A Alternativa Fenomenal #18: Wrestling Feminino Japonês
Saudações a todos, e bem vindos a mais uma Alternativa Fenomenal. Há algum tempo atrás, fiz um artigo onde apresentava várias empresas que trabalhavam exclusivamente com wrestling feminino, ou que possuíam divisões femininas bastante conhecidas e desenvolvidas. Eis que neste artigo, acabei por não falar sobre nenhuma federação japonesa, o que deu um ar de incompleto para o texto. Então, agora trago para vocês um pequeno resumo das principais companhias de luta livre japonesas especializadas em wrestling feminino (conhecido como joshi-puroresu). Sem mais delongas, passemos ao artigo;
O joshi puroresu (também chamado joshi puro), costuma ser praticado apenas por empresas onde o roster é exclusivamente feminino, não havendo companhias predominantemente masculinas que mantenham uma divisão feminina (havendo raríssimas exceções, como a Frontier Martial-Arts Wrestling, FMW, que continha uma pequena divisão feminina em seu roster).
Obs: Infelizmente o vídeo a seguir se encontra com o áudio muito baixo, mas isso não interfere na visualização do combate.
No entanto, mesmo com esta separação, as companhias predominantemente masculinas e predominantemente femininas mantêm entre si um grande vínculo de respeito, sendo realizados shows em conjunto entre essas promotoras e sendo completamente reconhecidos os títulos presentes em cada empresa.
O auge do joshi puro deu-se a partir de meados da década de 1980, com a rivalidade entre as Crush Gals (Nagayo Chigusa e Lioness Asuka) e a stable Gokuaku Doumei, realizadas pela AJW e que alcançaram alguns dos ratings mais altos da televisão japonesa, além de esgotar vários estádios onde eram realizados os shows.
Durante a década de 1990, houve uma maior explosão de popularidade deste segmento, com a aclamação do público e crítica especializada, além de várias atribuições de 5 estrelas aos combates, dados pela Wrestling Observer Newsletter.
Além disso, o joshi puroresu também é considerado como o segmento precursor da famosa X Division americana (uma das marcas registradas da TNA), devido ao fato de lutadoras de peso mais baixo, com maior aptidão ao estilo high-flyer, disputarem cinturões únicos, com hierarquia inferior aos titles principais, mas mantendo o mesmo espírito dos jr heavyweights das companhias masculinas (no Japão, as lutadoras não são divididas pela categoria de peso).
Sabendo disso, e considerando a importância do estilo no cenário da luta livre japonesa, destaco agora algumas das principais companhias exclusivamente pertencentes ao segmento do joshi puroresu:
All Japan Women’s Pro-Wrestling (AJW) – Considerada a maior empresa do joshi puro, a AJW foi criada em 1968 por Matsunaga Takashi e seus irmãos após o rompimento da antiga All Japan Women’s Pro-Wrestling Federation, e manteve-se ativa durante um período de 37 anos (até hoje o maior tempo de atividade de uma companhia de wrestling feminino no Japão, além de um dos maiores tempos de atividade para companhias de wrestling em geral). A companhia começou a construir seu legado a partir da década de 1970, com uma sucessiva série de feuds entre lutadoras nipônicas e estrangeiras, que dividiam entre si reinados do WWWA World Heavyweight Championship, principal title da empresa.
Como citado antes, seu auge (bem como o ponto mais alto do joshi puro em termos comerciais) ocorreu na década de 1980 com a rivalidade ente as Crush Gals e a Gokuaku Doumei, ajudando a AJW a ser uma das principais empresas de wrestling do Japão. Seu status de maior empresa feminina manteve-se inalterado até 1986 quando começaram a surgir várias novas companhias especializadas em luta feminina.
No entanto, no final da década de 1990, com a crescente concorrência de outras promotoras, problemas financeiros e a saída de vários talentos importantes, a AJW começou a perder espaço no cenário da luta livre, até que em 2002, a empresa perdeu seu contrato televisivo. Em 2005, a empresa que até então foi a maior da história do joshi puro, decreta falência e fecha suas portas, sendo que após seu fechamento, nenhuma outra companhia do segmento conseguiu alcançar um status semelhante ao que conseguiram obter.
Lutadoras de destaque: Lioness Asuka, Nagayo Chigusa, “Bull” Nakano Keiko, Jumbo Miyamoto, The Amazing Kong (Awesome Kong da TNA), “Dump” Matsumoto Kaoru, entre outras.
JWP Joshi Puroresu (JWP) – Fundada em 1992 por Jackie Sato (ex-lutadora da AJW) e por Yamamoto Masatoshi, após uma divisão da Japan Women’s Pro-Wrestling (antiga companhia formada por ex lutadoras da All Japan), esta empresa tinha o objetivo de rivalizar com a AJW, sendo que nunca conseguiu ultrapassar a mesma em termos de popularidade.
A empresa chegou a se aproximar da famosa rival durante algum tempo, mas em 1997 a situação começou a mudar drasticamente, com a perda de várias de suas lutadoras de topo (Okatsu Candy e Yagi Hiromi reformaram-se, Dynamite Kansai afastou-se por problemas de saúde, além da morte de Plum Mariko, durante um dos eventos da companhia). Em 1999, a companhia ainda perderia Sato, que morreu vítima de câncer, e após um evento em conjunto fracassado com a All Japan, a empresa fechou suas portas em 2000.
