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Literatura Wrestling | Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 2 - Parte 2


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!



(...)

Senti uma inquietação semelhante anos depois quando sete companheiros meus e eu estávamos de pé no cenário da WWE assim que estávamos prestes a estrear no novo programa televisivo, WWE NXT. Nós os oito éramos chamados de "Rookies", apesar que por aquela altura eu já praticava wrestling há dez anos. Nenhum de nós sabia o que esperar nessa noite. Não nos tinham dito nada antes de ali estarmos, prontos a ser vistos em programação ao vivo e em directo da WWE. Cerca de três minutos antes da hora do espectáculo, um produtor veio e disse-nos que um dos WWE Pros ia entrar em cena e falar. Nós devíamos reagir de acordo.

Outro produtor gritou, "Estamos no ar em quinze segundos!" Depois "Cinco, quatro..." Os três números finais foram contados pelo movimento da sua mão. De repente a câmara estava sobre nós e música tocava por toda a arena. The Miz, que era o meu Pro atribuído, entrou no cenário. Olhou cada um de nós de alto a baixo, virou-se para a câmara com as costas voltadas para mim e disse "Daniel Bryan, vem cá." Eu dei um passo em frente.

O Miz começou a falar mas eu mal me conseguia concentrar no que ele estava a dizer. Eu ouvi as palavras "Internet darling" e "uma estrela nas ligas menores" e podia apenas assumir que ele estivesse a falar de mim. Ele perguntou-me se eu achava que estava pronto e, muito ironicamente, a minha primeira palavra na WWE foi "Sim." (Yes)

Miz continuou, "Uma coisa que tens que aprender na WWE é que deves esperar de tudo. Então agora mesmo, eu quero que vás ao ringue e quero que te apresentes. Diz a toda a gente exactamente quem tu és. Quero que mostres personalidade. Quero que mostres carisma. Quero que dês a estas pessoas uma razão para te verem todas as Terças à noite." Ele divagou por mais um bocado e depois acrescentou, "Ah, e tem uma boa catchphrase."

Durante os dez anos anteriores à minha estreia no NXT, eu tinha conseguido uma reputação de ser um wrestler muito dotado. Mas também tinha conseguido a reputação de não ter assim muito carisma ou dotes verbais. A minha "personagem", se lhe podem sequer chamar isso, era essencialmente só eu, e eu podia ser tão mínimo ou tão over-the-top como eu quisesse. Maior parte das vezes, se eu não tivesse nada a dizer ou não queria dizer nada, ninguém me podia obrigar. Caso contrário, como me faltava uma inclinação natural para iluminar um microfone, se eu fosse dar alguma entrevista, eu tipicamente assegurava que tinha bastante tempo para me preparar.

Escusado será dizer que ter que fazer uma entrevista em ringue sem qualquer assunto e sem tempo para me preparar não era como eu imaginava fazer a minha estreia em televisão. E eu odiava catchphrases.

Parece uma eternidade quando caminhas para o ringue na WWE e ninguém sabe quem tu és. Fãs da WWE tendem a ser muito duros sobre pessoas que não vêem como "estrelas", e eu podia ouvir a lamentação quando saí ao som da música do Miz. No ringue, fiz o meu melhor para me manter confiante, ou pelo menos, para assim parecer. Pela altura em que a ring announcer me entregou o microfone, eu ainda não fazia ideia do que ia dizer. Acabei por agradecer aos fãs por me aceitarem mesmo com o Miz sendo o meu Pro, e disse-lhes que desejava que o meu Pro tivesse sido o meu verdadeiro mentor, William Regal. A partir daí, eu basicamente balbuciei sobre o NXT por mais trinta segundos. Perdendo a minha linha de pensamento e vendo a plateia a perder a paciência, comecei a preocupar-me. Felizmente, a música do Miz tocou e ele veio. Graças a Deus. (Sim, eu disse mesmo isso.)

O Miz imediatamente começou a fazer troça de mim - e era bem merecido, devo acrescentar. Ele perguntou onde estava a minha personalidade; onde estava o meu carisma? Gracejamos, para trás e para a frente, até que ele finalmente me pediu uma catchphrase. Assim que ele perguntou, algo que eu tinha acabado de ouvir na minha aula de grappling veio-me imediatamente à mente. Eu disse-lhe que se alguma vez tivessemos que subir ao ringue e lutar, ele apenas teria duas opções: desistir ou quebrar. "Tap or Snap." Não era a melhor catchphrase do mundo e eu por acaso não a podia usar porque alguém tinha os direitos sobre ela, mas foi o suficiente para me fazer passar a entrevista e ter uma reacção decente. Em resposta, o Miz deu-me um estalo na cara e deixou-me pendurado no ringue para acabar o segmento.

Não era exactamente um home run, era mais uma rebatida simples sólida. Eu sabia que precisava de continuar a trabalhar no falar, mas eu considerava isto um sucesso, especialmente tendo em conta que eu não fazia ideia para o que vinha. E essa é uma das razões para o NXT ter sido a experiência mais incomum em toda a minha carreira: uma enorme parte era sem guião e nenhum dos Rookies do programa sabia o que se estava a passar. Eu não sabia que o Miz viria para salvar a entrevista, e definitivamente não sabia que ele me ia bater no final. Miz, como o próprio admite, não é o tipo mais duro do mundo e, muito mais tarde, ele confessou-me que estava algo preocupado que eu fosse ripostar e lutar com ele por causa do estalo.

O resto do episódio acertou nos meus pontos fortes e eu lutei com o Chris Jericho, que era o World Heavyweight Champion na altura, no evento principal do programa. Chris é um verdadeiro profissional e apesar de o combate apenas ter tido cinco minutos e eu ter perdido, ele fez-me parecer uma estrela. Após o combate, o Miz começou a bater-me e mais uma vez eu não fazia ideia que ele o ia fazer. Ele também não, aparentemente, como a instrução lhe foi enviada dos produtores, através do árbitro no ringue. Apesar da confusão e do caos, tinha sido uma estreia decente. Porém, ia ser sempre a descer daí em diante.

No próximo capítulo: Entraremos no terceiro capítulo e recuamos muito no tempo. Vamos espreitar a infância de Daniel Bryan e conhecer quando e como o bichinho do wrestling começou a mordê-lo!


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