Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 14 - Parte 1
Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.
Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!
Capítulo 14: Matters of the Chart
Sexta-Feira, 4 de Abril, 2014 - 19:15
A sua anterior conversa com Miz antecede uma importante discussão que esperava Daniel Bryan quando regressa ao seu quarto de hotel para encontrar a sua noiva... mais a Nikki e a "Mamã Bella." Servindo como uma espécie de planeadora da festa do casamento do casal, a mãe de Brie insiste que os dois - ambos com significativos campeonatos dentro de dois dias - se comprometam à planta final dos lugares para o evento que se avizinha.
Bryan partilha algumas notícias infelizes sobre um parente importante ser repentinamente incapaz de comparecer, e em seguida senta-se no sofá entre a Brie a sua futura sogra. A Mamã Bella argumenta para os arranjos dos lugares que ela preparou mas aconselha o par a rever e a ajustar para o seu grande dia. A mesa 1 está marcada para sentar convidados do plantel da WWE; a mesa 2 abrigará o elenco do Total Divas. Do outro lado do trio de membros do clã Bella no sofá está uma pequena pilha de papéis mistos, um envelope da FedEx, o itinerário da semana de Wrestlemania completa de Daniel Bryan, e uma publicação: a YES! Magazine. Sim. Correcto. YES! Magazine.
"É uma revista incrível," declara Bryan enfáticamente, enquanto exibe a edição especial de revolução. "É sobre ideias poderosas, acções práticas, diferentes ideias sobre como mudar o mundo. E são, na verdade, baseados em Seattle. A minha revista favorita é a YES! Magazine."
Impressionante (e inadvertida) ironia à parte, a leitura de três anos de Bryan da publicação não é o limite dos seus interesses em eco-consciência.
"Uma coisa que quero fazer é construir uma casa Earthship," acrescenta ele, defendendo o seu uso de painéis solares, filtração de água da chuva, e reutilização em geral. "É uma casa construída a partir de material reciclado - pneus usados e coisas assim. É um sistema completamente sustentável, completamente auto-suficiente. Descobri isso através da YES! Magazine."
Ler não é actualmente uma opção, no entanto. Existem montes de conversa na sala com três senhoras Bellas e, muito como da forma que é capaz de estar no Domingo à noite, Bryan encontra-se superado numericamente... e sente-se óptimo.
Na Segunda-feira após o NXT ter acabado, todos nós os oito Rookies fomos trazidos para o Raw em Miami. Não fazíamos ideia porquê. Ainda tínhamos que nos vestir separadamente de todos os restantes no balneário, num espaço sujo e cortinado ao lado da área de refeitório. A meio do dia, o Laurinaitis puxou-nos a todos para o escritório do Vince, onde esperámos até o Vince e o Michael Hayes, uma antiga estrela de wrestling e um dos produtores de combates de topo na WWE hoje em dia, entrarem. Vince contou-nos que tinham um plano, mas que era da maior importância que não contássemos a ninguém além daqueles na sala. Se o fizéssemos, estragava tudo, e se ouvissem algum de nós a contar a alguém, essa pessoa seria despedida. Íamos fazer algo que nunca tinha sido feito antes em televisão na WWE.
Aconteceria no evento principal, no qual o adversário do John Cena seria escolhido pelos fãs cujas escolhas eram Rey Mysterio, Jack Swagger e CM Punk. Eles achavam que o Rey ganhar era algo certinho, mas quando deixam as coisas para os fãs, nunca se sabe o que vão obter, e o Punk acabou por ganhar a votação. Não tenho a certeza do quanto foi adiantado ao Punk sobre o que ia acontecer, mas após todos nós os oito nos termos equipado anteriormente nesse dia, se alguém perguntasse porque estávamos vestidos, apenas lhes dizíamos que tínhamos que tirar umas fotografias. Mentimos a toda a gente, incluindo pessoas em quem confiávamos. Até menti ao Regal.
Enquanto o Cena e o Punk estavam a lutar, o vencedor do NXT veio a caminhar pela rampa abaixo. Pouco depois, o resto dos Rookies, eu incluído, viemos pelo meio do público e avançamos a barricada. O Punk tinha a Straight Edge Society com ele, logo caímos à pancada ao seu associado Luke Gallows e a Serena fugiu. O Punk saiu do ringue e caímos encima dele também. Depois todos nós saltámos para o apron e fitámos o Cena, a maior estrela na WWE. Todos entrámos lentamente no ringue, e os oito rodeámo-lo. Foi quando se deu o caos e nasceram os Nexus. Todos demos porrada no Cena, e a seguir saímos do ringue para destruir tudo à vista. Desfizemos o ringue, expondo as vigas de madeira por baixo; batemos nos seguranças, cortámos o tapete, arrancámos as cordas, e destroçámos os tapetes no chão. Criámos caos, e no processo, até espancámos o anunciador Justin Roberts, despindo-lhe o casaco e a camisa. O Vince e o Michael tinham-nos dito directamente que queriam uma "surra ao estilo de um gang", e foi isso que lhes demos.
