuar a gostar dele e a apoiá-lo. Já está em
estado irreversível e se não aprenderam a mal com aquela vez em que
tentaram a turn juntando-o à Wyatt Family, é casmurrice ou burrice.
Não digo que ele fique eternamente
Face mas não parece haver como o ter de outra forma por bastante
tempo. Daí que uma tentativa disso no main event do Fastlane como
forma de obter um caminho mais curto e sujo para a Wrestlemania e
para o WWE World Heavyweight Championship não viesse a ter grande
sucesso. Reigns não consegue ser aceite como um underdog credível a
esta altura e Bryan não ia mudar a cabeça a ninguém com qualquer
atitude mais fora de carácter.
Outra coisa que compromete demasiado
este cenário – para além de, basicamente, tudo – é a forma
apatetada como se venderia o main event da Wrestlemania nestas
circunstâncias. Brock Lesnar, a besta imparável que nem parece
humana em ringue, que pode muito bem ser imbatível por esta altura,
que acabou com a streak de Undertaker e fez de Cena gato-sapato. Esse
era o babyface, o favorito, o underdog. Daniel Bryan, o “pequenote”
dotado de wrestling técnico que conseguia colocar plateias ao rubro
apenas com uma palavra, que tornou a sua mais recente fase da
carreira numa cruzada por um título inalcançável. Esse era o Heel
sujo, temido, ameaçador, que tinha o hostil público todo contra si.
Nada aqui faz sentido e parece a gozar.
Daí que nem adiante estar a aprofundar
muito as circunstâncias de tal acontecer. É um cenário tão
impossível que nem vale a pena estar a imaginá-lo. Não é uma
opção. Uma Heel turn que acabaria com uma plateia inteira a dar aos
braços e a gritar “Yes!” não conta propriamente como uma turn
eficaz. Logo nem se mexe aí.
Empate e Triple Threat
Uma saída fácil para deixar toda a
gente satisfeita e amanhar as coisas para que acabem os dois no main
event da Wrestlemania e dificultar a vida a Brock Lesnar que agora ia
andar numa de defender contra dois de cada vez. O problema é que
apenas ficaria toda a gente satisfeita em teoria, em termos de
resultado, porque não sei se existe forma de deixar muita gente
satisfeita com um final de combate que não decida um vencedor. Para
isso já chegam quase todos os combates do Raw.
Se quiserem mesmo fazer um combate
daqueles bem elevadinhos até lá cima, capaz de levar ambos os
lutadores à exaustão, têm como fazê-lo com uma dupla contagem sem
que qualquer dos lutadores responda a contagem até dez. É um final
azedo e a plateia não vai reagir bem ao ouvir a campainha e apenas
ver dois lutadores estendidos no chão. Para um final de PPV, o sabor
agridoce estender-se-ia até ao Raw seguinte, onde se tirariam as
satisfações, a Authority tentaria traduzir esse resultado para uma
exclusão de ambos os competidores, até que se fizesse justiça e se
inserissem ambos. Tinha que se esperar um dia e ia ficar a sensação
de engano, não se definiu aquilo que se tinha pago para ver – para
quem estaria na arena ou para quem ainda obteria o pay-per-view.
Porém, esse se calhar era o menor dos
males, se olharmos a outras possibilidades. No cenário anterior, a
Authority apenas aproveitava o resultado, mas eles são bem meninos
de definir o resultado. E imaginar o Fastlane a acabar com membros da
Authority como Kane, Big Show e os J&J Security a atacar ambos os
Superstars para termos uma dupla desqualificação e os gigantes
veteranos a pavonear-se como fechos do evento como se a plateia ainda
se importasse com eles... Era muito pior e ia parecer mais insultuoso
que a desilusão do no contest por “duplo KO”. Pior se houvesse
um “duplo KO” pós-combate, ou em processo de desqualificação,
às mãos de Big Show. Afinal, um combate competitivo e equilibrado
que leva ambos os competidores além dos seus limites, ao ponto de
não conseguirem mais é bem superior a estar a desfrutar-se um
combate e chegar lá um grupo de velhos a interrompê-lo.
Contudo, há que ver que mesmo não
sendo uma saída satisfatória, não é propriamente impossível.
Eles podem mesmo querer fazer a emenda e meter Daniel Bryan,
arriscando a integridade do main event da Wrestlemania que é ocupado
pelo vencedor da Rumble e pelo Daniel Bryan, por dois anos. Assim já
se premeditava que seria “Campeão vs Vencedor da Rumble vs Daniel
Bryan” todos os anos, já agora. Também podiam optar pelo no
contest como forma de aumentar o suspanse e puxar atenção para o
Raw onde repetiriam o combate, com a mesma qualidade ou superior,
talvez com uma estipulação mais agressiva, para obter um vencedor e
candidato ao título definitivo. O que seria uma prolongação
desnecessária, pois o Fastlane já devia ser o início do processo
de fazer as malas e ir direitinhos para a Wrestlemania, sair de lá
com um integrante do main event era conveniente. Mas estejamos
abertos a tudo.