Mas, apenas alguns meses depois, a JWP ressurgiria, agora sob a liderança da lutadora Command Bolshoi, continuando a parceria com a AJW até a falência desta em 2005. Desde então a JWP tem sido a empresa de joshi puro de maior longevidade ainda em atuação, bem como seu JWP Openweight Championship é o título mais antigo ainda disputado, sendo a atual campeã Ozaki Mayumi. A empresa mantém parcerias com a Ice Ribbon e com a indy americana Chikara, tendo algumas de suas lutadoras participado em alguns eventos da companhia estadunidense.
Lutadoras de destaque: Dynamite Kansai, Ozaki Mayumi, Plum Mariko, Command Bolshoi, Jackie Sato, entre outras.
Ice Ribbon – Fundada em 2006 pela ex-lutadora da FMW, Sakura Emi, a Ice Ribbon é uma das principais indys do wrestling feminino japonês, sendo extremamente conhecida pelo fato de treinar e apresentar meninas bastante jovens como wrestlers (por exemplo, a lutadora Minami Hikari estrou-se aos 11 anos nos ringues da companhia).
A empresa manteve diversas parcerias ao longo dos anos, com promotoras independentes como NEO Japan Ladies Pro Wrestling, JWP, Reina Joshi Puroresu, Sendai Girls’ Pro Wrestling (com quem a empresa manteve uma feud interpromocional ao longo de 2010), a americana Chikara, a britânica Pro Wrestling EVE e a promotora masculina DDT.
A Ice Ribbon possuiu, de maio de 2010 a dezembro de 2012, um programa próprio, chamado 19 O’Clock Girls ProWrestling, no canal de streaming online Ustream, que apresentou um pequeno sucesso, e seu principal title é o Ice Cross Infinity Championship, atualmente na posse de Kizuki Aoi. Ainda hoje seu centro de treinamento é um dos mais conceituados no meio do joshi puroresu.
Lutadoras de destaque: Sakura Emi, Obihiro Sayaka, Kizuki Aoi, Haruyama Kayoko, entre outras.
Pro Wrestling Wave – Fundada em 2007 por Futagami Mikiko, Ohka Yumi e Takeshi Tatsuya, após a falência da JDStar, a Wave é uma indy cujos shows são primariamente produzidos para DVD, tendo sua primeira transmissão em TV ocorrido em 2010, num show exibido no Korakuen Hall, famosa arena de Tokyo. Eles são conhecidos por serem uma das poucas empresas a apresentarem shows em dias de semana.
Boa parte de seu roster é compartilhada com sua empresa irmã, a Osaka Joshi Pro Wrestling, além de terem a participação de lutadoras de outras companhias, como a Ice Ribbon e a Union Pro em seus shows. Seu título principal é o Wave Single Championship, atualmente em posse da ex-TNA Hamada Ayako. Entre suas alumni, se encontra a atual lutadora da WWE Kana, agora conhecida como Asuka, que conseguiu alcançar um bom destaque durante sua passagem nesta empresa.
Lutadoras de destaque: Ohka Yumi, Hamada Ayako, Cherry, Kana (Asuka na WWE), Shirai Mio e Futagami Mikiko.
World Wonder Ring Stardom – Fundada em 2010 pela ex-booker da JDStar Rossy Ogawa, pela ex-lutadora Kakimoto Fuka e pela veterana Takahashi Nanae, a Stardom é uma companhia indy de grande reconhecimento no Japão, sendo conhecida principalmente por enfatizar bastante a beleza física e suas lutadoras, e por ter uma grande influência do MMA em seu estilo de combate.
Outro detalhe interessante sobre a Stardom, provém de sua aproximação com a cultura idol japonesa, com várias de suas lutadoras sendo antigas cantoras, ou seguindo gimmicks que apresentem este tipo de figura. Além disso, desde 2012, várias lutadoras estrangeiras passaram pelos ringues da companhia, entre elas alguns nomes conhecidos como as ex-TNA Sarah Stock (a Sarita) e “Alpha Female” Marie Gabert, e as lutadoras indy Mercedes Martinez e Cheerleader Melissa (Raesha Saed na TNA). Em alguns shows, também houveram participações de lutadores masculinos, como “The Cleaner” Kenny Omega e Kota Ibushi da New Japan, e as lendas Último Dragon e Mil Máscaras.
Infelizmente a empresa também tornou-se famosa neste ano, quando em durante um evento realizado em 22 de fevereiro, a então World of Stardom Champion, Yoshiko, legitimamente aplicou um beatdown na desafiante Act Yasukawa (que havia retornado há pouco tempo de uma lesão), deixando-a com fraturas no rosto, no nariz e em uma das órbitas oculares. Isso resultou na perda do título de Yoshiko e sua suspensão por tempo indefinido, bem como o banimento do uso de socos nas lutas da empresa. Atualmente o title se encontra nas mãos de Satomura Meiko.
O wrestling feminino é, mesmo que não tenha mais a grande atenção da mídia como antes, ainda um grande atrativo no Japão. Várias das melhores lutadoras do mercado foram formadas nos dojos das indys japonesas, e a qualidade de suas lutas chega a rivalizar com a apresentada pelas companhias predominantemente masculinas. Por isso, recomendo bastante aos leitores que procurem conhecer mais sobre estas empresas, pois o talento e a qualidade de suas lutadoras é algo que deve ser presenciado por todos. Aproveitem o texto, e até a próxima.
PS: Este artigo vem a pedido do leitor Ramiro, que sentiu a falta das empresas japonesas (em especial a AJW) no primeiro artigo sobre wrestling feminino.
PS 2: Um agradecimento também ao Beowolf por ter me indicado as empresas de que tratei hoje no artigo.