Tenham em mente que eu não estava na WWE há muito tempo. Eu sabia algumas das regras como nada de sangrar, e eu sabia que era uma companhia PG, mas eu não sabia exactamente o que era PG e o que não era. No meio desta "sova ao estilo gang," eu vi o Justin Roberts ali deitado, sem camisa e gravata ainda ao pescoço. Em momentos como este, eu sempre achei que a violência era boa para credibilidade, logo peguei na ponta da gravata por trás e puxei-a. Com força. As câmaras pegaram logo naquilo porque era uma excelente vista: Justin de barriga para baixo, a ser estrangulado pela gravata à volta do seu pescoço, rosto a ficar roxo. Algumas pessoas achavam que ele apenas estava a vender de forma apatetada, mas não estava. Não confio em pessoas que não são do wrestling para vender bem, especialmente no que toca a um angle grande e importante, logo é melhor ser um pouco bruto, desde que não os magoes a sério. Puxei a gravata com tanta força que deixou longas marcas vermelhas no pescoço dele.
A meio da disputa, alguém da equipa da produção veio ter comigo, pelo lado, a dizer "Nada de estrangular! Nada de estrangular!" Eu parei e ouvi bem a tempo, porque estava prestes a estrangular outra pessoa com um dos cabos perto do ringue. Quando destruímos o ringue, o Heath Slater pegou numa das cordas e estava prestes a colocá-la à volta do pescoço do Cena mas o John sussurrou-lhe também, "Estrangular não!"
Dentro do ringue, foi-nos dado a todos um momento para brilhar, com cada um de nós a atingir o Cena com uma manobra de assinatura, a minha sendo uma simples patada na cabeça, enquanto ele descansava de joelhos, ao estilo de uma execução. Anteriormente a todo este fiasco, o Cena tinha-me chamado à parte e disse-me que a coisa mais importante não era a manobra, era o que fazias antes da manobra. Olhando para trás, assumo que ele provavelmente estivesse a pensar numa espécie de gesto com as mãos ou algo assim. Em vez disso, olhei-o nos olhos e gritei, "Não és melhor do que eu." A seguir cuspi na cara da maior estrela da WWE e pontapeei-o no crânio.
Quando voltámos e atravessámos a cortina, toda a gente achava que a sova tinha sido excelente. Depois alguém gritou, "Quem estava estrangular o Justin Roberts?!" Eles não conseguiam ver porque a câmara estava exclusivamente focada na cara roxa do Justin.
Eu cheguei-me à frente e disse, "Uh, isso fui eu."
"E quem cuspiu no John Cena?!" perguntaram.
"Isso fui eu, também," respondi.
Aparentemente estrangular e cuspir são duas das coisas não permitidas dentro dos parâmetros PG da programação da WWE, mas eu não fazia ideia. Claro que não precisávamos do estrangulamento, nem precisávamos do cuspe, mas elementos desses mostravam o nosso desdém e acrescentavam à brutalidade de toda a cena. A razão fundamental para as nossas personagens terem feito aquilo tudo foi por estarmos irritados após ter sido tratados como piadas por uma temporada inteira do NXT, e eu então apenas fiz as coisas mais violentas e maliciosas que me puderam ocorrer. Os parâmetros do PG nunca me passaram pela cabeça.
Pedi desculpas a toda a gente e fiz especial questão de pedir desculpa ao Justin e ao Cena. Nenhum deles parecia importar-se, e parte de mim pensa que o Justin até achou aquilo bastante fixe. Conhecia-o desde 2002; ele adorava wrestling, e acho que ele estava feliz por ter um papel tão memorável no momento, apesar das marcas no pescoço.
O ataque dos Nexus aconteceu na Segunda-feira, depois na Terça fomos todos ao SmackDown mas não fizemos nada no programa. Enquanto eu caminhava pelos corredores no SmackDown, passei pelo Michael Hayes.
"Daniel, o que aprendeste na noite passada?" perguntou ele.
"Nada de estrangular, nada de cuspir," respondi eu.
"Isso mesmo. Não faz mal cometer erros desde que aprendas com eles," disse Michael.
Eu achava que estava safo.
Nessa Quarta-Feira, a WWE agendou-me num espectáculo da FCW na Florida. O Miz também estava no programa, e enquanto estávamos sentados no balneário a falar do assunto, ele reassegurou-me que não me preocupasse. Ele disse que todos esqueceriam o assunto na semana seguinte. Dois dias depois - a 11 de Junho de 2010 - recebi a segunda e última chamada que já recebi do Vince McMahon. Eu não sabia que era ele ao início porque vinha de um número bloqueado, mas assim que respondi, tive um sentimento de me afundar por não achar que seriam boas notícias. Quando atendi, soube imediatamente que era mesmo o Vince, e desta vez não havia qualquer sensação de que era uma partida. Ele disse, "Sabes Daniel, lamento ter que fazer isto. Sinto-me mesmo mal, mas temos parâmetros no que diz respeito ao que é PG e ao que não é PG, e infelizmente, rompeste esses parâmetros. Lamento, mas teremos que te dispensar."
(...)
No próximo capítulo: Caiu a bomba. Então e agora? Se calhar até se desenrasca bem! Não percam a segunda parte para saber como foi a travessia no deserto de Daniel Bryan e para onde ele partiu!