Seth Rollins envolve-se
Ele tem que andar sempre metido ao
barulho, seja de que maneira for. E nem digo isto só num tom de
“anda sempre a meter o nariz neste assunto”, mas também numa de
“têm que o envolver porque ele até faz bastante falta neste
bailarico todo”. E para mim a sua única saída da brincadeira do
título e da mala é Rollins a Campeão, nem estou disposto a aceitar
outra coisa.
Um problema que existe é um pequeno
buraco no contar da história da caça ao título por parte de Seth
Rollins e que deviam aproveitar para abordar aqui. Rollins procura
muito candidatar-se ao título da forma “tradicional”, quando ele
tem uma mala que o coloca lá quando lhe der na real gana – ou
quase porque ele precisa, no mínimo, de ter o Campeão lá e essa
parte é que é a mais difícil. Simples, ele apenas está a ser
esperto e a apanhar mais oportunidades para ter sempre um “plano B”
de que tanto falam. Colocar-se na rota do título, sabendo que tem
uma vantagem numérica e apoio dos patrões, deixa-o confiante para
colocar-se em campeonatos via forma tradicional e poupa a mala para
uma emergência. Muito simples, explanatório e básico. O problema é
que eles não mencionam muito isso e dá mais a entender que Rollins
se esquece que tem aquela mala que lhe dá tanto poder.
Tudo o que têm a fazer é falar no
assunto e no próprio evento, onde Rollins ainda não tem combate
pelo que se conste, Rollins suplica à Authority para o colocar no
main event e dar-lhe uma nova oportunidade pelo título, para não
ter que desperdiçar a mala na Wrestlemania, coisa que ele afirma que
faria de qualquer forma se não estiver já no main event de forma
justa. Tinha argumentos fortes e é o menino bonito da Authority,
logo davam-lhe o doce e o combate passa a ser uma Triple Threat com
Rollins, Reigns e Bryan. O amargo aqui seria a construção de
semanas de um combate, já com tantas implicações pessoais
envolvidas, para ser alterado no próprio dia para incluir uma
terceira roda nas turras pessoais de Bryan e Reigns. O lado bom é
que tinha tudo para sair um combate tremendo. Mas Rollins não
vencia. E porquê? Porque apesar de todos os seus ambiciosos planos,
havia um certo “Viper” com umas contas a ajustar e que acha que o
Fastlane é um bom palco para o anunciar e arruma Rollins do main
event. O vencedor? Escolham uma das opções anteriores, pronto.
Até ficava tudo arrumadinho na mesma e
abria caminho para dois combates já esperados na Wrestlemania, o
main event pelo título e o confronto entre Randy Orton e Seth
Rollins. Só tem aquele esticão de conseguir inserir Seth Rollins no
barulho de forma credível – e ainda por cima é preciso lembrar
que ele não está no combate, precisamente porque perdeu para Bryan
num combate de qualificação para este – e de manchar toda a
construção de semanas entre Bryan e Reigns. Logo, é melhor não.
Mas digo já, sem aprofundar muito porque seria para outro artigo,
que a minha opção para a Wrestlemania era a de Rollins sair como
Campeão. Daquela simples maneira mas não tão simples assim. Como
disse, coisas para outro assunto que não este.
Como não vejo muita necessidade de
estender o assunto nem de esticar as opções para saídas surreais,
acho que já propus cenários suficientes. Sei que é tudo
constituído por coisas simples e até semelhantes, mas este artigo
não era suposto ser daqueles em que me armo em esperto a “bookar”
diferentes cenários. Aqui armo-me em esperto de forma mais simples,
apenas a focar-me nas várias saídas do que num finish propriamente
dito. Mas estão à vontade de acrescentar mais qualquer coisa, visto
que já fico por aqui e isto é vosso. Que tenha sido a gosto e que
dê para alguma conversa. Se quiserem fugir um pouco à questão, mas
mantendo-se perto do tema, podem sempre ponderar:
“Acham que Roman Reigns tem muito a
provar no seu combate no Fastlane?”
Como isto agora é vosso, não tenho
muito mais a dizer até à próxima semana, onde devo iniciar uma
série de artigos referentes à “Road to Wrestlemania”. À minha
maneira, claro. Até lá só espero que fiquem bem e que desfrutem de
um bom Fastlane!
Cumprimentos,
Chris JRM